TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 17 de novembro de 2018

MÉDICOS DE CUBA (Ricardo Gondim Freire)


“Mastigadinho” pra explicar para os que tem dificuldade e que não entendem o que é o socialismo: em Cuba, a medicina NÃO É uma profissão liberal. Não tem médico trabalhando por conta própria, não tem médico abrindo clínica, não tem médico em hospital particular. Todo hospital cubano é PÚBLICO, é DE GRAÇA, e TODOS os médicos cubanos são FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS.

Portanto, o Brasil não paga "salário" aos médicos cubanos. Não existe essa porra de "pagar salário integral" que o Bolsonaro diz. O Brasil paga uma MENSALIDADE à Organização Panamericana de Saúde, um órgão transnacional que media a permanência dos médicos cubanos aqui, pra que aqui eles sigam trabalhando. A OPAS recebe essa quantia do governo brasileiro, repassa para o Ministério da Saúde Pública de Cuba, do qual TODOS os médicos são funcionários, e daí uma parte desse monte vira imposto, e uma parte compõe o pagamento dos médicos.

"Ah mas são 11 mil reais e o médico ganha só 4". Claro, porque esta porra NÃO é salário deles. Desses 11 mil reais, a maior parte é imposto, que volta pra Cuba pra bancar inclusive UNIVERSIDADE, formação de mais estudantes de medicina. Lá ninguém paga mensalidade, não existe faculdade Estácio de Sá em Cuba!

O Bolsonaro não tava tentando melhorar nada pros médicos (até porque ele caga solenemente pra eles), ele estava tentando aplicar a lógica de trabalho capitalista a um funcionário de um governo socialista. Fazer os médicos cubanos abandonarem o país que os formou, alimentou, ensinou, tudo DE GRAÇA, e ao qual eles servem, em troca de trabalhar aqui como funcionário brasileiro. É óbvio que isso não ia dar certo, é óbvio que não seria aceito, nem pelo governo nem pelos profissionais, que continuam não sendo empregados do Brasil, mas do ministério da saúde CUBANO.

O percentual que fica com o governo é pra reinvestir na formação de novos médicos , e não pra “COMER GENTE”! Da pra entender?


terça-feira, 13 de novembro de 2018

RESSACA ELEITORAL - José Nilton Mariano Saraiva


O velho axioma nos ensina que a arrogância e a soberba não levam a lugar algum. Essa a principal lição que se poderia extrair ao final das eleições presidenciais recém-findas, com o chororô interminável e recorrente do senhor Ciro Gomes, pela terceira vez rejeitado pela maioria da população brasileira (obteve raquíticos 12,47% dos votos válidos, no primeiro turno, cerca de duas vezes e meia menos que o segundo colocado - 29,28%).

A propósito, não se deve olvidar que, lá atrás, muito lá atrás (conforme ele mesmo confirmou agora), fora convidado para figurar como vice na chapa que seria encabeçada pelo então líder das pesquisas, Lula da Silva, preso em Curitiba, mas recorrendo da sentença.

Mas, como já àquela altura era quase certo que a candidatura Lula da Silva seria inviabilizada pelo conluio imoral e desonesto do juiz Sérgio Moro, Supremo Tribunal Federal e alto comando das Forças Armadas (o próprio comandante do Exército confirmou agora que exerceu pressão sobre o Supremo Tribunal Federal para que não concedesse o habeas corpus a Lula da Silva), a tendência natural seria que Ciro Gomes assumisse a “cabeça-de-chapa”, contando com o apoio irrestrito de um “cabo eleitoral” do peso e porte de Lula da Silva (mamão com açúcar, faca na manteiga, mole mole).

Mas, aí falou mais alto a já conhecida arrogância e soberba de Ciro Gomes, ao imaginar que, como candidato de um partido de aluguel, PDT (como tantos outros pelos quais transitou) conseguiria fazer com que o PT abdicasse de seu passado  de luta e, por consequência, de  uma candidatura própria, para apoiá-lo, em nome de uma suposta “aliança das esquerdas”.

E aí, muito embora experiente e passado na casca-do-alho, Ciro Gomes literalmente pisou feio na bola. Afinal, o racional e lógico, naquela oportunidade, seria que subisse no “cavalo selado” que praticamente parou à sua porta pedindo pra ser montado e daí cavalgasse para o abraço (certamente teria feito cabelo, barba e bigode).

Como não o fez, o PT decidiu-se por Fernando Haddad, que com apenas ínfimos 20 dias de campanha (mas com o apoio de Lula da Silva) conseguiu passar tranquilamente para o segundo turno.

Assim, depois da mancada homérica, só restou a Ciro Gomes acenar para os políticos de quinta categoria do tal “centrão” e outros partidos pigmeus, que o renegaram, preferindo abraçar o insosso Alckmin (que também não ganhou nada com isso).

Fato é que, inexoravelmente derrotado (por erro de estratégia), Ciro Gomes praticamente ajudou, sim, a eleger Bolsonaro, ao se omitir no segundo turno e se mandar para férias na Europa, em plena efervescência do embate final.

Hoje, na ressaca da refrega eleitoral, matreiro e oportunista, e aproveitando o momento difícil da esquerda (como um todo), a “diversão-fúnebre” de Ciro Gomes é desancar do PT e de Lula da Silva, ao sugerir uma grande frente de esquerda já visando as eleições de 2022, evidentemente que com ele comandando e figurando como “cabeça-de-chapa”.

Proscrita desde já, uma possível candidatura do PT, por conta da repentina aversão do messiânico adepto do “bloco do eu sozinho” (Ciro Gomes). 

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

O QUE NOS ESPERA



QUI, 08/11/2018 - 23:59
ATUALIZADO EM 09/11/2018 - 06:55
 * Uma referência não muito sútil ao filme O Exército de Brancaleone
Talvez o exemplo histórico mais próximo seja o da Torre de Babel. São grupos de pessoas de várias procedências preparando-se para tomar o poder. Ou “O Rato que Ruge”, que conta a tomada de Nova York por um pequeno país, que tinha apenas a pretensão de ser derrotado para ser auxiliado, mas encontrou Nova York em blackout.
Só dentre os “olavetes” (discípulos do filósofo Olavo de Carvalho) há quase dez grupos independentes entre si, que mal se conhecem. Tem mais tendências que os trotskista dos anos 70.
Há os seguidores do padre Paulo Ricardo, reacionário de mão cheia, que juntou uma legião de padres para apoiar a campanha de Bolsonaro.  Há olavetes que detestam evangélicos e olavetes que detestam católicos. O segundo grupo segue evangelicamente os ensinamentos do mestre, que os proíbe criticar o Papa, mas os estimula a desancar a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). São os mais ideológicos, acreditam piamente no liberalismo amplo e irrestrito e no destino manifesto de Bolsonaro, de ser um Donald Trump tropical.
Aliás, para o grupo, é Deus no céu, Olavo na terra, e Trump no mundo. Deu um trabalhão para o general Heleno convencer o pessoal que não bastava pensar como Trump para agir como Trump: era necessário dispor de um exército como o dos EUA e uma economia como a norte-americana para invadir outroS países. E parem com essa bobagem de pensar em invadir a Venezuela!
Pararam.
Vão ser os primeiros a serem engolidos pela real polítik. No início tinham a ilusão de que, pelo fato de Olavo ter fornecido os três grandes motes da campanha – o kit gay, a Venezuela e a liberação das armas – ele seria o grande ideólogo de Bolsonaro. Mas o capitão está mais para os ecos de Olavo – tipo Lobão e Danilo Gentile – que para formulações mais complexas.
Há os youtubers, é claro. E uma profusão de deputados recém-eleitos sem a menor informação sobre o que significa o trabalho parlamentar. Ninguém conhece ninguém. Dia desses, em uma das reuniões dos grupos de trabalho, passou um senhor de terno e gravata e imediatamente vários recém-eleitos pediram que trouxesse água. Não era garçom, mas um deputado bolsonariano.
A única bandeira que os une é a do antipetismo e os gritos de guerra de manter Lula preso ou eliminado. Não há consenso nem mesmo no campo das ideias reacionárias. Por exemplo, como fazer com evangélicos que defendem aborto? Tem que tirar. Mas como?
O único grupo articulado é o dos militares da infraestrutura, comandados pelo general da reserva Oswaldo Ferreira, com a cabeça desenvolvimentista de Ernesto Geisel. Eles têm acesso direto e irrestrito a Bolsonaro e já se constituem em um facho de racionalidade em meio ao caos.
Se fortalecerão mais ainda depois que caiu a ficha de Bolsonaro – e da legião estrangeira que o cerca - sobre o enorme erro de entregar o Ministério da Justiça de porteira fechada para o juiz Sérgio Moro. Especialmente depois que seu modelo, Donald Trump, demitiu sumariamente o Procurador Geral de Justiça, por não concordar com suas ações. Bolsonaro criou um Ministro indemissivel. O que acontecerá quando ele quiser colocar na cadeia algum aliado estratégico de Bolsonaro? Bolsonaro colocou no cargo mais estratégico do governo um Ministro indemissível. E houve quem saudasse o convite como um lance de genialidade de Bolsonaro.
O exemplo de Trump, desde o início atacado pela justiça e pela mídia, consolidou em algumas alas de olavetes a crítica à Lava Jato e ao partido da justiça.
Muitas das batatadas, Bolsonaro deve aos seus gurus internéticos. Já as correções nas declarações estapafúrdias, os fachos de racionalidade – como voltar atrás na questão do Mercosul, do Meio Ambiente ou da embaixada em Jerusalém – são atribuídas aos conselhos dos militares.
Dia desses, no entanto, houve a maior saia justa. O general Oswaldo fez uma longa explanação sobre a necessidade de investimentos nos diversos modais, o ferroviário, o rodoviário, o portuário, o fluvial. Quando ousou dizer o óbvio – nos locais em que não houver investimento privado, será necessário aportar investimento público – foi apartado pelo príncipe Luiz Phillippe de Orleans e Bragança, que teve um chilique, acusando-o de estar sendo influenciado por ideias comunistas.
Partiu dos militares a sugestão de criar uma Casa Civil da Infraestrutura, sob o comando do general Oswaldo, diretamente ligada à Presidência, para coordenar os Ministérios dos Transportes, Minas e Energia e Telecomunicações.
Um ponto de convergência geral, aliás, é a constatação de que o astronauta Marcos Cesar Pontes – nomeado Ministro da Ciência e Tecnologia – é alienígena que vive no mundo da lua. No início, impressionou pelo domínio do inglês. Depois, caiu a ficha que o inglês servia apenas para o astronauta dizer tolices em duas línguas.
Outra decepção foi com o superministro da Economia Paulo Guedes.
No início, os olavetes, os militares, os youtubers, todos apostavam na genialidade de Guedes. Agora,  passaram a vê-lo como um trapalhão. Primeiro, quando foi afrontar o presidente do Senado, Eunício de Oliveira, demonstrando ignorância em relação ao be-a-bá do orçamento: o orçamento de um ano é aprovado no ano anterior. Ou seja, o primeiro orçamento de Bolsonaro depende da atual composição do Congresso. Por isso não é de bom alvitre afrontar o presidente do Senado.
Depois, quando falou que o Banco do Brasil seria comprado pelo Bank foi America. Guedes não tinha a menor ideia de que um dos aliados mais influentes de apoio a Bolsonaro, o pessoal que garantiu o financiamento privado de campanha por todo o país  – o agronegócio – não vive sem o Banco do Brasil.
Depois que Guedes passou a se desdizer tanto quanto o capitão, as diversas alas bolsonarianas desiludiram-se. Os olavetes deram-se conta da terrível realidade de que o capitão não é  muito letrado nem intuitivo. Não é um um ideológico racional, formulador. Foram, então,  atrás da mediação dos filhos, até cair na real de que os filhos só sabiam mesmo detonar aliados pelo Twitter. Foi o que ocorreu com o infeliz que se apresentou como marqueteiro de Bolsonaro, foi desmentido pelo filho, demitido da equipe de transição e, como bom marqueteiro, anunciou que deixava a equipe para se dedicar a trabalhos voluntários na equipe que o dispensou.
Balaços pelo Twitter é o de menos. Internamente, há uma guerra de dossiês. Basta alguém sugerir um nome para o governo para meia hora depois aparecer um dossiê contra o candidato, em geral apresentando pelo vice-presidente, general Mourão.
Foi um dossiê que derrubou a candidatura a vice do príncipe de Orleans e Bragança, um sujeito ultraconservador, mas de pensamento articulado – que fez a cabeça de Bolsonaro com a brilhante constatação de que o início do fim do país foi a Constituição de 1988. Ah, e o golpe da Proclamação da República.
A candidatura do príncipe soçobrou devido a questões pessoais menores que, em nenhum outro ambiente, seriam motivo para vetos. O que menos pesou foi o fato de, na juventude, ele ter sido skinhead.