TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 31 de julho de 2008

A ENCENAÇÃO DO ASNO DE BURIDAN


Isso ocorreu na batateira. O esforço cultural da prefeitura, naquele ano, resolveu-se após intensos debates e até altas horas das noites sem mais nada para fazer. Afinal a solução: vamos levar o projeto de encenar a Fábula do Asno de Buridan com os alunos da Escola Amélia Pinheiro. Projeto pronto, secretário passou o jamegão nos documentos, o prefeito engavetou por semanas, afinal tinha muitas viagens a Brasília em busca de verbas e finalmente a aprovação. o dinheiro para as fantasias. E o burro? A pergunta mais grave feita ao déficit orçamentário da obra. a fantasia do burro era muito mais cara que toda a verba. Criatividade. Dizia, em alto e bom tom, o prefeito com o olhar turvo e fixo feito um sinal de trânsito vermelho.

Criatividade: pois então. Correram uma rifa de um Ipod descascado, fanho e gago, presenteado por um vereador decepcionado com o amor perdido. Material de terceira categoria e a pobreza da batateira deu seus trocados para financiar o projeto da prefeitura. O apurado quase não cobria a despesa, afinal rifa de pobre quase não paga o objeto rifado. Mesmo assim o financiamento estava completo, restava selecionar o elenco na escola, organizar o palco e platéia e, claro, ensaiar a peça. Aliás roteiro transcrito por dezesseis mãos em rodadas infindáveis de senhas e contra-senhas sobre a fábula. Afinal a peça.

E vinha o asno, manco pois a fantasia fora costurada com encurtamento de um dos lados, queixando-se de fome e sede, reclamando o sofrimento da vida. Quem assistia ao evento até imaginava que o asno teria sido aquele sorteado com o Ipod da geração de fundos. O pobre asno, desolado, sem solução nas possibilidades daquele palco suburbano. Nenhuma alma solidária para ao menos uma mão de milho aplacar-lhe a fome corrosiva. Nem uma caneca de água dormida para descer-lhe de esôfago a baixo, fria e plena de fartura, no vazio que a vida lhe armara. O asno era plenamente o Asno de Buridan. E vem o drama da escolha.

Amarram o asno entre um monte de capim e uma gamela de água turva,. Enquanto representação da fome o artista que o asno tinha em si era plena convicção. Uma representação inigualável no teatro regional e brasileiro. O asno mancava com os passos da falta de líquidos e sólidos. Sonhava com sonhos de valsas, com pães quentes amanteigados, com bifes suculentos sobre um morro de arroz e feijão. Sonhava o asno, que um artista da batateira tinha em suas entranhas, com taças cheias de caldo de cana gelado, com cerveja borbulhando na borda de canecões, canadas de sucos doces e apaziguadores. Por isso mesmo cena mais convincente jamais o teatro tivera notícia igual.

Mas o clímax da peça, aquela cena em que a fábula se realiza na sua totalidade foi um fracasso inigualável. O burro não se angustiava entre o capim e a gamela de água. Nenhuma indecisão de espírito que representasse o livre arbítrio em aplacar, primeiramente, a fome ou a sede. Não havia entusiasmo do artista, vestido de asno, para qualquer das duas opções. Ele se dirigia para o lado do capim, mas não desistia pelo motivo que o confundia em razão da sede na fábula. Na verdade, o artista fugia de alimentar-se de capim. Não desejava a água turva da gamela. Ao invés de uma indecisão pelo que primeiro se resolveria (fome ou sede), se viu a fuga das opções que lhe ofereceram na realidade do palco.

Após o espetáculo, na bodega de João do Tetéu, quiseram entender o fiasco do ator e este se explicou, curto e grosso:

- E capim é comida de gente?...

Fonte

As unhas morrem de ódio das cutículas.
Os neurônios abobalhados planejam suicídios.
Tudo em mim é inveja e tédio.
Tantos quartos empoeirados
para uma só aranha trêmula.
A única refeição do dia
não saiu da toca.
Não me resta outra morte
senão lançar-me os dedos às teclas.
Tudo em mim é tolice e frio.
Meu coração mama sangue
por uma seringa enferrujada.
Meu paraíso é obscuro.
Entes sorridentes dizem olá.
Conquistam-me pela lábia.
Desperto. Tarde.
Tudo em mim é paraíso.
Um inferninho legal.
Desses de Leônidas,
o espartano.

Tirando uma Onda de Lupeu !

Outubro, mês das Atitudes e da Liberdade!
Ele será o mês dos cratenses... vermelhos!
Mês de Liberdade... da minha, da tua, da nossa!
Mês de esperanças, receios, confiança, mudança...
Mês de cortar amarras e partir para novos horizontes...!
Outubro, é o mês das grandes mudanças...

Por - João Ludgero

Antes de banho

Fiz as pazes com o vazio devorador.
Meus instintos todos espumando.
Olhos arregalados.
Boca torta.
Mas a alma tá boa isca.
Fiz as pazes com meus mais declarados farsantes.
Tanto em távola redonda
quanto em mesinha de bar
uma xicara de cafezinho quente
afugenta a alma.
Estamos quites eu e minhas sombras mesquinhas.
Podem ir fantasmas.
Fiz as pazes com as vozes mediúnicas
que atrasavam a passagem dos ancestrais.
Dobro a esquina pronto:
eis o primeiro cocô de madame.
Perdôo. Também fiz as pazes com seus Poodles.

Dividi com Miguel uma bolacha creme cracker com doce de goiaba quando tínhamos doze anos. O povo dizia de Miguel: - é fraco da mente, tadinho. Ele não ligava. Ou fingia bem. Quando a gente vinha da escola ele dizia: - de noite eu não sou doido. Doido de noite? Tem quem seja. No dia da chuva eu o vi no meio do campo de futebol. Sozinho. Me disse que estava conversando com as coisas. E que na chuva as coisas falam com mais clareza. Miguel tem o dom de entrar nos lugares e não ser notado. Tem as roupas e sapatos cheios de marcas, assim como seus joelhos. Caía muito meu amigo Miguel. Com ou sem ajuda. Não sei por que lembro de Miguel quando estou sozinho. Mas lembro. Talvez por ter sentido nele o animal da solidão que me apavora hoje. Dia desses nos encontramos. Ele me abraçou. Lembrou que tinha – um dia – soprado velinhas coloridas de um bolo. Quando tinha sido. Amanhã? Semana passada? Dez anos atrás? Ontem? Ontem. Palavra engraçada: ontem. Ontem Miguel ria com todos os dentes. E me confessou: quando a lua ta cheia, ele uiva.

"Jornal do Cariri", edição 29-julho-2008:

Joaquim Pinto Madeira

Armando Lopes Rafael (*)
Pessoa interessante – e quase desconhecida – esse Joaquim Pinto Madeira! Em 1946, o médico e historiador cratense Irineu Pinheiro escreveu um trabalho sobre Pinto madeira, o malogrado caudilho caririense, nascido em Barbalha – no lugar denominado Silvério – ao sopé da Chapada do Araripe.
Pinto Madeira participou, ativamente, no Cariri, dos acontecimentos da Revolução Pernambucana de 1817 e da Confederação do Equador, esta em 1824. Era monarquista convicto, mas, diferente do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, Pinto Madeira era rancoroso e vingativo. Esses defeitos lhe acarretaram muitos inimigos.
Derrotados os revolucionários republicanos cratenses de 1817, coube a Pinto Madeira conduzir à prisão, em Fortaleza, os 20 presos políticos, a maioria da família Alencar ou seus agregados. No percurso, consta que esses presos teriam sofrido humilhações da parte do caudilho.
Irineu Pinheiro escreveu: “Nunca perdoaram os Alencares e os liberais cratenses a ação de Joaquim Pinto Madeira naquelas duas agitadas fases da nossa história”. Pinto Madeira era acérrimo inimigo dos republicanos e liberais. Quando da abdicação do Imperador Dom Pedro I ao trono brasileiro – fato ocorrido em 7 de abril de 1831 – Pinto Madeira aliou-se ao atrabiliário Vigário de Jardim, Padre Antônio Manoel de Sousa, julgando que os liberais brasileiros teriam forçado o Imperador a abdicar. Ledo engano, desmentido posteriormente pela história.
Os dois organizaram uma milícia, com cerca de dois mil homens, a maioria armada com rudimentares espingardas e invadiram a cidade de Crato para dar cabo das pessoas simpatizantes dos liberais. Na versão dos inimigos de Pinto Madeira, à falta de espingardas, o Padre Antônio Manoel benzia cacetes e os distribuía aos membros da milícia. Daí lhe vem o apelido de “benze - cacete”.
Pinto Madeira entrou triunfalmente em Crato. Mas, não pôde (ou não quis) conter os violentos revoltosos que saquearam o comércio e residências, cometeram assassinatos e queimaram arquivos públicos. A essa invasão seguiram-se as batalhas nas localidades Buriti, Coité, Barbalha, Missão Velha e Icó. Em 05 de junho de 1831 a Câmara de Crato decretou a prisão de Pinto Madeira. Pressionado pelo Governo Imperial o caudilho negociou sua rendição com o famoso General Labatut, em troca da garantia de vida.
O General cumpriu o trato e remeteu Pinto Madeira para Recife. Retornando ao Rio de Janeiro, Labatut não mais acompanhou Pinto Madeira que foi mandado ao Maranhão, onde sofreu muitas torturas. Retornou preso ao Ceará em 1834. Foi escoltado de Fortaleza a Crato, onde – num júri parcial – composto por inimigos seus, Pinto Madeira foi condenado à forca em 26 de novembro daquele ano. Não por crime da sua sedição, mas porque teria, anos antes, ordenado a morte de um parente de um dos jurados. Pinto Madeira tentou usar o direito de apelação, o que lhe era garantido pelas leis vigentes, o que lhe foi negado pelo juiz de forma ilegal.
Vendo que era o seu fim, alegou sua condição de Coronel pedindo para ser fuzilado ao invés de enforcado. Irineu Pinheiro arremata com maestria:
“Morreu virilmente Pinto Madeira. Conta a tradição, ouvida por mim desde criança, que momentos antes do fuzilamento, ofereceu-lhe um lenço para que vedasse os olhos um dos seus mais implacáveis inimigos, José Francisco Pereira Maia. Recusou o condenado a oferta, replicando ter no bolso lenço próprio. Durante anos a fio, fez-lhe promessas o rude povo dos sertões, considerando-o um mártir, isto é um santo”.
(*) Armando Lopes Rafael é historiador. Artigo publicado no “Jornal do Cariri” em 30 de outubro de 2001.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Charge

Grande Gil !



Gilberto Gil vai "poder dormir mais", diz Flora

Claudio Leal

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, não enfrentou resistências familiares para tomar a decisão de deixar o governo federal. Em conversa com Terra Magazine, a mulher do compositor e ministro, Flora Gil, revela o alívio: "Nossa! A Preta agradece, todos os filhos, o neto, todo o mundo."

No início da noite desta quarta-feira, 30, Gilberto Gil formalizou a saída do Ministério da Cultura para dedicar-se com mais intensidade à carreira artística. O secretário-executivo, Juca Ferreira, pode assumir a pasta em caráter definitivo. Flora avalia a escolha do marido:

- Eu achei mais tranqüilo pra vida dele, pra saúde também. Ele vai poder dormir um pouco mais, vai se alimentar melhor, cuidar melhor da música. Achei que estava na hora. Achei boa a decisão. Achei bacana.

Em 2007, Gil havia tornado público o medo da "perda de qualidade vocal", mas, a pedido do presidente Lula, aceitou permanecer no cargo. Agora, fez a opção final. E segue a turnê "Banda Larga Cordel".

- Ele lançou um disco e não tem como você lançar um disco sem divulgar. Pra isso, tem que se afastar... Então, não dá pra você fazer as duas coisas bem ao mesmo tempo - explica Flora.

Terra Magazine

Mandem erguer uma estátua para Lampião

Ronaldo Correia de Brito
Do Recife (PE)

Festejaram bastante os setenta anos da morte de Lampião. Uma festa parecida com o louvor a um mito. Todos parecem esquecidos do medo em que viviam os estados nordestinos, nos anos em que o cangaceiro reinou. Em Serra Talhada, onde ele nasceu, até pensaram em erguer estátua. Pode? Se na França cultuam a memória de Napoleão, porque negar esse direito aos conterrâneos de Virgolino Ferreira da Silva?

No Houaiss, bandido é o indivíduo que pratica atividades criminosas; pessoa sem caráter, de maus sentimentos. E também assaltante, bandoleiro, cabra, celerado, larápio, malfeitor, salteador e por aí afora. Por mais que a literatura de cordel e o cinema novo tenham lapidado uma outra imagem de Lampião, ele será sempre um bandido. Por mais que os sociólogos de esquerda como Rui Facó analisem as causas do cangaço, vinculando-as à fome, ao isolamento, à miséria da região, ao coronelismo e à política latifundiária, mesmo assim os cangaceiros continuarão bandidos.

No Brasil, tendemos a transformar bandidos em heróis, a simpatizar com salafrários que burlam a lei, enriquecem com o crime e sobem na vida a qualquer custo. Nenhuma comoção nacional aconteceu com a prisão de Daniel Dantas e seus asseclas. Ninguém saiu às ruas para manifestar-se, nem houve ameaças de linchamento como no caso da menina Isabella. Crimes de corrupção, mesmo que cheguem à cifra de dois bilhões de reais, são abstratos demais para os brasileiros. Gostamos do espetáculo do sangue e da carnificina.

A história de Lampião é um exemplo de que o Brasil globalizado ainda guarda resquícios do Brasil rural. Em 1926, Virgolino, acompanhado de seu bando, visitou a cidade cearense de Juazeiro do Norte, para se encontrar com grandes proprietários de terras, A Liga dos Coronéis, e receber a bênção do Padre Cícero Romão Batista, o Padinho Ciço. Os políticos, os latifundiários, o clero e os bandidos juntos, parecido com hoje.

A simpatia por Lampião se deve ao poder que ele alcançou desafiando autoridades e poderosos. Suas façanhas alimentavam o imaginário das pessoas que também sonhavam em romper com a miséria sertaneja. Mas Lampião nunca foi um herói como o lendário Robin Hood, roubando dos ricos para ajudar aos pobres. Sua crueldade só fazia distinção com os fazendeiros que pagavam para não serem molestados, nem terem as propriedades invadidas. Eram os coiteiros, protetores de criminosos e passadores de informações. Tudo igualzinho a hoje.

Quando visitou Juazeiro, além de receber armamentos, munição e a bênção do Padrinho, Lampião foi incumbido de ir ao encontro da Coluna Prestes e atacá-la. Mas ele tomou um rumo contrário ao dos comunistas. Sua vida era de bandoleiro e não de político. É falso politizar suas façanhas. Brigas de família por disputa de terras eram comuns naquele nordeste agrário e medieval. A escolha de Lampião pelo cangaço se deu por vários motivos, e não apenas por ele ter presenciado a morte dos pais. Centenas de cangaceiros entraram na vida errante, e não passaram pelo mesmo trauma.

O romancista russo Dostoievski criou um personagem que justifica o crime de assassinato cometido por ele, comparando-se a Napoleão. Bonaparte levou centenas de milhares de pessoas à morte, pilhando e destruindo cidades em nome de um sonho imperialista. A história o transformou em herói. É possível que as gentes nordestinas tenham enxergado em Lampião não o imperador expansionista que converteu a França ao seu delírio, mas alguém capaz de um grande feito: inverter a ordem do medo e do terror, assumindo o lugar de tirano. Se abstrairmos os discursos políticos, Lampião e Napoleão são metais do mesmo quilate. Afinal, bandido é o indivíduo que pratica atividade criminosa, segundo Houaiss.

Ronaldo Correia de Brito é médico e escritor. Escreveu Faca e Livro dos Homens.

Fale com Ronaldo Correia de Brito: ronaldo_correia@terra.com.br

Divino osso

Não largo meu osso.
Osso saboroso
que dói no dente.
Todo santo dia
ou dia infernal
tiro uma casquinha.
Alimento-me a loucura.
Vejo nódoas verdes no teto.
Ouço grilos matinais.
Tem hora que caio da rede.
Mas o abismo jardim florido.
Trigal ao luar.
Cães, vândalos, pilantras
tentam roubar-me quando durmo.
Tenho dó dos tolos.
Só fecho os olhos fingimento.
Não largo mesmo meu osso
nem bêbado nem duende.
Meu osso é um osso labareda.
Queima as mãos dos incautos.
Não largo meu osso.
Meu osso é uma parada.

Noticias da Semana


O PRIMEIRO AUTOMOVEL DE CRATO
Pertencia ao comerciante Manuel Siqueira Campos o primeiro automóvel chegado a Crato (foto acima). Às 5 horas da manhã de 29 de setembro de 1919 a população da então pequena cidade ouviu, pela primeira vez, o barulho do motor de um automóvel. Na manhã do dia seguinte foi inaugurada a estrada para o Lameiro construída pelo então prefeito Antônio Luís Alves Pequeno. Hoje é difícil conseguir estacionamento para carros no centro de Crato. E o Lameiro é um dos bairros da cidade.

E POR FALAR EM SIQUEIRA CAMPOS...
Quem passa pela Praça Siqueira Campos observa tapumes que estão sendo colocados para nova reforma no logradouro. Falta a placa indicativa da obra. Entretanto, os freqüentadores da praça mais antiga de Crato informam que, dentro da reforma, será construída uma coluna para um relógio com quatro faces. Tomara que – dentro dessa obra – não seja retirado um busto do comerciante Siqueira Campos, colocado no local durante a última reforma do logradouro, feita na administração de José Adega. Crato possui poucos monumentos públicos. E o busto homenageia um comerciante progressista, pioneiro do calçamento das ruas de Crato. Pavimentação, aliás, feitas às expensas de Siqueira Campos.

JUSTIÇA FEITA
Há tempos vozes sensatas reclamam uma homenagem da cidade de Crato ao seu fundador: Frei Carlos de Ferrara. Os poderes públicos foram omissos até agora. Entretanto, consta que a Diocese de Crato vai criar o Centro Cultural Frei Carlos Maria de Ferrara, que englobará o Departamento Histórico Padre Antônio Gomes de Araújo e o futuro Museu Diocesano. A Diocese de Crato estará, assim, corrigindo a gritante omissão.

A VERDADE NUA E CRUA 1
O Governo pouco ajuda o agronegócio brasileiro. Existe muito dinheiro, mas a prioridade é financiar a reforma agrária em terras invadidas pelo MST. Essas terras, quase sempre, viram “favelas rurais”, pois a maioria dos assentados (recrutados de outras localidades distantes do local invadido) não possui experiência nem competência para tocar uma mini propriedade rural. Enquanto isso o agronegócio tem dado mostras de um vigor extraordinário. Cerca de 40% do PIB nacional – mais de 50 bilhões de dólares nas exportações – e 40% dos empregos do País vêm do agronegócio.

A VERDADE NUA E CRUA 2
Eis uma amostra dos feitos do agronegócio brasileiro: a safra de grãos ultrapassou 140 milhões de toneladas; somos o maior exportador de soja do mundo; no setor de açúcar e álcool teremos produção recorde de 30 milhões de toneladas de açúcar e 23 bilhões de litros de álcool (equivalente a 400 mil barris de petróleo/dia); a produção de laranjas cresceu 30% e em cada dez copos de suco de laranjas bebidos no mundo, oito são do Brasil; somos o maior produtor mundial de café, o segundo de milho. E o rebanho bovino do Brasil, com 200 milhões de cabeças, é o dobro do norte-americano...

COMEMORAÇÕES
Em 2008-2009, a diocese de Crato está comemorando 140 anos das Missões Populares do Servo de Deus Padre Ibiapina no Cariri. Servo de Deus é o título que se dá a quem teve processo iniciado no Vaticano visando beatificação e posterior canonização. Também neste ano serão comemorados os 260 anos de criação da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de Crato, fato ocorrido em 04 de fevereiro de 1768.

CINEMA CARIRIENSE
O cineasta cratense Jackson Bantim (o conhecido “Bola”) prossegue sua batalha para concluir o curta-metragem “As Sete Almas Santas Vaqueiras”. Bola resgata uma história do imaginário popular nordestino. O filme teve cenas externas filmadas no distrito Santa Fé, em Crato e tem como diretor-assistente o cineasta Glauco Vieira. A trilha sonora é de Luiz Carlos Salatiel e o diretor de fotografias é Catulo Teles. Jackson Bantim merece ser ajudado pelas instituições culturais cearenses, pois o cinema caririense vem crescendo em qualidade nos últimos tempos.

Vergonha de ser honesto


A população brasileira já começa a esquecer a “Operação Satiagraha” deflagrada pela Polícia Federal em 8 de julho passado contra uma quadrilha que praticava crimes financeiros, tendo a frente o banqueiro Daniel Dantas, ligado às fraudes cometidas no esquema do Mensalão. Alguém lembra do “Mensalão”?
Golbery do Couto e Silva – o misterioso general que fundou e dirigiu o Serviço Nacional de Informações (SNI), o “feiticeiro” político dos governos militares pós-1964 – dizia que o brasileiro não tem memória. E acrescentava: a memória coletiva brasileira quando muito durava só 15 dias. E isso se não for véspera de carnaval ou da Copa do Mundo de futebol.
Tinha razão o “bruxo” Golbery!
Nos últimos tempos a República brasileira viveu uma sucessão de escândalos. Todos esquecidos. Ninguém mais fala, por exemplo, no escândalo Waldomiro Diniz, nos “Vampiros” do Ministério da Saúde, nos dólares na cueca, na empreiteira que pagava as despesas de Renan Calheiros ou na crise do Apagão Aéreo... A opinião pública parece anestesiada e conformada. Tem-se a impressão de que tudo no Brasil corre as mil maravilhas. O pior é que a coisa vem de longe, de muito longe...
Já em 1914, quase um século atrás, Rui Barbosa nas suas “Obras Completas”, Volume 41, Tomo 3, 1914, página 86, escreveu:


"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto... Essa foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime (na monarquia) o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre - as carreiras políticas lhe estavam fechadas.
Havia uma sentinela vigilante (Dom Pedro II), de cuja severidade todos se temiam a que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade gerais. Na República os tarados são os tarudos. Na República todos os grupos se alhearam do movimento dos partidos, da ação dos Governos, da prática das instituições. Contentamo-nos, hoje, com as fórmulas e aparência, porque estas mesmo vão se dissipando pouco a pouco, delas quase nada nos restando”.

Palavras atuais. A propósito, alguém sabe quem foi Rui Barbosa?

Armando Lopes Rafael

A vida como ela é

Iracema dos lábios de réu
Mora debaixo de um luxuoso viaduto
Com vista para o mar
Exibe com orgulho o seu diploma
De primeira miss Ceará
Peri é líder comunitário na Rocinha
Tem uma ong de fachada social
Que atende aos órfãos do narcotráfico
Mas por trás do cenário ele
Alicia menores virgens para o
Consumo do Congresso Nacional
Ceci é sacoleira em tempo integral
Vende mercadoria do paraguai
Sem pagar imposto ou direito autoral
Espera a morosidade da justiça
Pra resolver o valor da pensão
Do ex-maridão que virou marginal
Fabiano levou um tiro
Numa invasão tumultuada do MST
Agora exibe o ferimento horrível
Nos coletivos interestaduais
Em troca de trocados emocionais
Chico Bento virou cantor de
Uma banda de forró eletrônico
Dizem que fez um pacto com o diabo
Pra sustentar a família fora
Das dependências do curral eleitoral
Dizem que por trás da pornografia
Existe um cara que é temente
De todos esses entre tantos
Só Bruna Sufistinha sabe ser
A vida como ela é: escreveu não
Leu o pau comeu

Uma Outra Coisa Sobre o Amor - ROBERTO FREIRE






Uma ou outra coisa sobre o amor
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De repente um súbito e inesperado encantamento veio revelar possibilidades de amor em mim, como antigamente. Isso me assustou, porque conheço bem os tempos de meus sentimentos e de minhas emoções, sobretudo os de passagem de uns para outros, por exemplo do encantamento para o amor e deste para a paixão. Com o passar do tempo, porem, foram se tornando cada vez menores e menos perceptíveis. Por isso, temo que agora, só porque houve encantamento, eu já esteja perdidamente apaixonado. Resolvi, pois, refletir sobre uma ou outra coisa que durante a minha vida aprendi com e sobre o amor.

Só acho suportável viver quando estou amando. A vida, em si mesma, não me parece interessante.
Por essa razão só escrevi livros sobre o amor. E existe outra razão para viver e para escrever ?? Em 1965, em meu primeiro romance, Cleo e Daniel, fiz uma frase que acredito exprimir sintética e completamente essa realidade minha: "E o amor, não há vida, o contrario da morte".

Mas é muito difícil, quase impossível para mim, entender o amor. Como me sinto agora, intelectualmente perplexo, por estar vivendo esse encantamento. Não compreendo nada, mas vou me entregando gostosamente. E me perguntando: adianta alguma coisa entender, compreender, esclarecer as possibilidades e os caminhos do amor ?? Ele por acaso se tornaria melhor se pudéssemos submete-lo ao processo racional, do que vivido espontaneamente pelos sentidos, pelas emoções e pela sensualidade ?? Eu sei que não, que não adianta, que isso é inútil. Um dia resolvi a coisa assim: Do amor só pode fazer autopsia, jamais biopsia".
Isso me parecer verdade porque é impressionante como conseguimos explicar perfeitamente todos os nossos erros táticos, toda a nossa burrice e toda a nossa cegueira no amor, mas SÓ DEPOIS que o amor acaba. Mas quem consegue entender o parceiro DURANTE a transa, que é competente para prever as conseqüências de pequenas irresponsabilidades nossas ENQUANTO o amor dura ?? Só autopsia, nenhuma biopsia.

terça-feira, 29 de julho de 2008

COM OS OLHOS DE ACHAR POESIA


Do porto as velas cercam o sol no fim da tarde
Os homens descarregam das jangadas a geometria infinda das redes
Na peregrinação dos músculos cansados
No olhar crispado dos peixes

No fim da tarde o sol escorre como a lágrima na face,
As ondas se movimentam como a repiração, como arfar de um peito
E com efeito, o sol que lambe os rostos ainda arde
Arde como a paixão, sem brida arreio ou freio.

No fim das tardes, do chocalho de dias que são os anos
A escaler, a jangada, os peixes, as ondas ainda se hamonizam
E na mesma valsa dançam, sob as retinas deste olhar praiano.
No fim da tarde ninguém diria, mas tudo é possível, com os olhos de achar poesia.

Embuá

Arrasto-me pelo piso úmido de urina doce.
Os mórbidos desviam-se do meu perfume.
Sequer os escorpiões espertos
com suas caudas cintilantes
cravam-me veneno.
Escapo dos relâmpagos
sob uma casca de barata.
Passo leite condensado
nas minhas axilas.
Mesmo assim
as meninas diabéticas
rejeitam-me.
Minhas centenas de pés
não me levam a Pasárgada alguma.
Da minha alcova
para o banheiro.
Dou descarga,
reflito:
embuá embuste
o que sou.

A sombra que repara

Meus hematomas brilham
após o kiff noturno.
Meu espírito senhor solitário
sucumbe ao primeiro arrepio.
Basta ver uma formiguinha apressada
por sobre as costas caroço de tangerina.
Alegro-me taciturno entre objetos tagarelas.
Hedonista virado dou graças à solidão.
Mergulho enlouquecido pelos olhos que não vejo.
Meu prezado espírito senhor solitário,
seus esses olhos opacos?

Enigmas






Tédio
Horas que se arrastam,
nas sandálias da velhice
Zuadas da natureza
Sol que alcança o pico ,
esfria meu olhar castanho ...

Rio de julho
Cabaceiras , Batateiras ,
Ingazeiras ...
A carroça passa
Os cachorros ladram
Os lobos uivam ...
Luna , luna ...
Ilumina a alma que me acha !

Luna das bruxas
dos gatos nos telhados
quebra-quebra de vasilhas
leite derramado
pensamentos viajantes
Um a um ,
respondem ,
instantaneamente !


Madrugada e neblina
Esperam o nascimento do dia.
Enquanto todos dormem,
preparo um sonho ,
mas ele brinca de esconde - esconde.
Foge do meu colo, do meu beijo ...
Dança num porto , num samba,
numa ciranda de roda ... Cigano !

Madrugada deseja ,
uma tinta de carinho
Energia do mel das abelhas
Doce de todas as frutas
Fogo azul e branco em labaredas
Festejando , saudando presenças
Expurgando ervas que chorei ...

Ontem eu viajei no destino
Desenhei com cipó
a trilha do caminho
Chamei-te em pensamento ...
Você e os meus segredos !

Ontem eu vi a Chapada pedindo Socorro
Senti o amor , num pé de pequi
O choro do vigia
A janaguba pingando seu leite
na boca que recebe a cura.
Ontem senti o desafeto
e me perdi em energia.
O álccol , o sal amargo ,
a cânfora do refazimento ...

Baby ,
vem cá ...
Quero o teu abraço de madrugada
Baby ,
É sagrada a família
Baby ...
Eremita da sabedoria !

Eu encontrei Da Vinci
nas suas Monalisas
Da Vinci
No dextro das agonias
Da Vinci
No meu descanso
No olhar que desanda ,
a alta sacerdotisa !

Encontrei o colo de Gaya
Senti as dores do parto
O pedido de clemência,
e a clemente oferta do amor,
que não passa !

Acorda , meu Planeta amoroso !
Estou ouvindo passarinhos ...
Vamos dançar na manhã
banhados das nossas essências
enxutos do sereno
molhados de poesia !

Pega meu carinho ,
no cálice da minha boca
Cala meus versos inaturos
Faz o parto da minha euforia
Embala meu choro com tapas de luz

Nasci e renasci mil vezes
pra te achar , menino !

Imperador e sol dos meus dias
Raio das minhas luas
Meu "Dom Juan" ,
gelado pela exaustão...
Estou seduzida !

Teu vento faz dançar as minhas folhas
me enraiza de amor
balança os sinos do meu corpo
Cria um mantra de nós dois.

Fios que nos unem não teiam
Não fiam a confusão de tantas vidas
Fios que nos unem se enrolam ,
no decifro dos nossos enigmas !

Baby ,
eu quase me declaro em todas as notas,
nas pautas dos desabafos ...
Mas o amor infinito
não cabe em qualquer balada

Aqui a Música do Cariri têm espaço ! - Rádio Chapada do Araripe - 24Hs!

.


Programa MÚSICA DO CARIRI.
Na Rádio Chapada do Araripe - Internet.
Horários: No meio da hora: 05:30 - 06:30 - 08:30 - 09:30 ... até 23:30 ( Todos os dias. )
Onde ouvir: Em mais de 30 websites do cariri, centro-sul do Ceará, e Fortaleza.

Exemplos:

www.chapadadoararipe.com
www.cariricult.com
www.blogdocrato.com
www.blogdojuazeiro.blogspot.com
www.artesvisuaiscariri.blogspot.com
http://socorromoreira.blogspot.com
www.blogfariasbrito.com
http://www.esporteemidia.blogse.com.br
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Aquisições Recentes de Trabalhos de Artistas do Cariri que fazem parte do programa Música do Cariri :



José Nilton de Figueiredo - Música a Contrapelo


Pachelly Jamacaru - Balaios da Vida


Cleivan Paiva - Sonhos do Brasil

Luiz C. Salatiel - Contemporâneo

Banda Nacacunda - Nacacunda

José Nilton de Figueiredo - De onde Olho


Calazans Callou - Perfeita Mistura

E nos outros horários, Música Popular Brasileira em geral, Música Instrumental, jazz, Rock, Pop, Forró Autêntico, Reggae, New Age, Música Latina ( salsa, bolero ), etc... além de entrevistas com artistas Caririenses, reportagens, shows acústicos no estúdio, gravações, dicas e mais...estamos apenas começando !

Rádio Chapada do Araripe - Divulgando a Arte e a Cultura produzidas no Cariri em mais de 30 websites. Divulgue, participe, faça sua crítica e dê sugestões...

O.B.S - Quem quiser contribuir para aumentar o acervo da rádio de artistas do cariri, entre em contato pelo e-mail: blogdocrato@hotmail.com
Estou ampliando a grade de programação e em breve contaremos com o acervo da Música Cearense com mais de 1300 CDs que estão sendo enviados por um grande colecionador de Fortaleza. Mas nada impede que vocês entrem em contato até porque certos trabalhos são raros de se encontrar. Ah, diga-se passagem, toda a programação é ao vivo como na rádio convencional, nada de playlists prontas. A estação funciona 24Hs há 3 anos a partir do nosso estúdio ( antiga RadioArte ).


Abraços,
Fotos das capas dos CDs e da chapada - Dihelson Mendonça
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segunda-feira, 28 de julho de 2008

DECLARAÇÃO DE VOTO NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES

Já escolhi candidatos tão bons a vereador e prefeito do Crato, Juazeiro e Barbalha que resolvi convocar os amigos da região para comigo se unirem. Não é uma pretensão vã. É o que poderemos fazer por nós, por nossos filhos, netos e bisnetos. A seguir apresento a lista de todos os nomes com os respectivos perfis para que na ocasião da urna não tenhamos dúvidas.

Para Vereador:

a) A verdade do meu bairro ou distrito: o meu bairro (distrito) é diferente de todos os outros. Ele não quer nada mais que ninguém. Quer apenas o que lhe necessário: educação pública, saúde básica, transporte público até tarde da noite, ambulância para os necessitados, segurança para as ruas, iluminação pública que proteja, ruas calçadas, escoamento das chuvas, água limpa, esgotamento sanitário e retirado do lixo.

b) A cidade acima da usura: o meu canditado tem educação política, aprendeu o que é vida urbana, sabe que os interesses da cidade estão acima dos seus interesses particulares, dos seus familiares ou do prefeito (a) e sua família. Que os interesses da cidade estão acima dos permissionários ou concessionários privados de serviços públicos, muito além dos fornecedores e empreiteiros das obras públicas. Que a cidade é muito mais importante e superior que os deputados e senadores que só trazem verbas para cidade como troco para suas próprias carreiras políticas.

c) Cada povo tem sua alma: na câmara de vereadores meu candidato irá defender a cultura da minha cidade e do cariri, suas expressões tradicionais, suas necessidades atuais, proteger seus artistas e promover o encontro da sociedade com seus artistas e artesãos.

d) Defende até o último minuto o direito de manifestar-se e para sempre o do outro discordar: meu candidato tem contéudo para defender os interesses do bairro (distrito), da cidade e da região, mas jamais aceitará qualquer manobra para calar a voz que lhe contradiz a palavra.

e) Defensor exigente do meio ambiente: ele conhece a realidade do lixo, do esgoto, do abastecimento da água, do desmatamento, da deterioração das bacias dos rios, das fontes criadoras de mosquito e doenças e vai lutar para resolver tais problemas.

f) Consciência da políticas públicas: meu candidato tem noção exata das políticas federais e estaduais aplicadas á realidade da cidade. Por isso irá propor que a prefeitura se organize para ampliar ainda mais os efeitos benéficos destas políticas.

Amanhã apresento a plataforma do meu candidato a Prefeito. Que tal alguém aqui no blog continuar com a lista dos seus vereadores?

domingo, 27 de julho de 2008

Palmada

Farto estou dos meios,
dos extremos, das metades.
Do corpo que se abriga em uma consciência etérea.
Morto estou dos pecados infantis.
Não há mais transitoriedade em minha mente.
O rio sumiu sob a velocidade das nuvens.
Permaneço córrego entre seixos lodosos.
As palavras morrem depois de pensadas.
Até antes de presumidas.
Sempre sonhei com o ápice
após cavar toneladas de terra.
O verme é humano,
respira bactérias milagrosas.
Hospedeiro que sou da eternidade
inquieto-me com a muriçoca
ensanguentada do meu sangue.

CaririCult, PRIMEIRO ANO DE VIDA LITERÁRIA VIRTUAL


CaririCult fez aniversário no dia 17 julho que passou. Aproximou-nos e desvelou o nosso lhar para si, o outro e para o entorno do mundo. Se fomos ou estamos (levando-se em conta a impermanência e transitoriedade própria da alma humana) anarquistas, jazzistas, comunistas, socialistas, budistas, cristãos, ateus, democratas, monarquistas, sambistas, folcloristas, hedonistas, etc. é o que importa para este canal de comunicação que foi criado com o sentimento da pluralidade. Um beijo no coração de todos nós.

sábado, 26 de julho de 2008

LIBERDADE


Não mais quero o sabor das uvas rançosas
Nem as migalhas de sol por arestas escorridas pelas frestas das telhas...
Não mais quero o água nesta represa de potes.
Não mais a arte apenas na cor das asas dos pássaros em minhas gaiolas...
Liberdade ao pássaro e às minhas retinas.
Liberdade a água represada nos potes de minhas retinas...liberdade ao sabor e vida longa aos beijos.
Porque senão pela dança da liberdade do paladar, dos cheiros dos perfumes nas novas raparigas, das retinas debruçadas em novas paisagens e o apalpar do meu tato em novas paisagens...não há nada senão a escravidão da alma e uma bigorna contendo o passo de cada um dos meus sentidos.

Agora ninguém pode perder: Dihelson Mendonça Trio no Centro Cultural Banco do Nordeste - Dia 02, Sábado - 19Hs...


Dihelson Mendonça Trio
- Show "Quebrando Tudo no BNB" - Dia 02 de Agosto.


O Dihelson Mendonça Trio surgiu como remanescente do quarteto formado em 1986 pelo pianista cratense Dihelson Mendonça, chamado Cariri Samba-Jazz Quarteto, tendo portanto, 22 anos de existência intermitente. Diversos músicos da região do cariri cearense já passaram por este grupo, que foi o primeiro grupo do cariri a se dedicar exclusivamente a tocar Jazz e Bossanova em shows de auditório, diferencialmente dos grupos de baile da época. Desde o início, o Cariri Samba-Jazz Quarteto procurou fazer um trabalho autoral, e causou sensação, sendo convidado para diversas apresentações em inúmeras cidades e estados vizinhos. Diversas matérias foram veiculadas sobre o grupo instrumental na mídia. No início, o CSJQ, era constituído por piano, contrabaixo, bateria e Saxofone. Hoje, com uma nova formação, em trio, tendo ao contrabaixo, João Neto e o baterista Saul Brito, a filosofia do grupo permanece a mesma: realizar um trabalho instrumental inovador, autoral, com composições do grupo, bem como tocar os grandes clássicos do Jazz, da bossanova, e a música brasileira de bom gosto com novos e ousados arranjos.

Formação:

Dihelson Mendonça ( Piano )

Músico instrumentista, considerado pela crítica especializada, como um dos maiores pianistas do Brasil, em diversas áreas, seja como músico de Jazz, pianista clássico, ou compositor, e tendo sido elogiado por grandes músicos do exterior. Já tocou e gravou com músicos renomados como Arismar do Espirito Santo ( multi-instrumentista ), Vinícius Dorin ( sax Hermeto Pascoal ), Toninho Horta, Ricardo Júnior ( tecladista ), Márcio Resende ( sax ), Cleivan paiva ( guitarra ), e participou de shows com Hermeto Pascoal além de dezenas de outros. Em incessante carreira musical, trabalha em inúmeros projetos simultâneos, que vão desde a manutenção de um website de apoio à música instrumental do Brasil, chamado "Portal do Jazz", ao diuturno trabalho de composição e arranjos. Após ter gravado com diversos artistas da música popular Brasileira, Dihelson Mendonça está gravando seu primeiro CD autoral, intitulado “A Busca da Perfeição”, um trabalho complexo e conceitual, que reúne músicos de diversas tendências, que variam desde o Jazz ao Rap, passando bela bossanova e a moderna música do Brasil, e que conta com a participação do mestre Hermeto Pascoal, dentre outros. Dihelson Mendonça possui uma extensa lista de mais de 100 composições instrumentais em diversos estilos, que abrange das formas eruditas aos trabalhos populares de vanguarda, tendo composto baiões, frevos, sambas, bossanova, valsas, mazurkas, além de estudos para piano, e até sonatas para piano e flauta e piano. Recentemente seu trabalho como compositor foi requisitado, ao compor a trilha sonora orquestral para um filme que ganhou diversas honrarias. Suas composições têm sido gravadas por muitos músicos, e suas parcerias, extensas, com músicos como o contrabaixista Luciano Franco, o tecladista Edson Filho, o guitarrista Cleivan Paiva, a cantora Fhátima Santos, a cantora Ana Canário, e o músico Haroldo Ribeiro, dentre inúmeros outros. Participou por 6 anos consecutivos do festival de Jazz & Blues de Guaramiranga, recebeu diversos troféus pela sua atuação no campo musical, e suas composições para piano solo tem recebido elogios e encomendas de partituras por músicos renomados do exterior para gravar seu trabalho. Dihelson Mendonça recebeu também vários convites para viagens ao exterior, mas tem recusado boa parte, por achar que o momento certo se dará após o lançamento do seu CD "A Busca da Perfeição".

Francisco Saul Brito Gouveia – Bateria.

Nasceu em Juazeiro do Norte, no dia 21 de março de 1986, músico autodidata, baterista, percussionista e violonista, arranjador e compositor. Revelou seu talento ainda muito cedo, ao tocar numa bateria de lata, por ele construída quando tinha 13 anos de idade. Aos catorze anos, conheceu o seu melhor amigo, e seu primeiro instrutor de música, Laerlling Borges (Karranca), que lhe mostrou os primeiros passos da técnica e rundimentos. Aos 15 anos, começou a tocar na noite caririense, ao lado de músicos como João Neto (baixista), parceiro até hoje. Tocando na noite, conheceu grandes músicos, tais quais: Ibbertson Nobre, Manoel D’Jardim, Cleivan Paiva, entre outros. Com 17 anos, tornou-se amigo de Dihelson Mendonça, sendo apresentado por João Neto ( contrabaixista ). Desde então, trabalhou com grandes nomes da nossa música popular, regional e nacional. Hoje, Saul Brito busca elaborar o seu primeiro disco, com canções de sua própria autoria. É considerado pelos músicos como uma das maiores revelações da bateria dos últimos 20 anos no nordeste.


João Ferreira Neto – Contrabaixo
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38 anos, nasceu em Senador Pompeu, Ceará. Seu primeiro instrumento foi um bandolim. Em seguida, cavaquinho, violão, trompete e clarinete. Porém, logo descobriu que sua paixão era o contrabaixo elétrico. Desde então, iniciou sua carreira musical, viajando pelo país e conhecendo músicos de toda parte. Tocou com grandes músicos do estado do Ceará, tais como: Dihelson Mendonça, Cleivan Paiva, Zé do Norte, Adelson Viana, Saul Brito, Di Stéffano, Luciano Brayner, trio Zero Grau, dentre outros. Compositor perfeccionista, João Neto é também um grande virtuose no seu instrumento.

O Show:

No show, com cerca de uma hora de duração, composições do próprio trio, sambas, bossanova, Jazz, grandes clássicos da MPB, além de diversos trabalhos experimentais.

Divulguem - Avisem aos Amigos!
Conto com sua presença!
- Entrada Franca -

sexta-feira, 25 de julho de 2008

CLASSE MÉDIA E FAVELA

Bossa Nova e Jovem Guarda. Zona Sul e Zona Norte. Esquerda e Direita. Duas partes da geografia de uma cidade. Seria fácil assim se não fosse o Rio de Janeiro uma das geografias urbanas mais intrincadas do mundo.

Abordando esta última questão a geografia da cidade. Normalmente as cidades são coleções de fases de sua história. As partes das cidades incrustam suas elites fundadoras numa determinada área, a pequena burguesIa noutra, a burguesia emergente em expansões, os operários em torno das indústrias e assim por diante. O Rio de Janeiro por ter sido capital mais antiga do país e cidade fundadora da nacionalidade não tem esta geografia exatamente.

Além de ter sido a capital a cidade, no seu nascedouro, recebeu as levas de escravos libertos da escravidão, quando o campo não os absorvia e nenhuma reforma agrária distribuidora de terras foi realizada. Então foi no Rio de Janeiro que no estágio das reformas Pereira Passos, quando a cidade se afrancesou, os negros foram para os morros, no mesmo tempo em que os retornados da guerra de canudos adotaram o nome de Favela para os espaços do barracão. Favela: quem é do sertão do Ceará e Pernambuco conhece a planta.

Com a emergência da revolução de 30, as reformas e a legislação que instituiu nova ordem econômica e social, a cidade do Rio de Janeiro recebeu enormes contingentes populacionais. Assim os antigos espaços da burguesia clássica foram intercalados por bairros populares. Resultado: a geografia da cidade é uma mistura de retalhos populares e da classe média. A única região que foge à regra é a Barra da Tijuca.

A cidade do Rio de Janeiro, para o bem o para o mal, é uma cidade talhada para viver em paz. Qualquer emergência econômica, longos períodos de concentração da renda e do empobrecimento popular, eleva a tensão na cidade. A violência se horizontaliza por todos as regiões e ocorre entre vizinhos. Por isso é que ela se antecipou em violência em decorrência da falta de crescimento econômico dos últimos 20 anos. depois é que as demais cidades abriram os olhos para o fenômeno.

A consciência média do carioca a respeito do outro é muito maior que em outras cidades. Inclusive pela sua geografia com as classes médias e ricas embaixo e os pobres na vizinhança do alto. Ambos se examinam, ninguém ignora o modo de vida do outro, ninguém pode alegar desconhecimento. E como consciência é tudo, daí grande esperança para uma sociedade democrática caso a concentração da renda se reduza e os meios públicos (educação, saúde, segurança etc.) se tornarem equânimes. De qualquer modo, sem isso é guerra de guerrilha urbana para sempre.

Agora, voltando ao início. E a questão da Zona Norte, Sul e Subúrbio (hoje Zona Oeste)? Como isso se refletiu na música?

Leia no próximo post.

BIOSSA NOVA E JOVEM GUARDA

Não estranhe. Não usarei o samba como referência. Em relação ao período que falo, o samba era um mito nacional, aceito por todo mundo. O samba havia saído dos guetos negros, tinha Noel, Ary Barroso, Lamartine, Chico Alves e assim por diante. O samba estava em Hollywood com Carmen Miranda. A música Aquarela do Brasil era uma referência do espírito brasileiro em todo mundo. Aliás o samba havia passado para a categoria da Velha Guarda e por isso mesmo é que a meninada passou a ser chamada de Jovem Guarda.

que nesta época estaremos tratando de uma música que se origina noutras classes sociais. A classe média. Aquela mesma que na Zona Sul da cidade viajava, curtia a música mundial do pós guerra que era a Americana de linha jazzística, de um ritmismo intimista, de câmara, em boates pequenas. A patota de alguns. Por isso é que a poética fala de mar, de praias, de amores rítmicos, afinado (ou desafinado), de pequenas coisas, diminutivas, de formação instrumental própria: violão, piano, contrabaixo e bateria.

na Zona Norte uma juventude igualmente de classe média tentava se expressar na mesma onda internacionalista e da grande produção discográfica e de broadcasting. que ali não era mais a música negra dos algodoais, de N. Orleans, de Nova York ou Chicago. era a influência junto ao centro dos EUA, o Rock, de massa, com a guitarra elétrica, dos grandes palcos, da dança e coreografia em um corpo de cabelos longos, roupas coloridas e óculos escuro. A mesma que por aqui entrou na Zona Norte da cidade caiu no gosto popular mundial, especialmente a partir do Beatles da velha Bretânia.

Na bossa nova a classe média de escritório, de advogados, funcionários públicos, intelectuais, comerciantes que apareciam nas páginas da revistas de circulação nacional. na Jovem Guarda estamos falando da pequena classe média que se pendurava no bonde, saindo da Tijuca para o centro, da Piedade ou de Madureira, de Campo Grande ou Santa Cruz pelo trem. Estamos falando da juventude que freqüentava a enorme quantidade de clubes sociais que espalhavam pela geografia além túnel da cidade.

Quando falamos da bossa nova, à exceção da esquisitice do natural de Juazeiro da Bahia, João Gilberto, estamos dizendo de Nara Leão moradora da Avenida Atlântica, de músicos e artistas que aconteciam e viviam entre Copacabana, Ipanema e Leblon. Claro que o nosso poetinha Vinícius, diplomata e filho da classe média tradicional da cidade deu uma colorido próprio à fala da bossa nova. E com isso ela, absorvendo as raízes do samba e do jazz, aconteceu fora como novidade brasileira.

Com a Jovem Guarda não foi assim. Esta meninada se dedicou mais à versão. O coração do sucesso deste pessoal foi a versão de músicas americanas, dos Beatles e alguma coisa que fizeram de novo com o mesmo material musical. Entre os maiores ícones desta guarda jovem estão Roberto e Erasmo Carlos que afinal que se tornam originais sobretudo por meio da velha canção latino americana de natureza romântica, incluindo até mesmo o samba canção.

Célia Dias


“Célia Dias é muita coisa, mas ainda não se convenceu disso. Compõe, canta, toca, ensina, mas não achou que era suficiente e resolveu fazer poesia. Menos para se mostrar que para enxergar a si mesma. Então, que verem também. Pelo menos, os que “têm olhos de ver”.

Com estas palavras, Claudia Parente, colunista do Jornal do Comercio, conceituado jornal pernambucano da gran-metrópole Recife, faz alusão a esta cratense que como poucas, são donas de uma envergadura artística da maior dimensão!
Célia Dias é dotada de uma sensibilidade que como poucas mulheres desta cidade nos orgulham, a exemplo de: Dandinha Vilar e Socorro Moreira, duas grã-mestres da poesia feminina.
Dandinha ocupou com propriedade uma cadeira no ICC, (INSTITUTO CULTURAL DO CARIRI). Socorro Moreira, não tardará... E, num futuro próximo há de se reconhecer o trabalho de Célia Dias, não tenho dúvida!
Claro, citei quem citei, mas sou cônscio de que são muitas as mulheres artistas em potencial no Cratinho de Açucar!

NAS TRILHAS DO SOL
Célia Dias

Nas trilhas do sol
Rebusco as canções
Presentes do tempo
Que brotam na gente
E se espalham no vento...

Nas trilhas do tempo
Rebusco as pessoas
Presentes do sol
Que brilham na gente
Em qualquer estação...

Nas trilhas do sol e do tempo
Rebusco outros elos
Entre o céu e o momento de um lugar...

Os quatro barbudos

A historinha abaixo foi contada pelo articulista Henrique Sorrisa. Ele estava num restaurante com um amigo quando este iniciou uma prosa:
– Estive na fazenda de Flecha, um verdadeiro latifúndio, com cerca de 30 mil hectares que ele herdou dos ancestrais.

Os ocupantes das mesas vizinhas, ao ouvirem o tamanho da fazenda, ficaram atônitos e começaram a prestar atenção no papo. Ao ser perguntado o que Flecha plantava o amigo respondeu:

–Não planta nada, a não ser uns pés de mandioca. O que ele faz mesmo é serrar madeiras de lei para vender.

Ouviu-se um burburinho ao redor e todos apuraram os ouvidos para acompanhar a conversa. Numa mesa próxima estavam quatro barbudos que já externavam um olhar de ódio. Enquanto isso, o amigo de Henrique falou:

– Nunca tive um fim de semana tão bom. fui caçar com flecha, matamos um jacaré e uma capivara. Na volta pegamos alguns palmitos e fizemos um churrasco para o almoço usando pau-brasil como lenha.

Henrique ainda argumentou que isso é crime inafiançável, mas seu amigo retrucou:

–Não se preocupe, a Flecha é fazendeiro poderoso!

Ao ouvirem isso os quatro barbudos se levantaram indignados e partiram para a mesa de Henrique. O primeiro barbudo foi logo dizendo que era de um partido de esquerda e foi enfático:

– É um absurdo isso. Enquanto milhões morrem de fome, sem ter onde plantar, esse opressor dos pobres tem 30 mil hectares improdutivos. Precisamos invadir a terra desse latifundiário.

O amigo de Henrique ainda abriu a boca para dizer que invadir terras é ilegal (ainda que sejam improdutivas) e perguntou onde estavam os cadáveres dos milhões vítimas da fome, mas foi calado pelo segundo barbudo (que disse pertencer a uma ONG ecológica) aos gritos:

– Vamos descobrir onde mora esse seu amigo Flecha e vamos mandar prende-lo, pois além de latifundiário é um predador da natureza.

O terceiro barbudo entrou em cena e falou com voz calma:

– Deus não deixou escritura para ninguém; a terra é de quem nela trabalha; os primeiros cristãos dividiam tudo. Estudei a Teologia da Libertação e precisamos difundi-la para conscientizar o povo explorado pelos latifundiários.

Antes que o amigo de Henrique pudesse falar, berrou o quarto barbudo:

– A reforma agrária tem que ser feita a qualquer preço, na lei ou na marra! Vamos invadir essa fazenda para pressionar o governo a agilizá-la...

Só então o amigo de Henrique conseguiu explicar:

– O Flecha é um índio...

Ao saberem que o latifúndio era uma das inúmeras áreas demarcadas, os quatro barbudos se acalmaram. Ah bom! E passaram a defender o direito dos índios terem vastas extensões de terra. Índio pode! Não pode é o Cara Pálida! Esqueceram até que Deus não tinha deixado escritura para ninguém. Quem acompanhou toda a conversa comprovou: tudo que os barbudos falaram antes era pura demagogia...

Armando Lopes Rafael

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O dono do palco

Um amigo e companheiro de inúmeras trilhas musicais, Aquiles, divide comigo uma mesma opinião: em se tratando de show, o artista tem que ser dono do palco, não pode pedir emprestado a quem quer que seja. Tem que mostrar a certidão de propriedade. Assim foi Cleivan Paiva no show de abertura do III Festival de Música Instrumental do Cariri, promovido pelo essencial, digo essencial, Centro Cultural do BNB.

Não decorei nenhum nome de nenhuma música. Também pouco importa, uma vez que elas são por si inesquecíveis enquanto composição. Fazia tempo que eu não testemunhava esse mago da guitarra em ação. Que força de improviso, em cima de harmonias complexas e andamentos sobrenaturais.

O trio, formado por Cleivan, João Neto e Demontier Delamoni, respectivamente guitarra, baixo e bateria, exibiram técnica e talento. João Neto em noite especialmente inspirada, com trezentas mãos e uma consciência maior do que a Chapada do Araripe, deu um calor a mais. Convenções, harmonias penduradas, improvisos geniais e climas de pura dinâmica fizeram valer a noite.

O som não estava dos melhores, a guitarra muito baixa, inclusive sendo encoberta pela bateria em alguns momentos mais pirados de Delamoni. Agora baixo e bateria estavam bem mixados, sem brechas de timbres. A guitarra de Cleivan, na primeira música, estava muito abafada pelo excesso de grave, logo corrigida, mas permanecendo um pouco abaixo dos outros instrumentos, o que jamais pode acontecer, se o show é exatamente do guitarrista.

Cleivan é um artista único no cenário musical caririense, rápido, criativo, o riginal e preciso, sem deixar notas espalhadas no chão e sem enganações, sem aqueles clichês ridículos de jazz ou da chamada pegada brazuca, meio samba meio bossa, que tanto enche o saco. Só mesmo o solfejo de voz em cima de algumas melodias, que é completamente redundante e perfeitamente dispensável. Cleivan, esqueça o microfone meu velho.

A guitarra limpa, com o som educado do captador do braço engordado pelos registros graves, parece ser a tônica de mil entre novecentos guitarristas de jazz. Da mesma forma que o fraseado rápido e sem bands ou qualquer outro recurso mais sujo. Cleivan apresenta essas características em seu timbre e em seu fraseado, o que eu particularmente acho um verdadeiro desperdício. Nesse ponto eu sinto saudades do som mais agressivo e mais elétrico dos tempos do Ases do Ritmo. Mas nada que possa arranhar o quadro geral, são apenas preferências.

Cleivan abriu com classe e estilo o III Festival de Música Instrumental do Cariri, comprovando o seu grande momento como instrumentista e compositor. A programação promete grandes apresentações, mas com certeza, a de Cleivan será uma das principais.

O Tesouro do Céu


No que você se dispõe comigo?!
Contando as vidas, na trilha da existência
A ciência dos céus
Os horizontes da vã espiritualidade.

Menina encantada no firmamento!
O que posso eu fazer pra que tu me sejas um pedido
E que se realize, sem que precises também deixar de ser sonho
Eu sempre contei estrelas, mundos e anos-luz de possibilidade
E nunca temi que eu meus dedos nascessem verdades

Teu mapa astral me levou a essa paixão infinda
Dos confins do hemisfério sul, observo o cosmo!
Meu sertão lendário de poesias cadentes.

Um sumério a desbravar desejos sem limites
Um caririense a tragar mistérios, acredite!
Prevejo o futuro D/Cifrando nossos mundos
Em canções que nos brotam do âmago mais profundo

Os que somos, o que fomos
O que desenharemos nas nuvens e além?
Nas constelações?!
O que faremos pra nunca deixarmos de ser elementais?!
Na falta de gravidade, uma gravidez imprevista
Os olhos me saltando a vista
A dádiva mais sutil do universo
A rima mais pueril dos meus versos

Foi o que aprendi em tantos planos vencidos
Evoluindo em danças circulares ethereas
Minha alma que sempre foi tão séria
Hoje sorri cantando em lágrimas
Uma velha canção à capela