TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 30 de novembro de 2008

Stradivarius

Imagem formatada no Photoshop

Um simples mergulho
Neste espaço sonoro
(Partituras emocionais da vida)
E me sinto violino
Onde emoções se libertam...
Stradivarius (não menos)
Virtuosismo intimidando ecos
de um compasso ofegante...
Sou, então, o timbre cintilante
Desse arco mágico
Onde me estendo
Numa execução apaixonada,
Som que vai ao limite do improviso
Música onde revelo minha face
Notas absolutas
Onde me ponho livre.

Texto de Claude Bloc

Dezembro



Tenho muito gosto
de viver mais um dezembro.
Os mesmos sinos
As mesmas bolas
O mesmo ar de festa
em toda porta.
As ruas escancaram seus mistérios
Os perus morrem
antes das vésperas
e congelam , o gosto da nossa ceia.
As árvores se enfeitam
A cidade se aclara de luzes
que piscam ...
Em tons de prata e dourado
morre o dia.
Noites quentes
buscam o retrato da neve
Adultos brincam
de rasgar papel ...
na alegria de uma prenda.
Amigos se ocultam
numa brincadeira gostosa ...
e trocam mensagens , presentes.
Vestidos , sapatos novos ,
esperam o niver
do mais famoso dos homens :
Cristo.

POEMINHA

Novos dias virão apesar da chuva intensa que agora cai
Apesar do mangue que agora estamos,
Da cegueira quase eterna,
Apensar de tudo parecer tão fútil
E as lágrimas sejam tão correntes,
Correntes vão se desatar como o desabrochar das rosas
Sóis tocarão nossas face
E em face disto tudo ei de ganhar um escudo chamado poesia

Quem salvará o museu ? - por Edilma Saraiva Rocha


Sinhá D'amora - artista plástica
Miguel Soares - prefeito Municipal
Júlia Soares - primeira dama
Edilma Saraiva - recepcionista.
(Inauguração do Museu de Arte Vicente leite).

Numa tarde quente do passado , na Rua da Vala , enquanto tomavam um lanche gelado , reuniram-se : Raimundo Pedrosa ( filho de lavras da mangabeira ) , Edilma Saraiva ( jovem com grandes sonhos artísticos) e os fotógrafos , Telma e Edilson Rocha.
Questionavam a necessidade de se possuir algumas obras de arte no Crato, que servissem de aprendizado e formação cultural aos jovens da terra. Daí , Pedrosa teve a brilhante idéia de fundar um Museu de Arte, alem do Histórico , fundado por J.de Figueirêdo Filho.
-Mas , como fazer isso ?
Mais tarde , sentados na pça da Sé , eu e Pedrosa começamos a discutir as possibilidades desse movimento artístico.Pedrosa já era estudante da Escola de Belas Artes do Rio, e possuia um pequeno acervo de desenhos do século XIX , em aquarelas de José Reis de Carvalho, inclusive dois desenhos de Pedro Américo ( renomado pintor da realeza portuguesa) herança de uma tia .Alem disso , gozava de grande prestígio junto aos professores da faculdade e alguns pintores radicados no Rio de Janeiro. Sem vacilos , mostrou-se disposto a doar esse material , em prol da causa. Outros trabalhos seriam solicitados pessoalmente aos amigos da arte.
A partir desse momento , fomos ao prefeito Miguel Soares , que imediatamente acatou a idéia , e nos incumbiu a missão de encontrar o local ideal.
- Mas , que local ?
Do banco da praça nossos olhos avistaram o prédio da antiga Câmara Municipal, desocupado, e exclamamos euforicamente : encontramos !!!
Somente três salas serviriam de abrigo ao nosso museu , em caráter provisório. Enquanto arrumava aquele espaço , o Pedrosa viajou em busca do acervo inicial. Trouxe trabalhos assinados por artistas importantíssimos , premiados no mundo das artes , como :Jair Picado , Malizza, Jordão de Oliveira , Petrus, Catharius Hubert Beernuzor, Armínio de M.Pascoal , Sandro Donatello, Maria Luiza Pinto , Francesco Mazza ,Hilda Compofiorito, João Batista de Paula , Osvaldo Teixeira , Helena cavalcanti , José Costa silva , Pedro Bertzold , Luiza Maciel , Lenine Salvi , Alberto Pascoal , Cláudio V.Teixeira , etc. E, como se não bastasse , convenceu a Sinhá D'amora a doar toda a sua coleção acadêmica ( trabalhos feitos na Escola de parceria com a colega Celita Vacani) , incluindo algumas esculturas.
Todos os doadores sentiram-se honrados , pelo privilégio de hospedar , permanentemente , os seus trabalhos , na sala de um museu .
Chegou o grande dia da inauguração do Museu de Arte Vicente Leite. Justa homenagem ao nosso primeiro artista , que fez sucesso com suas obras , percorrendo o Brasil inteiro. Ganhou o prêmio de uma viagem à Europa , mas faleceu , antes de concretizar tal sonho.
Na solenidade de inauguração , as presenças do prefeito Miguel Soares e esposa , Dr. Edvar Férrer , Dr. Humberto Macário de Brito , Dr. raimundo de Oliveira Borges , J.Figueirêdo Filho , foram registradas , entre outras. A fita foi cortada pela pintora Fideralina Correia D'amora Maciel.
O tempo passou . O prédio provisório nunca mais foi olhado pelo poder público, com vistas à transferência para um local melhor apropriado.Os trabalhos resistiram ao descaso e ao tempo .Incansáveis anos ... promessas perdidas !
Em 1996 fundei em Fortaleza a Sociedade dos Amigos do Museu do Crato, visando acesso , na qualidade de benfeitora . Registrei no Cartório do Crato, cujos estatutos , foram escritos por Dr. Ossian Alencar Araripe.
Nesta gestão atual , Samuel Araripe , com o apoio de Daniele Esmeraldo ( Secretária de Cultura), ortougaram-me o direito , como restauradora de artes , de salvar o patrimônio do nosso museu .
Posteriomente , será reinaugurado , num prédio totalmente aclimatado e seguro , para garantir às futuras gerações essa riquíssima dádiva.
O Museu de Artes , em breve será o cartão de visitas da cidade cultural do Cariri : O Crato !

Edilma Saraiva Rocha

Sem título

Eu.
Eu sou.
Eu sou a filha.
Eu sou a filha da estrela.
Eu sou a filha da estrela Dalva.
Eu sou a filha da estrela Dalva, minha mãe.

*

- Quem, D. Dalva? E não é D. Maria de Seu João?
- O nome dela é Maria Dalva, mulé. Deve tá uma tristeza lá dentro...vamo entrar não.
- Eu soube que foi duma traição, parece que ficou doida ainda moça.
- Tão bonita, foi internada várias vezes...
- Tu lembra duma vez que ela quebrou todas as caqueiras de Paizinha? Se não fosse a consideração por Seu João e D. Maria, sei não,... Paizinha chorava agarrada nas plantas, coitada.
- E tu lembra que a doida foi parar no clube operário no meio de um baile? Foi, e com as flores arrancadas do jardim de D. Maria... de madrugada. D. Maria nunca negou flor a quem passava pedindo nos dias de velório, tinha as plantas mais lindas da rua. E hoje vão enfeitar o caixão da própria filha.
- Imagine ter uma filha louca...
- Deus me livre. Olha ali, parece que é uma das irmãs chegando de fora.
- É, é uma das mais novas, estudou com minha menina. Inteligente essa daí, era pra ser uma doutôra, parece que casou...num tinha quem dissesse que essa menina ia ser dona de casa um dia.
- Ah, foi essa que trabalhou na rádio, queria botar rock no horário de Roberto Carlos. Seu Diniz botou pra fora.
- Disse que deu tanto trabalho a seu João, vivia nas cachoeiras...minha menina disse que era a melhor aluna da classe, num sei como... Óia, deu tchau pro lado de cá, deve ter me reconhecido, andou em casa umas duas vêz...
- Chegou mais outra. É, no dia da morte é assim, todos aparecem, ainda mais num caso desse...suicídio, creindeuspai!
- E foi só um tiro. Também, mulé, deve ter sido um alívio, pra ela e pra família, né?
- Pra cê ver o que a traição pode fazer com uma mulher, tem quantos anos que ela era doente?
- Muitos. Ah, minha fia, Zé que não se meta a besta, douli um castigo, e não deixo ele não, mas vai comer o pão que o diabo amassou. Eu é que não ia ficar louca.
- Eu não corro esse risco, Naldo é evangélico, graças a Deus.
- Óia, o caixão vai sair...
- Ên-en, ô coisa triste é velório.

*

P.S. Relato autorizado por familiar, baseado no falecimento de Maria das Neves Feitosa, esquizofrênica, ocorrido há exatos 18 anos atrás.

sábado, 29 de novembro de 2008

VISÕES

Ao longo do jardim apenas o olhar
Sobre as flores e ao fundo a mata
O lance do olhar sobre o vôo da borboleta a dançar no ar
Chapada ameaçar o céu, guerra eterna no fim de tarde
Onde o céu ferido sagra rubro-róseo,
Pavor das fadas e gozo dos anjos caídos
No bojo dos fins de tarde, aqui onde chamamos terra
Deu hora de sangue, deu hora cinza, deu hora de sono
Descendo nova cortina, novos atores num palco negro
Onde brada um luzir de homens e mulheres
Que uma vez na terra se fizeram sangrar,
Para que suas sendas de luz nos pudessem chegar
Ao longo do céu, este outro jardim, apenas o olhar
O seio que teme o escuro que anseia o novo
Dança na roda de desejos.
Dúvida cruel:Viver na eternidade, eu floresta imensa dentro de mim
Ou a rosa singular, vivendo para o povo.
Ao longo do céu, guerra eterna no fim de tarde
Arde uma batalha de rosas, pouso do vôo de abelhas
E em mim as centelhas das cores em minha retina
E as sensações que em meu peito ardem


Foto: Beatrix Krüger

SEXY

sexy


meu micro-maiôzinho preto

os babacas babam

não aparo a baba de ninguém, não sou enfermeira!

os sábios espreitam comendo amendoin

limpando as cascas sobre as calças

gostosa! flutua como num colchão

nada os 4 estilos, deita no fundo da piscina azul

e dorme ao sol o corpo nú, teu corpo nú

meu girassol, seguindo a luz dessa manhã, murcha de noite

ela murcha, ela mancha, e é raio primeiro

quando vem amanhecendo

é que os pássaros cantam

sem nenhum desespero

Dezembro, que seja dezsempre...

Cheia

de ódio

de veneno

de horror

Tonta

suscetível ao amor

vulnerável ao suicídio

venerai ídolos mortos e vive, vive mais

sêca

o êxodo rural

alpargatas de couro em são paulo

não fazem sucesso

Pleno

confiante, incólume

morreu em pé

de tão forte

fraca

retorna à terra das cachoeiras belas

lá eu chamo Paulo...e Paulo afonso

me abre sua natureza exuberante

malas,

de rodinhas e com alças

viagem de natal

bagagem de alma é lençol

pra assustar feito fantasma

naquele floresta

Peter Pan ou Sininho

são fichinha pra druidas

isto é poesia! aquilo é poesia! e poesia é tudo

o que o bem precisa para germinar

minha filha ama Xuxa

o que é belo é belo

quando a mente é terna

beijar mais nunca

minha boca só vomita

minha boca só morde

boca para a delícia de um sorvete de fruta

pedi remoção, foi-se 2009 por aqui

ponte da desunião

Presidente Dutra era Militar

militares nunca mais

façam mal à nação

procissão rica, e os chinelinhos de arrasto

o terço na mão de mãe

não foi chicote pros filhos

Socorro! me tirem de casa

tantas facas na cozinha

e o banheiro com balcão de mármore

tão apropriado às rãs

meu reflexo no espelho, olhos esbugalhados

ninguém espirra de olhos abertos, sabia?

sério, isto é científico

meus olhos fechados, olhos dormidos,

têrço de esmeraldas

no fundo das águas

do rio São Francisco

Metamorfose

Foto por Claude Bloc (efeitos PhotoShop)
Antes de tudo sou mulher
E nesta gama de gestos
Que compõem o meu todo
Sou poeta,
Sou menina
Sou felina
Escrevo e me transformo
A cada palavra
Sou caminho e pensamento
E ponho em versos
As razões todas do meu tempo
Sou a pausa
Sou a pressa
Sou o prumo
Sou a prosa...
Sou urgente nas vontades...
Sou o poema
Em plena metamorfose...


Texto de Claude Bloc

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Pílula

Vitamina bacana.
Ainda estou com o coração a galopes
e a mente indicando com os dedos a próxima tecla.
Já fiz juras de enlaço com as paredes.
Já prometi à minha sombra um pouco de lua.
O mais belo é que ouço minha voz
como minha e não como única.
A loucura bebeu do doce,
perambula mole pelo quarto.
Aquelas formiguinhas de sempre
que adoram glicose
seguem atrás:
"Também quero!"
"Também mereço!"

Eu tenho dezenas de ânforas
Sabia?
Em cada uma delas
Guardada do tempo,
Um bem querer.
Ali, naqueles papéis,
Guardo poemas de um tempo
Em que o tempo era
A minha preocupação nenhuma.
Naquela gaiola? Tejuro
Nunca morou nenhum passarinho.
De vez em quando remexo tudo,
Mas dói...
E o de vez em quando tem de ser só
De vez em quando.
Em uma das ânforas, dia desses,
Descobri vinte e nove interrogações.
Subi no último andar
E espatifei-as na calçada.
Não agüentava mais me responder:
Porque não fui?
Porque não comi?
Porque não aprendi?
Eu sei das perguntas, barulhentas
O que eu não sei,
É como silenciá-las.

A RAIVORITA: A NOVELA DA RAIVA GLOBAL

Quem assiste a novela das 21 horas da Globo já deve ter percebido ou sentido quanto as cenas de raiva produzem de desequilíbrio psíquico. Se pudéssemos estabelecer uma unidade de medida para a raiva, essa novela bateria todos os recordes, pois carrega e espalha dezenas de toneladas de impulsos raivosos contaminantes. Milhões de pessoas pelo Brasil e pelo mundo (inclusive em Portugal) assistem e absorvem diariamente uma trama sensacionalista “raivorita” onde a raiva é dominante em cada cena. As novelas das TVs, com raras exceções, em seus papéis educativos são a pior coisa que inventaram nos últimos tempos. Será que precisamos mesmo dessa massificação hipnótica na consciência de jovens, crianças e adultos brasileiros? Em busca de mercado e venda de produtos a TV nacional vem extrapolando a ética e o bom senso. Quantos indivíduos entregam suas consciências para uma tela de TV onde o que se transmite é um monte de valores desviados, desestruturados e desequilibrados em nome de uma arte – altamente questionável! – que não se importa pelo sujeito (jovem, criança e adulto) que se encontra do outro lado da realidade da tela – o telespectador. Enquanto isso, os cientistas se esforçam em desvelar os mistérios da consciência e da energia, mas essas novelas (tipo “RAIVORITA”) ignoram ou procuram propositalmente ignorar as novas e fantásticas descobertas das ciências da mente e da realidade sutil das energias. Os produtores de novelas estão mais preocupados com o sensacionalismo da trama fofoqueira e da “picuinha” do que educar e esclarecer sobre as raízes de nossas crises profundas de identidade. Vivemos um tempo onde não sabemos mais separar o joio do trigo; a informação da deformação; a ética da beleza humana, da moral pervertida e doente. E depois essas mesmas TVs apelam para a paz quando uma tragédia social envolve cidadãos comuns (p. ex.: o caso Eloá e tantos outros) – quanta hipocrisia! Além das novelas “raivoritas” apelam para os filmes “raivoritos” – o que eles buscam é aumentar a estatística da audiência – a qualquer custo! E a depressão do povo aumenta assustadoramente, mas jamais os seus produtores admitem a hipótese de que suas novelas e filmes são também componentes-variáveis responsáveis por essas estatísticas.
Os produtores de novelas deveriam se atualizar com as últimas descobertas da ciência para não bombardearem e alienarem ainda mais um povo que mal pode ingressar e entender o mundo fantástico das novas ciências dos séculos XX-XXI. Os ministérios da educação, da cultura e da comunicação deveriam discutir seriamente os rumos das nossas TVs em horários nobres. O mundo merece coisa melhor, caso queiramos de fato a paz e a harmonia entre cidadãos e nações. A mente humana é tão poderosa que um pensamento raivoso pode afetar a estrutura molecular da água – como demonstrou recentemente um cientista japonês! E se é verdade que o nosso corpo é predominantemente de água (alguns cientistas dizem ser de 70 a 80%), podemos imaginar o que milhões de pessoas estão produzindo em si mesmo apenas por estarem ligados às tramas raivosas das TVs. É preciso acabar com o poder devastador das TVs que introduzem nas mentes incautas idéias e valores que com certeza produzirão desgraças no ambiente social humano. Nós estamos interligados fisicamente, psicologicamente e espiritualmente – nada está isolado. Que tal introduzirmos a abordagem quântica nessas tramas “raivoritas”?
Prof. Bernardo Melgaço da Silva – bernardomelgaco@hotmail.com

MÚSICO E O TÁXI

Avenida Rio Branco, nesta sexta feira, às 21h30min. O povo não vai para casa, fica bebericando, conversando, paquerando, esperando, comendo churrasquinho nas calçadas. Saio apressado de uma reunião política e pego um táxi. Jardim Botânico, passando pelo agito da Lapa, Largo do Machado, Laranjeiras, Cosme Velho, Túnel Rebouças e estou em casa.

O táxi veio rápido. O trânsito ainda pesado, mas fluindo bem. O taxista. Um homem magro, cabelos rastafári, negro, um jeito agradável de conversar e ouvir. E aí começo uma entrevista.

Você gosta de música? Eu sou músico. Adivinhei, de cara senti a persona do músico, o quê tocas? Sou baixista. Gosta de rock, blues, reggae, mas curte samba, forró, do tipo pé de serra, não do eletrônico. Por que não o eletrônico? Não dizem nada, é mera repetição. Escuta um disco recém lançado e se imagina que é uma música do ano passado. Gosto do Seu Luiz Gonzaga, do Seu Dominguinhos. Mas este pagode? É a mesma coisa. Só que tem uma, foi este pagode ruim, sem boa letra e nem novidade musical que fez a moçada voltar a gostar do samba. Hoje muito jovem gosta de Almir Guineto, Zeca Pagodinho e veio por este pagode ruim. Igual a música baiana, não tem quem agüente mais. Aquela conquista do frevo de guitarra com as letras do Moraes Moreira era muita doideira. Depois passou da conta. E Funk? Não tenho nada contra, mas não ouço. Mas tem um bocado de coisa aí que é Funk, muita gente não sabe e é coisa boa.

Comecei na música com 20 anos. Foi um caminho estranho. Tava numa dureza total. Sem grana alguma. Um amigo tinha uma banda e me convidou para assistir ao ensaio. Eu conhecia quase todas as músicas, muito mais que o vocalista da banda. Aí quase cantei a noite toda, o vocalista até foi embora. Então ganhei duzentos paus pela noite, aquilo caiu do céu. Fiquei tocando em Madureira uma vez por semana. Depois saiu o baixista e trouxemos uma mulher. Ela transou com todo mundo, mas não tocou nenhuma noite. Então eu fui nesta. Com a cara e a coragem. Depois a banda acabou e outro grupo me chamou. Cheguei lá e o vocalista, toca um lá menor aí. E aí o que faço? Arrastei os dedos junto com o guitarrista, segui as posições e aprendi. Nunca estudei e nunca tive alguém para me dar lições.

Um tempo depois uma banda de Jacarepaguá Sigma 3 me chamou. Vivi como músico mesmo. Toda a noite tocava quatro horas numa casa noturna. Depois tocava duas horas numa e mais duas noutra. Sempre em Jacarepaguá? Não. Em lugares distantes, na Barra, no Recreio, Campo Grande, Bangu. Às vezes levava muito tempo entre um lugar e outro. Começava num restaurante, passava para uma boate e terminava numa festa na casa de alguém. Fui para o Espírito Santo e toquei com uma banda de lá. Hoje toco na Lapa com a Sandra Grego e os Troianos. Gravou? Gravei em banda. Mas ainda tenho um projeto de gravar um CD só meu. Instrumental? Não. Voz.

E o sucesso, como é que você resolve isso? Ih! Eu sou músico, sou artista, não é disso que estou necessitando. Eu faço o que gosto, por isso mesmo é que tenho o táxi para o meu sustento. Para ter independência. E esta questão de crítica, de ser medíocre? Não é por aí, isso não muda nada, nem ser chamado de gênio muda nada. Até atrapalha, um pessoal lá no Espírito Santo me elogiava, fiquei sem iniciativa. Mas e se aparece um caro bom, arrasando, você não fica com inveja, com ciúmes de artista? Não, aí é que fico com vontade de fazer o que ele faz. Aquilo faz é me estimular.

Recebo o troco e explico a entrevista. Vou postar num blog da minha terra. Ele pega um papel: olha aqui em cima, entre na Internet e tem um e-mail, manda isso para mim. Pego e entro num site e o nome Cyro Elias. Demais o papo.

Luiz Carlos Salatiel

Em um cantinho natural de águas cristalinas
um certo duende adorava banhar-se.
Com o sorriso brilhando na pele,
estendia-se de faces coloridas para o céu.
Mas dolorosamente o tempo nublou.
Cadê o sol? Cadê os reflexos no córrego?
O duende sumiu levando consigo o silêncio.
Os outros entes da floresta - mesmo que não bradassem
sentiam que a floresta não era a mesma:
sementes no chão, uivos atrás da lua, som de flauta.
Mas como todos também tinham mágica no coração
entenderam que a ausência é um devaneio.
Que bastaria um sonho, uma lembrança, um sorriso inesperado.
Pronto. Novamente a floresta se encantara.
O sol já vem! O sol já vem!
Gritavam todos em direção da trilha
traçada pelos pezinhos do nosso querido duende.
Não sei ao certo se de fato faz sol,
ou se é apenas um truque amoroso
dos outros entes da floresta
para que nosso amigo olhe para o alto.
Sim, há uma nuvem que dar sombra
bem em cima do seu cantinho natural de águas cristalinas...

As peripécias de Zedoca

PEDRO ESMERALDO

Zedoca, um caboclo afro-descendente, octogenário, nasceu e se criou no Sítio São José, em Crato. Teve sua trajetória no labor diário da agricultura. Fiel, amigo, autodidata, não se aperfeiçoou em seus estudos devido à falta de apoio material, pois teve que trabalhar para o sustento da família. Dedica-se à música, mesmo sem ter conhecimento profundo da arte musical. Aprecia os cantores da velha guarda como Orlando Silva, Carlos Galhardo, Chico Alves, Nélson Gonçalves e outros.

Diz sempre que, se tivesse a oportunidade que essa juventude tem hoje, não ficaria no anônimo. Não se deixaria levar para o obscurantismo e nem cairia nas brumas da ignorância. Apreciaria bons livros. Leria de tudo que fosse de revista, ouviria com freqüência os noticiários do dia-a-dia, andaria de mãos dadas com o saber. Diz que não aprecia essa musica moderna, como o “rock-and–roll”, pois a considera um destempero, não equivalente à musica da velha guarda, como samba, baião, etc.

Zedoca é realmente um senhor cheio de vontade; leva tudo a sério, não vacila nas manifestações políticas ruidosas. Procura sair da ignorância e considera a maioria dos políticos “persona non grata”, vez que esses ditos políticos não levam nada a sério pelo Brasil.

Infelizmente o nordestino é muito ingênuo e cai sempre nas armadilhas, sem saber sair das dificuldades.

Apesar de seu pouco estudo, Zedoca gosta muito de história. Foi um fiel escudeiro, já que se dedicava de corpo e alma à perfeição de seu trabalho.

Observador contumaz, sabe separar o joio do trigo, não fala mal de ninguém, é maneiroso e evita as conversas que prejudicam aos seus semelhantes.

Zedoca é aposentado por tempo de serviço pelo INSS. Obedece às leis da natureza, mora em uma casa pobre, mas de boa qualidade, vive lutando pelo dia de amanhã até quando Deus um dia o chamar.


Crato CE, 24 de novembro de 2008.

Obs.: Postagem em atenção a pedido de seu autor.

Socorro Moreira

Certa noite
um anjo me disse
e não era um anjo torto
quando estivesse eu em apuros
chamasse por Socorro
uma poeta do Crato
que vive com o coração nos olhos
e por onde anda deixa entusiasmo e valentia.

Após tantos conselhos e abraços
eu vi com esses olhos -
que serão estrume para uma orquídea -
uma lágrima escorreu
pelas faces do anjo
e não era um anjo medieval.

Calei-me,
dormi sossegado
ciente que detrás da serra
não é lenda
um pote cheio de arco-íris existe.

Lançamento CD "Bárbara" - Abidoral Jamacaru



DOMINGO PRÓXIMO ! 20 H! NA REFESA ! IMPERDÍVEL!

ABIDORAL : 40 ANOS DE PALCO !



se isto não é tristeza é

Nesta madrugada
só tenho lágrimas
para beber.

Um porre
dos próprios olhos
pode-se morrer.

Nesta madrugada
o quarto tão limpo.
Nenhum abismo atrás da parede.
Apenas uma formiga insone
pra contar estória
e sumir.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

ARTISTAS E INTELECTUAIS DO CRATO MEU RECONHECIMENTO

Nesta altura da noite faço uma confissão. Sempre que o tempo se abre, venho a este computador e examino o Cariricult. Leio as postagens com atenção. Não comento tudo que gostaria, pois nem sempre o tempo se encontra disponível. Mas ao deixar de fazer tais comentários apenas deixo, o blog não se afetará pela eventual ausência.

Tem dias para tudo. Claro que em alguns o melhor programa não é um computador. Mesmo assim forço um pouco a barra para não deixar que os eventos que desejo acompanhar se movam para tão longe de mim. Assim, estou sempre na atenção e escrevendo. Mas nisso tem um motivo principal.

Tenho muito prazer de entrar em contato com uma geração de pessoas que não foi embora, está na terra e move o seu conteúdo para dimensões em que deixam de ser um todo amorfo e acrítico. Este pessoal que faz cinema, faz música, pinta, fotografa, esculpe, escreve, representa, canta e rumina dar sentido à vida cotidiana. Um pessoal que ganha o dia-a-dia de vários modos, mas tem uma presença na nossa vida cultural tão importante, que todos diremos: aqueles não abdicaram da vida. Deram a ela um senso coletivo e uma dignidade cultural de marca.

Fim de Férias

Não passo de uma farsa.
Meu limite é a canalhice.
A seringa chorava um pouquinho de cianureto.
E eu não quis deixar nódoa no antebraço.
Paspalho. Sempre coberto de atenções e cuidados.
Soberbo, isto que sou.
Minha coragem anda foragida.
Ainda tento cuspir em quem bem mais altivo me ouve.
Presto nem pra cortar a mangueirinha do gás
e dar um último teco. Ridículo.
Ego poético é uma praga.
Não sou outra coisa senão peão.
Matador de larvas de mosquito.
Escada no ombro,
bolsa no outro.
Bom dia, senhor.
Boa tarde, senhora.
Secretaria Municipal de Saúde.
Ainda suponho ser o maioral quando escrevo.
Maioral de fossa e de lixo.
Não passo de um falastrão.
Meu limite é a tolice.
Bom dia, senhor.
Boa tarde, senhora.
O sol me espera
e as caixas d'água gorjeiam.

Inventário de Bens e de Sonhos

A quem pertencem, realmente, as coisas deste mundo? Permitam-me, caros leitores, esta pergunta algo filosófica, num sábado à tarde, dia e hora propensas mais à descontração, à rede e à preguiçosa. Mas, vamos lá, perdoem-me a esfinge desta interrogação, num final de semana : A quem , realmente, pertencem as coisas deste mundo? Os criados numa sociedade de viés socialista , não terão dificuldade em responder: Ao estado ! E , nós outros, afeitos mais ao capitalismo, nas suas mais disfarçadas formas, rapidamente concluiremos que as coisas deste mundo são de quem as adquire, ou as recebe como herança, roubo ou doação com diferenças pouco claras em todas estas formas de apropriação. Há, certamente, uma visão eminentemente utilitarista nestas duas respostas. O menino que anda na sua bicicleta, o rapaz que dirige o carro próprio, o homem que construiu sua casa podem até ser considerados proprietários reais destes bens; mas, é preciso admitir, caro ouvinte, existem posses que vão além do simples valor monetário, que ultrapassam a frieza do código de barras. Assim, o milionário que arrematou no leilão “Os girassóis” de Van Gogh, por uma fortuna, não é o dono do quadro, embora tenha a absoluta certeza disso. A obra de arte também já não pertence ao seu autor e nem a toda a humanidade como se possa pensar. Os reais donos de “Os girassóis” são todos aqueles que se sensibilizam diante da pintura e que, de alguma maneira, entendem que seu mundo interior mudou para melhor e que os olhos se desembaçaram para as belezas do mundo. As madames que ganharam colares de diamantes de amantes -- desculpem o trocadilho-- talvez até se achem donas definitivas das jóias. Em verdade a elas não pertencem. Simplesmente elas manterão os colares guardados a sete chaves, numa ansiedade incrível, sem as poder usar, temendo assalto. Nunca entenderão que as jóias são muito mais propriedade daqueles que, mesmo à distância, um dia se encantarão com o brilho eterno daquelas pérolas e se sentirão tocados mesmo sem nunca as conseguir tocar.
E as manhãs, as luas cheias, os crepúsculos e as auroras? Quem detém os seus passes ? Todos aqueles que os conseguem apreciar, que não deixaram as retinas se embaçarem definitivamente com a névoa cotidiana. O luar não me pertence se ao olhar para o céu só consigo enxergar o néon. Nem é do astronauta ou do astrônomo que o observa com um olhar tecnicista, do mesmo jeito que o anel de ouro não é propriedade privada do ourives. Tudo que nos toca e emociona pode ser arrolado como parte do nosso inventário de bens e de sonhos.
Esta semana, olhando as ruas e praças aqui do Crato, pus-me a imaginar se elas são um bem público, de todos os cidadãos da cidade de Frei Carlos. Claro que numa visão mais utilitarista todos que percorrem as avenidas e logradouros podem se gabar de proprietários. Muitas vezes, inclusive, justificando monetariamente : tudo isto que aí está, foi construído com o dinheiro dos nossos impostos! Todos têm lá uma nesguinha de tudo isto , se fôssemos proceder à partilha. O grosso da população desta cidade, no entanto, é detentora de tantos outros bens mais individuais e privados que sequer se dá conta desta outra posse bem mais coletiva, comunitária e de tão pouco valor de venda e de troca.
Há, no entanto, raríssimas figuras que têm a rua e as praças como sua fábrica, seu ofício e , muitas vezes, até sua casa. Mendigos, boêmios, “drome-sujos”, bêbados têm uma relação quase que incestuosa com os logradouros públicos. Para eles as avenidas não são vias de trânsito, mas de permanência. As marquises e bancos se transformam facilmente em teto e cama e os jardins se fazem de quintais e pomares . Eles , na verdade, são seus reais proprietários por usucapião.
No domingo último, um destes grandes latifundiários urbanos partiu na viagem derradeira. Uma das mais populares personalidades cratenses. Mais conhecido que muitos políticos e poderosos do Cariri. Zé Bedeu amealhou em vida o que a existência lhe legou. Dono de muitas ruas, milionário de muitas marquises, feudalista de inúmeras praças, banqueiro de tantos bancos, sócio de muitos bares. Hedonísticamente percorreu a travessia. Aqui veio para diversão de todas as horas e não para o suor de todos os dias. No mar de insensatez da vida, não nadou contra a corrente: abriu os braços , boiou e se deixou levar no torvelinho. Como suportar a amputação diária de ilusões e desejos, sem anestesia? Sabia-se pó, entendia que umedecido pelo álcool chegaria a lama e foi desta argamassa edificou pacientemente suas ruínas. Deixa uma imensa herança imaterial imune totalmente à sanha dos inventários e das partilhas. Todos aqueles que um dia se emocionarem com o barulho das fontes de pé-de-serra, com o orvalho que borrifa a bromélia, com a sanguínea aurora que vaza o ventre da noite podem se considerar seus herdeiros universais.

J. Flávio Vieira

DESEJOS EM SILÊNCIO

Te quero...te quero com o mesmo tempo que o egito teve para crescer,
Que os sarcófagos tiveram para dormir...
Te quero com a mesma força do sol,
Com a mesma calma das águas do lago, do canto do cisne, do passo do leopardo.
Te quero com o mesmo tempo de mil luas a descer pelas montanhas,
Com o mesmo balanço das ondas, do sopro do vento, da insistência imóvel das rochas.
Te quero tranquilo, como o balão da tingir o céu turmalina,
Eterno como os segredos deste mundo, imortal como tua própria alma.

FOI A NOITE



As ruas pela manhã ainda têm o cheiro do sangue
Escorrido pela madrugada.
À noite, antes bela e romântica, torna-se fulgaz, assim como as vidas que por ela caminham somem, como a água que escorre pelo ralo e some no submundo.
O cheiro de morte, de sexo, de drogas...
As noites de hoje, é isto que inspira ou atemoriza os novos poetas.
As liras tocam em outras claves,
As danças em outros passos,
As pinturas noutras cores,
Onde reflete o céu cor de chumbo
E o gris da lua com seu olho medonho a nos observar.

Recebi de uma amiga bem-humorada

O sabor dos homens

ATUALMENTE TEMOS MULHER MELANCIA, MULHER JACA, MULHER MORANGUINHO E TANTOS OUTROS ADJETIVOS DESAGRADÁVEIS À NOSSA CLASSE... DIANTE DESTA NOVA MODA, SEGUEM ALGUMAS DEFINIÇÕES DO QUE (DIRÍAMOS ASSIM) REPRESENTARIAM AS IGUARIAS MASCULINAS...HEHEHEHEHEH

HOMEM Camarão : só tem merda na cabeça, mas é gostoso e você come assim mesmo.
HOMEM Caranguejo: é feio e peludo, mas você bate nele, limpa direitinho e come.
HOMEM Pão : tem sempre o mesmo gosto, mas você come todo dia.
HOMEM Aperitivo : acompanhado de uma bebida você come e ainda acha bom.
HOMEM Maracujá : é todo enrugado, você come e depois sente vontade de dormir...
HOMEM Lagosta : só come quem tem dinheiro.
HOMEM Caviar : você sabe que alguém está comendo, mas não é ninguém que você conheça.
HOMEM Bacalhau : você só come uma vez por ano.
HOMEM Maionese de Fim de Festa : todo mundo te avisa pra não comer, mas você come porque está desesperada; arrepende-se e depois passa mal.
HOMEM Rã : todo mundo já comeu, menos você.
HOMEM Salada : é bonito, mas quando você come descobre que não é tão gostoso assim.
HOMEM Marmita : não é lá essa coisa, mas você come rapidinho.
HOMEM Cafezinho de Supermercado : você nem faz questão, mas como é de graça, você come.
HOMEM Jiló : é horrível, mas você conhece alguém que come.
HOMEM Docinho de Festa : você fica com vergonha de chegar junto, então vem outra, come e deixa você chupando dedo..
HOMEM Cogumelo Venenoso : comeu, ta fudido.
HOMEM Feijoada : você come e ele fica te enchendo o dia todinho.
HOMEM Coqueiro : pode trepar que não tem galho.
HOMEM Miojo : em um minuto ta pronto pra comer.
HOMEM Coca 2 litros : dá pra seis
HOMEM pé de chuchu: Você é obrigado a comer senão a vizinha vai lá e come.
HOMEM BIS : você come, repete e nem se lembra das calorias!!!!!

Instintos

Não entendo essa mediúnica saliva
que desce por minha faringe
me dá dor de barriga
e atinge
o cérebro.

Só percebo agora
que paro de respirar
quando um poema escrevo.

Morte súbita da alma.
Morte premeditada do corpo.

Radiohead confirma datas de shows em SP e RJ



Embora o Radiohead ainda não tenha atualizado as datas de sua atual turnê em seu site oficial, a assessoria do festival Just a Fest confirmou as apresentaçãos da banda britânica em São Paulo e no Rio de Janeiro no evento, em março.
Segundo o comunicado, a primeira apresentação do grupo no Brasil será no Rio de Janeiro, no dia 20 de março, na Praça da Apoteose. Já em São Paulo, o show acontecerá na Chácara do Jóquei, no dia 22.
Os ingressos começam a ser vendidos no dia 5 de dezembro através do site www.ingresso.com.br às 00h. No Rio, os fãs poderão adquirir as entradas nas bilheterias do Maracanãzinho a partir das 9h. Em São Paulo, o ponto de vendas será no Estádio do Pacaembu. A censura do evento é 16 anos.


Fonte: Terra

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Soneto - para Socorro Moreira


Desde que me pus a escrever, aos 16 anos, encantada com a musicalidade e o ritmo do soneto, com a formalidade de seus versos de rimas rebuscadas, passei a preocupar-me com as palavras e comecei a sentir-lhes a força e, também, o fascínio que exerciam sobre mim. Lia simplesmente tudo o que me vinha às mãos e sob os olhos , esses já inquietos e ávidos.

Ainda sou capaz de reproduzir um pequeno trecho de um poema que fiz sob a influência desse aparatado estudo sobre a poesia... Fiz o primeiro, tentei um segundo ainda tateando a melhor maneira de aplicar a teoria que aprendera. O tema já demonstrava as inquietações de uma adolescente que se de defrontava com sentimentos platônicos e amores irrealizados. Creio que a solidão alegada e sentida por mim a essa época da vida, denotava essa incapacidade que o jovem tem muitas vezes de assimilar o mundo de modo diferente daquele idealizado.

Aventurei-me, então, a encaixar meus primeiros versos naquela forma rígida que um soneto impõe: dois quartetos, dois tercetos, rimas encadeadas ou nãoe a mesma quantidade de sílabas (métricas) ... tudo isso ou tudo aquilo. Na primeira tentativa quase tudo rimava com “ão”: coração, emoção etc. etc. Eu mesma me convenci que estava feio aquilo. Perecia um eco, um trem apitando na esquina da vida... E assim, fui burilando as idéias e as palavras, lapidando o pensamento. Claro, minha imaturidade poética ou mesmo emocional não permitiam ainda que eu tivesse a capacidade de criar algo (quase) perfeito no campo da idéias, mas eram apenas os meus primeiros passos.

Meu tema era “solidão” como disse anteriormente. Ouso aqui apresentar a cria tal qual foi concebida naquele tempo: “Solidão // É o que sinto no meu peito agora / É o que fala a alma de quem chora / É esperar sempre esperar alguém. “ Este era um dos tercetos e todo o resto do soneto sucedia-se com rimas –ora/ -ora / -em / -em, porém não me recordo como se processou o restante do poema, com versos decassilábicos.

Segui com afinco as orientações do professor de Português: o cuidado para que as palavras que compunham a rima não tivessem a mesma classe gramatical. “Agora” (advérbio de tempo) rimando com “chora” (verbo). Enfim, o cuidado e o esmero para que meu poema fosse funcional como soneto, foram o impulso primordial para que eu me iniciasse no caminho da escrita.O soneto perdeu-se por aí numa das mudanças que fiz. Restou-me a lembrança desse momento criativo e de como persegui o sonho de escrever.

Hoje deixei de lado a métrica de meus sonetos e consigo voar mais alto. Livre e sem rimas. Simples e sem rebuscamento exagerado. E se me ponho a amar em verso e prosa, posso dizer que nunca mais estarei sozinha a enfrentar a solidão.

****
Texto de Claude Bloc

Prelúdio

Esposa e filho dormem.
Esposa com apnéia.
Filho sonhando com suas fadinhas incríveis.
Coço o queixo, estrangulo um suspiro, estalo os dedos.
Puxo a ferro, puxo a ferro, puxo a ferro.
Mas a poesia diz que não é hora do parto.

CONFISSÕES

Foto: Renato Luiz Ferreira


Ainda cá, no mesmo local de sempre
Vivo com meu olhar de cão perdigueiro.
Não a caçar perdizes, mas na mesma ânsia do cão faminto, caço sobre o mundo, as nuances dos finais de tardes.
Ainda caço o negror da pupila reluzente a me olhar pelo canto do olho, assim como ainda insisto nas buscas das pele brancas e trigueiras ao longo das madrugadas.
Persigo após o pó das eras, a última gota do cuba libre, que me solta os instintos mais primitivos...
Com a lupa sobre o mundo meu anjo, rastejo a língua como uma cobra, a perseguir os sabores, o olfato os cheiros e a retina cansada, as matizes que pousam sobre o meu opaco olhar.
E cá estou sobre o mundo, sendo eu ainda o mesmo: esta forja de pecados e mesma labareda de desejos.

(Dest)Arte

Fotomontagem: Claude Bloc (efeitos no PhotoShop)



Cênicas artes

(entre)telas

(entre)linhas

Cor e pincel

O solstício

O solilóquio

No meu papel


Espaço aberto

(entre)tecendo

(entre)cortando

Esse (vo)lume

Luzes no céu

E tantas vozes

Meus interlúdios

Teus interlóquios

Beijos de fel

São o meu pranto

Minha risada

A solutide e o meu cinzel.

Cênicas luzes

Cores da íris

Aura vital

(I)material.

****

Texto de Claude Bloc

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Saudades embutidas

Novas caixas amontoam-se.
Caixas marrons de todos os gêneros e texturas.
Sabe-se lá o que guardado.
Talvez apostilas de vestibular,
envelopes encardidos, poemas amputados,
certidões, receitas médicas, uma carta amorosa.
O mistério é como essas caixas marrons
surgem e preenchem todas as dimensões.
Com o tempo não terei espaço para largar os pés pelas paredes.
O negócio então é encolher-me feito embuá no inverno.

Uma noite uma mulher me chamou como se chama um homem. Percebi? Senti. Sem que ela falasse, seus olhos queimaram meus braços, pernas. Quis me entender. Ser homem. Tomar atitude. Não entendi nada. Bateu medo. O pau dando sinal de vida dentro da minha velha calça jeans sem cueca. Pensei: ela tem os olhos de sangue. Ela tem os olhos de quem comete um crime. Ela tem os olhos... ela tem os olhos mais bonitos que eu já vi na porra da minha vida. O copo tremia na minha mão. Olhava. E quando ela olhava, firme, certeiro, eu desviava os olhos. Como uma presa indefesa. Devagar. Devagar ela veio. Lenta como um bicho que vai pegar um bicho menor. – eu sei teu nome. Sei onde você mora. Sei o nome da bebida que você tá bebendo. Só não sei quando é que você vai jogar esse cigarro fora pra eu te dar uma chupada na boca. Medo. Puta que pariu. Ela me assustou de verdade. Joguei o cigarro fora. Sem charme. Rápido demais talvez. Ela se encostou em mim. Não, não é verdade. Ela quase entrou em mim com roupa e tudo. Não escutei mais nada. Tinha alguém tocando no palco? Tinha alguém perto? Ela se encostava mais. Imaginei que nunca mais ia descolar dela. Não queria. Não podia. Se ela saísse naquele momento acho que morreria. Tinha um cheiro doçe. Não sei o nome do perfume. Mas ainda hoje, trinta e tantos anos depois, se sinto alguém passando com esse cheiro na rua, paro. É ela. O fantasma dela. Cheguei em casa naquela noite com um gosto que superava a falta de gosto de todo o resto. Namoramos duarante um ano. E todos os dias, era como a primeira vez. Um entrando no outro. Depois do medo da primeira vez, o tezão absoluto. O vício. O gosto bom da boceta dela na minha boca. O riso sem motivo aparente.Os olhos cor de jabuticaba tatuados nas minhas retinas. Saias coloridas. Jeans desbotados. Sandálias de couro amarradas nas pernas. O cheiro... o cheiro... um dia ela veio se despedir. Me comeu como quem sabe que vai passar fome depois. Me mordeu. Me arranhou. Lambeu o sangue. Chorou. No outro dia eu olhei o céu de manhã e rezei: - por favor, eu nunca te peço nada. Não anoiteça! Não anoiteça, pelo amor de deus. Quando a noite chegou eu tomei um porre, e chorei. Como os guerreiros vencidos. Como os países que são invadidos. Como os bichos. Ela me ensinou a ser bicho. E depois, me soltou na cidade. Um menino com a dor de um homem. O cheiro... o cheiro...

Paul McCartney diz que não se importa com downloads ilegais

Paul McCartney afirmou que não se importa que as pessoas façam downloads ilegais de músicas. Porém, o ex-Beatle admitiu que acha o conceito estranho.

"Para mim é estranho o conceito do download. Sou da época de ir às lojas e comprar vinil, fitas e CDs. É tudo igual, com a única exceção de que as pessoas não pagam mais", disse em entrevista ao site da NME.
Ainda sobre o assunto digital, McCartney brincou sobre o episódio do Radiohead. A banda inglesa disponibilizou seu álbum mais recente, In Rainbows, para que os fãs fizessem download e pagassem a quantia que achassem válida.
"Eu gostei da idéia, é nova. Eu pensei em comprar por um centavo e falar para meus amigos que paguei 10 libras", disse.

Leia mais:

» Negociação entre Beatles e iTunes está empacada, diz McCartney
» Paul McCartney lança o terceiro disco da parceria 'The Fireman'

Fonte: Terra

Culinária

Do meu peito
a poesia extirpada
serei somente lixo.
Mas antes que desabe o teto
saboreio minha galinha cabidela.
A esposa revelou-se mística
em questão de sangue e tempero.

Queen retorna ao Brasil




Brian May e Roger Taylor usam o nome Queen para se apresentar ao lado do veterano vocalista Paul Rodgers (ex-free e bad company). Eles lançaram mês passado o primeiro disco de material inédito e agora chegam ao Brasil para cantar hits e apresentar músicas novas

No dia 6 de julho de 1973, a banda Queen lançava seu primeiro single, Keep Yourself Alive, cuja tradução é “mantenha-se vivo”. Trinta e cinco anos e quatro meses depois, a conversa com Brian May, o autor daquela música - e que traz o Queen mais uma vez para o Brasil nesta semana -, gira justamente em torno disso. “Temos já três anos de interação com Paul Rodgers como vocalista”, disse May, de um hotel em Santiago, no Chile, onde estava na semana passada. “Estivemos em duas turnês juntos. A diferença é que agora temos material novo, o que significa muito pra gente. Não estamos só repetindo o passado, sabe? Não estamos mortos.” “Claro que fazemos os hits. Lógico que sabemos que as pessoas querem ouvir as canções antigas. Então tocamos hits do Queen e alguns hits das bandas de Paul Rodgers. Não tocamos tudo porque demoraria 24 horas. E temos alguns momentos especiais, com Freddie cantando no telão, enquanto nós tocamos ao vivo”, contou. O guitarrista Brian May, o baterista Roger Taylor e o novo vocalista acabam de lançar The Cosmos Rocks, que não é exatamente um álbum do Queen (Freddie Mercury morreu em 1991 e o baixista John Deacon não quis participar do disco nem dos shows). Assim, o novo CD é creditado a Queen + Paul Rodgers. Rodgers é um veterano do hard rock inglês dos anos 60 e 70, quando encabeçava bandas como Free e Bad Company - basicamente grupos decalcados do Led Zeppelin. Sua ligação com o Queen começou em 2005, num show comemorativo em que cantou All Right Now, seu maior hit com o Free. Na guitarra naquela ocasião, Brian May se empolgou com os berros poderosos de Rodgers - um dos vocalistas que inspiravam Freddie Mercury no início da carreira no Queen. “Eu não estava procurando participar de uma banda, tanto é que ainda toco solo com meu próprio grupo”, disse Rodgers à reportagem. “Mas, depois daquele show, nos reunimos para umas apresentações em Londres. Só por diversão, sabe? E então vieram alguns shows na Europa. E agora uma turnê mundial.” Brian May falou da união de forças: “Não foi uma decisão; foi mais orgânico. Eu era contra achar um substituto para Freddie. Não queria ninguém imitando-o, por exemplo”. “Eu estava feliz em não estar mais no Queen. Quero dizer, há coisas na vida além do Queen. Mas então tocamos All Right Now e rolou. Freddie era fã de Rodgers, o que tornou a coisa ainda mais interessante”, disse. Com Freddie Mercury, o Queen esteve no Brasil em 1981, no estádio do Morumbi, e em 1985, no Rock in Rio.

Fonte: Jornal O Povo On Line

AS ÁGUAS DOS OLHOS DO POVO DE SANTA CATARINA

O ciclo das águas é turbulento. Na sua fase gasosa oferece densidade à atmosfera, se tornando parte motora das tempestades, trombas d´água, tornados e furacões. Líquida, a água das enxurradas, arrastando encostas, árvores, inundando o arranjo humano no relevo do planeta. Da neve, nevascas e geleiras são conhecidas as enormes escalas do impacto. Na verdade o rosto da terra, igual nossos olhos enxergam e nomeiam é o desenho nas rochas, principalmente pela água, apesar dos ventos.

Os gregos foram sábios em sua época pelo seu politeísmo. A “mecânica” do mundo, diversificada e inesperada, foi compreendida por seus deuses e semideuses. Ao contrário desta chávena de um blended de chás, em que todos enxergam o politeísmo como o primitivismo dos elementos naturais, não foi isso entre os gregos. Com os gregos a divindade nem era a família, o pai ou mãe, na verdade eram conceitos sobre as coisas do mundo. Nunca é demais estudar as divindades gregas indo além da idéia folclorizada ofertada às crianças e à juventude.

Agora juntando gregos e as chuvas que inundam Santa Catarina. No centro de Santa Catarina como na polis grega se encontra o ser humano. Não como um solitário no centro da tormenta. Mas como uma pluralidade que entende desde muito a verdadeira natureza das águas. Então construir, reconstruir, salvar as pessoas não é uma questão isolada, é uma ação coletiva. É inaceitável que se faça este jogo liberal de deixar as pessoas ao azar da natureza e das perdas materiais. Não tem o menor sentido que cada um recomece do zero, até por que nestas circunstâncias o zero é incompatível com a própria vida.

Por isso é que muitas questões que se julgam filosóficas como o sofrimento da existência, a sobrevivência que endurece a compreensão da vida não são de fato filosóficas, mas apenas a forma como a sociedade e a economia funciona. Agora imaginemos aqueles que perderam tudo que os abriga, que viu sua casa soterrada, o fim do seu domicílio. Não tem o menor sentido serem vítimas do acaso, pois esta é uma sociedade que acumula riquezas e funciona sobre as regras da necessidade humana.

Então é uma necessidade da sociedade inteira o restabelecimento dos recursos materiais das pessoas e famílias ao seu ponto original, acrescentando novos conhecimentos para que não se exponham às certezas que temos sobre as águas.

Inquietações





Quando não as tenho ,

invento-as !

Perdi a descompustura

que me fazia perdida

Perdi

faz uns dias

O tempo é curto ,

mas se arrasta

Como os passos ...

Inconfiantes !

O calor de novembro

amolece, os ânimos

Sou ágil

quando busco nos munturos,

e em todos os buracos da terra,

uma festa de luz !

Amada

Não lhe direi outra vez:
veja as maçãs apodrecendo
ao alcance dos seus dentes.

Minha morte silenciosa
algum segredo não lhe revela?

Estreita trilha
em fila indiana
suntuosas tanajuras.

A óleo quente
minha alma bem passada
exala um especial perfume.

Políticos do Cariri - Século XX

(Fonte:site www.terra.com.br)

Postado por Ivan Maurício em 24/11/2008 09:11

ADAUTO BEZERRA



Foto: Cartaz de campanha eleitoral (Acervo da Fundação Waldemar Alcântara)

O coronel Adauto Bezerra (Juazeiro do Norte, Ceará, 1926) começou sua carreira política em sua cidade, integrando uma das mais importantes famílias da região do Cariri, situação que,sem dúvida, contribuiu para que se elegesse deputado estadual em quatro pleitos sucessivos: 1958, 1962, 1966 e 1970. Escolhido pelo general Geisel e referendado pelos votos da Arena (partido de sustentação do regime militar vigente) em eleições indiretas – na verdade era mais uma nomeação do que uma eleição competitiva – tornou-se governador do Ceará no ano de 1974. Não parou por aí sua carreira política, visto que, mais uma vez, foi eleito deputado federal em 1978 e vice-governador em 1982, quando voltaram a acontecer eleições diretas para os governos estaduais, nas quais foi eleito Gonzaga Mota com apoio dos coronéis Virgílio Távora, César Cals e Adauto, que assinaram, em março de 1982, o Acordo dos Coronéis ou o Acordo de Brasília. O governador Adauto Bezerra criou a Secretaria para Assuntos Municipais, a qual foi entregue ao seu irmão Humberto e veio a se tornar um importante meio de controle sobre as prefeituras dos municípios do interior. As reivindicações de deputados estaduais e prefeitos municipais passavam necessariamente pelo gabinete do coronel Humberto Bezerra, situação que o tornava o homem forte do governo de seu irmão Adauto. Como conseqüência da bem articulada estrutura política montada pelos irmãos Bezerra, a vitória da Arena, em 1976, foi esmagadora, elegendo 95%do prefeitos do interior, enquanto sobram minguados 5% para o MDB. Entretanto, em janeiro de 1978 o governador Adauto renunciou ao cargo sob a alegativa de desincompatibilização para concorrer às eleições municipais parlamentares. Waldemar Alcântara, virgilista em tempo integral, assumiu o governo.

Adauto, nas eleições do ano de 1978, foi o mais votado deputado federal do Nordeste. Segundo o coronel Adauto Bezerra, em depoimento dado a este autor durante uma caminhada pelo calçadão da Avenida Beira-Mar de Fortaleza, sua mais importante realização estava ali bem próxima, sob o asfalto da avenida, beneficiando a todosos que não a enxergavam: o interceptor oceânico e o emissário submarino. Através deles se realizava o saneamento de parte da cidade, criando condições de salubridade para o meio ambiente. No mesmo depoimento, o ex-governador Adauto Bezerra deu destaque à ampliação da rede elétrica (...) e à construção de estradas vicinais que uniam as pequenas cidades às principais estradas que riscavam de asfalto o chão do Ceará. Foi igualmente importante para o estado a criação de Unidades Mistas de Saúde, melhorando o atendimento à população, sobretudo às mulheres gestantes. Além disso, merece destaque a ampliação do abastecimento de água para as cidades.

Foto por Claude Bloc


Decidi levantar-me mais cedo. A noite fora longa e de sono inquieto. Não me adiantavam os exercícios insensatos da imaginação. De nada me serviriam. Tentei em vão domar um sentimento de ansiedade e entender, em meio ao vendaval que me desassossegava, essa minha relação com o tempo, para aceitá-lo como elo invisível de/na minha história...

Um torpor intenso ainda me afetava e me deixava presa à exterioridade do instante e ao devir das coisas inexatas. O sono ainda me obscurecia o raciocínio. Sentia-me lassa. Sustentava-me, nessa hora, de começos e tropeços imanentes sem a consciência precisa do que se passava comigo. O tempo refluía e vinha-me a quase absoluta certeza de que, naquela hora, o sentimento latente tinha apenas o poder de inaugurar os sonhos sem jamais poder consumá-los.

A ausência passava a se fazer presente ostensivamente e esse traço deixado pela saudade batia em retirada. Perguntas emergiam do meu íntimo: silêncios que nunca consegui entender. Desfilavam ali todos os sonhos expondo suas fraturas, diluindo suas fronteiras...

Todos os sonhos! – essa fonte de anseios que permanecia pulsando até a consumação de minha alma e que paradoxalmente, num pequeno lapso, se enfraquecia , desaparecia salientando as rupturas. Os sonhos representando o desejo pleno de fotografar o instante, a fantasia, a tessitura das emoções, a vontade impalpável, mas efetiva e ao mesmo tempo indomável de poder realizá-los, a possibilidade mesma do alento nesses caminhos deixados em aberto...

Sonhar nesse momento seria querer deter o tempo nas frações dos minutos e vencer o desânimo, o sono, o cansaço e seus sucessivos deslocamentos. Vencer as querelas da noite mal dormida. Extenuar-me de tanto sentimento, nessa emergência difusa de um desejo. Deixar o olhar se perder nas sendas da vida. Ter consciência de que o sonho é mais visível no alvorecer do sentimento. Sonhar e poder despertar sem sofrer.


.......................................

Texto de Claude Bloc

Absoluto Silêncio

Olhando agora a estante
não vejo nem sombra dos meus livros.
Sobre a escrivaninha sequer a própria pele.
Evaporou-se minha máquina de escrever Olivetti 45.

Sempre fui um crápula
com meus objetos de valiosa estima.
Mesmo com aqueles
que me ofereceram de sobra
mortes e renascimento.

Diante do meus olhos
nenhum soldadinho de chumbo
nenhuma moeda rara
nenhuma miniatura de fusquinha amarelo.

O meu castigo
é a cada madrugada
o vazio criar raízes nos meus dedos.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Fisiologia

Tenho uma mente serpente
que nem sempre rasteja
senão para cheirar terra molhada.

Friozinho na barriga
aquele perfume de abrigo perdido.

Meu corpo confunde-se
com as falanges e tendões da minha alma.

Ora esqueço dos meus dedos ossudos,
ora me lembro da última queimadura.

CANZONISSIMA

A canção italiana não poderia deixar de ter muita importância no século XX. Primeiro pela sua herança desde o renascimento, depois o barroco, o clássico, o romântico, inclusive por ser o povo que praticamente estrutura a ópera. Segundo pelo enorme êxodo do seu povo em direção das jovens e importantes nações das Américas: EUA, Brasil e Argentina. Onde foi um italiano foi com ele uma canção de saudade como a napolitana, foi a canção do amor, da paixão pelo futuro, foi a poesia e o fraseado musical com enorme potencial de arrebatar os espíritos. Seja por engano ao outro como vociferava Nietzsche contra Wagner, seja por puro espírito de novamente se achar italiano.

Uma canção de Domenico Modugno que praticamente justifica o século italiano: Penso che un sogno così non ritorni mai più/ Mi dipingevo le mani e la faccia di blu /Poi d'improvviso venivo dal vento rapito/E incominciavo a volare nel cielo infinito (Penso que um sonho assim não retorna jamais/ Pinto-me as mãos e a face de azul/ Pois de repente vinha um vento rápido/ E começava a voar no céu infinito). Isso já é pura indústria fonográfica multinacional e um bem sucedido programa de divulgação e formação de público: os festivais, especialmente San Remo.

Nesta altura o cinema americano do pós guerra se enamorara da Itália, seu povo, suas paisagens turísticas, a cozinha e os sonho de uma boa vida à American Way of Life. Assim é que veio o Candelabro Italiano com um restaurante de enamorados ouvindo Emilio Pericoli: Al di là delle cose più belle. / Al di là delle stelle, ci sei tu./ Al di là, ci sei tu per me, per me, soltanto per me. Antes, na década de cinqüenta, o melodrama Three Coins in the Fountain com uma canção tipicamente americana em volta das moedas em promessa na Fontana de Trevi. Mas nos anos 60 o Come September, conhecido por Quando Setembro Vier, encontrou Gina Lollobrigida na garupa da lambreta de Rock Hudson (aquele homem que arrebatava os corações das meninas da Siqueira Campos e depois foi uma das primeiras vítimas da transmissão homossexual do HIV).

Uma lista do vasto mundo do cancioneiro italiano do século XX: além dos citados, havia Gianni Morandi, Bobby Solo, Claudio Villa, Nico Fidenco, Pino Donaggio, Pepino de Capri, Sergio Endrigo, Luigi Tenco e a lista vai muito além desta página. E as mulheres como Mina, Ornella Vanoni, Rita Pavone, Gigiola Cinquetti, Rossana Fratello e segue por outras mais mulheres de voz popular.

E a Itália viajou com a música pop com suas bandas, de estilo progressivo ou não, fazendo sucesso além da península. Fez música de protesto, a crítica social soberana como na composição de Lucio Dalla e esta linda canções que Chico Buarque traduziu com maestria: Dice che era un bell'uomo/ e veniva, veniva dal mare.../ parlava un'altra lingua... /però sapeva amare; e quel giorno lui prese mia madre/ sopra un bel prato.. l'ora più dolce/ prima di essere ammazzato. /Così lei restò sola nella stanza, / la stanza sul porto, / con l'unico vestito /ogni giorno più corto,....

Cansaço

Nem todas as baratas
que a gente mata
inspiram versos.
Neste instante
no banheiro
uma asquerosa
ficou sem palavras
entre o frio alumínio do box
e o esmalte do azulejo rachado.

Boa notícia: Hugo Chávez sofre nova derrota



Internacional
Eleições na Venezuela
Chávez é derrotada nos

principais estados
24 de novembro de 2008
A oposição ao governo de Hugo Chávez venceu as eleições regionais nos dois maiores estados do país -Zulia e Miranda e na prefeitura de Caracas. O candidato da oposição Antonio Ledezma derrotou com 52,45% dos votos, o governista Aristóbulo Isturiz, em Caracas. A votação realizada neste domingo conferiu a vitória do governo em outros 17 estados, segundo o boletim parcial divulgado na madrugada desta segunda-feira.
Chávez foi à TV na manhã desta segunda para reconhecer os resultados. "Reconheço sua vitória e convoco vocês a seguirem o mais elevado comportamento democrático", afirmou Chávez, referindo-se aos líderes oposicionistas. "O povo falou novamente, e o vencedor é o povo venezuelano", acrescentou, num discurso transmitido da sede do Partido Socialista Unido Venezuelano (PSUV).O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), fundado por Chávez, recuperou os estados de Trujillo, Aragua, Guárico e Sucre, nas mãos de dissidentes do chavismo, e manteve Barinas, terra natal do líder e onde seu irmão, Adán Chávez, concorreu.
A presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, disse que 65,45% dos eleitores compareceram às urnas, a mais alta presença registrada em pleitos regionais e locais na Venezuela. Chávez apontou como um sinal de que as instituições venezuelanas estão em pleno funcionamento, apesar das denúncias de fraudes levantadas pela oposição. "Nós respeitamos a decisão do povo", disse. O presidente acrescentou que seus aliados terão de refletir sobre os resultados eleitorais e sobre as causas das derrotas.
Ocorrências - Ao menos 106 pessoas foram detidas pelas autoridades durante a votação, muitos por atos de vandalismo como destruir urnas. Seis pessoas foram presas no estado de Guarico por supostamente atacar eleitores. Uma pessoa foi esfaqueada em um confronto entre apoiadores do governo e opositores no estado de Bolívar.
(fonte:www.veja.com.br)

domingo, 23 de novembro de 2008

Con te mio cuore se partiró

Sarah contigo mio cuore se partiró. Por algo mais que o coração non traduce in voce, sapore, tato, um profumo de te. Um tempo pleno sur toda a la gente, menos que segundos, nenhum detalhe, esta imensa paisagem contendo todas as coisas.

E mio cuore é como una croce em que una lunga parte é todo il mare, e outra parte più pequena é una fonte que surge sopra minha alma. Una canzone que dire de um outro paese, remoto como una Stela, e eu contigo irei. Per tua canzone, nas cordas vocales agudas feito um anzol de me pescare. E todo mio corpo se vá como un flauto de Hammerlin. Indo como il giorno se vai adesso al caminho del sole.

Sarah teus occhi chiari, hipnose ofídica de cujo veneno desejo mais una dose. Um brindisi que introduce mi amore rosso, mia alma azurra, il mio pensiero in arco baleno. E nesta altura em que mais não sei de paralelos e meridianos, desconheço se neste planisfério se irá a uno orizzonte qualquer.

E a larghezza de mia volontá se cerra em uma caixa registradora de numerários. Afinal Sarah, é tu una voce que me dire d´amore, pero non possedero denaro par uma vez mais te ouvir. Aquele giorno em que te escutei se transformaró em ingresso remunerado, em um corvo que bica toda la piantagione. Uma realidade igual a coruja de Minerva que só se levanta ao anoitecer.

ORAÇÃO



Eu, quando muito, rezo de vez em quando
Rezo pelos prados, pelos rios, pelos mudos
Rezo pelos cegos, bêbados, rezo pouco
Mas quando rezo eu sempre sangro


Sangro pelo olhar, pelos poros, quiçá pela alma
Mas nada do que falo é atendido
Palavras somem no ar, como um balão desprendido
E assim somem as esperanças, perco a calma


Perde-se a visão, o olfato, tudo em fim
Perde-se o fio que prende o corpo a alma
O fluido das veias, a força motriz da vida
E o espírito assiste de longe o corpo que a pouco tinha
Como as uvas fermentando o chão, desprendidas da vinha



Reminiscências

Lembro-me do último oiti em que pisei de jeito.
Saiu um esverdeado mingau dos seus olhos.
Nódoa eterna ficou no canteiro da Praça da Sé.
Batia uma da madrugada.
Estava o poeta míope
ou era o oiti uma andorinha?

Aeronauticamente...

Minha coragem ficou presa em algum lugar quando passei abaixadinha naquele escuro. Senti algo me puxando pra trás, uma mão pegajosa ou um galho seco que enganchou na minha roupa sem querer, não sei, não olhei pra trás. Nunca gostei de lençol pra dormir enrolada, minha mãe cansava de dizer: menina, te cobre, que as almas podem querer te assombrar, depois não vá acordar teu pai que trabalha cedo...Meu pai, meu herói, destemido em tudo, eu-meupai-mulher. Um dia ele trouxe um quadro da cidade, era minha foto sorrindo ampliada, colocou na parede da 2ª sala, na 1ª mataria meus irmãos de inveja. Nada, quando isso aconteceu já éramos adultos e não houve ciumeira, entenderam, eu já morava em Petrolina, era só saudade dele...Mas voltando à coisa que me puxava no escuro, descobri hoje e por isso escrevo. É maior do que eu pensava, e pior do que eu previa, mais danosa do que as almas penadas que eu desafiava contrariando D. Dalva tão supersticiosa...ela me diria: - Ói, agora você achou o que procurava, cadê a coragem, sumiu? A coragem enfiou a cara no tecido estampado da fronha com desenhos de pontos de interrogação vermelhos e coraçõezinhos pretos, afinal sou flamengo também, e perdemos hoje, que pena! Bem, a coisa assombrosa, é claro, não poderia ser o meu próprio medo, sou destemida como meu pai, não disse? A coisa é o medo que o outro tem de mim, o que me deixa assustada nesse escuro abaixada agarrada em minha fronha favorita. Os pontos saltam sobre mim perguntando: sou de assustar? sou má? sou nó cego? D. Dalva como boa mãe me cobriria hoje, mesmo se eu não quisesse, e reclamaria de mim como tantas outras vezes: - Ô menina teimosa!

Deforete

A rua Irineu Pinheiro – no Pimenta - foi palco de minha adolescência. Ali aportei aos 10 anos, recém-chegada da França, onde havia passado um ano na cidade de Arès (perto de Bordeaux) – mas isto é outra história.

Minha casa foi batizada com um nome festivo: FrançAlegre. Meu pai, Hubert Bloc Boris, cidadão cratense, ex-maqui na Segunda Grande Guerra, fazia questão de demonstrar seu amor à França dando um nome à sua residência. Expressava, assim, esse sentimento de liberdade e alegria e ao mesmo tempo de uma saudade arraigada e difícil de esconder. Era um homem alegre e inteligente, e tinha a alma de artista. Pintava telas abstratas, escrevia em Português seus discursos do Rotary, tinha muitos amigos que o admiravam... e era um dínamo no âmbito do trabalho.

Dizia ele que seu aprendizado de Latim, quando estudante, o fez assimilar mais rápido o Português que falava com algum sotaque. Era um homem muito afetuoso e não se envergonhava disto. Ai de mim e dos meus irmãos se não lhe aplicássemos um sonoro beijo na bochecha na hora do desjejum... Meu pai, era um homem diferente, sensível, lábil e hábil, que se deixou consumir pela vida tentando compensar-se dos sofrimentos causados pela Guerra, das perdas, e das feridas da alma.

Atrás de um grande homem, uma grande mulher: Janine, minha mãe. Ela viveu no Brasil, mais propriamente, no Crato, desde 1957, quando Dominique minha irmã, teve uma crise de apendicite e foi trazida às pressas da Fazenda Serra Verde até o Crato, num Jipe, por estradas de terra esburacadas e enlamaçadas. Foi operada em caráter emergencial, por Doutor Macário, num dia de tensões enormes. Enfim, este é outro capítulo.

Minha mãe viveu quase que silenciosamente seguindo seu amado em todos os lugares. Era moderna para sua época. Sofrida também pelos maus tratos da Guerra, mas isto não fez dela uma pessoa soturna. Era alegre e sorridente, reservada e de uma gentileza inigualável. Quem a conheceu sabe disso.
Mas, os anjos um dia voam de volta ao reino e foi pra lá que eles se foram há algum tempo deixando atrás de si pessoas que os amavam. Era preciso que eu falasse isto, antes de mais nada. Há coisas ditas por aí que me obrigaram a calar o tempo e cabe-me agora fazer-lhes justiça. E o que me faz falar neste momento, não é apenas meu amor filial, mas o dever de mostrar a verdade sobre duas pessoas queridas do Crato.

Agora, o assunto é outro. Voltemos à rua Irineu Pinheiro. A essa época, a rua era nova e terminava pouco adiante de minha casa. Seu Felipe Ribeiro da Silva e Dona Guimar, nossos vizinhos e amigos, na época, venderam a meu pai a casa de número 22 (que depois mudou de número). Ficava (e ainda está lá ) bem em frente do “Grupo Teodorico Telles” (que depois, com as novas denominações, recebeu aquele nome enorme que é um martírio para os pobres aprendentes).

Havia, nesse tempo poucas casas construídas nos dois quarteirões que compunham o núcleo de moradores da rua. Quase em frente ao Seu Felipe moravam Seu Cícero de Holanda Cavalcanti e Dona Marivalda (e uma meninada danada: Gracinha, Glória. Rubens e Renato (gêmeos) Meirinha e Vanda)... Um pouco abaixo, uma vila de casas do mesmo estilo. Cada uma com sua história. E a turma era grande! A começar pela casa de Dona Joaninha e Seu Pedro que gastaram todo o seu Português para batizar os seus rebentos: Evaldo, Erivaldo, Edilton, Ernane, Evanilda (Vanidô), Evaneide, Erivane... parece que havia mais um, mas como era mais velho não estava por lá... Subindo um pouco, a casa de Dona Ana Banca (Ana Moura), mãe de Aparecida e Gilberto... Ao lado, a casa de Marisa Sobreira e Inês (sem esquecer Leni)e seus irmãos: Cícero e Donizeti. Era lá onde havia uma radiadora que derramava som pela rua, além dos recadinhos do coração.

Ah, e finalmente chegamos à casa de Dona Ana Preta (Ana Simões)– que criava Socorro e que não era preta, pois este era apenas o apelido que a distinguia da outra Ana. E o louro? Eita, papagaio gaiato! Gritava o dia inteiro: Socorro! Socorro!

Era quase em frente à sua casa que se reunia um séqüito de jogadores de peteca (feita por seu Zé Barbosa). Era realmente uma roda grande de vizinhos-amigos que se empenhavam pra não deixar cair a “dita cuja”. Lá de Seu Felipe, vinham: Rita, Sérgio (Batata), Derico, Adriano, Aninha, Bibica (Fabiana), Bodão (Marquinho) Corrinha (era pequenina ainda). Claro que havia briguinhas, risadas, folguedos, fofocas, intriguinhas... mas sobretudo alegrias e sorrisos que se espalhavam pela rua e chegavam aos ouvidos de Seu Pedro Praieira em sua bodega, além da Pracinha.

Doutor Derval e Dona Luizinha foram morar por ali, numa casa linda e imponente, colada à casa de Seu Felipe, na rua que cortava a Irineu Pinheiro. Claudia, Zena (Azenete) e Leandro eram os mais velhos (Fafá era o caçula), mas não visitavam os vizinhos, nem também jogavam peteca. Morava, com a família, Joana d’Arc, prima deles e excelente amiga.

Assim, dentre tantas histórias da Irineu Pinheiro, ressalto neste momento apenas mais um detalhe curioso. Uma personagem que me ficou na memória por suas características “sui generis” : era Dona Ana Preta, que em sua simplicidade, fazia parte do folclore da rua. E havia um motivo especial para isto. Ela era amiga de Seu Januário, pai do nosso Luiz Gonzaga, rei do Baião e era sua anfitriã quando ele visitava a cidade de Crato. Seu Januário ia buscar, lá em Seu Zé Barbosa, que morava mais acima, os chapéus de couro e gibão, que este fazia com esmero e que eram encomendados por Luiz. Dona Ana também gostava de contar as histórias de Lampião e, “vira-e-mexe”, tinha gente curiosa por lá escutando os “causos”, recheados de fantasia.

E assim, para encerrar, fica aqui a lembrança e a saudade desse tempo e dos finais de tarde em que, quando o dia esfriava, Dona Ana Preta, toda faceira, se sentava na calçada em sua cadeira de balanço e anunciava às passantes: “Minha fia, o tempo tá tão quente que eu vim aqui fora tomar um deforete”.

***
P.S. Agradeço a Glória pela (re)lembrança de alguns detalhes...
Texto de Claude Bloc

É longo o túnel e não importa o fim

Mentimos na boa graça
e o único caminho é não amputar as pernas.
Minha bebida hoje é um copo d'água.
Meu fígado ainda suporta um último esfregão.

Coda


Já era dezembro de 1994. Também, um domingo. Rodoviária de Teresina, Piauí. Regressava depois de acompanhar o nascimento de Talita. Tinha passado o dia bebendo, em comemoração ao fato, com os tios dela. Como de praxe, o calor era enorme. Senti sede e fui até uma lojinha comprar água. Lá também vendia revista. Avistei uma revista diferente, a Beat Generation, que custava a "vultosa" quantia de R$ 4 e ainda oferecia um brinde: uma fita K7, gravada com as "últimas novidades" da música internacional. Comprei a revista, interessado principalmente na fita. Tão logo o ônibus partiu, eu pus a fita no walkman e pirei com Tones Of Homes, música suingada a la anos 60 de autoria de uma banda até então desconhecida por mim: Blind Melon!

Passei uns doze anos curtindo a música e procurando um disco da banda. Por tudo que era canto e por onde mais andava, inclusive em capitais desenvolvidas, como Fortaleza, Recife e Brasília. Encomendei o produto a Amilton Silva, grande amigo e proprietário de um loja de disco aqui no Crato, que finalmente me conseguiu uma antologia do grupo.
E a primeira faixa do disco, como não poderia deixar de ser, é Tones of Home, seguida de tantas outras canções que são verdadeiras porradas nas "oiças" e na mente.

Não dá pra ficar quieto com esses caras do Blind Melon, azucrinando e desanuviando tudo!

Red , blue ... tudo velvet !



Veludo vermelho ,
azul ...
O mar dos teus olhos
luxúria nas dunas
Não existe pecado
na cópula das graças.
Enquanto falo da vida,
e vejo que tudo passa
também sinto o retornar
do muito que a vida traga
Traças não corroem
o doce da minha taça .

sábado, 22 de novembro de 2008

Gotas de orvalho


A umidade lhe trazia os aromas orvalhados de lembranças antigas. Queria cultivar a ilusão de que o tempo parara, de que não teria mais que pensar nas agruras advindas desse eterno vazio que carregava consigo.
Olhava para um mundo verde através da janela e sentia-se novamente prisioneira de algum sonho. A cada lembrança, uma coreografia íntima a mantinha ligada ao tempo e ao silêncio. Mesmo assim, parecia ouvir sons difusos, encontros e desencontros nessa dança que sua alma expressava.
Movia-se pelo quarto e revivia aquela linguagem cheia de limitações. Era esse o sentimento de vida que impregnava seus pensamentos. Sobrevivera à fragmentação, à dissolução, à cisão, à ruptura e exilava-se além desses epítetos de um passado opaco.
Parou por instantes. Sentou-se na rede. Aconchegou-se a uma pequena almofada macia. Observou detidamente os objetos e móveis do seu quarto. Nada ao seu redor sugeria qualquer refinamento estético. Tudo era bem rústico, mas acolhedor. Aos poucos ia revelando cada detalhe dentro da alma, equacionando-lhes o sentido. Era um momento de profunda reflexão. Sabia que a esperança seria o próximo porto.
Seu olhar continuava a colher cada nuança daquele ambiente e percorria analiticamente os reflexos cintilantes dos espectros de luz que pousavam sobre uma foto antiga. Absorta punha-se a acariciar o tempo naquele rosto jovem que lhe sorria. Era inegável a emoção e a suavidade que aquele gesto lhe proporcionava.
Cansada daquela letargia, levantou-se meio desajeitada e dirigiu-se ao gabinete. Sentou-se na cadeira giratória. A velha escrivaninha de seu pai parecia convidá-la ao devaneio. Como sempre gostava de fazer, tomou em sua mão esquerda um lápis meio desgastado pelo uso e pôs-se a rabiscar sobre uma folha de caderno. Palavras foram surgindo aos borbotões, jorrando longos parágrafos. Sorria, meneando a cabeça. Percebia que mesmo com tanta simplicidade, poderia surgir dali algo rebuscado, produto de tantos pensamentos contraditórios.
Aos poucos ordenava sobre o papel aquele longo enredo. Alguns trechos tinham vaporizado o que queria dizer, mas cada palavra tinha o tom justo do tempo, a sólida simetria de sua história e tudo que sonhara realizar por longos anos.
Não queria expor complexidades. Queria apenas sintonizar-se com a paz daquele ambiente. Sentia-se ali acolhida pelo passado que brotava do ordinário de sua vida.
Apoiou a cabeça com a mão direita. Escrevia compulsivamente. O banal e o fantástico ali se cruzavam. A realidade se vestia de um exotismo solene e traduzia, naquela expectativa, o momento criativo. A linguagem ia despetaladando a pura emoção do instante...
Não poupava as próprias idéias. Buscava a atualidade como atributo decisivo. Sentia-se encurralada entre a saudade e o impasse de reescrever em sua alma essas novas sensações, essas lembranças rotundas e cristalinas. Essa matéria de que só os sonhos são feitos... Gotas de orvalho.


Texto de Claude Bloc

*****
Imagem do site: http://imagens.fotoseimagens.etc.br/
Dos Mistérios

Afetado o alfinete
Paira absoluto
Refletindo o que
Parece ser através
Do reflexo da redoma
Na sua propriedade
De estagnar o signo
Atravessando o plexo
Do aracnídeo morto
Parece reter o imprevisível
Que se revela sideral
Mas como Antífon
Que escreveu sobre a verdade
Desconhece a própria
Natureza que defende:
As águas não se repetem
Das Contentações

Por dois dias Assumpção ali
Sentada naquela pedra
Por dois dias dois séculos
Sobrecarregaram inteiros
Os seus dois ombros

De nada adianta
Renegar de forma alguma
O evadir-se de si
E vê que essa fome não
É nenhuma forasteira

Por dois dias Assumpção ali
E a pedra dentro dela
A expandir por dois séculos
A sua solidez sozinha
sem nenhuma conta paga

LEMBRANÇAS DE UM ERRANTE...


Às vezes me pego a lembrar lugares
Por onde me deixei andar.
Uns remotos, onde o vento acurva.
Outros logo ali, onde se desfaz.
Passaram por mim,
Rostos os quais nunca mais verei.
Guardei-os em mim e para eles me deixei...

Em algumas paragens bebi água.
Água boa, dormida. Água de quartinha!
Fui um estranho para estranhos,
Mas, de palavras me vali
Com a água bebida num só gole, matei a sede,
A de ser do ser e a de não ser tão só,
Bebi a simplicidade da gente conheci.

Errante, vaguei por cidades, vilarejos,
BR’s e rodagens, onde os cruzeiros à margem,
Contém um asterisco e um sinal de mais...
Já estão noutra jornada os que não voltarão jamais.
Vi casebres. Nas portas, pintada uma cruz,
Estão protegidas as moradas onde mora o salvador Jesus!

Um dia a lembrar lugares,
Recordo ter visto o tempo,
A passos esmos...
Largado do amor dos homens.
Dera com os brancos sua barba longa,
Esquecida de cortar.
Mas lembrava um mapa, um guiar,
O rosto daquele senhor!
E eu me vi com um cajado,
Um saco abarrotado de estórias,
Um caneco de beber saudades,
Trajando as vestes do tempo,
Esquecido de ser lembrado.

Foto e poesia: Pachelly J.
"Direito reservados"

Oportunidade perdida

A nota abaixo foi postada no site www.blogdojuaonline.rg3.net/


O presidente Lula perdeu a melhor oportunidade de defender a reabilitação dos direitos sacerdotais do Padre Cícero Romão Batista. O presidente do Brasil, em sua visita ao Vaticano, conversou com o Papa Bento XVI por longos 24 minutos. Numa feliz iniciativa ele ofereceu ao pontífice uma belíssima peça do genuíno artesanato da Região Nordeste. Nela o artista retrata uma família de retirantes nordestinos.O processo de reabilitação sacerdotal do Padre Cícero, considerado santo por milhares de brasileiros, especialmente do sofrido Nordeste, está em andamento por iniciativa do Papa. Ele é quem deseja por fim a uma ruptura silenciosa de mais de cem anos. O Pontífice sabe o quanto isso representa para a fé de um povo que sofre as humilhações e escárnios, mas se resigna de joelhos, no torrão seco da terra natal com a certeza que as suas orações chegarão ao ouvido do Pai por intermédio de quem, como eles, passou por iguais sofrimentos.Como nordestino, o presidente Lula não poderia ter dado ao Papa presente melhor. Porém, faltou-lhe a esperteza para explicar a sua santidade o significado da peça artística. “O povo nordestino só abandona o seu torrão quando o sol queima a ultima folha de capim, quando seca a ultima gota de água, quando a vaquinha mimosa tomba sem forças. Aí ele pega o jumentinho ajeita as coisas coloca o menino mais novo no lombo do bicho e toca pra cidade”.O retirante não procura as grandes capitais. Vai para Juazeiro do Norte. Cidade santa do nordeste, terra do Padim Padre Cícero, que não desampara os fracos e sofredores. É nos arredores da cidade, assistindo as missas e rezando, recebendo o bocado da generosidade popular e as benções de Deus por intermédio do Padre Cícero. Fica lá até quando chove aí então volta pra casa e começa tudo de novo.A devoção ao Padre Cícero não é só a esperança é certeza de acolhimento e solidariedade. É a reanimação das forças para acender a fé e confiança e poder caminhar amanhã. Ele é o santo do povo. Ali no santuário ninguém quer saber o que aconteceu naquele distante 6 de março de 1889. Ali o povo fala do que acontece agora. O milagre se faz agora e não é nada de extraordinário. É a certeza de um cordeiro que se imola por todos os brasileiros e nordestinos irradiando a alegria própria dos escolhidos.O Papa sabe disso, sente isso com o seu povo. Mas essa era a oportunidade que o nordestino Lula teve para falar do sentimento mais puro e profundo dos seus conterrâneos. Fica o alerta. Os juazeirenses, daqui pra frente precisam ficar atentos. (Por José Leite de Souza,juazeirense radicado em Ilhéus, Bahia)


Postado por DANIEL WALKER

Natureza

Foto: Emerson Monteiro


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Eu também sou de Crato.

Vida há em que a correnteza diária é todo o panorama possível. Mas há aquela em que o debulhar da vida é como uma árvore. Que se finca na terra em busca da água e dos minerais, com um tronco concêntrico em camadas de tantas eras, galhos folheados que se abeberam da luz solar e as flores que a todo tempo resultam em frutos de outras iguais vidas. É segundo esta natureza que digo, eu sou de Crato. Do profundo dos sertões, tão longe do litoral que as brisas vêm das quebradas, serrotes, feijão de corda e carne seca. Uma fome de desesperar a alma, roendo um pequi ainda cru, sorvendo um abacaxi azedo como se mel do paraíso. Ali onde vi um punhado de farinha jogado na boca seca, uma mordida na rapadura e o gole de água barrenta.

Há nesta vida uma porção de outras vidas, mas jamais um saudosismo que negue a realidade contemporânea. É que no Crato, antes como agora, a vida é severina. É como cascavel do lajedo, árido, espinhoso e religioso. Só nesse oásis do nordeste se compreende a fé desesperada desta vida que termina antes de tardar e amanhece quando ainda é madrugada. Mas não se resume o Crato, o Cariri, às levas migratórias de ida e vinda, pois não somos apenas desprovidos da terra natal. Pelo contrário. A terra natal é a providência que oferta sentido aos pronomes pessoais. A todos nós.

Quando ainda hoje tenho o desejo irrealizado de ter o mesmo Cadilac Rabo de Peixe que pelas ruas do Crato circulou com Cândido Figueiredo, é que não é o carro que me satisfaz. É a ousadia de Cândido Figueiredo, alegre, otimista, com suas gargalhadas de abrir as encostas do vale. Em que pesem interpretações, de quem trombou com o personagem, mas ninguém supera o destemido, sempre no limite do perigo, até mesmo em sua possante motocicleta através das noites do Crato. Agora falei de Alcides Peixoto do qual presenciei uma cena de bate boca no bar do Nenen quando, no limite do entrevero, ele deu uma tapa tão possante no ouvido do outro no qual este girou, para surpresa de todos, como um trapezista no ar.

E os sabores. O doce de leite de Isabel. Gerações fizeram desta iguaria uma adoração ao sublime. Pode ser, mas jamais encontrei, mesmo em Minas Gerais, um tijolo de leite igual ao de Joaquim Patrício. No ponto, não era açucarado, mas era tijolo, tinha uma consistência de caramelo, mas caramelo que se dissolvia na boca. Pode ser que seu Cícero Beija Flor tenha deixado de herança, em algum guardado da sua descendência, amostras das cadernetas de apontamento das compras das famílias da cidade. Se alguém achar algumas destas, faz uma tese de mestrado sobre o consumo de então.

E o Moacir no seu armarinho. Se provocar o Morais e o Carlos Esmeraldo, milhões de pequenas gafes surgirão. Como a freguesa que procura, com muito cuidado para não se expor à curiosidade pública, saber o preço de uma calcinha. Acha o preço salgado e sai. Nisso o espírito mascate do bom comerciante que é o Moacir sai de porta a fora, em pleno e intenso movimento, grita em busca da freguesa: EI DONA MARIA DA CALCINHA. Sim, na mesma rua o salão ABC. O espelho inconfundível, universal, a matriz pela qual se tira o todo do que é um salão de barbeiro. Toda a vida da cidade correndo pelo poder da voz humana, alguma revista para as horas de folga, a sonolência do freguês ausente, o ventilador, tesoura, pente, espuma, navalha e máquina de corta a zero.

Não esperemos que por esta rua nos fuja o maior contra-senso da minha afeição de criança. Era uma das alternativas do caminho de casa. Seguir pela ladeira velha, atingir a matança e daí para a Batateira. Passar em frente àquele pobre ponto comercial. Desprovido da variedade de outros pontos, na verdade tão somente cachaça. Eu tinha simpatia por aquele estado quase franciscano das suas instalações. Mais ainda pela sua freguesia. Pois não foi que um dia ouvi um verdadeiro discurso político contra o seu dono. Uma voz acusatória da desgraça familiar, evocando o respeito pela integridade humana à luz da religião. Fiquei confuso, afinal o acusado se tratava de um quase nada em face dos que eram quase tudo. Era Iô Iô, cujo bar era assim chamado e, dizem, que sujeito a tremendas imprecações se ousasse atraso na abertura comercial, pois os tremores antes da primeira ficavam insuportáveis.

Pois, então, a minha vida é esta árvore. Tem Socorro, Claude, Zé Flávio, Emerson, Morais, Carlos Esmeraldo, Rafael, Armando e Salatiel. E por outras floradas o Lupeu, Leonel, Rios, Domingos Barroso, Pachelly, Glória, Sávio, Ludgero, o Dihelson, Nijair, Melgaço. E a Amanda, quem dela tem notícias? O Glauco, o Tarso e tantos outros muito mais e maior que esta pequena lista.

Como um músico da cidade que campeia nas elaboradas frases que atormentam todos os compositores e dele ouço uma Morena Samba. Com esse olhar de vem pra cá. Pecando com o corpo, um calor de entrega, requebrando, requebrando. E segue como prova da negação do saudosismo resguardado, em que nada muda apenas a chama de uma saudade de fim de tarde.