TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 31 de agosto de 2013

5ª Guerrilha do Ato Dramático Caririense

INSCREVA SEU ESPETÁCULO!




Release

A Guerrilha do Ato Dramático Caririense é um evento reconhecido no calendário da cultura cearense e de profunda significação no desenvolvimento das artes cênicas do Cariri, fruto que é da vitalidade e pujança das companhias aqui sediadas. Em 2013, mais uma vez fará brilhar os céus de nossas almas com espetáculos em ruas, praças e palcos. 

O movimento é indispensável à luta em favor da diversidade, respeito e afirmação da identidade cultural brasileira a partir da dramaturgia e encenação produzidas no Cariri cearense. Reunirá expressivo contingente de dramaturgos, atores, diretores, produtores e técnicos de companhias de artes cênicas respaldadas pela perseverança e seriedade na pesquisa e realização de seus trabalhos. 

A 5ª edição da Guerrilha do Ato Dramático Caririense tem sua realização prevista para o período de 26 de outubro a 07 de novembro de 2013, no Teatro Ponto das Artes (Sociedade Cariri das Artes, Crato-CE), Casa Ninho (Crato-CE), Teatro Adalberto Vamozi (SESC Crato-CE), Teatrinho da RFFSA (Crato-CE) e em praças e ruas da cidade do Crato-CE.


Regulamento

Apresentação

Artigo 1º - A Guerrilha do Ato Dramático Caririense é um movimento de afirmação da identidade cultural brasileira, a partir da exposição de espetáculos de artes cênicas produzidos e realizados no Cariri cearense, cuja finalidade maior é promover e difundir o teatro, a dança e o circo, contribuindo para seu desenvolvimento, valorização, conquista de plateias e intercâmbio. 

Artigo 2º - A Guerrilha do Ato Dramático Caririense é uma realização da Sociedade Cariri das Artes em cooperação com companhias e grupos em atividade na região, sendo esta sua 5ª edição.

Artigo 3º - A 5ª Guerrilha do Ato Dramático Caririense acontecerá no período de 26 de outubro a 07 de novembro de 2013, no Cariri, Estado do Ceará, e sua organização e funcionamento são regidos pelo presente Regulamento.

Participação

Artigo 4º - Poderão participar companhias e grupos de teatro, dança e circo em atividade na região do Cariri cearense, com espetáculo de duração mínima de 40 minutos, nas modalidades palco à italiana, espaço alternativo e rua.

Parágrafo Primeiro – Os espetáculos submetidos à seleção terão, obrigatoriamente, que já ter estreado até o ato de sua inscrição, não sendo vedada a participação de espetáculos que tenham sido apresentados em edições anteriores da Guerrilha. 

Parágrafo Segundo – A convite da Comissão Organizadora, sem prejuízo da participação de grupos/companhias locais, companhias e grupos de outras regiões do estado, do restante do país e estrangeiras poderão integrar a programação, como forma de incremento do intercâmbio e compartilhamento de processos criativos.

Inscrição

Artigo 5º - A inscrição na 5ª Guerrilha do Ato Dramático Caririense deverá ser feita EXCLUSIVAMENTE em Encontro de Agendamento, a ser realizada no dia 10 de setembro de 2013 (terça-feira), às 18h, no Teatro Ponto das Artes, Rua Nelson Alencar, n° 420, Centro, Crato-CE, Tel.: (88) 3523.5148 | (88) 8801.0897 | (88) 9960.4466, com a seguinte pauta:

1. História, Princípios e Fundamentos da Guerrilha do Ato Dramático Caririense;
2. Inscrição de espetáculos pelos grupos e companhias presentes;
3. Definição de locais, datas e horários de apresentação;
4. Formatação da Programação Oficial pelo Coletivo de Grupos e Companhias da Guerrilha. 

Parágrafo Primeiro – Não será permitida a inscrição de espetáculo cujo grupo/companhia não esteja representado no referido Encontro de Agendamento. 

Parágrafo Segundo – Para efetivar a inscrição, é obrigatória a apresentação dos seguintes itens:

a. Ficha técnica básica com elenco, corpo técnico e necessidades técnico-operacionais;
b. Sinopse;
c. Mapa e planilha de iluminação;
d. Vídeo completo do espetáculo (ou link de acesso na internet);
e. Até 3 fotos em boa resolução;
f. Relação nominal dos integrantes com nome completo, número de RG, CPF e Registro Profissional (caso tenha);
g. Termo de cessão de direitos/autorização de montagem emitida pelo autor, SBAT ou outro órgão de representação legal;
h. Breve currículo da companhia/grupo. 

Parágrafo Terceiro – A ficha de inscrição aqui tratada, assim como as informações nela indicadas, poderão ser solicitadas pelo endereço eletrônico 

cariridasartes@yahoo.com.br 

ou coletadas no blog 

http://guerrilhadoatodramaticocaririense.blogspot.com.br/

ou, também, na página

https://www.facebook.com/GuerrilhaDoAtoDramaticoCaririense

Parágrafo Quarto – Os grupos/companhias convidados deverão realizar inscrição entregando pessoalmente ou enviando o material elencado no Parágrafo Segundo do presente Artigo, via correios, com Aviso de Recebimento (AR), para o endereço abaixo: 

SOCIEDADE CARIRI DAS ARTES 
5ª Guerrilha do Ato Dramático Caririense 2013 
Rua Nelson Alencar, 420 
Centro, Crato-CE, CEP: 63.100-110 

Cachês

Artigo 6º – Cada grupo/companhia receberá, por espetáculo apresentado, o correspondente ao rateio, em partes iguais, da receita líquida do arrecadado na bilheteria de todos os espetáculos realizados em espaços fechados e dos recursos advindos de patrocínio/s para este fim. 

Parágrafo Único – Entende-se por receita líquida o resultado obtido após a subtração das despesas com energia elétrica, camarim e serviços de terceiros, da arrecadação geral da Guerrilha (bilheteria e patrocínios).

Disposições Gerais 

Artigo 7º – A 5ª Guerrilha do Ato Dramático Caririense será composta de espetáculos selecionados e convidados.

Parágrafo Único – A quantidade de espetáculos será determinada pela Comissão Organizadora, observando o princípio da inclusão e cultural de grupos e companhias do Cariri cearense e a prática de intercâmbio com outras regiões, estados e países.

Artigo 8º – Cada grupo/companhia será responsável por suas despesas referentes a deslocamento, alimentação e hospedagem, sendo o camarim, de responsabilidade da organização da Guerrilha. 

Artigo 9° – A divulgação geral do movimento será de responsabilidade de grupos e companhias integrantes da programação, a partir de material impresso e virtual fornecido pela Comissão Organizadora da Guerrilha.

Parágrafo Primeiro – Caberá aos grupos/companhias a produção de peças de marketing virtual e divulgar seus espetáculos na rede mundial de computadores, podendo, também, às suas expensas, mandar confeccionar divulgação impressa e utilizar-se de outros meios que lhes forem possíveis.

Parágrafo Segundo – Os grupos/companhias deverão, através de seus membros, cooperar na divulgação de cada espetáculo em particular, compartilhando postagens em seus perfis, bem como nas redes sociais e distribuindo releases via mala direta.

Artigo 10 – A Curadoria dos espetáculos selecionados e convidados caberá à Comissão Organizadora designada pela Sociedade Cariri das Artes, ouvindo o Coletivo de Grupos e Companhias da Guerrilha, podendo ser solicitado apoio técnico e consultoria de pessoas com notório conhecimento na área.

Artigo 11 – A data, horário e local de cada espetáculo serão definidos no Encontro de Agendamento, a ser realizado no dia 10 de setembro de 2013, às 18h, no Teatro Ponto das Artes.

Parágrafo Único – A Programação Oficial será publicada até o dia 30 de setembro de 2013.

Artigo 12 - Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão Organizadora da 5ª Guerrilha do Ato Dramático Caririense, depois de ouvido o Coletivo de Grupos e Companhias da Guerrilha. 


Crato-Cariri-Ceará, 29 de agosto de 2013.


A Guerrilha do Ato Dramático Caririense



"FLORES RARAS" - José Nilton Mariano Saraiva

“Flores Raras” (baseado em fatos reais) é a tal prova cabal de que nós, brasileiros, já conseguimos, sim, produzir com extrema competência, filmes adultos, sérios e - mais importante - de qualidade indiscutível.

Produzido e dirigido pelo consagrado Luiz Carlos Barreto (em parceria com a esposa) e tendo no papel principal uma Glória Pires madura e simplesmente exuberante, trata da intensa e sofrida relação homossexual entre a arquiteta carioca Lota de Macedo Soares (Glória Pires), uma das responsáveis pela construção do Aterro do Flamengo, no Rio, e a poetisa americana Elisabeth Bishop. 

É que esta, buscando fugir do estresse do dia-a-dia de Nova Iorque, decide aceitar o convite de uma contemporânea de faculdade (que se mudara para o Brasil), para conhecer o Rio de Janeiro. Extremamente tímida, introvertida e recatada, em aqui chegando se surpreende ao notar que a ex-colega “vivia” com uma outra mulher, Lota Macedo.

Despachada, autoritária e mandona, Lota Macedo não fazia nenhuma questão em esconder sua atração por pessoas do mesmo sexo. E a paixão por Elisabeth foi instantânea, como que a adivinhar que por detrás daquela timidez, introversão e recato excessivos se escondia um autentico “vulcão”. E não deu outra: na primeira saída a sós (por ela provocada) e num recanto paradisíaco (Teresópolis), um inesperado beijo na boca e... deu-se a erupção, fiat lux.

Daí pra frente a paixão só cresceu, ao ponto do ciúme da ex-amante ter que ser debelado com a adoção de uma criança e a abertura definitiva e sem rodeios do jogo: sim, a bola da vez, agora, era Elisabeth (que com ela passou a dividir a cama).

Viveram intensamente a paixão e cresceram profissionalmente em suas respectivas atividades (Elisabeth chegou a ganhar o concorrido prêmio Pulitzer, por um poema que lá atrás houvera dedicado a Lota) até que deu-se a “fadiga do material”: convidada para lecionar numa faculdade americana, Elisabeth resolve aceitar, mesmo com a não concordância e o protesto veemente da companheira (que chega a lhe oferecer mundos e fundos, tal o medo de perde-la).

Acostumada a mandar, desmandar e jamais ser questionada, com a viagem da companheira à sua revelia, Lota Macedo acusa o golpe: entra em um penoso processo depressivo, alimentado pela saudade, daí o consumo excessivo de álcool. Suas cartas não têm resposta, simplesmente porque a ex, que fora rejeitada, não as encaminha. A degradação é visível e impressionante (que maquiador fabuloso).

Após certo tempo, ao tomar conhecimento, por acaso, do estado crítico da ex, Elisabeth (já com outra amante, uma aluna bem mais nova) se manda de lá pra cá, a fim de socorrê-la; e aí, novamente juntas, as duas descobrem que “não dá mais liga”, alguma coisa se perdera pelo caminho, o sonho acabara, esvaíra-se, escafedera-se.

Alfim, por não admitir o fracasso, e visando livrar-se daquele calvário que já lhe atormentara excessivamente, Lota Macedo põe fim à própria vida ao ingerir um generoso coquetel de medicamentos com whisky. Mesmo condoída e consciente de ter sido responsável por aquele ato extremo, Elisabeth volta para os braços da amante americana.


Resumindo: independentemente dos preconceitos que decerto hão de surgir, um filme adulto, sério e que merece ser visto com extremada atenção. E com um adendo: é brasileiro, sim, com locação na sua maior parte em Teresópolis, contando com uma atipicidade: os diálogos em inglês e legendado em português.   

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

"Xepa" indigesta (II) - José Nilton Mariano Saraiva



Nessa questão que trata da negativa de cassação do mandato do Deputado Federal Natan Donadon, por parte dos seus pares, é necessário que se saiba o seguinte:

513 parlamentares compõem a Câmara dos Deputados, em Brasília. Regimentalmente, para que um deles tenha o mandato cassado, necessário que metade (256) mais 01 (257) concordem com a penalidade. Como 141 não compareceram em plenário, evidentemente que influíram de forma decisiva para que tal não ocorresse.

Isso porque, como 233 votaram favoravelmente, faltaram 24 votos para atingir os 257, sacramentando a cassação. Desses 24 votos que faltaram, a bancada cearense contribuiu com 07 votos (ou 29%). A razão de não comparecerem, ninguém sabe, mas o certo é que tinham conhecimento da matéria e da importância das respectivas presenças.
  
É necessário, pois, que o eleitor cearense saiba o nome dos “distintos”, a saber: Antonio Balhmann (PSB), Artur Bruno (PT), Genecias Noronha (PMDB), José Linhares (PP), Manoel Salviano (PSD), Mário Feitoza (PMDB) e Vicente Arruda (PR).

"Xepa" indigesta - José Nilton Mariano Saraiva

Condenado em última instância pelo Supremo Tribunal Federal a 13 anos de prisão, por ROUBO QUALIFICADO, e já recolhido há dois meses à penitenciária da Papuda, em Brasília, o Deputado Federal, por Rondonia, Natan Donadon, foi julgado ontem por seus pares da Câmara dos Deputados, em atendimento ao parecer da Comissão de Constituição e Justiça daquela corte, favorável à cassação do seu mandato.

Só que, escudados e protegidos pela abjeta e imoral “votação secreta” (onde o parlamentar-votante não precisa se identificar), prevaleceu o corporativismo criminoso, e o bandido acabou não tendo o mandato cassado, como era de se esperar. Para tanto, contribuíram a ausência de 108 deputados e a abstenção de 41 outros, a fim que o quórum regimental de 257 votos fosse atingido.

Composta por 513 parlamentares, a Câmara Federal é uma das instituições líderes no repúdio da população, por conta da comprovada desonestidade da maioria dos seus membros (se muito, e olhe lá, uns 10% encaram a atividade parlamentar com seriedade) enquanto os demais estão atolados até o pescoço em negócios escusos, maracutaias e prevaricação, daí o “rabo-preso” e o conseqüente apoio a colegas mafiosos.

E a falta de seriedade e o sarcasmo são tão grandes que, apesar de ter chegado ao recinto algemado e saído idem, o bandido Natan Donadon gozou com a cara de todos nós ao reclamar, na tribuna, ostentando um largo sorriso, que a “xepa” (comida) servida no presídio precisava ser melhorada.


É ou não um tremendo cara-de-pau ???  

Claudia Leitão - A dimensão econômica da cultura precisa avançar


A ex-secretária de Cultura do Estado do Ceará, a  pesquisadora e gestora cultural, Claudia Leitão foi uma das principais formuladoras e incentivadoras da Secretaria da Economia Criativa do Ministério da Cultura. A professora acredita que é avalia que o Brasil avançou na dimensão simbólica e cidadã nos últimos anos, mas ressalta que é preciso avançar no campo econômico da cultura.  

Alexandre Lucas - Quem é Claudia Leitão?

Claudia Leitão - Uma professora e pesquisadora brasileira, uma gestora cultural apaixonada pela reflexão sobre as políticas públicas de cultura, especialmente, sobre as conexões entre a cultura e o desenvolvimento. 

Alexandre Lucas -  Como se deu sua inserção no campo das Políticas Públicas para Cultura?

Claudia Leitão - Eu me graduei em Direito e, em seguida, em Música. A cultura e o conhecimento científico sempre atravessaram a minha vida. De início, através dos estudos da flauta, no Conservatório Alberto Nepomuceno, em Fortaleza. Depois, graças ao meu  doutorado em Sociologia na Sorbonne, em Paris. A descoberta da cultura, na perspectiva das políticas públicas, acontece dentro da minha trajetória acadêmica na Universidade Estadual no Ceará, quando coordenei a primeira especialização em Gestão Cultural. Mas, certamente, meu grande "mergulho" no universo das políticas públicas da cultura se deu quando fui secretária de cultura do Ceará, entre 2003 e 2006. Esses quatro anos mudaram meu olhar sobre meu Estado mas, também, sobre minha vida acadêmica. E esse "divisor  de águas" se dá quando, no início da minha gestão, inicio com minha equipe o  planejamento da Secult. O Plano, produto desse processo, tornou-se um documento fundador de nossa gestão, uma declaração política da nossa decisão de trazermos para o Estado a tarefa de liderança na formulação, implantação, monitoramento e avaliação de políticas públicas (e não governamentais,!) de cultura. O mais interessante foi a coincidência de termos, naquele momento, chegando ao MinC, o ministro Gilberto Gil. Esse "encontro" foi muito inspirador e resultou em muita cumplicidade entre o Ceará e Brasília durante quatro anos.

Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória:

Claudia Leitão -  Minha graduação em Direito me levou a fazer mestrado em Sociologia Juríica na USP. Minha licenciatura em Educação Artística me instigou a fazer  doutorado em Sociologia na Sorbonne. Penso que essas formações que parecem díspares, são absolutamente necessárias e afins quando falamos em políticas públicas e gestão cultural.

Alexandre Lucas – Um dos focos da sua área de pesquisa é o desenvolvimento sustentável.  Qual a relação entre cultura e desenvolvimento?

Claudia Leitão - As relações entre cultura e desenvolvimento são antigas, mas a sua compreensão vem se transformando, especialmente, ao longo do século 20. De início, a cultura foi considerada uma variável determinista do desenvolvimento e, por isso, tornou-se praticamente um "fatalismo" a favor ou contra o chamado "desenvolvimento" de povos e civilizações. Essa visão foi responsável por inúmeras intervenções ou projetos equivocados de desenvolvimento, quase sempre "exógenos" e, por isso, distantes dos desejos das populações para quem foram destinados. Nas últimas décadas do século 20 e início do século 21, inicia-se uma etapa mais alvissareira nas relações entre cultura e desenvolvimento. Ela vai dar lugar a uma visão "endógena" do desenvolvimento, ou seja, a um "desenvolvimento com envolvimento" das comunidades e populações. Nesse momento, a cultura deixa de ser uma "condenação" mas passa a ser um a priori para o empoderamento e o protagonismo dos indivíduos. E mais. A cultura passa a ser considerada pela Convenção da Diversdade Cultural, produzida pela Unesco, como o quarto pilar do desenvolvimento, ou seja, a cultura passa a qualificar os modelos de desenvolvimento no novo século.

Alexandre Lucas – Como você avalia a políticas públicas para cultura no Ceará?

Claudia Leitão - Um dos problemas relativos às políticas públicas no Ceará, mas também em todo o pais, sejam essas políticas culturais ou não, é o relativo à continuidade ou à perenidade das mesmas. Políticas de Governo no Brasil ainda são compreendidas e tomadas como políticas de Estado. O resultado é que muitas políticas, programas e ações sofrem com sua descontinuidade. No plano federal, estadual e municipal essa problemática acontece e é danosa para o Brasil.
 
Alexandre Lucas - O que é a Economia Criativa?

Claudia Leitão - O conceito de economia criativa está em construção, especialmente no Brasil, um país que poderá liderar, na próxima década, a construção de um modelo de desenvolvimento local e regional para o mundo, a partir da formulação de políticas públicas para a criação, produção, circulação, difusão, consumo e fruição de bens e serviços culturais e criativos. A dinâmica econômica dos bens intangíveis não é a mesma da indústria tradicional. E, por isso, carece de estudos e pesquisas, para que sejam produzidos diagnósticos dos setores culturais, em suas especificidades, além da necessidade de se mapear as vocações regionais. Mas, não tenho dúvida que a diversidade cultural brasileira poderá se tornar um ativo econômico importante para a inclusão produtiva em nosso país.

Alexandre Lucas -   Uma das críticas a Economia Criativa é sobre risco de mercantilização da produção artística. Como Você ver essa questão?

Claudia Leitão - A ausência de políticas públicas que intervenham e estabeleçam regras para os mercados, acaba permitindo  que essas mercantilização se dê da forma radical e excludente. Por isso, é tarefa do Estado enfrentar as assimetrias produzidas pelo sistema capitalista, estabelecendo as " regras do jogo" para a economia,especialmente, para a economia da cultura, garantindo, enfim, sua sustentabilidade.

Alexandre Lucas -  A partir da gestão do primeiro Governo Lula o país vive uma nova conjuntura no campo das Políticas Públicas para Cultura, o que gerou um novo protagonismo dos movimentos culturais da cultura. Qual a sua percepção em relação a essa questão?

Claudia Leitão - Penso que a partir do Governo Lula, o Ministério da Cultura alçou novos patamares na formulação de políticas públicas para a cultura. O programa "Cultura Viva" é o exemplo de uma política cultural que privilegia e reconhece a ação dos pequenos, ou seja, daqueles que produzem cultura nos territórios mais longínquos do país. Mas, se o MinC avançou nas dimensões simbólica e cidadã da cultura, considero que a dimensão econômica necessita ainda avançar. Os desafios da Secretaria da Economia Criativa são grandiosos: produzir dados confiáveis sobre o campo cultural e criativo brasileiros, formar profissionais qualificados, oferecer fomento aos empreendedores criativos e definir marcos legais que permitam o florescimento da economia criativa brasileira.

Alexandre Lucas -  Um dos grandes  desafios para as políticas públicas para a cultura  é a criação de um marco legal que garanta a sustentabilidade financeira. Como é o caso da PEC 150 que prevê a garantia de 2% do orçamento da União, 1,5% dos Estados e 1% dos Municípios para a Cultura.  O que representa isso para o desenvolvimento do país?

Claudia Leitão - Aos poucos, o campo cultural vai conquistando garantias jurídicas. Os "direitos culturais", direitos de terceira geração, hoje são considerados direitos humanos fundamentais. A legislação recém aprovada do Sistema Nacional de Cultura é estratégica para o avanço da políticas públicas de cultura no pais. Mas, não acredito que a PEC 150 seja aprovada a curto prazo. De qualquer forma, outros marcos legais precisam ser criados, e talvez sejam mais viáveis a curto ou médio prazos. São marcos trabalhistas, previdenciários, tributários, civis, administrativos, entre outros. Precisamos de uma Frente Parlamentar da Economia Criativa Brasileira, antes que os chineses inviabilizem as dinâmicas econômicas dos nossps bens e serviços culturais.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Disque "M", para matar - José Nilton Mariano Saraiva

Reconhecidos, aqui no Brasil, como um bando de arruaceiros irresponsáveis, meses atrás eles se mandaram para a Bolívia (quem financiou ???) e em pleno estádio adversário, durante um jogo de futebol, literalmente armados até os dentes para a guerra, estupidamente assassinaram um jovem adolescente boliviano (Kevin Spada, de 15 anos) que nem os conhecia.
Na oportunidade, doze dos integrantes da torcida organizada “Gaviões da Fiel” foram detidos e trancafiados pela polícia boliviana, por suspeita de homicídio (que deveria ser doloso e não culposo) e aí, sim, vimos quão covardes eram: choravam e miavam ante as câmeras de TV, alegando inocência (muito embora a imagem mostrasse claramente que o “sinalizador de navio” (???) houvesse sido disparado exatamente de onde se encontravam, na arquibancada, em direção à torcida adversária.
Contando com o beneplácito da imprensa paulista, a direção do Corinthians tratou de arranjar um menor de idade (já que inimputável) para assumir a responsabilidade pelo crime perpetrado, tese que não foi aceita de imediato pelas autoridades bolivianas.
Fato é que o auê foi tanto, a rasgação de seda tão intensa, que até o Governo Federal foi acionado para tentar a liberação dos marginais e, após poucos meses de idas e vindas, todos estavam livres, leves e soltos, prometendo bom comportamento, a partir de então.
Eis que no jogo Vasco X Corinthians, realizado em Brasília no dia 25 do corrente, os arruaceiros da Gaviões da Fiel partiram com tudo para cima da torcida do Vasco da Gama, confrontando, inclusive, a própria polícia. E aí – suprema ironia - as câmeras da TV “encontraram” um dos marginais que tinha estado preso na Bolívia dias atrás e que, após liberado, jurara se comportar.
A pena (???) proposta é que seja proibido de entrar nos estádios da vida durante certo tempo e, enquanto isso, os “Gaviões da Fiel” continuarão a afrontar e desrespeitar quem encontre pela frente.

Fato é que, ao liberar (por pressão do governo brasileiro) os responsáveis por um covarde assassinato, a justiça boliviana concedeu-lhe uma espécie de “senha”: assim, entre eles, basta que se  disque “M”, para matar. Até quando ???

"Deseducados" - José Nilton Mariano Saraiva

Independentemente do mérito (e há, sim) da medida adotada pelo Governo brasileiro em contratar médicos estrangeiros para atuar nos inóspitos rincões do país (lá naquele “interiozão” brabo), em razão da expressa “má vontade” dos profissionais formados aqui no Brasil em para lá se deslocarem (701 cidades foram recusadas, na fase primeira do programa “Mais Médicos”), afigura-se-nos esdrúxula e fora de propósito a atitude de dezenas de “doutores” que, em Fortaleza, apopléticos e deseducados, xingaram aos gritos de “incompetentes” e “escravos”, os médicos cubanos que aportaram por aqui, quando saiam de uma reunião de boas-vindas patrocinada pelo Ministério da Saúde.

Afinal, humanistas e sensíveis como o são (ou deveriam ser, até por exigência da própria profissão escolhida), nossos “doutores” (aqueles que participaram da manifestação) perderam uma boa oportunidade de mostrar à sociedade seu espírito desprendido e generoso, recebendo os colegas cubanos com fidalguia e companheirismo e, se possível, incentivando-os pela iniciativa.

Só que, ao partidarizarem a questão (o “cabeça” do movimento é um reconhecido inimigo dos governos Lula/Dilma) de forma inoportuna e apressada, objetivando atrapalhar uma ação governamental que tem por objetivo preencher lacunas em um setor reconhecidamente deficiente, esqueceram que os cubanos aqui chegaram para atuar não em procedimentos complexos e avançados e, sim, unicamente na atenção básica à saúde; não se constituem, pois, nenhuma ameaça de “concorrência” aos nativo-acomodados.


Torçamos, portanto, para que, assentada a poeira e desarmado os espíritos, se instale um clima de harmonia e colaboração entre os “doutores” brasileiros e cubanos. A população pobre e carente antecipadamente agradece. 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A "novidade" - José Nilton Mariano Saraiva

Por paradoxal que pareça, a “novidade” aqui em Fortaleza já não é tão novidade assim, porquanto recorrente: mais um  escândalo nas hostes dos Ferreira Gomes.

É que, depois da compra milionária de centenas dos caríssimos carros Hiluxs, privilegiando uma determinada concessionária (que também se encarrega da manutenção dos mesmos); depois de construir o faraônico Centro de Eventos que custou R$ 400 milhões e de pagar mais de R$ 3 milhões ao tenor espanhol Plácido Domingos pra cantar durante meia hora na festa de inauguração; depois de refazer o Estádio Castelão, ao preço de R$ 530,0 milhões; depois de contratar por R$ 650 mil a cantora Ivete Sangalo, pra divertir a matutada na festa de entrega de um hospital em Sobral; depois de contratar um “buffet” pra servir comidas exóticas para uns poucos, ao preço de quase R$ 3,5 milhões durante um ano; depois de deixar de aplicar nas áreas caóticas da educação, segurança e saúde do Estado, preferindo construir um brinquedinho pra inglês se divertir (um tal de Aquarius) ao preço de R$ 350 milhões e cuja manutenção será caríssima; pois bem, depois de tudo isso, agora o senhor Cid Gomes, Governador do Estado, resolveu adquirir da empresa alemã MLW, sem a competente licitação, três potentes helicópteros (para seus deslocamentos e de agregados) ao preço de R$ 78,0 milhões, mesmo o Estado já possuindo alguns disponíveis. E o mais instigante e intrigante nisso tudo é que nos últimos 18 meses o Governo do Ceará, mesmo já tendo sua frota de helicópteros, gastou R$ 18,0 milhões em vôos comerciais, além de R$ 22,4 milhões com vôos fretados.

Enquanto isso - é bom não esquecer - das 184 cidades que formam o Estado do Ceará, em 180 foi decretado o estado de calamidade pública, em função da seca inclemente que castiga o homem interiorano (que pena com a falta d’agua e de comida).


E o suado dinheirinho do contribuinte escorrendo pelo ralo...

Espetáculo 'Cajuína' da Alysson Amancio Cia de Dança estreia no Centro Cultural Banco do Nordeste-Cariri





Alysson Amancio Companhia de Dança estreia o novo espetáculo 'Cajuína' no Centro Cultural Banco do Nordeste-Cariri dias 30 e 31 de agosto às 19h.
Este espetáculo teve um trecho apresentado em julho de 2013 no Festival Memminger Meile na Alemanha.
A trilha sonora é original e composta pelos Zabumbeiros Cariris.



‘Cajuína’ é um olhar da dança contemporânea sobre a Região do Cariri, no sul do Ceará. Uma obra coreográfica onde os intérpretes Alysson Amancio e Renato Dantas trazem para a cena memórias, tais como: o cheiro de chuva em janeiro, o sol quente de setembro, as cores do reisado, as luzes das velas nas procissões, a doida Amaral, o homem da cobra, a música das cabaças, os benditos das lapinhas, a família reunida nas refeições, o gosto de cajuína gelada com sequilho em dia de renovação e também os pecados, os amores e dores que se vive pelo mundo.
Um mundo de cores, Homens e danças!



Ficha Técnica

Concepção e Coreografia: Alysson Amancio

Intérpretes: Renato Dantas e Alysson Amancio

Trilha Sonora Original Zabumbeiros Cariri

Figurino: João Pimenta (SP), Alexandre Heberte

Produção: Luciany Maria

Iluminação: Luiz Renato

Operação de Luz: Sâmia Memória

Operação de Som: Nilo Júnior

Fotografia: Souza Júnior

Arte: Felipe Kariri

O sonho acabou - José Nilton Mariano Saraiva

Já tivemos - os brasileiros – já lá se vão alguns anos, sobejas razões para permanecer em casa às manhãs dos domingos (e até mesmo acordar na madrugada), a fim de acompanhar nossos pilotos nas concorridas corridas de Fórmula 1, mundo afora.

A partir do pioneiro Emerson Fittipaldi (bicampeão da Fórmula 1 e campeão na Indy), passando pelo polêmico e antipático Nelson Piquet (tricampeão) até chegar no Ayrton Senna (também tri), todos eles nos deram prova de competitividade e arrojo, elevando o nome do Brasil lá fora e, evidentemente, deixando-nos cheios de orgulho.

Eis que, com a morte prematura e dramática do Ayrton Senna, em 1994, no auge da forma, que provocou uma consternação geral não só aqui, como em outros países, onde era respeitado em razão do carisma e competência, a Rede Globo (promotora do evento pra essas bandas) resolveu jogar todas as fichas no atrapalhado paulista Rubens Barrichello.

Foi uma decepção. Desprovido de carisma, com os nervos sempre em pandarecos, medroso e atrapalhado, principalmente nas corridas aqui no Brasil, até a comemoração (nas raras vezes em que conseguiu subir ao pódio) se nos apresentava ridícula e despropositada, a tal “sambadinha”; e, mesmo chegando a uma equipe de ponta como a italiana Ferrari, pouco fez de produtivo, embora se vanglorie de ser o piloto que mais participou de corridas de Fórmula 1 (mais de 200 grandes prêmios).

Posteriormente, sempre com o apoio da emissora global, num primeiro momento Felipe Massa nos fez sonhar com os áureos tempos, impressão essa que se foi desvanecendo ao longo dos meses; e, quando sofreu um grave acidente, na Hungria, que quase lhe ceifa a vida, o brasileiro (agora casado) claramente voltou receoso, com o freio de mão sempre levantado, embora com um carro de ponta (também a Ferrari).

Hoje, no país o esporte já não causa nenhuma empolgação, tanto é que são poucos os brasileiros que se dispõem a renunciar a uma praia ou mesmo a um shopping qualquer, nas manhãs de domingo, a fim de encarar as insossas e previsíveis corridas de Fórmula 1.


Definitivamente, o sonho acabou.   

sábado, 24 de agosto de 2013

A ética da vassoura que suja a política (Guálter George, editor-executivo de Conjuntura, do O POVO)

A política cearense está “em alta” no cenário nacional, mais recentemente, pela frenética capacidade que têm demonstrado os seus representantes de gerar escândalos. À parte o caráter jocoso, tristes demonstrações de descaso com o que deveria ser mais sagrado aos homens públicos, que é a aplicação respeitosa dos recursos que a sociedade coloca à disposição deles para que se revertem em algo que a ela volte de maneira útil. Coletivamente útil. São absurdos, impossíveis de qualquer explicação que os justifique, os números da licitação para compra de materiais de limpeza sob questionamento na Câmara de Vereadores de Juazeiro do Norte.

A sequência recente de episódios no Ceará frustra a expectativa de que a política seria positivamente afetada pelos eventos registrados a partir de junho, com o povo indo às ruas de uma maneira que raras vezes o País houvera visto até então. Há mudanças, e seria impossível que tudo permanecesse absolutamente como antes diante da força avassaladora do que aconteceu, além dos desdobramentos que aqui e ali ainda repicam, mas elas ainda parecem muito distantes de encaminhar para o ideal de realidade que se busca.

É simbólico que este caso mais recente envolva uma extravagante compra de material de limpeza. Talvez se possa utilizar a ideia embutida na operação para reforçar a necessidade urgente de uma assepsia na política, que mantém firme sua capacidade de causar vergonha e indignação


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

"Fiéis discípulos" - José Nilton Mariano Saraiva

Há poucos dias, a cidade de Juazeiro do Norte foi manchete nacional, no horário nobre, em razão do mandatário maior (prefeito) ter sido detido nos Estados Unidos transportando dólares em excesso e, também, por querer, no front interno, avançar no salário dos professores do município, subtraindo-lhes uma fatia considerável.

Agora, volta ao noticiário dos jornais e TV, por conta da atitude (mais que suspeita) do presidente da Câmara Municipal da cidade, que resolveu gastar mundos e fundos na compra de uma montanha de material de limpeza (só de vassouras foram adquiridas impressionantes cinco mil unidades), num atestado eloqüente de que presumivelmente não está cuidando com o devido zelo do dinheiro alheio.

De outra parte e pra não ficar pra trás, o ex-prefeito e atual Deputado Federal Manoel Salviano houve por bem destinar boa parte da sua “VDP” (excrescência conhecida por “Verba de Desempenho Parlamentar”) para pagamento de estadia e aluguel de carro num hotel do qual é um dos acionistas (conforme noticiado).

Constata-se, pois, que em Juazeiro do Norte se tornou algo absolutamente “normal” os detentores do poder usarem e abusarem da malversação do dinheiro público, em benefício próprio (ou seria de um bando ???), sem maiores preocupações.

No entanto, se formos consultar o breve histórico da cidade não deveria constituir-se nenhuma surpresa, porquanto estariam apenas e tão somente espelhando-se no exemplo do líder maior - Cícero Romão Batista – que, lá atrás, além de arquitetar uma fraude grotesca para beneficiar-se (um tal de “milagre da hóstia”, a partir do qual foi descredenciado e brindado pela Igreja Católica com o epíteto de “charlatão”), conseguiu a proeza de, ao entrar para a política (também ocupou a prefeitura), metamorfosear-se da condição de “pobre de Jó” para uma das maiores fortunas do Ceará (porquanto proprietário de fazendas, imóveis, gado, terrenos, muita grana e por aí vai). Não esqueçamos: sua família era paupérrima em termos econômico-financeiros. Alguma dúvida ???

Como, entretanto, naquela época não havia ainda a figura de um Ministério Público atuante e expedito como o dos dias atuais, o mais que comprovado enriquecimento ilícito nunca foi formalmente questionado, embora na prática a “coisa” fosse explícita e cristalina; em sendo assim, ninguém sabe ao certo se a mudança de status de “pobre” para “podre de rico” se deu por caixa 2, sobras de campanha, dinheiro não contabilizado, doações e por aí vai.

No duro, no duro, o que se sabe é que nasceu pobre e morreu milionário, sem que tivesse nenhuma fonte de renda compatível para justificar a riqueza amealhada (tal qual a maioria dos políticos da atualidade). Alguma contestação ???


Ante o exposto, a conclusão resultante é uma só: os atuais “mandões” da cidade de Juazeiro do Norte (prefeito, presidente da Câmara e deputado) apenas e tão somente se revelaram “fiéis discípulos” do mestre, porquanto absorveram e adotaram igual “modus operandi” de proceder.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Doido Barrido




J. Flávio Vieira

                                               O velho Clotário Libório, antigo funcionário da prefeitura de Matozinho, do alto dos seus trinta anos de experiência como fiscal da fazenda, desconfiou que alguma coisa andava errada na cidade. Clotário trabalhava na Cancela estrategicamente colocada   na rodagem de saída para Bertioga que, como uma aorta, ligava a cidade com o resto do mundo. De carro, tudo que entrasse ou saísse de Matozinho tinha que passar por ali. Arapuca armada, Libório caia de pau em cima dos recalcitrantes sonegadores. Pois bem, nos últimos dias, nosso fiscal começou a notar um êxodo pra lá de esquisito na Cancela. O balanço diário começou a mostrar mais imigração do que emigração. Em tempos de seca braba, como nos últimos anos, essa realidade não era de tudo inexplicável , mas o sexto sentido avisara Libório de que a coisa parecia incomum. Começaram  a sair caminhões e pau-de-araras carregados até a tampa e Libório resolveu dividir suas preocupações com o prefeito Sinderval Bandeira. A maior parte dos veículos era de frete. Pelo andar do carro de boi,  Matozinho corria o risco de se tornar uma cidade fantasma.
                                   Sinderval orientou o funcionário a cadastrar todos os veículos de porte que por acaso saíssem da cidade e preenchesse uma ficha simples: destino, motivo da viagem, tipo de carga transportada , quando retornaria.  Seu termostato político já disparara e Bandeira, ou Bandalheira como era conhecido, temeu a perda de eleitores e, consequentemente, maiores dificuldades em vencer a oposição nas eleições que já se aproximavam.
                                   --- Faça o levantamento, Libório, que a coisa é séria ! Depois de amanhã à tarde, me traga uma posição para que eu possa tomar as devidas providências !
                                   Clotário partiu,  investido de uma missão que lhe parecia salvadora. Tabuleta na mão, ainda naquele dia,   passou a registrar cuidadosamente os dados solicitados pelo chefe.  No dia seguinte, no horário combinado, dirigiu-se à Prefeitura, onde Sinderval e todo Secretariado Municipal o esperavam para a reunião emergencial. Antes de tudo,  Bandeira colocou todos a par do grave problema  imigratório e da conduta que tomara junto com Clotário, no sentido de buscar a origem da crise . Ajeitou-se  na cadeira e começou a sabatina.
                                   --- Quantos caminhões carregados saíram de Matozinho de ontem para hoje, Libório ?
                                   --- Quatro, seu prefeito, tudo abarrotado !
                                   --- Abarrotado de quê , seu Libório ? Que diabos que é que estamos exportando numa seca dessas?
                                   --- Uma Scania carregada de pequenas varas de marmeleiros aparelhadas. Outra  com uma ruma de mulher, acomodada prá tudo quanto é lado. Outro caminhão saiu apinhado  de mendigo e de “drome sujo”e  uma carreta saiu cheia de gari, acho que não ficou nenhum aqui em Matozinho, nem prá se fazer remédio!
                                   --- Foram a passeio ou ainda pensam em voltar ? –Quis saber Sinderval.
                                   --- A maioria vai ficar por lá mesmo, só a ruma de mulher disse que ainda volta.
                                   --- E tão se botando prá onde , seu Libório ?
                                   --- Tudo pro Juazeiro do Norte, seu prefeito!
                                   --- Mas como, por que esse monte de romeiro de uma vez só? Aconteceu algum outro milagre por lá? A hóstia sangrou de novo no beiço da beata?
                                   --- Aconteceu e dos grandes! A Câmara de Vereadores de lá comprou, de uma talagada só, duas toneladas e meia de sabão e quase cinco mil vassouras! O turco Abdu Abraão, aqui de Matozinho, resolveu levar uma carrada de marmeleiro prá lá, pensa enricar vendendo cabo de vassoura. Os garis daqui se reuniram tudo e partiram prá terra do meu Padim na certeza que lá , pela ruma de vassoura adquirida, não vai faltar emprego nos próximos cem anos. Os “drome-sujo” da região também partiram ligeiro em direção ao Cariri : num vai faltar sabão prá tirar o ceroto de cabra nenhum, a redor de duzentas léguas, no próximo milênio.
                                   --- E a récua de mulheres, Libório? Que que foi fazer no Juazeiro? Pagar promessa?
                                   --- Pelo que pesquisei, seu Sinderval, elas foram participar do  “IV Congresso Brasileiro de Sogras e  Ex-mulheres” que foi patrocinado pela Câmara de Vereadores de Juazeiro .
                                   --- Por que o patrocínio da Câmara , seu Libório ? Esse Congresso tem alguma coisa a ver com o Poder Legislativo?
                                   --- Pelo que apurei , o Congresso foi resolvido fazer  lá , porque, no frigir dos ovos,  ficou muito mais em conta. Com a quantidade de vassoura disponível, já está garantido o transporte de volta para todas  elas...