Hoje tive a grata surpresa de acessar o Blog Farias Brito (e recomendo que também o façam: fariasbrito.blogspot.com), e tive o prazer de ler esta interessante postagem, do escritor e compositor Joilson Kariry Rodrigues, natural de Farias Brito, mas hoje radicado em São Paulo.
Conheci Joilson quando ele estava despontando para a vida artística, lá pela metade da década de 1980. Ele me procurou porque estava fazendo teatro e queria um texto meu para encenar. Escrevi a peça As Casinhas da SOAP (ou Bolinhas de Sabão) especialmente para ele. Depois ele sumiu, mas reapareceu recentemente quando me enviou um e-mail convidando para que escrevesse o prefácio do seu livro de contos, que será lançado brevemente.
Mas, por enquanto, fiquem com o que ele postou no blog Farias Brito:
Premiado em Portugal
Olá amigos leitores!
Quero participar com vocês a alegria de ter conquistado o primeiro lugar no festival “Canções Lusófonas”, em Lisboa, Portugal. A música NEGA DO BREJO (letra de minha autoria musicada por Samuel de Abreu) , interpretada por Cláudia Valle (cantora e atriz brasileira radicada em Portugal) ganhou nas categorias “Melhor letra, Melhor arranjo e Melhor canção”. Essa versão vencedora (existe três versões dessa música) foi arranjada pelo maestro Gilvan de Oliveira (arranjador de vários artistas de renome do Brasil).
O concurso é realizado pela Câmara Brasil-Portugal e permite a participação de artistas de todos os países de Língua Portuguesa.
Em anos anteriores já havíamos sido classificados, sendo que a melhor posição foi um quarto lugar em 2005 com a música “A flor azul do teu vestido”, (minha e do Samuel) interpretada pelo cantor Alexandre Bleinat. Nesse ano citado a música vencedora foi “É Isso Aí” do meu amigo Seu Jorge.
DA MÚSICA NEGA DO BREJO
No dia 31 de dezembro de 2003 o tenor Rinaldo Viana (da dupla Rinaldo & Liriel, ‘ex- calouros do Raul Gil ‘) me ligou comunicando que acabara de compor uma música. A letra da música falava de uma mulher exuberante; mulher essa que ele estava enamorado, acredito. Depois do papo e das trocas usuais de felicitações de final de ano, me veio a idéia de homenagear, com uma letra, alguma mulher que fosse tão importante para mim. Não me ocorreu nenhuma que fizesse parte do meu presente. À minha mãe eu já havia escrito várias outras, digo antes que me recriminem. Não estava apaixonado, como meu amigo tenor, e isso é quase uma barreira para quem compõe. Foi então que resolvi fazer uma busca no meu passado. Lembrei de namoradas que se foram e levaram um pouco de mim. Não que elas não merecessem. Mereciam até que o Chico compusesse para elas, mas, com certeza, eu só ia repetir mais uma letra de amor. Pensei nas minhas professoras dos tempos do primário, nas dos tempos do ginásio, lembrei de Dona Joselita e Dona Francineide, professoras de Língua Portuguesa do Getúlio Vargas e que foram minhas primeiras grandes incentivadoras. Com certeza essas já haviam recebido muitas homenagens no decorrer de suas vidas. Eu precisava de alguém que tivesse sido importante para mim e que nunca houvesse recebido o reconhecimento merecido.
Lembrei de Lourdes. É isso mesmo, Lourdes. Quem foi Lourdes? Lourdes (e eu não sei o seu sobrenome, acho que ninguém sabe) foi uma cabocla que viveu à margem da sociedade betanhense. Nunca fora convidada para nenhum evento social. Não possuía carteira de identidade, CPF, ou até mesmo Título de Eleitora, o que lhe faria importante, pelo menos perante aos pretendentes a cargos políticos eleitorais. Morava com os pais e um irmão (Chicô) num casebre de taipas. Ganhava o sustento prestando “pequenos” serviços", tais como: lavar, passar, baldear água... Mas eu reparava em Lourdes, embora ela não reparasse em mim nem em ninguém. Eu sabia das histórias dela, da vontade de casar, do celibato, da devoção ao “Padim Ciço”. E o vestido preto que usava todo dia vinte de cada mês me atiçava uma curiosidade de menino: “Que graça ela recebera por aquela penitência?” - ela não revelava, pelo menos a mim. E a idade? Quantos anos tinha Lourdes? Talvez quarenta ou cinqüenta na época.
Uma vez no Crato, na casa do escritor Normando Rodrigues (ele que me batizou de Kariry, mas isso é outra história), eu lhe falei de meu interesse pela vida dessa mulher. Ele, com a sensibilidade de grande artista que era, também se interessou e se dispôs a conhecê-la. Lourdes recebeu Normando em seu casebre, ofereceu uma esteira para que ele se sentasse, uma caneca de café de andu e um sorriso puro que não permitiu fotografar. O poeta não se frustrou por não poder “tirar o retrato”. Escreveu um artigo sobre a cabocla, o qual ele pretendia publicar no Jornal FOLHA DE PIQUI, mas o jornal do Crato deixou de existir antes. Foi a última vez que tive com Normando. Foi a primeira vez que tive tão perto de Lourdes, a excluída. Não sei se a “Luíza” do Edu Lobo ou a “Madalena” do Ivan Lins tiveram a mesma referência em suas vidas, mas a Lourdes de Nega do Brejo teve para mim. Compus para ela uma letra. Era preciso que fosse uma letra simples, porque simples fora a sua vida. E assim foi. No outro dia liguei para o cantor mineiro Samuel de Abreu, passei-lhe a letra pelo telefone mesmo. Dois dias depois ele me enviou um e-mail com a música pronta. Quatro meses mais tarde essa canção foi gravada pela cantora angolana Yola Semedo. Depois foi gravada pelo próprio Samuel e finalmente pela cantora portuguesa Claudia Valle. Quem desejar ouvir é só enviar um e-mail para joilsonkariri@hotmail.com e eu terei imenso prazer em mandar uma cópia.
Aproveitando o ensejo, quero comunicar que nos próximos meses estarei lançando um livro de contos pela Editora Biblioteca 27. O título do livro é Sertão Urbano e traz uma coletânea de 15 contos de minha autoria com prefácio de Carlos Rafael, professor de História da URCA e colunista do blog do Crato.
Leiam também a minha coluna no portal Café e Revista www.cafeerevista.com.br/blogs
Um comentário:
Acompanho o trabalho do Joilson Kariry já a algum tempo e essa notícia me deixa muito feliz. Vou ficar no aguardo do livro.
beijos a todos desse blog
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