TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 31 de março de 2009

1964: O golpe do 1º de abril.

No dia 1º de abril de 1964 os militares efetivaram um golpe elaborado pela direita brasileira, com apoio do governo norte-americano.

Eis o editorial do Jornal "O Globo", do dia 2 de abril de 1964:


"Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.
Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.
Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.
Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.
Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.
As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, "são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI."
No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.
Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.
Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.
A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.
Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto.Sejamos dignos de tão grande favor."

segunda-feira, 30 de março de 2009

PASSARIM DE ASSARÉ, O Filme


A manhã de outubro era de sol aceso e céu sem nuvem no cariri cearense. O carro não agüentou o tranco e parou no meio daquela estrada de chão rachado, de barro e pedregulhos que nos levaria pra Serra de Santana, alguns quilômetros depois de Assaré que havíamos deixado prá trás. Foi demais praquele corcelzinho branco ano 72 que arrumamos pra enfrentar a nossa produção cinematográfica amadora. Rosemberg e Serginho aproveitaram a parada pra fazer umas fotos do ambiente árido da caatinga (mandacarus em flor, alguns calangos, uns preás, um gavião branco, uma carcaça de boi, e por ai vai) enquanto Bola e Zé Roberto pelejavam pra descobrir a razão do “prego”. Eu também fiz umas fotos de umas crianças e de um cachorro que nos observavam curiosos sem entender aquele desmantelo. Nada nos tirava do sério naquela bendita semana porque estávamos finalmente - depois de alguns meses de trabalho com muitas idas e vindas de Fortaleza para o Crato e Assaré – tendo a oportunidade de concluir um documentário sobre a vida de um poeta genial e filósofo sertanejo que a nossa geração aprendera a admirar: Patativa do Assaré. O filme já fora batizado como “Passarim do Assaré”, um media-metragem que numa bitola super-8 era a nossa experiência possível de fazer cinema na época. A cada dia de nossa convivência com Patativa a gente se sentia mais animado pelo encantamento que nos causava seu carisma e sua extensa e nobre obra poética. Depois de uma meia hora, Bola deu o veredicto sobre o carro: - A bobina esquentou! Em seguida, comandou: Vai Zé (Roberto), faz uma rodilha de tua camisa e traga ela molhada pra gente resfriar a bobina. Zé era o assistente de produção e contra- regra (faz tudo) do filme e, mesmo a contragosto, não podia contrariar a ordem. Deu certo! Alguns minutos depois retomamos o caminho que nos levaria ao sítio na Serra de Santana pra vivenciar por três dias com Patativa, Dona Belinha (esposa), família e todo aquele ambiente rural de grande beleza, simplicidade, alegria e de completa inspiração praquele menestrel do sertão. Saímos da estrada principal, entramos em sítios, abrimos e fechamos muitas porteiras e cancelas até avistarmos a casa do poeta que se assentava sob um calçadão alto cimentado e um teto de palhas e telhas. A pintura nova de cal amarelado pelo barro vermelho que escorrera do teto no inverno passado, não escondia o reboco na parede torta de taipa. Estacionamos o carro sob a sombra da copa de um tamarineiro frondoso e lá descarregamos nosso equipamento: um tripé bem pesado, uma câmera Cannon super-8, duas folhas de isopor para o rebatimento de luz, uma câmera fotográfica Pentax-35mm com tele-zoom, muitas caixinhas de filme virgens e uma indescritível euforia pelo momento que compartilhávamos. Estávamos no descarrego de mochilas e equipamentos quando no contra luz do sol, alguns metros a nossa frente, desponta a monumental figura do poeta camponês, de enxada no ombro, bornal, cabaça na cintura, caxingando pelo caminho que o levava e trazia da roça. Foi uma correria louca pra registrar aquela imagem. Ao mesmo tempo, todos percebemos a beleza e naturalidade daquele momento e nos aperreamos querendo transformá-la em cena do filme..., mas ficamos tão agitados a ponto de a câmera não aceitar o rolinho da película. Tivemos que só contemplar o momento e memorizá-lo. Patativa se aproximou e com um inefável sorriso foi logo nos dando um carão: - O café esfriou, mas o almoço já ta quente! É que a gente tinha prometido chegar bem cedo no sítio, o que não aconteceu. Contamos a estória da pane no carro e nos desculpamos. Depois de um dedo de prosa debaixo do tamarineiro, o poeta nos convidou pra entrar e ocupamos um quarto dos dois que tinha a casa. Era uma casa muito simples e agradável, com muitos armadores pra redes no salão de entrada que também abrigava a colheita da roça (milho, feijão, andu, jerimum, etc.). Dona Belinha, a esposa, nos recebeu com igual delicadeza e de mesa posta para o almoço de galinha caipira ao molho pardo, feijão de corda com toucinho, farofa de pão de milho, macarrão com muito colorau passado na manteiga da terra e doce de leite ou mamão com coco de sobremesa. Uma mesa farta e generosa como a alma do sertanejo! Sem perder tempo já começamos o registro de imagens desses momentos da vida em família do poeta. Dona Belinha – esposa venerada por Patativa em prosa e verso- era todo o tempo silenciosa, mas, naquele silêncio, passava pra gente o quanto se dedicava e tinha admiração pelo esposo. Nos três dias que ficamos neste convívio aprendemos a admirá-la e criamos uma afeição especial por ela, mulher, mãe zelosa, avó e, acima de tudo, companheira exemplar do tipo que está sempre ao lado do marido “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença...” Foi no café da manhã de um desses dias que comi pela primeira vez uma tapioca misturada com amendoim torrado feita pela Dona Belinha. Uma tapioca com gosto de poesia! Depois do almoço, armamos rede no salão e, como todo sertanejo que se preza, puxamos um leve ronco até as duas da tarde quando uma dupla de cantadores bateu a porta da casa pra homenagear o Patativa e dividir com ele algumas prosas e cantorias. Desarmamos as redes numa ligeireza danada e montamos um “set” no calçadão de lado da casa onde a luz do sol imprimia belas imagens e, naquela tarde inesquecível, gravamos cantorias dos repentistas/violeiros, depoimentos e declamações do poeta até quando a luz nos permitiu. Chegou a noite. Depois de um café forte com pão de milho, leite de vaca fervido, ovos estrelados e queijo de coalho, ficamos de conversa fiada e camaradagem com muitos compadres e comadres do Poeta e de D. Belinha até umas horas. Todos se mostravam curiosos a respeito do filme e queriam saber se o filme ia passar na televisão, na Globo, etc. A gente até admitia, meio sonhador, que “um dia” o filme poderia passar no cinema e na televisão de um Brasil com liberdade de expressão, o que não era o caso daqueles tempos de exceção que vivíamos no final dos anos 70.
No dia seguinte, cedinho, madrugada ainda, acompanhamos Patativa na sua lida de roceiro, uma vida de homem simples que da terra tirava o sustento e também a inspiração pra sua lira nordestina. Depois, gravamos cenas em outros ambientes familiares, sua vida compartilhada com outros camponeses e poetas e a sua empatia e clareza na compreensão da natureza, dos bichos e das plantas e dos homens em comunhão com Deus.
Durante a realização do filme, Patativa nunca reclamou da nossa direção e parecia adivinhar que aquele registro cinematográfico seria o primeiro de muitos que viriam pela frente e que, de outra maneira seu discurso social seria amplificado e se irradiaria mundo a fora e o elevaria a condição de mito.
Somente no terceiro dia é que conseguimos gravar a imagem majestosa do luminar poeta a caminho da roça no contra luz do sol.

A EQUIPE DESTA VIAGEM:
Rosemberg Cariry – roteiro e direção
Jacksom (Bola) Bantim: Câmera 1, motorista e Assistente de produção
Zé Roberto França : Assistente de Produção e contra-regra
Serginho Pereira: still (fotografia de cenas)
Luiz Carlos Salatiel: Assistente de direção, produção executiva, câmera 2 e
still.

NOTAS:
-As imagens originais desta realização constam do filme Ave Poesia- Patativa do Assaré, documentário realizado por Rosemberg Cariry, em cartaz nos cinemas do país;
-A foto que ilustra a matéria é de Sérgio Pereira, e foi clicada durante a realização do filme “Passarim do Assaré”.
Recuperado do Site Vio o mundo de Luiz Carlos Azenha este artigo de Noam Chomsky nos oferecendo uma outra visão entre liberalização financeira e democracia. Recomendo a leitura.

A cara antidemocrática do capitalismo

NOAM CHOMSKY, Carta Clacso, Buenos Aires, março de 2009

http://www.clacso.org.ar/clacso/debates/debates-2009/a-cara-antidemocratica-do-capitalismo

A liberalização financeira teve efeitos para muito além da economia. Há muito que se compreendeu que era uma arma poderosa contra a democracia. O movimento livre dos capitais cria o que alguns chamaram um "parlamento virtual" de investidores e credores que controlam de perto os programas governamentais e "votam" contra eles, se os consideram "irracionais", quer dizer, se são em benefício do povo e não do poder privado concentrado.

O desenvolvimento de uma campanha presidencial norte-americana simultaneamente ao desenlace da crise dos mercados financeiros oferece uma dessas ocasiões em que os sistemas político e econômico revelam vigorosamente sua natureza.

Pode ser que a paixão pela campanha não seja uma coisa universalmente compartilhada, mas quase todo mundo pode perceber a ansiedade desencadeada pela execução hipotecária de um milhão de residências, assim como a preocupação com os riscos que correm os postos de trabalho, as poupanças e os serviços de saúde.

As propostas iniciais de Bush para lidar com a crise fediam a tal ponto a totalitarismo que não tardaram a ser modificadas. Sob intensa pressão dos lobbies, foram reformuladas "para o claro benefício das maiores instituições do sistema...uma forma de desfazer-se dos ativos sem necessidade de fracassar ou quase", segundo descreveu James Rickards, que negociou o resgate federal por parte do fundo de cobertura de derivativos financeiros Long Term Capital Management em 1998, lembrando-nos de que estamos caminhando em terreno conhecido.

As origens imediatas do desmoronamento atual estão no colapso da bolha imobiliária supervisionada pelo presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, que foi quem sustentou a coitada da economia dos anos Bush, misturando o gasto de consumo fundado na dívida com a tomada de empréstimos do exterior. Mas as razões são mais profundas. Em parte, fala-se no triunfo da liberalização financeira dos últimos 30 anos, quer dizer, nas políticas consistentes em liberar o máximo possível os mercados da regulação estatal.

Como era previsível, as medidas tomadas a esse respeito incrementaram a frequência e a profundidade dos grandes reveses econômicos, e agora estamos diante da ameaça de que se desencadeie a pior crise desde a Grande Depressão.

Também era previsível que os poucos setores que cresceram com os enormes lucros oriundos da liberalização demandariam uma intervenção maciça do Estado, a fim de resgatar as instituições financeiras colapsadas.

Esse tipo de intervencionismo é um traço característico do capitalismo de Estado, ainda que na escala atual seja inesperado. Um estudo dos pesquisadores em economia internacional Winfried Ruigrok e Rob van Tulder descobriu, há 15 anos, que pelo menos 20 companhias entre as 100 primeiras do ranking da revista Fortune, não teriam sobrevivido se não tivessem sido salvas por seus respectivos governos, e que muitas, entre as 80 restantes, obtiveram ganhos substanciais através das demandas aos governos para que "socializassem suas perdas", como hoje o é o resgate financiado pelo contribuinte. Tal intervenção pública "foi a regra, mais que a exceção, nos dois últimos séculos", concluíram.

Numa sociedade democrática efetiva, uma campanha política teria de abordar esses assuntos fundamentais, observar as causas e os remédios para essas causas, e propor os meios através dos quais o povo que sofre as conseqüências pudesse chegar a exercer um controle efetivo.

O mercado financeiro "despreza o risco" e é "sistematicamente ineficiente", como escreveram há uma década os economistas John Eatwell e Lance Taylor, alertando sobre os gravísimos perigos que a liberalização financeira engendrava, e mostrando os custos em que já se tinha incorrido.

Ademais, propuseram soluções que, deve-se dizer, foram ignoradas. Um fator de peso é a incapacidade de calcular os custos por parte daqueles que não participam dessas transações. Essas "externalidades" podem ser enormes. A ignorância do risco sistêmico leva a uma maior aceitação de riscos do que se daria numa economia eficiente, e isso adotando, inclusive, os critérios menos exigentes.

A tarefa das instituições financeiras é arriscar-se e, se são bem gestionadas, assegurar que as potenciais perdas em que elas mesmas podem incorrer serão cobertas. A ênfase há que pôr-se "nelas mesmas". Segundo as regras do capitalismo de estado, levar em conta os custos que para os outros possam ter – as "externalidades" de uma sobrevivência decente – umas práticas que levem, como espectro, a crises financeiras é algo que não lhes diz respeito.

A liberalização financeira teve efeitos para muito além da economia. Há muito que se compreendeu que era uma arma poderosa contra a democracia. O movimento livre dos capitais cria o que alguns chamaram um "parlamento virtual" de investidores e credores que controlam de perto os programas governamentais e "votam" contra eles, se os consideram "irracionais", quer dizer, se são em benefício do povo e não do poder privado concentrado.

Os investidores e credores podem "votar" com a fuga de capitais, com ataques às divisas e com outros instrumentos que a liberalização financeira lhes serve de bandeja. Essa é uma das razões pelas quais o sistema de Bretton Woods, estabelecido pelos EUA e pela Grã Bretanha depois da II Guerra Mundial, instituiu controle de capitais e regulou o mercado de divisas.

A Grande Depressão e a Guerra puseram em marcha poderosas correntes democráticas radicais que iam desde a resistência antifascita até as organizações da classe trabalhadora.

Essas pressões tornaram possível que se tolerassem políticas sociais democráticas. O sistema Bretton Woods foi, em parte, concebido para criar um espaço no qual a ação governamental pudesse responder à vontade pública cidadã, quer dizer, para permitir certa democracia.

John Maynard Keynes, o negociador britânico, considerou o direito dos governos a restringir os movimentos de capitais a mais importante conquista estabelecida em Bretton Woods.

Num contraste espetacular, na fase neoliberal que se seguiu ao desmonte do sistema de Bretton Woods nos anos 70, o Tesouro norte-americano passa a considerar a livre circulalação de capitais um "direito fundamental". À diferença, nem precisa dizer, dos pretensos "direitos" garantidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos: direito à saúde, à educação, ao emprego decente, à segurança e outros direitos que as administrações de Reagan e de Bush chamaram com desprezo de "cartas a Papai Noel", "ridículos" ou meros "mitos".

Nos primeiros anos, as pessoas não tiveram maiores problemas com o assunto. As razões disso Barry Eichengreen estudou em sua história, impecavelmente acadêmica, do sistema monetário. Nessa obra se explica que, no século XIX, os governos "ainda não estavam politizados pelo sufrágio universal masculino, o sindicalismo e os partidos trabalhistas parlamentares. Por conseguinte, os graves custos impostos pelo parlamento virtual podiam se transferidos para toda a população.

Porém, com a radicalização da população e da opinião pública que se seguiu à Grande Depressão e à guerra antifascista, o poder e a riqueza privados privaram-se desse luxo.

Daí que no sistema Bretton Woods "os limites da democracia como fonte de resistência às pressões do mercado foram substituídos por limites à circulação de capitais."

O corolário óbvio é que no rastro do desmantelamento do sistema do pós-guerra a democracia tenha sido restringida. Fez-se necessário controlar e marginalizar de algum modo a população e a opinião pública, processos particularmente evidentes nas sociedades mais avançadas no mundo dos negócios, como os EUA. A gestão das extravagâncias eleitorais por parte da indústria de relações públicas constitui uma boa ilustração.

"A política é a sombra da grande empresa sobre a sociedade", concluiu em seus dias o maior filósofo norte-americano do século XX, John Dewey, e assim seguirá sendo, enquanto o poder consista "nos negócios para benefício privado através do controle da banca, do território e da indústria que agora se vê reforçada pelo controle da imprensa, dos jornalistas e sobretudo dos meios de publicidade e propaganda."

Os EUA tem efetivamente um sistema de um só partido, o partido dos negócios, com duas facções, republicanos e democratas. Há diferenças entre eles. Em seu estudo sobre A Democracia Desigual: a economia política da nova Era da Cobiça, Larry Bartels mostra que durante as últimas seis décadas "a renda real das famílias de classe média cresceu duas vezes mais rápido sob administração democrata que republicana, enquanto a renda real das famílias pobres da classe trabalhadora cresceu seis vezes mais rápido sob os democratas que sob os republicanos".

Essas diferenças também podem ser vistas nestas eleições. Os eleitores deveriam tê-las em conta, mas sem ter ilusões sobre os partidos políticos, e reconhecendo o padrão regular que, nos últimos séculos, vem revelando que a legislação progressista e de bem-estar social sempre foram conquistas das lutas populares, nunca presentes dos de cima.

Essas lutas seguem ciclos de êxitos e de retrocessos. Hão de ser travadas a cada dia, não só a cada quatro anos, e sempre visando à criação de uma sociedade genuinamente democrática, capaz de resposta em toda parte, nas urnas não menos do que no posto de trabalho.

domingo, 29 de março de 2009

Operação Castelo de Areia




Charge de Lute para o Hoje em Dia.

Morre o compositor Maurice Jarre




29/03/2009 - 20h38

PARIS, França, 29 Mar 2009 (AFP) - Maurice Jarre, compositor de trilhas sonoras de filmes que se tornaram míticos e fizeram a história do cinema, como Lawrence da Arábia (1962), "Doutor Jivago" (1965), e Passagem para a Índia, (1984) faleceu na madrugada deste domingo, aos 84 anos de idade, em Los Angeles (Estados Unidos), anunciou à AFP seu filho, Jean-Michel Jarre, confirmando a notícia divulgada pelo site Purepeople.Maurice Jarre nasceu em 13 de setembro de 1924 em Lyon, na França, e compôs mais de 160 partituras cinematográficas para grandes diretores como John Frankenheimer, Alfred Hitchcock, John Huston, Luchino Visconti e Peter Weir.Famoso pelas trilhas sonoras de grandes sucessos de bilheteria, foi vencedor de três Oscars, quatro Globos de Ouros, dois BAFTA, GRAMMY, ASCAP. Possui uma estrela na calçada da fama em Hollywood Boulevard. Além de suas composições para cinema e teatro ele também compôs ballets, concertos, óperas e cantatas.Maurice Jarre começou a se interessar pela música na adolescência, contra a vontade da família. Estudou percussão, composição musical e harmonia no Conservatório de Paris.Em 1961, foi indicado pelo produtor Sam Spiegel para trabalhar com David Lean no filme Lawrence of Arabia. Inicialmente a música seria composta por três artistas, mas acabou totalmente nas mãos de Jarre. Depoise, passou a colaborar com mais três filmes de David Lean: Doctor Zhivago, Doutor Jivago, Ryan's Daughter, A Filha de Ryan e A Passage to India. Esses filmes também lhe renderam muita popularidade.Gostava de utilizar muita percussão em suas trilhas, chegando a incluir instrumentos étnicos como a cítara em Lawrence of Arabia, e a fujara em A Tin Tambor. Nos anos 80 incluiu arranjos eletrônicos em sua música, e chegou a compor uma trilha totalmente eletrônica para o filme The Year of Living Dangerously (O ano em que vivemos em Perigo).

A vela

Queima devagar
e leva consigo não apenas a própria substância,
mas também carrega a luz.
E só restará escuridão.
Só sobrará o vazio.

O desiludido aguarda paciente.
O inconseqüente nem sabe o que acontece, dorme.
O pai chora.
A mãe chora.
A criança se diverte, curiosa.

Lá fora bombas.
Aqui dentro a vela.
Lá fora o pior do ser humano.
Aqui dentro o consolo dos fracos aguarda,
Logo terá muito trabalho.


Thiago Assis F. Santiago
www.thiagogaru.blogspot.com

Classe média.

A Avenida dos Meus Sonhos – por Carlos Eduardo Esmeraldo



O talentoso escritor cratense e meu amigo Roberto Jamacaru escreveu excelente artigo, no Blog do Crato, sobre a Avenida Padre Cicero. Ele está longe de imaginar como suas palavras caíram tão profundamente no meu íntimo e resgataram lembranças adormecidas há mais de meio século. Em primeiro lugar, porque devemos ter orgulho de ser conterrâneo do Padre Cícero. Ele é o filho mais ilustre do Crato, reconhecido internacionalmente. Infelizmente muitos cratenses não nutrem esse sentimento. Mas agora, graças ao nome desse taumaturgo, as duas cidades estão urbanisticamente se unindo num grande e futuro centro de desenvolvimento das regiões que margeiam os dois lados do Araripe.
Essa avenida teve uma importância fundamental na minha vida. É a avenida dos meus sonhos. Explico: fui criado no Sítio São Jose, em terras que pertenciam à nossa família e se estendiam desde o rio Grangeiro, que por lá tinha outra denominação e iam até a divisa do Crato/Juazeiro com o município de Barbalha. A estrada da qual Roberto se refere e que o Padre Cicero deve ter percorrido em abril de 1872, não foi exatamente esta extraordinária avenida que conhecemos hoje. Ela tinha outro percurso e, em alguns pontos ficava distante até um quilômetro da atual avenida. A partir do viaduto do Rio do Saco, em demanda do Juazeiro, a estrada derivava à esquerda, serpenteando a via férrea. Passava pelo São José, onde ficavam as casas do meu pai, de muitos tios, primos e tantos amigos, até o antigo matadouro do Juazeiro. Havia ônibus na porta de casa, aliás, as “Sopas do Anselmo”, aproveitadas da carroceria de velhos caminhões, daí o nome. Anos depois, vi e andei em Salvador em lotações dos anos de 1960, que lembravam as nossas “sopas”.
Por volta de 1952, creio, iniciou-se a construção da nova estrada. Acho que eu deveria ter uns seis anos de idade e, um dia fui ver a obra da Estrada Nova, como a chamávamos, com o meu inseparável amigo Vicente. Menino extraordinário, Vicente tinha um olho cego, mas pouco me incomodava com isto. Ele era neto de uma senhora que trabalhava na nossa casa, alguns anos mais velho do que eu. Sei bem da confiança que minha mãe depositava nele. Ela estava certíssima. Nunca ouvi dele uma anedota de mau gosto ou qualquer palavrão. Era um alegre contador de histórias, declamava e às vezes até cantava versos de cordel que costumava ouvir dos emboladores nas feiras do Crato e Juazeiro. Há anos que não o vejo, mas sei que ainda reside no São José e é um dos homens de bem que existe no Crato.
Na estrada em construção, eu e Vicente ficamos algumas horas sentados na ribanceira de um corte, para mim altíssimo, observando lá de cima todo o movimento das máquinas operando. De repente, uma camionete novíssima e muito bonita parou na nossa frente. Vi descer um homem de óculos escuro, roupa bonita, botas longas e um comprido rolo de papel nas mãos. Foi arrodeado de trabalhadores e dava ordens a todos. O Vicente me disse: “Aquele ali é o doutor engenheiro.” E de repente eu lhe confidenciei com muita convicção uma idéia que nasceu naquele momento: “Quando crescer, eu quero ser engenheiro.”
Hoje quando passo no local, onde fica o antigo Parque Grill, procuro aquele corte com a barreira que não é tão profunda como me parecia, por aquele menino que um dia sonhou alto e agradeço a Deus pelo sonho realizado. Obrigado, Senhor! Aquela criança sonhadora ainda continua vivendo dentro de mim.

é tarde, e depois da festa...

(O computador ainda estava ligado, aproveito pra enviar esse texto)

SOBRE MIM

O pensamento quer uma plataforma lisa
pra se estirar e tomar sol
de preferência acolchoada
às vezes salta, sai andando, as pernas levam,
as idéias, na borda ensolarada quase cega, ansiedade
turbilhão de velas filtrando
desordem na casa acesa lampião a gás
pé lá atrás, outro bem adiante
claro que eu chego ao céu
brinco de amarelinha com as crianças

À merda!!!

Meu cocô é produto do capital que me alimenta, e também a vós
Nasci pra passar bem, o mal é da sorte
fruta doce da mão do proletariado
mentes lúcidas precisam sombra e água fresca
tapetes e folga, conforto, beleza, o ócio criativo
A Grécia entendia o capitalismo
antes de ter nascido
E para um aburgaysado a burguesia fede
enquanto houver não haverá poesia?
o poeta compôs entre luxos
o cocô seu produto bem alimentado
- A bênção, padin.
O capitalismo padrinho do povo
A elite move, emprega, desenvolve...se furta, cobrem!
A elite sofre pra caralho quando pode
E tem ouvidos, fale
cagada boa depois da feijoada comida de pretos
sem qualquer constrangimento
mão-de-obra inferior sempre foi necessária
quem limpa tua fossa não fala francês
o tamanho do outro está no poder que tem sobre uns
não se come sabedoria sem mesas fartas e mentes cheias, todo um atraso
nem jamais se alcança no tamanho do homem da era da raça de Ária

sábado, 28 de março de 2009

Cariri ganhará grande indústria farmacêutica

(Fonte: http://www.juanorte.com.br/)

Maior cidade do Nordeste central do Brasil e um dos 73 mesopólos econômicos do País, Juazeiro do Norte terá agora uma indústria farmacêutica de porte nacional, com investimentos de R$ 100 milhões e produção para abastecer até o mercado exerno. É uma fábrica de antibióticos do grupo liderado pelo empresário e médico Manoel Salviano, que fez o anúncio ao site Juanorte, após reuniões, nesta semana, em Porto Alegre, com industriais argentinos que irão fornecer equipamentos, e no Rio, com a Fiocruz, que vai dar apoio tecnológico ao projeto.
Branco de olhos azuis
Dizer que a atual crise do capitalismo é uma questão étnica (ou racial se preferirem) parece uma “forçação-de-barra”. Um cheiro de preconceito racial. A crise dos louros e olhos azuis deve ter feito muito galego não sair da cama. Como estamos numa “democracia” da poliça, como se diz por aqui quem tem c...tem medo. Eu mesmo se tivesse olhos azuis só usaria óculos escuros, até naquelas noitadas do bem bom a dois. Agora vocês imaginam se, além disso, você é louro, dos olhos azuis e nasceu na Europa ou nos EUA? Deveria cagar de medo desde a fala presidencial.

Hoje fui andar na rua e encontrei Pirrita, um mulato que conserta panela ali na esquina da Jardim Botânico. Dei bom dia e estranhei o ar pachorrento dele, um tanto folgado de personalidade no espaço que o mundo lhe deu. Perguntei o motivo de tanta folga ao que respondeu: pelo menos neste dia nós não fomos os suspeitos de sempre.

Financiamento eleitoral
O Ancelmo Góis falando sobre as doações das empreiteiras para políticos (tanto as “por fora” quanto as “por dentro): há políticos honestos que usam grana só nas campanhas. Mas há políticos ladrões que embolsam parte ou mesmo todo o dinheiro. Entenderam o Ancelmo? Nem eu: então a diferença não é o poder econômico deturpando o processo eleitoral. Por isso que não é freqüente se atribuir ao povo as más escolhas e, no entanto persistir a dúvida, pois as pessoas são compradas pelo poder econômico. Sua consciência é turvada por dois mecanismos no mínimo: a) pela pobreza com necessidades permanentes e b) já que é para empregar o rico, pelo menos eu levo o meu.

Andando na Lagoa uma pessoa esperando um ônibus no ponto: vou me candidatar, empregar todo mundo na campanha financiada e depois viver as delícias do parlamento. Saí andando com a certeza que falar sobre política no sentido grego era um anacronismo imenso no Brasil. Política é uma profissão que se evolui juntando caraminguás e se aliando a poderosos interesses. O jeito foi dar uma corridinha para que o colesterol desta última conclusão não me entupa o cérebro, enquanto este se diluía na paisagem anacrônica da Lagoa (o verde que se perde no concreto).

Os blogs da minha terra deixa a gente....
Os blogs são o que são. Os do Crato, por exemplo, não poderiam deixar de falar em religião. Debater o papa. Falar de excomunhão. Dificilmente poderiam deixar de ter ideologia de esquerda e direita. Claro ter muita saudade. Falar na crise econômica. Levantar as emergências do tempo. Sem dúvida precisam de um pé no governo para sua sustentabilidade. Ter brigas como se na praça. Noticiar as políticas públicas e os eventos de dor, festejo e alegrias. Quanto mais tais feitios se encontrem num verdadeiro painel em formato vertical, mais próximo são os blogs da própria região.

Outro dia troquei e-mails com uma pessoa dos blogs. Olá onde estás escrevendo agora? Não encontrei teus ótimos textos e poesias! Ao que me respondeu: cansei, não tenho saco para aquele ambiente. Estranhei e me fiz entender: mas como? Se o ambiente é diverso, tem tanto debate, há um levantamento contínuo de questões novas? Ele rebateu: é o que imaginas. Tens escrito muito neles nos últimos dias não percebes o quanto minhas razões de ausência estão bem sustentadas. As coisas estão emperradas, rodam sobre o mesmo centro como uma província de amigos. Aí eu parei de rebater o escritor (a). Pensei que exista quem não escreva por ocupação intensa, outros por se dedicar ao próprio blog, mas é certo que outros se cansaram do assunto e dos escritores de lá. Desliguei o computador com a sensação que seria bom, também, dar um tempo. Só um tempo. Afinal domingo é folga e segunda volto.

Capital da República: 3 notícias deste sábado


(Fonte: Folha Online)
1 - Ex-ministro de Lula assume defesa da construtora Camargo Corrêa
O advogado criminalista Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça do governo Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a defesa da construtora Camargo Corrêa, alvo da Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal. A operação, deflagrada na quarta-feira (25), resultou na prisão de dez pessoas, entre elas quatro executivos e duas secretárias da construtora. Ontem, a defesa da construtora ajuizou um pedido de habeas corpus para libertar os funcionários presos pela PF.
O ex-ministro, substituído em março de 2007 por Tarso Genro, afirma que não houve influência do Palácio do Planalto para que assumisse o caso. "Tenho amigos pessoais lá dentro [da Camargo Corrêa] e eles que me procuraram. Nada de Planalto. Estive com o presidente, mas só por cinco minutos, só para cumprimentá-lo no meio de uma reunião que ele estava tendo", afirmou Bastos à Folha Online.

2 - Lula diz que trabalhadores devem evitar pedir aumento durante crise
O presidente e ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva recomendou aos trabalhadores brasileiros nesta sexta-feira que evitem pedir aumento durante o período de crise internacional. Em discurso na Feicom (Feira Internacional da Indústria da Construção), em São Paulo, o presidente --que presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo-- afirmou que sua experiência como sindicalista mostra que, em momentos de crises financeiras, é melhor evitar o confronto com as empresas e deixar o pedido de aumento salarial para depois.


3 - Senado gasta R$ 83 milhões e 400 mil em "ajuda de custo"
É o que ocorre no final e no início de todos os anos, quando os senadores recebem 14º e 15º salários. Além de hora extra em mês de férias, 9.512 funcionários do Senado, entre ativos, aposentados e pensionistas, receberam R$ 83,4 milhões de ajuda de custo referente aos meses de dezembro de 2008 e fevereiro deste ano. O pagamento não consta no contracheque dos servidores da Casa. A ajuda de custo é conhecida no Senado pelo nome de "diferença de teto" e concedida com base na interpretação da Casa para uma resolução de 1993 que vincula o salário dos servidores ao dos senadores. Desde então, os servidores têm direito a uma parte do salário adicional que os senadores recebem.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Contradições

Complicada e diferente,
A correria desesperada
E desafiadora da vida.
Muitos conflitos na mente.

Opostos momentos.
Branco. Muito branco.
E vermelho. Muito vermelho.
Devaneios esses sentimentos.

Um início e uma compensação.
Nenhum se comunica com o outro,
Ambos são emocionantes.
Uma nova vida? Talvez não.

Incerteza.
Felicidade e ansiedade,
Ambos em um único significado:
Impureza.

Corpo violado.
Amor escondido.
Aquele importante,
Este, inesperado.

Tudo se encaminha para o acerto.
Será? Será tão simples?
Do nada tudo se conserta?
A vida é imprecisa, acaba no leito.



Thiago Assis F. Santiago
www.thiagogaru.blogspot.com

Gêmeos

Os gêmeos parecem estar definitivamente na mídia. Têm se tornado o assunto da atualidade. Primeiro os de Pernambuco , fruto do estupro de uma adolescente , que terminaram numa polêmica mundial depois da autorização de abortamento por parte da justiça brasileira e a interferência desastrada de D. José Cardoso , Arcebispo de Olinda e Recife. Recentemente outros gêmeos , igualmente, tomaram de assalto a imprensa mundial. Em São Paulo um casal de lésbicas pretende registrar gêmeos no nome das duas mães. Explique-se : Munira Khalil El Ourra não vai dar à luz mas é mãe de duas crianças que devem nascer até o início de maio próximo. As crianças se desenvolvem na barriga da sua parceira Adriana Tito Maciel, mas ela também é mãe. Como isso é possível ? Através de métodos de fertilidade in vitro foram retirados em laboratório óvulos de Munira, que foram fertilizados com sêmen recolhido em um Banco de Sêmen e, depois, implantados no útero de Adriana. A rigor, biologicamente, as duas são mães dos gêmeos. É amigos -- apertem aí os cintos ! -- a outra notícia de gemelaridade vem da Espanha. Esta talvez até mais estarrecedora. Trata-se de Ruben Noé de 25 anos. Ele é um transexual, nascido com o nome de Estefânia Corondonado. Noé ou Estefânia nasceu com órgãos masculinos e femininos e ainda os mantém como no nascimento. Criado em um orfanato, namora atualmente a espanhola Esperanza Ruiz. Noé resolveu engravidar e, como tem útero, o fez através de inseminação artificial e espera gêmeos para setembro. Pensa em se casar com Esperanza e registar os meninos no nome de ambos. Depois do parto pretende fazer a cirurgia para ablação definitiva dos seus órgãos femininos e usar hormônios masculinos para recuperar a antiga forma de varão. O caso de Noé assemelha-se ao do transexual americano Thomas Beatie que teve uma filha no ano passado e encontra-se novamente grávido.
Talvez estes gêmeos não se tornem tão famosos como alguns dos seus antecessores : Rômulo e Remo , Cosme e Damião, ou os mais recentes de Angelina Jolie e os de Fátima Bernardes. Mas existem alguns sinais que eles vêm anunciar um novo tempo. Primeiro acordamos para o fato da complexidade da família no mundo atual. Longe vai aquele tempo da célula familiar rígida e constituída por um pai, uma mãe e muitos filhos. Hoje a organização da família é muito mais complicada. Envolve filhos de diferentes casamentos, pais, padrastos, mães, madrastas, sogros e sogras vários, avós e avôs tortos e de linha direta, cunhados e cunhadas múltiplos. Não bastasse isso cada dia se torna mais freqüente o casamento ( ainda não legalizado , por enquanto) de pessoas do mesmo sexo, envolvendo filhos adotados ou, no caso de Noé-Esperanza e Munira-Adriana, filhos biológicos. E todos temos que nos preparar para essas mudanças inevitáveis. É preciso se despir dos antigos e arraigados preconceitos para não ser atropelados por eles. A sociedade precisa se adequar aos novos tempos , nas suas leis, nos seus códigos, nas suas ações cotidianas. Imaginem Munira e Adriana buscando registrar os filhos no nome de duas mães , será permitido? E se mais adiante, resolvem se separar, quem deterá a guarda dos filhos ? E se por acaso o dono do sêmen utilizado na fertilização resolver reivindicar o direito de pai, como se resolverá essa pendenga ? No caso de Noé, ele é mãe e pai do filho ao mesmo tempo, como será feito o registro dos seus gêmeos ?
Uma outra realidade bem clara nos bate à porta. O Século XX com um impulso fenomenal nos rumos do conhecimento humano e da Ciência tornou obsoletos todos os Códigos de Ética . Vivemos um vazio deontológico. Os Códigos da Bioética, do Bio-direito, da Moral e dos Costumes, os Códigos religiosos mais que quaisquer outros, não conseguem acompanhar a avassaladora realidade dos novos tempos. Descriminalização das Drogas, Fertilidade In Vitro, Clonagem, Transgênicos, Direitos de Minorias, Desospitalização dos pacientes psiquiátricos, Eutanásia, Aborto, Pesquisa –tratamento com Células Troco, Manipulação genética de embriões, Eugenia, controle de Armamento Nuclear, são apenas alguns pequenos desafios do último quartel de Século. Os desafios são tão grandes que ninguém se atém mais a questões que nos parecem menores. Quem , neste mundo de meu Deus, além do papa, proíbe o uso de camisinhas aos filhos? Quem, fora os Testemunhas de Jeová, se preocupa com as transfusões de sangue ? Quem ,além dos rabinos, discute a circuncisão no nascimento ou a ingesta de carne suina? Quem considera pecado, hoje, fora do dogmatismo da igreja, o uso da pílula ou da laqueadura de trompa ou da vasectomia ? Se repararmos bem, todos os códigos já não respondem a nossas questões básicas, se é que um dia já responderam. Hoje é impossível tentar encontrar em qualquer código uma resposta definitiva para os desafios da modernidade, como se se tratasse de uma receita de bolo.
Mais que nunca precisamos nos afastar do relativismo da ética e buscar uma visão mais universal e, antes de tudo, estabelecer um vai-e-vem reflexivo com toda a sociedade. Se eu me prendo ao meu relativismo sou obrigado a aceitar o relativismo do outro e o relativismo na ética é um pântano, entrando nele, nunca mais se consegue escapar da sua areia movediça. Claro que qualquer comunidade pode estabelecer suas regras de conduta internas, desde que em comum acordo com todos seus membros. Ninguém, no entanto, tem o direito sagrado de criticar regras estabelecidas por outros povos, usando critérios histórico-culturais diferentes. E, antes de tudo, ninguém tem o direito de interferir no estado, seja de que maneira for, no sentido de empurrar de goela abaixo seu código pessoal para outras pessoas que não fazem parte da mesma comunidade.
Talvez os gêmeos que ultimamente têm nos despertado para os terríveis desafios éticos dos novos tempos queiram nos dizer bem mais. A humanidade toda está grávida de uma nova verdade e esta prenhez, amigos, é gemelar, de quíntuplos, sêxtuplos, ou infinítoplos e os gêmeos, possivelmente, não são univitelinos. Os novos rebentos, as nova verdades, não serão únicas e indissolúveis e terão a carinha do pai : este tempo amorfo e eternamente mutável.

J. Flávio Vieira

ONU pede que governos condenem críticas às religiões


Fonte: O Estado de S.Paulo
27 de Março de 2009
O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) aprovou ontem uma resolução que condena a difamação religiosa e passa a considerar o ato como uma violação aos direitos humanos. O documento também pede que governos adotem leis protegendo as religiões de ataques. O Brasil optou pela abstenção, às vésperas da cúpula entre países árabes e sul-americanos, que ocorre no início da semana que vem em Doha.
A resolução havia sido proposta pelos países islâmicos, que há dois anos trabalham pela aprovação de decisões na ONU para proteger a religião. Para os países ocidentais, as religiões não seriam cobertas por tratados internacionais de direitos humanos. Apenas o indivíduo teria esses benefícios. Mesmo assim, a resolução ontem acabou sendo aprovada por 23 votos a favor e 11 contra, em um conselho formado por 47 países. O documento pede que governos em todo o mundo adotem leis protegendo as religiões contra críticas. Mais de cem entidades religiosas e de direitos humanos pediram que os governos rejeitassem a resolução, alertando que abriria caminho para ataques mútuos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A perda da consciência do tempo histórico.

Em sua obra, O desafio e o fardo do tempo histórico: o socialismo no século XXI. São Paulo: Boitempo, 2007, o filósofo István Mészáros aborda o problema da perda da consciência do tempo histórico.

Para Mészáros, um exame dos desenvolvimentos teóricos do último século e meio revela que a concepção histórica ilustrada da tradição filosófica burguesa deu lugar ao ceticismo e ao pessimismo, cada vez mais difundidos. Todas as conquistas genuínas da tradição do Iluminismo no campo da teoria da história foram completamente subvertidas: no Iluminismo procurou-se traçar uma linha significativa entre a natureza que rodeia o ser humano e o mundo da interação societária produzido pelo homem, para tornar inteligíveis as especificidades, regidas por regras, do desenvolvimento sócio-histórico que emergem da busca dos objetivos humanos.

Levarmos em conta que a difusão do pessimismo e do ceticismo é atuante e desagregadora é o primeiro passo para refutarmos a idéia do presente eterno contida muitas vezes nessas duas posturas.

A História tem um caráter radicalmente ilimitado, onde é repelido todo o desfecho ideológico determinista. Todo processo e estágio específico levado a cabo pela determinação histórica é apenas histórico.

Para o professor Mészáros, houve nas últimas décadas um trinufalismo e a celebração das virtudes míticas de uma sociedade de mercado idealizada. Foi feito um uso propagandístico apologético a que serviu o conceito de um mercado totalmente fictício e o “fim da história” sob a hegemonia nunca mais desafiável dos princípios capitalistas liberais.

Mais eis que a História prega uma peça e insiste em se afirmar e mostrar a todos a que tentativas grosseiras de parar o relógio do tempo são infrutíferas. "Tudo o que é sólido desmancha no ar" não é apenas um slogan.

A aposta na máxima kantiana da "política moral" combinada com a ação de um "espírito comercial" não atingiu o que seus apologistas esperavam.

O ponto de vista do capital é outro, porém, as condições de atuação que se colocam nos dias atuais trazem problemas que se agudizam: irreformabilidade, incontrabilidade e destrutividade.

Alcançar a consciência do tempo histórico em que vivemos é um passo que devemos dar na conquista da plena cidadania.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Felicitações

Preparo humildemente
tua mesa - frutas, chás, biscoitos.

À noite espero teu cerrar de cílios
então visto tuas meias
e te agasalho os pulmões.

Renovo minha vida
cuidando da tua bronquite
e a cada longo suspiro teu
tão contente me vejo no espelho.

Todos os dias
e todas as noites
zelo por tua alma -

acendo incensos
rogo aos anjos mais elevados
a tua felicidade sem motivos aparentes.

Ouço bater à tua porta
uma cavalaria de bons presságios.

Talvez nem percebas
que de fininho passo por tua sombra

e sequer espero outra pancada -
abaixo a ponte movediça.

Adentram cavalos encantados
com bufões mediúnicos
tocando trombetas -

Eia, eia, eia.

Mídia e Corrupção

As novidades começam como contradição. Obviamente com o velho estabelecido. A contradição é viva, humana, ocorre tanto como apreensão consciente quanto como representação sobre a forma de diálogos e discursos entre o velho e o novo. Algumas sociedades estão maduras para o tema e justo o tratam, superando rapidamente a novidade sob a forma de tomada de posição como uma nova norma e uma nova prática.

Outras sociedades são mais assimétricas, a consciência de cidadania mais fluída e vivendo em formas hierárquicas anacrônicas (religiosas, morais, políticas, sociais etc.) tendem a desviar-se na contradição e a permanecer longos períodos sem um efetivo salto qualitativo em relação ao conflito. Vamos à questão da corrupção no Brasil e agora se observa que em todo o capitalismo dos países centrais. Hoje mesmo os jornais amanheceram relatando mais uma operação corrupta envolvendo partidos políticos, uma organização patronal (a FIESP) e uma empreiteira (Camargo Corrêa).

Onde nos perdemos? Em lançar lama como um jogo entre a situação e oposição. A grande mídia, conforme crítica do Observatório da Imprensa, quase sempre oposicionista, tratou de jogar toda a lama nos partidos da situação no chamado escândalo do Mensalão, mas agora vacila pois o novo escândalo atinge partidos da oposição. Ora mas a questão se encontra nos contrapesos necessários ao controle da contratação de obras públicas, ao fluxo destes dinheiros e, principalmente, no financiamento dos partidos políticos e suas campanhas.

Centrar a questão entre bandidos (da situação) e mocinhos (da oposição) é perpetuar o jogo da corrupção. É absolver os corruptos – por exemplo, diante de fato como este tanto o banco rural envolvido no mensalão quanto a Camargo Corrêa deveriam ser punidos em seu aspecto comercial, em seus negócios (não participar de obras públicas por um longo período, não poder fazer certas operações bancárias etc.), independente da penalidade que caia impreterível sobre os agentes diretamente envolvidos na questão. Mas onde se encontra o debate fomentado pela mídia: entre corrupção amiga e corrupção inimiga.

Outro aspecto emperrado na evolução brasileira. Todas as sociedades evoluídas criaram mecanismos de proteção social (assistência, previdência, transferência de renda, saúde pública, educação pública etc.), mas isso no Brasil virou xingamento entre situação e oposição. E claro quem critica se escuda no que ler e no que ouve. Um exemplo. Há pouco mais do que um mês tive um diálogo com um dos maiores comerciantes de Paracuru. Se encontra numa disputa acirrada por ocupação de espaço no mercado, por baixo do pano sonega impostos, não paga bem seus empregados, não cumpre as obrigações trabalhistas, trabalha muito articulando seu negócio e por isso confunde a sua própria corrupção como uma virtude comercial. Do quê se queixava: o governo é culpado de tudo, leva o dinheiro de quem trabalha sob a forma de impostos e não devolve em benefícios como gasolina barata (subsidiada?), ruas asfaltadas (não podia ser outro material?) e assim por diante. Agora fica dando esta bolsa família e, resultado, não tem quem queira dar um dia de serviço.

Vamos para um desconto sobre esta visão? A mídia nacional é desfocada, usada como muleta política e como formação ideológica do patrimonialismo brasileiro. Também pudera, enquanto nós oriundos das classes sociais mais da base lemos e ouvimos os formadores de opinião, os grandes jornais, cadeias e rádio e televisão são capitanias hereditárias familiares. Pertencem a hierarquia hereditária, dos Marinhos, Mesquitas, Civita, Frias de Oliveira só no eixo Rio-São Paulo sem contar os sátrapas das mídias regionais. O desconto é que quem fala é como corte colagem deste editores de texto de computador, transfere das rotativas dos senhores direto para a prateleira do dia-a-dia.

Vamos aos dois exemplos? Recente estudo de doutorado da Royal Holloway – University of London, feito pela professora Ana Caroline Costa Resende, concluindo sobre o Bolsa Escola, programa de transferência de renda brasileiro. “Os resultados estimados sugerem um efeito positivo das transferências monetárias sobre o consumo das famílias pobres beneficiárias. O fato de os recursos serem prioritariamente destinados a despesas com alimentos, educação, produtos de higiene e vestuário em detrimento de itens como bebidas e cigarros, despesas diversas e bens duráveis significa que, em alguma medida, estes recursos estão sendo gastos de forma eficiente. É provável, também, que o aumento do consumo destas famílias eleve o seu nível de bem-estar, representando um "alívio" imediato sobre a pobreza.”

Agora quanto o papel da mídia ao criar uma cortina de fumaça que protege a corrupção de grandes empreiteiras, partidos políticos e instituições patronais. Texto do Juiz de Santis ao decidir sobre a recente operação Castelo de Areia: “Essas palavras são necessárias num país em que o medo tomou conta de tudo e de todos, quer porque as pessoas se envergonham de serem honestas, quer porque têm acesso a notícias de parte de setores da imprensa, muitas vezes orquestradas apenas para consagrar interesses exclusivamente privados..”

PRISMA

Do nada, assalta-me um latente estado de poesia
E numa só lágrima há tantos versos que ninguém
Ao vê-la sem sorvê-la, jamais imaginaria que
O prisma da luz na lágrima é tudo em cor, que eu jamais diria


Foto: X. Maya

Lembranças

Seu mundo fantasmagórico
tem molas desconhecidas
debaixo do cadafalso.

Enquanto brilha a guilhotina
de volta seu orixá pensa no rolé
depois da aula.

As iguarias na mesa de mármore.

Avoantes criadas no quintal
são mais felizes no prato
passadas a óleo.

A língua estala,
o espírito lambe os beiços.

O orixá fujão arquiteta como
entrar na sua mente -

duas cervejinhas e nenhum teco
na mesa de sinuca.

VIDA


(Esta postagem tem enderêço certo: o coração de Socorro Moreira, Claude Bloc, Amanda Teixeira, Glória Militão, Wanda Medeiros e tantas outras mulheres que nos deixaram órfãos dos seus olhares femininos pra vida aqui na CaririCult)


CHARLES CHAPLIN

Já perdoei erros quase imperdoaveis, tentei substituir pessoas insubstituiveis e esquecer pessoas inesqueciveis.

Já fiz coisas por impulso e me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar. Mas tambem decepcionei alguem!

Já a abracei pra proteger, dei risada quando nao podia, fiz amigos eternos.

Amei e fui amado. Mas tambem já fui rejeitado, fui amado e nao amei.

Já pulei e gritei de tanta felicidade, vivi de amor e fiz juras eternas.
"QUEBREI A CARA" muitas vezes!

Já chorei ouvindo musica e vendo fotos e liguei pra alguem so pra escutar sua voz.

Me apaixonei por um sorriso!

Já pensei que fosse morrer de tanta saudade

e tive medo de perder alguem especial (E ACABEI PERDENDO )!

Mas vivi e ainda vivo!

Nao passo pela vida... e voce tambem nao deveria passar! Viva!!!

Bom mesmo é ir pra luta com determinaçao, abraçar a vida e viver com paixao.

Perder com classe e vencer com ousadia,

Pois o mundo pertence a quem se atreve e a vida é MUITO pra ser insignificante.

libido

O que transborda efervescente, se supre,
deve encher o corpo
liberar o dorso
pesado
refeito e incompleto o desejo, desidratado, basta água
o rio à beira dos pés, o pé à beira da estrada
uma vida atrevida pra não se perder de vista
e mais nada...amor, és imperfeito,
à semelhança da imperfeição humana
insana, naturalmente...
santidade, intenção fracassada de padres teimosos
desejar não é criminoso
não há homem sem corpo
não nascem asas nas costas dos bons
nem rabo em outros

Um dos maiores especialistas do mundo no combate à Aids diz: “O Papa está certo”. Mas essa notícia foi devidamente sonegada dos leitores


Por Reinaldo Azevedo

Há coisas que você jamais vai ler na imprensa brasileira porque, dada a sua “isenção” de propaganda, às vezes letal para a inteligência e a verdade, pouco importa a consideração de uma autoridade científica ou religiosa se o que elas dizem não coincide com a metafísica politicamente correta. Aceita-se a chamada pluralidade, mas sem exageros, é claro. Querem ver?Vocês se lembram que, em Camarões — e, de fato, foi uma mensagem para o continente africano —, o papa Bento 16 afirmou que a distribuição maciça de camisinhas não era o melhor programa de combate à AIDS. E disse que o problema poderia até se agravar. A estupidez militante logo entendeu, ou fingiu entender, que Sua Santidade contestara a eficiência do preservativo para barrar a transmissão do vírus. Bento 16 não tratava desse assunto, mas de coisa mais ampla. Referia-se a políticas públicas de combate à expansão da doença. Apanhou de todo lado. De todo mundo. No Brasil, noticiou-se a coisa com ares de escândalo. Os valentes nem mesmo investigaram os números no Brasil — a contaminação continua alta e EM ALTA em alguns grupos — e no mundo. Adiante.
Se você pesquisar um pouco, vai saber que o médico e antropólogo Edward Green (foto) é uma das maiores autoridades mundiais no estudo das formas de combate à expansão da AIDS. Ele é diretor do
Projeto de Investigação e Prevenção da AIDS (APRP, na sigla em inglês), do Centro de Estudos sobre População e Desenvolvimento de Harvard. Pois bem. Green concedeu uma entrevista sobre o tema. E o que ele disse? O PAPA ESTÁ CERTO. AS EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS CONFIRMAM O QUE DIZ SUA SANTIDADE. Ora, como pode o papa estar certo? Vamos sonegar essa informação dos leitores.Em entrevista aos sites National Review Online (NRO) e Ilsuodiario.net, Green afirma que as evidências que existem apontam que a distribuição em massa de camisinha não é eficiente para reduzir a contaminação na África. Na verdade, ao NRO, ele afirmou que não havia uma relação consistente entre tal política e a diminuição da contaminação. Ao Ilsuodiario, assumiu claramente a posição do papa — e, notem bem!, ele fala como cientista, como estudioso, não como religioso: “O que nós vemos de fato é uma associação entre o crescimento do uso da camisinha e um aumento da AIDS. Não sabemos todas as razões. Em parte, isso pode acontecer por causa do que chamamos ‘risco compensação” — literalmente, nas palavras dele ao NRO: “Quando alguém usa uma tecnologia de redução de risco, freqüentemente perde o benefício (dessa redução).
correndo mais riscos do que aquele que não a usa”.Pois é… Green também afirma que o chamado programa ABC — abstinência, fidelidade e, sim, camisinha (se necessário), que está em curso em Uganda — tem-se mostrado eficiente para diminuir a contaminação. E diz que o grande fator para a queda é a redução de parceiros sexuais. Que coisa, não?NÃO É MESMO INCRÍVEL QUE SEXO MAIS RESPONSÁVEL CONTRIBUA PRA DIMINUIR OS CASOS DE CONTAMINAÇÃO? Pois é... Critico as campanhas de combate à aids no Brasil desde o Primeira Leitura, como sabem. E, aqui, desde o primeiro dia. Há textos às pencas no arquivo. A petralhada que se pensa cheia de veneno e picardia erótica gritava: “Você quer impor seu padrão religioso ao país...” Ou então: “Você não gosta de sexo...”
Pois é. Vai ver Harvard escolheu um idiota católico e sexofóbico para dirigir o programa...Bento 16 apanhou que deu gosto. E apanhou pelo que não disse — e ele jamais disse que a camisinha facilita a contaminação de um indivíduo em particular — e pelo que disse: a AIDS é, sim, uma doença associada ao comportamento de risco e, pois, às escolhas individuais. Sem que se mude esse compartamento, nada feito.Pois é... O mundo moderno não aceita que as pessoas possam ter escolhas. Como já escrevi aqui certa feita, transformaram a camisinha numa nova ética. E, como tal, ela é de uma escandalosa ineficiência.

Católico não praticante, sim senhor


Embora não reconhecida pela Igreja Católica e adeptos, a condição de “católico não praticante” é atribuída àquele indivíduo que, apesar de batizado e crismado, não pratica a religião em sua plenitude, porquanto se abstém de regularmente tomar parte de ritos como a missa e raramente recebe algum dos seus sacramentos; isso, por discordar dos dogmas estratificados da Igreja, do anacronismo de suas posições, do seu reacionarismo exacerbado.O “católico não praticante” acredita, sim, na existência de um ser superior, um único Deus (Criador do Céu e da Terra), mas não na Igreja, não no Papa, não nos bispos, não nos padres, não nos diáconos, embora aberto e receptivo se ache a ponderações outras, capazes ou não de “fazer sua cabeça”; reza e ora, isoladamente e contrito, e é, sim, temente a Deus. E aqui, cabe um questionamento que a própria Igreja poderia muito bem encorajar: por qual razão o “batismo” não é realizado na fase adulta da pessoa, quando ele tenha condição de exercer o “livre-arbítrio” (decidir se quer ou não ser católico) ? No Brasil, segundo censo do IBGE (2000), 73,6% da população declarou-se católica (em 1980, eram 89,2%); desses, apenas 20,0% comparecem à Igreja com regularidade e participam dos seus sacramentos, enquanto 40,0% consideram-se “não praticantes”; os demais optaram por definir-se como “sem filiação religiosa” (vide site Wikipédia/Catolicismo/Não Praticantes).Como o alemão Joseph Ratzinger (papa Bento XVI) acaba de empreender viagem a um dos continentes mais miseráveis do mundo, a África, centremo-nos em um dos temas por ele abordado, porquanto emblemático do “porque” da descrença na Igreja Católica e, conseqüentemente, da sua derrocada, do seu progressivo, comprovado e compreensível esvaziamento: a terminante proibição do uso de preservativos nas relações sexuais, assim como a utilização de quaisquer anticoncepcionais.Sejamos, então, realistas, deixando de lado a hipocrisia, reinante aqui e alhures: pense naquele amigão católico, solteiro ou mesmo bem casado, que você com certeza tem, e responda com sinceridade: será que ele segue o manual do Vaticano? Seu amigo não pratica (fora do casamento) ou praticou sexo (antes do casamento), como determina a Igreja? Seu amigo, freqüentador assíduo das missas dominicais, um exemplo de bom filho, bom pai, generoso doador de dízimos para a Igreja, cidadão acima de qualquer suspeita, nunca usou a camisinha na prática de sexo casual nos fins de semana, com alguma jovem adolescente que conheceu na balada (e pagando por isso)? Será que seu amigo vai à missa só para rezar e comungar ou tal momento se prestaria à observação atenta de mini-saias ou decotes generosos das moçoilas presentes, possíveis “presas” no futuro ? Por qual razão a mercantilização da “atividade moteleira” (uso de motel) é uma das mais rentáveis do país, hoje, tendo por carro-chefe o sexo? Ou, ainda, será que no lar, no próprio e sagrado leito conjugal, seu amigo ou mesmo os milhões de católicos, se abstêm do uso do preservativo, enquanto sua venerável esposa evita a ingestão do temido e proibido anticonceptivo, a fim de evitar uma gravidez indesejada? São questionamentos pertinentes e que não configuram falta de respeito, como hão de esbravejar.Pois bem, lá na longínqua e sofrida África, um país miserável onde o vírus da Aids se propaga a uma velocidade supersônica e matando em escala geométrica, o alemão Joseph Ratzinger (papa Bento XVI), aos dirigir-se aos milhares de jovens, condenou veementemente o uso da camisinha nas relações sexuais, mesmo que para isso tenham necessariamente que partir para a renúncia da atividade sexual; como se isso fosse possível. Que castigo mais hediondo, não?Não seria uma oportunidade para, ao contrário, encorajar e incentivar o seu uso, a fim de evitar ou pelo menos estancar a contaminação por um vírus tão letal ? Uma oportunidade propícia para se prevenir abortos inevitáveis e filhos indesejados?Enquanto isso, aqui, na vizinhança da nossa província, temos a esdrúxula atitude do caricato “Dom Dedé” que, ante a estupefação de todo o planeta, em nome da Igreja excomungou meio-mundo de gente, mas recusou-se a fazê-lo com um marginal-estuprador confesso, blindando-o, já que teria cometido apenas um “pecado grave”.E olhe que no Brasil o aborto é permitido, sim, em pelo menos duas situações, ambas presentes na ocasião. Por qual razão, então, o Direito Canônico há que se sobrepor às leis do país? Não estaria a Igreja a cometer uma intromissão indevida em assuntos de Estado? Com que direito? O Estado brasileiro não é laico?Por que, então, ao invés de acusar de desrespeitoso quem não reza pelo seu catecismo, os adeptos da Igreja não se preocupam em responder e esclarecer sobre a Inquisição, os padres pedófilos, as atrocidades cometidas pela Igreja lá atrás, a suntuosidade dos templos católicos, (que vai de encontro e na contramão de uma anunciada preferência pelos pobres e deserdados)? E os padres homossexuais, e o assédio sexual dos padres garanhões contra mulheres do próximo, freqüentadoras ou não da Igreja ? E a inadmissível falta de resposta (pelo menos, incrivelmente não consta na rede mundial de computadores) para uma pergunta inocente, mas que parece incomodar e muito: qual a verdadeira “causa mortis” que vitimou a beata Maria de Araújo? Ou temos que aceitar, passivamente, uma história que, num passado não tão distante, a própria Igreja encarregou-se de renegar, penalizando e desautorizando exemplarmente um dos seus partícipes, por entendê-la uma farsa, um verdadeiro embuste? (o milagre da hóstia). Não tenhamos dúvidas: pode até demorar, mas o Padre Cícero deverá, sim, não só ser “reabilitado” pela Igreja, mas, também, “beatificado”, “canonizado” e “entronizado”, em razão do consórcio de interesses escusos da mídia, Igreja e política, que passa pela mercantil exploração desumana dos romeiros. Alguém duvida disso? Juazeiro do Norte e seu crescimento exponencial estão aí para comprovar. Não estaria na hora, então, de se fazer um debate qualificado e esclarecedor, a respeito? Por que tanto temor em abordar de frente algo tão sério, publicamente?Não estaria aí a razão verdadeira da existência do autêntico exército de “católicos não praticantes”? Sim, porque independentemente da Igreja e seus adeptos teimarem em não os reconhecerem, os “católicos não praticantes” existem, sim, e são milhões (vide o percentual da Wikipédia, acima).Alfim, para uma serena e necessária reflexão de todos: “O pensamento livre é o debate. É escutar e analisar o que outros dizem. Se apenas formos nos recolher ao que mais gostamos, nossos corações endurecem e se tornam um raivoso cancro que leva à morte do livre pensar. Por isso é preciso não apenas se angustiar com as contradições do campo em que estamos, mas, se efetivamente somos honestos e livres, aceitar as ponderações que vêm de fora do círculo. Por isso, toda forma que se reduza a repetir chavões e a se mostrar acima de tudo é pequena demais para os grandes problemas, inclusive intelectuais, que hoje enfrentamos”. Autor ? José do Vale Pinheiro Feitosa. Pensemos nisso !!!


José Newton Mariano Saraiva

Publicado Originalmente no "Blog do Crato"

O Atlas da Fé no Brasil


O escritor francês André Malraux profetizou: "O século XXI será religioso ou não será." Acertou quem percebeu ênfase na primeira opção e detecta, hoje, campos polireligiosos nos quatro cantos do mundo. Em alguns casos, como no Oriente Médio, esses campos viram arenas de disputas políticas a pretexto da defesa da fé. Em pé de guerra ou de forma pacífica, a crença religiosa vive a experiência do igualitarismo e da diversidade, uma exigência moderna do Ocidente.
No Brasil, onde confessionários, hóstia sagrada, vestes imponentes, anjos, santos e altares, rituais e símbolos da Igreja Católica sempre se confundiram com a história da religiosidade, a alternância de credo chega a transformar a sociedade. No início do século XX, quase 100% dos brasileiros se diziam seguidores do Vaticano. Cem anos depois, o catolicismo segue como maioria absoluta, mas o maior país católico do mundo entrou mesmo na rota da diversidade religiosa do mundo globalizado.
Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil, assinado pelos professores Cesar Romero Jacob e Dora Rodrigues Hees, da PUC-Rio, e pelos pesquisadores franceses Philipe Waniez e Violette Brustlein, associa pela primeira vez a cartografia à religião para jogar luz sobre a fé brasileira. Reúne 400 mapas, além de tabelas, gráficos e análises dos movimentos que levaram a Igreja Católica a perder em nove anos quase dez pontos porcentuais em seu rebanho: de 83,3% em 1991 para 73,9% em 2000. O Atlas identifica em que territórios e condições
Demográficas e sociais vem ocorrendo a transferência dos fiéis para as correntes evangélicas e para o grupo dos "sem religião", que subiu de 4,7% para 7,4% da população. A debandada se concentra nas periferias dos grandes centros, na zona rural e nas fronteiras agrícolas, áreas com um fenômeno histórico em comum: a atração de migrantes que se tornam vítimas do desenraizamento cultural e do abandono do poder público.
"Há mais de dez anos a Igreja discute a diversidade e sabe que perderia fiéis nesse processo, mas não contava com uma diminuição tão acelerada. Durante 90 anos, de 1890 a 1980, perdeu dez pontos porcentuais. Na última década caiu mais de um ponto por ano", compara Jacob. Com base nos dois últimos censos do IBGE, o estudo mostra e analisa as transformações sócio-religiosas em mapas federais, estaduais e metropolitanos. É um instrumento revelador para os estrategistas das religiões que disputam os fiéis - ou, em alguns casos, os eleitores. Em função da mistura inédita de fé e religião na campanha de Anthony Garotinho (PSB-RJ) nas eleições presidenciais, os pesquisadores cruzaram os dados sobre os votos do ex-governador e constataram que os lugares onde a Rede Record - controlada pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus - tem mais retransmissoras coincidem com as maiores concentrações de pentecostais e com os melhores desempenhos do candidato. Ele teve menor votação nos locais onde o Brasil é mais católico.
Religião
Se os pentecostais cresceram de 6% para 10,6% em nove anos, o Atlas mostra que o avanço não se deu de forma homogênea. Na maior parte da região Norte e em grande parte do Centro-Oeste, eles chegam a mais de 16% da população, enquanto a Igreja Católica perde mais de 16 pontos porcentuais. A Igreja se mantém firme na zona rural, porém cada vez mais esvaziada pelo êxodo, bem como nos núcleos das capitais, com melhores indicadores sociais. É no interior do Nordeste que a influência do catolicismo permanece mais viva. Continua forte também na maior parte de Minas Gerais, Santa Catarina, no sul do Paraná e no norte do Rio Grande do Sul.
Os adeptos da tese de que há uma conspiração contra a soberania brasileira na Amazônia encontram um terreno fértil nos mapas, que detectam na região uma influência crescente de religiões que reúnem numerosos adeptos nos Estados Unidos, especialmente os missionários batistas, adventistas e da Assembléia de Deus. As duas primeiras são classificadas como tradicionais, enquanto a Assembléia, a maior das pentecostais, apresentou em áreas do Amazonas, Pará e Amapá um crescimento de mais de dez pontos porcentuais. "Não gosto de teorias conspiratórias, mas não sou ingênuo de achar que elas não existem. A região tem a maior reserva de água doce do mundo", ressalta o pesquisador Jacob. No Nordeste, é visível a entrada dos pentecostais pelo oeste do Maranhão, litoral de Pernambuco e sul da Bahia.
As outras religiões que compõem o mosaico da diversidade estão presentes especialmente nas metrópoles, mas não interferem na batalha estatística entre católicos e evangélicos. Isso pode ser explicado, segundo os autores do trabalho, pela própria falta de interesse dessas religiões em ampliar seus domínios. O islamismo, a religião que mais cresce no mundo, não é significativo no Brasil: tem apenas 27,2 mil seguidores. É uma presença menor do que a do judaísmo (87 mil) e a do budismo (214,8 mil). Os seguidores da umbanda e do candomblé somam 515 mil e curiosamente não estão concentrados na Bahia, mas no Rio, São Paulo e Porto Alegre. Os espíritas lideram o ranking dos menores, com 2,3 milhões concentrados em São Paulo e no Rio.
Com a globalização, maior acesso à informação, à tecnologia e a respostas científicas para antigos mistérios divinos, era de se esperar que o mundo se distanciasse da religião. Mas não é o que acontece. "As pessoas buscam mais o sentido da vida e esse é um caminho natural para a religiosidade", diz Regina Novaes, antropóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto de Estudos da Religião (Iser). Outro fator explica mais nitidamente o poder de atração das igrejas evangélicas sobre os setores mais carentes da população: a auto-ajuda e a congregação social. "É a chave dos pentecostais", afirma a antropóloga. Para ela, os evangélicos falam da vida real e de soluções para os problemas cotidianos, enquanto o catolicismo remete a salvação para depois da morte. É muito importante, também, o atendimento personalizado. A pregação pentecostal individualiza os fiéis: "Você é o escolhido por Deus."
A operária aposentada Maria Pereira Rodrigues é um retrato evangélico no Brasil, migrante e desenraizado. Ela e o marido, Constantino Rodrigues, ambos de 54 anos, se mudaram há três décadas de Minas Gerais para Guarulhos, periferia da Grande São Paulo, onde trocaram o catolicismo pela Igreja Internacional da Graça. "Eu sofria de uma tosse alérgica que não me deixava dormir e consumia metade do meu ordenado em remédios. Fui a um culto da igreja e uma semana depois já não sentia nada", conta Maria. Na esteira da "cura" ela levou para os cultos o marido, os dois filhos e as noras. O Atlas identifica uma categoria de trabalhadores predominante entre os pentecostais: a empregada doméstica. "O perfil deste grupo é de não-brancos com menor escolaridade e menor renda. Chama a atenção o alto porcentual de mulheres que trabalham como domésticas. Já os empregadores são, em maioria, católicos", explica Jacob.
Vida nova
A identificação da empregada doméstica alagoana Maria das Dores Vieira da Silva com a Assembléia de Deus foi quase imediata. "Antes eu frequentava pagode, bebia e chegava na segunda-feira estragada. Tinha uma vida desregrada, minha alegria era passageira. Na igreja, mudei de vida e hoje tenho felicidade permanente" diz. Maria frequenta um templo em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Lá ela reza, se diverte e faz uma espécie de terapia. Trabalha em Ipanema, zona sul carioca, na casa da capixaba Martha Barroso, que, reforçando a tese, é católica. As duas, patroa e empregada, são o revestimento pacífico e predominante hoje nas relações entre os grupos religiosos. "Eu adoro ser católica, mas respeito as outras opções. Percebo que a igreja evangélica supre a vida social da Maria", diz Martha.
Por coincidência, Martha e Maria moram no Rio de Janeiro, identificado pelo IBGE como o Estado de maior pluralismo religioso. O comerciante carioca Angelo Roberto de Siqueira Neto é a própria tradução da diversidade. Ele nasceu católico há 58 anos, fez a primeira comunhão e seguiu a tradição até a adolescência, quando se tornou mórmon. Depois, passou a questionar tudo e virou ateu. Na idade madura, se converteu ao espiritismo kardecista, que frequenta até hoje sem abandonar suas investigações filosóficas. Admira o budismo e faz meditação.Durante os meses em que morou na Bahia, conheceu o candomblé e a umbanda. Tudo é equilibrado pelo tai-chi-chuan, uma arte marcial com base espiritualista. "Praticar várias religiões só mostra que tudo leva ao mesmo lugar: a Deus."
Se o avanço dos pentecostais se dá principalmente entre os mais pobres, moradores da periferia e migrantes, o catolicismo se mantém praticamente intacto na outra ponta, os brancos de renda mais alta e maior nível de escolaridade. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, 50 anos, médico e pertencente a uma tradicional família de Pindamonhangaba, interior do Estado, é um expoente do catolicismo. Ele e a mulher, Maria Lúcia, 51 anos, frequentam aos domingos, com os três filhos, uma igreja no Morumbi, onde têm seu apartamento. São devotos de Nossa Senhora Aparecida. Em discursos e palestras, o governador costuma citar frases de São Tomás de Aquino e Santo Agostinho. Uma de suas preferidas, de Santo Agostinho, diz: "Prefiro os que me criticam porque me corrigem aos que me adulam porque me corrompem."
Como a família Alckmin, a maioria dos católicos é tradicional nos costumes. A experiência religiosa moderna, no entanto, tende a construir novos e flexíveis conceitos. A tese consta da pesquisa Desafios do catolicismo na cidade: pesquisa em regiões metropolitanas, realizada no ano passado pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris). O trabalho, coordenado pela socióloga Sílvia Regina Fernandes, detecta anseios como o da atualização da Igreja Católica. É, por exemplo, o caminho da Renovação Carismática, que atrai muitos jovens. "Há uma tendência moderna em considerar como privadas as questões ligadas à sexualidade", conclui a pesquisa. Ou seja, os católicos querem cada vez mais autonomia em relação a assuntos de foro íntimo, como casamento, métodos contraceptivos e opção sexual, temas que o Vaticano tenta manter sob o controle de suas rígidas tradições.
Na pesquisa do Ceris, grande parte dos católicos é a favor do segundo casamento (62,7%), do sexo antes do casamento (43,6%) e do divórcio (60%). Segundo Sílvia, "eles esperam que a Igreja promova debates e oriente, sem imposições". Da mesma forma, o brasilianista John Burdick, que nasceu em Massachusetts (EUA) e viveu na Baixada Fluminense na década de 80, diz em seu livro Procurando Deus no Brasil que o "modelo da religião única deixou de ser satisfatório". Em seu trabalho antropológico, Burdick flagra os católicos em migração para o pentecostalismo ou a umbanda. Ao fim de tudo, a constatação é de que religião, hoje, é um mercado livre. Do lado bom tem a palavra livre e do ruim, o mercado.

(Fonte Amai-vos)

Colégio Pequeno Príncipe inaugura busto de Dom Vicente

Madre Feitosa, diretora do Colégio
Pequeno Príncipe
Em meio a festiva solenidade, foi inaugurado – no último dia 25 de março – um busto de Dom Vicente de Paulo Araújo Matos, localizado no pátio interno do Colégio Pequeno Príncipe. Dom Vicente foi o terceiro bispo da diocese de Crato e um dos fundadores daquele educandário. Este é o terceiro busto de Dom Vicente Matos instalado em Crato. Os outros dois ficam na Praça da Sé e no Centro de Expansão Dom Vicente Matos, no bairro Grangeiro.
Esta foi a maneira de instituições privadas responderem à grave omissão da Câmara de Vereadores de Crato. Esta, até hoje, não denominou uma rua da cidade de “Dom Vicente Matos”. Nesse sentido, foram dezenas as cobranças – feitas à Câmara Municipal – pela comunidade cratense. Os nobres vereadores continuam fazendo “ouvidos moucos” ao clamor da população que exige uma homenagem pública ao maior benfeitor de Crato. A partir de agora recairá unicamente sobre os vereadores a fama de ingratidão, impingida a Crato, para com a memória do grande bispo...
Nenhum outro homem carreou tantos benefícios para esta cidade como Dom Vicente Matos! Ainda muito jovem, com 37 anos, ele aqui chegou. O ano era 1955 e Dom Vicente veio como bispo auxiliar de Dom Francisco. E daqui só saiu em 1992, após renunciar ao cargo de Bispo titular de Crato. Foram 37 anos de trabalho, doação, vitórias e sofrimentos vários...
Era um gigante aquele bispo! Deve-se a ele a criação do Instituto de Ensino Superior do Cariri, de onde veio a Faculdade de Filosofia de Crato, embrião da atual Universidade Regional do Cariri. Depois, Dom Vicente criou a Rádio Educadora do Cariri, a Empresa Gráfica Ltda. (que por longos anos editou o jornal “A Ação”), o Colégio Madre Ana Couto com seu imponente prédio (hoje utilizado pela Faculdade Católica do Cariri) e o Colégio Pequeno Príncipe.
Todos os sindicatos rurais existentes no Sul do Ceará foram criados por Dom Vicente. A ele deve-se, também, a criação da Fundação Padre Ibiapina, a Organização Diocesana de Escola Radiofônicas, a Escola de Líderes Rurais–ELIRUR, o Centro de Expansão no bairro Granjeiro, e a Vila Jubilar. Durante seu episcopado criou 18 paróquias, foram ordenados 37 sacerdotes. E fez ainda tantos bens que o espaço seria insuficiente para enumerá-los...
Dom Vicente Matos faleceu em 6 de dezembro de 1998 e seus restos mortais repousam na Capela de Jesus Ressuscitado, existente na Catedral de Crato. Ali, o grande bispo dorme o sono da paz à espera da ressurreição final...

(Redação e postagem de Armando Lopes Rafael)

quarta-feira, 25 de março de 2009

Salão de Beleza

Nas cavernas em que adentro
vejo ratos mortos com o esqueleto branquinho.

Enquanto logo abaixo
pomposas madames pintam os cabelos
e fazem as unhas.

Quando desço suado, sujo e fedendo
todos me lançam olhares de indiferença e asco.

Tiro os óculos,
limpo no pedacinho de flanela
e continuo atravessando o recinto
a passos lentos.

Quase colado na gerente
sussurro aos seus ouvidos -

Tem dentro da caixa d'água
boiando uma ratazana inchada enorme.

Antes que a gerente desmaie,
ainda lhe ouço a voz baixinho - Morta?

Não, senhora -
Praticando mergulho.

OFICIALMENTE VELHO

por Leonardo Boff*

Neste mês de dezembro (2008), completo 70 anos. Pelas condições brasileiras, me torno oficialmente velho. Isso não significa que estou próximo da morte, porque esta pode ocorrer já no primeiro momento da vida. Mas é uma outra etapa da vida, a derradeira. Esta possui uma dimensão biológica, pois, irrefreavelmente, o capital vital se esgota, nos debilitamos, perdemos o vigor dos sentidos e nos despedimos lentamente de todas as coisas. De fato, ficamos mais esquecidos, quem sabe, impacientes e sensíveis a gestos de bondade que nos levam facilmente às lágrimas.
Mas há um outro lado, mais instigante. A velhice é a última etapa do crescimento humano. Nós nascemos inteiros. Mas nunca estamos prontos. Temos que completar nosso nascimento ao construir a existência, ao abrir caminhos, ao superar dificuldades e ao moldar o nosso destino. Estamos sempre em gênese. Começamos a nascer, vamos nascendo em prestações ao longo da vida até acabar de nascer. Então, entramos no silêncio. E morremos.
A velhice é a última chance que a vida nos oferece para acabar de crescer, madurar e, finalmente, terminar de nascer. Neste contexto, é iluminadora a palavra de São Paulo: "Na medida em que definha o homem exterior, nesta mesma medida rejuvenesce o homem interior"(2Cor 4,16). A velhice é uma exigência do homem interior. Que é o homem interior? É o nosso eu profundo, o nosso modo singular de ser e de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical. Essa identidade, devemos encará-la face a face.
Ela é pessoalíssima e se esconde atrás de muitas máscaras que a vida nos impõe. Pois a vida é um teatro no qual desempenhamos muitos papéis. Eu, por exemplo, fui franciscano, padre, agora leigo, teólogo, filósofo, professor, conferencista, escritor, editor, redator de algumas revistas, inquirido pelas autoridades doutrinais do Vaticano, submetido ao "silêncio obsequioso" e outros papéis mais.
Mas há um momento em que tudo isso é relativizado e vira pura palha. Então, deixamos o palco, tiramos as máscaras e nos perguntamos: afinal, quem sou eu? Que sonhos me movem? Que anjos me habitam? Que demônios me atormentam? Qual é o meu lugar no desígnio do Mistério? À medida que tentamos, com temor e tremor, responder a essas indagações vem a lume o homem interior. A resposta nunca é conclusiva; perde-se para dentro do inefável.
Este é o desafio para a etapa da velhice. Então, nos damos conta de que precisaríamos muitos anos de velhice para encontrar a palavra essencial que nos defina. Surpresos, descobrimos que não vivemos porque simplesmente não morremos, mas vivemos para pensar, meditar, rasgar novos horizontes e criar sentidos de vida. Especialmente para tentar fazer uma síntese final, integrando as sombras, realimentando os sonhos que nos sustentaram por toda uma vida, reconciliando-nos com os fracassos e buscando sabedoria. É ilusão pensar que esta vem com a velhice. Ela vem do espírito com o qual vivenciamos a velhice como a etapa final do crescimento e de nosso verdadeiro Natal.
Por fim, importa preparar o grande encontro. A vida não é estruturada para terminar na morte, mas para se transfigurar através da morte. Morremos para viver mais e melhor, para mergulhar na eternidade e encontrar a última realidade, feita de amor e de misericórdia. Aí, saberemos, finalmente, quem somos e qual é o nosso verdadeiro nome.
Nutro o mesmo sentimento que o sábio do Antigo Testamento: "Contemplo os dias passados e tenho os olhos voltados para a eternidade".
Alimento dois sonhos, sonhos de um jovem ancião: o primeiro é escrever um livro só para Deus, se possível com o próprio sangue; e o segundo, impossível, mas bem expresso por Herzer, menina de rua e poetisa: "Eu só queria nascer de novo, para me ensinar a viver". Mas como isso é irrealizável, só me resta aprender na escola de Deus. Parafraseando Camões, completo: “mais vivera se não fora, para tão longo ideal, tão curta a vida”.

*Teólogo, professor e membro da Comissão da Carta da Terra

A Grade de Ferro

Por pouco o poeta não admira a alma
levitando fora do corpo .

Uma grade de ferro na nuca
mata não importa o encosto.

Meu anjo da guarda tem insônia
mas de dia não boceja -

é valente,
sempre atento.

Segurou com uma asa
a barra de ferro

e com a outra
dos meus ombros
sacudiu a poeira.

Por um segundo fiquei cego -
só pensei no meu último verso.

Será que poeta ainda escreve
com a alma fora do corpo
e o crânio partido?

Meu anjo da guarda balança a cabeça
com um olhar reprovativo -

Cuidado com as palavras,
menino.