TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 30 de março de 2013

Pilatos



Cá estamos em plena Semana Santa, já sem o glamour de tempos passados. Algumas cidades brasileiras aproveitam o feriado da sexta feira para armar grandes festas perfeitamente profanas. A maior parte do povo perdeu a ritualística cristã e já não sabe bem o que significa o feriadão. Empanturra-se de vinho e aparenta um ar de santidade e transcendência. As crianças ligam imediatamente a páscoa ao coelhinho e ao chocolate. As classes mais desfavorecidas aproveitam a oportunidade para abastecer um pouco a despensa vazia e saem mendigando víveres para um jejum  cada dia mais raro e distante. Os comerciantes entendem a santidade desta semana como o momento oportuno para aumentar o preço do peixe e do bacalhau e levar um pouquinho mais ao caixa da empresa. Nas igrejas os santos se cobrem de roxo talvez mais pelo absurdo total do que vêem a sua volta do que pelo peso plúmbeo e culposo da memória terrível da crucificação.
Desde os tempos de juventude que a quaresma me suscita  a imagem  de Pilatos. Sei que o    nome Pilatos hoje remete imediatamente à academia de fisicultura. Os mais jovens lembram-se de pronto daqueles aparelhos para malhar  e sair por aí bombados e impressionando a garotada com músculos mais definidos. Assim, preciso explicar : falo de Pôncio Pilatos. Bem,  ele foi prefeito da Judéia entre 26 dC e 37 dC . Teria passado totalmente despercebido dos livros de história  se não houvesse participado de um dos mais importantes julgamentos de toda a história. Pilatos foi o juiz do processo de Jesus e terminou acatando a opinião da maioria e ao lavar as mãos condenou-o ao suplício no Gólgota. A sua decisão manchou definitivamente a sua história e, certamente, contribuiu para um julgamento histórico implacável de todas as condutas da sua vida. Tido como violento, venal, corrupto e de uma ferocidade sem limites em todos os júris que participou, segundo os historiadores Filão e Flávio Josefo. Nos séculos seguintes surgiram inúmeras lendas envolvendo o seu nome. Desde um final desastroso em Tevere ou em Vienne na França, o suicídio em 37 dC; até sua conversão ao cristianismo, influenciado por sua esposa Prócula que é considerada santa pela Igreja Ortodoxa. Ele mesmo  foi santificado pelas Igrejas etíope e copta. O “Credo”, oração surgida em torno de 200 dC,  no entanto,  lhe macula definitivamente a memória  : padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado...".
Em tempos de tanta liberalidade nos rituais religiosos da Semana Santa por parte da população, me ponho a imaginar o papel singular de Pilatos em toda a história sagrada ocidental. A primeira questão a ser levantada por tantos juízes de plantão é simples. Se todo o suplício de Jesus estava pré-estabelecido, inclusive previsto por profetas, é possível que o papel de Pilatos assim, também, estivesse determinado e que ele apenas tenha sido um veículo necessário à confirmação da profecia e dos desígnios divinos. Mesmo afastando esta hipótese, nos coloquemos no papel do juiz romano. Julgava um prisioneiro político que não conhecia e , como no direito romano, seguiu a opinião dos jurados. Opor-se seria, em tempos atuais, afastar-se da decisão do corpo de jurados e tomar uma decisão unilateral, um verdadeiro absurdo jurídico na visão contemporânea. Mesmo assim , Pilatos hesitou na sentença e preferiu tirar o corpo de fora. A posteridade escolheu o caminho mais cômodo e lhe imputou a culpa pela crucificação. Em nenhum momento se volta para a grande turba que preferiu Barrabás e que ano após ano, julgamento após julgamento, continua politicamente escolhendo sempre a pior parte.
Basta olhar em volta, em meio aos tonéis de vinho consumidos, ao comércio do jejum, às festas profanas reverenciando o sagrado, para se perceber que se Cristo voltasse, se o julgamento fosse hoje, a crucificação se repetiria. Os que hoje fazem a multidão e o corpo de jurados são descendentes fiéis de Barrabás. Pilatos ao menos lavou as mãos, os juízes de hoje as tingiriam, rapidamente, de rútilo sangue inocente. 
J. Flávio Vieira

sexta-feira, 29 de março de 2013

SILAS MALAFAIA, O JUDAS HOMOFÓBICO!


13ª FESTA POPULAR DA MALHAÇÃO DO JUDAS
Crato | Cariri | Ceará | Brasil
30 de março de 2013



PROGRAMAÇÃO:

15h00min
- Cortejo do Judas, acompanhado pelo Grupo de Caretas do Distrito da Bela Vista e atores em personagens regionais. Trecho: Praça São Vicente (Concentração) – Rua Monsenhor Esmeraldo – Rua São Francisco – Rua Monsenhor Assis Feitosa – Centro Cultural do Araripe.

17h:00min
- Chegada ao Sítio do Judas, montado no Centro Cultural do Araripe, onde o traidor permanecerá até a hora de seu julgamento e malhação, sob a vigilância dos Caretas.
- Tradicional roubo do Sítio do Judas: os Caretas vigiam o sítio montado e açoitam com chicotadas os que ousarem roubar. A façanha é sair do sítio sem apanhar (e com o roubo).

19h:30min
- Distribuição e leitura do Testamento do Judas, elaborado em versos (cordel).
- Malhação do Judas, com artistas circenses em perna-de-pau e malabares de fogo. 

20h00min
- Forró pé-de-serra. 

22h00min
- Encerramento. 


OBSERVAÇÕES:

Em 2013, a 13ª Festa Popular da Malhação do Judas será realizada no Centro Cultural do Araripe, mobilizando aproximadamente 8.000 pessoas, dia 30 de março (Sábado de Aleluia), das 15 às 22 horas, em forma de auto medieval profano, com a participação do Grupo de Caretas do Mestre Cirilo, Artistas Populares e população. O eleito foi o Silas Malafaia – O Pastor Homofóbico, religioso que se destacou por seu comportamento preconceituoso em relação aos homossexuais, cujas pregações disseminam a homofobia, a violência e a intolerância religiosa.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Agende-se!

 Esse cabra é dos maiores talentos daqui no nosso Cariri cearense e com o seu trabalho nos representa pelas terras menos ensolaradas que a nossa.  Salve Geraldo Júnior!!!!!!!!!!!!

Catecismo



Quando do ajuntamento dos   “Apontamentos para a história mítico-sentimental  de Matozinho”, que terminaram publicados em 2007, notamos uma pasta vermelha à parte, separada cuidadosamente no meio dos manuscritos, etiquetada com letras garrafais : “Cuidado!” No processo de pesquisa,  terminamos por abri-la, não sem algum receio,  e encontramos no interior a razão pela qual o colecionador as havia reservado. Tratavam-se de histórias apimentadas da vila, puxadas para o erótico e o fescenino  e, certamente, meu velho tio as isolou, temendo identificarem-se alguns dos personagens e, também, resguardando um certo pudor: poderiam cair nas mãos de moiçolas púberes, de crianças ou ferir sensibilidades moralistas e religiosas. Aquilo parecia quadrinhos de Carlos Zéfiro !  O certo é que o receio do meu tio contaminou-me e, no processo de seleção dos textos do “Matozinho vai  à Guerra”, preferi manter o pundonor do meu parente e deixei a pasta vermelha intocada. Os anos passaram-se e, pouco a pouco, fui percebendo que  já não existiam razões para tanto pejo. O BBB jogou no ventilador toda a intimidade da alcova, as novelas escancararam o último reduto da decência, os adolescentes produzem seus próprios vídeos pornôs e expõem no You Tube. A pasta vermelha, hoje, parece até um catecismo, pode ser publicada até em livrinhos de missa de sétimo dia.
                                               Recentemente, reabri a pasta vermelha , reli alguns textos e resolvi publicar alguns que me pareceram mais picantes. Em dias de hoje, sei que não existe mais o perigo de o leitor degustá-los e comungar em seguida. Não há mais o risco de a hóstia sagrada ferver na língua como um sonrisal. Pois aí vai a primeira dessas histórias.
                                               Ah,  os homens ! Eternos atores no palco dessa vida! Põem máscaras, vestem-se de ricos figurinos e encenam continuamente aquele papel que os tornam mais reconhecidos e admirados pela platéia: o de Rico, bonito, inteligente, compreensivo,  valente, bondoso, caridoso, virtuoso, santo !  Durante toda existência,  buscam, incansavelmente, aperfeiçoar este personagem perfeito que aqui e ali termina por mostrar outras facetas e arestas bem menos admiráveis. Só existem dois lugares em que a máscara cai, a maquiagem é removida e as fraquezas e deformidades aparecem sem a magia do palco : o Bar e o Cabaré. Aí o homem é apenas o homem, com seus anjos e demônios bem aparentes. O Bar e o Cabaré são o camarim da cidade !  Assim, as cafetinas  e as putas conhecem como ninguém a alma de uma vila. Têm a perfeita dimensão de onde começa e termina a santidade de cada um de nós; conhecem as mínimas fraquezas, taras e deformidades  dos habitantes ; preenchem com  amor   o vazio de tantas solidões. Claro que com um amor negociado, mas existe alguma coisa sem preço e código de barras numa sociedade de consumo ?  O velho “Boca Boa” ,em Matozinho,  já havia chegado à conclusão que o amor é puro devaneio. Chegue eu – diz ele—com cinqüenta reais na Rua do Caneco Amassado ! Sou tratado como rei, vou ser amado e idolatrado !  Agora vá eu liso, como muçum ensaboado ! O amor existe sim, mas é tabelado, meu senhor !
                                               Existem, no entanto, interpretações diferentes sobre a teoria do nosso “Boca Boa” . No governo de Sarney, talvez os mais novos não lembrem, mas o preço dos produtos foi tabelado.  Quebrando todas as regras da economia, não era permitido majorar o preço de qualquer item, sob pena de prisão. Como era de se esperar, os víveres desapareceram das prateleiras e começou a se estabelecer um mercado paralelo, misterioso,  baseado na eterna lei da oferta e da procura. Em Matozinho, os magarefes começaram a aumentar o preço da carne. Houve denúncia, a polícia se mobilizou, invadiu o mercado municipal e prendeu os insubordinados. Estabeleceu-se a maior algazarra, já fora do prédio, com os soldados algemando os revoltosos e metade da população observando e comentando. Nisso, atiçada pelo barulho, “Das Virgens”, uma das mais tradicionais quengas da Vila, chegou em meio à balbúrdia, buscando informações sobre o que estava acontecendo.
                                               --- Que putaria é essa? O que diabos tá acontecendo ?
                                               Uma das suas pariceiras ,que estava no meio da multidão, explicou :
                                               --- É a polícia que está prendendo os magarefes !
                                               --- Oxente! Mas por que ?  Cons seiscentos ! E que diabos foi que eles fizeram? – Quis saber Das Virgens .
                                               --- Eles aumentaram o preço da carne e num pode!  A carne tá tabelada !
                                               Das Virgens, surpresa, saltou um suspiro de alívio e comentou alto como se estivesse numa difusora :
                                               --- Ave Maria ! Ainda bem  que priquito num tá tabelado, meu deuso !
                                               *********************************
                                               Gumercindo Carabina trabalhava como vendedor numa loja de confecções em Matozinho, chamada de “Cambraia de Linho”. Gugu  , como era conhecido pela gandaia, era casado, tinha uns dez filhos, mas era viciado num Cabaré. Escapava para lá sempre no horário de almoço que não dava tanto na vista. À noite estava sempre com a família, como um fiel e exemplar cidadão!  Gugu tornou-se freguês preferencial de um cabarezinho na Rua do  Amassado, naquele último lugar para onde acorriam as putas já idosas e sem fama e que se conhecia pelo nome de “Farinhada”. A intimidade era tanta com “Santinha”, a sua predileta, que ele pagava por mês, como se fora o aluguel de um imóvel. Um dia, em plena hiperinflação em fins do Governo Sarney, após terminar a transa com Santinha, Gumercindo se arrumava para voltar ao expediente da tarde no “Cambraia”, quando foi despertado por ela da terrível situação econômica do país:
                                               --- Ei, Gugu ! Tu vem amanhã ? Num se esqueça , não, viu ? Cu subiu !
                                               ************************************
                                               O velho Sinfrônio Arnaud gostava de freqüentar o Bar conhecido por “Pentelho de Ouro” , na mais mal afamada rua de Matozinho. Arnaud freqüentava por pura mania, gostava do ambiente, das conversas e da proximidade das meninas de difícil vida fácil. Já não tinha idade para maiores danações e libações eróticas, mas restara nele aquela mania, aquele clima despojado do  lupanar. Um dia, entre uma e outra dose de pinga, ouviu uma confusão danada na rua. Vinha das bandas da “Farinhada”. Deixou o copo no balcão, por um momento, e saiu à porta para testemunhar o arranca-rabo. Viu, então, Jojó Fubuia, no meio da rua, tentando correr, ainda assungando as calças e, logo atrás, uma quenga robusta, com uma trave da porta na mão, sentando a pua no pobre do Fubuia. Sinfrônio ficou penalizado com a situação do mais famoso deodato da vila.  O que teria acontecido ? A confusão veio de lá, na direção de Arnaud, o pau comendo no centro : a quenga como um carcará atrás do pau d´água, a trave voando solta, Jojó tentando escapar como podia. Ao passar , por fim, pelo bar, a puta parou um pouco e explicou, por fim, as razões mais que justas para a surra :
                                               --- Coronel, veja se eu não tenho razão  ! O senhor já ouviu falar, em algum lugar do mundo,  em cu fiado ? Já ?

                                               Cunegundes Pé-de-Pato  veio a Matozinho, na intenção de fazer um empréstimo agrícola.  Ano eleitoral, antes do período invernoso, o Banco do Brasil montara um pequeno posto temporário para ajudar , segundo divulgavam os políticos, os agricultores. Cunegundes já tinha mandado um mundão de documentos e viera naquele dia,  pois havia a promessa da liberação da verba. Enfrentou uma fila danada, depois um chá de cadeira de mais de duas horas e, finalmente, botou a mão na bufunfa. Não era muito, uns quinhentos cruzados, dava para comprar, talvez, umas duas vaquinhas. Dinheiro no bolso, pensou em voltar para Bertioga, mas já não havia, àquela hora,  sopas disponíveis. Dirigiu-se , então, à Loja “Cambraia de Ouro” e procurou seu amigo Gumercindo. Explicou-lhe a pendência e perguntou-lhe onde poderia pernoitar . Gugu, como era de se esperar, deu-lhe uma idéia genial: O Cabaré de Maria Justa, o mais requintado de Matozinho. Cunegundes  gostou da dica e partiu para lá. Estabulou conversa com uma das meninas, uma loirinha bonita, reboculosa, perna grossa e bunda tanajúrica. Conversa vai, conversa vem, após umas doses ,uma dancinha bochecha com bochecha e uns entrelaçados dos pés de pato de Cunegundes com os troncos de aroeira da loirinha, terminaram na noite de núpcias. Pela manhã, acordou um Cunegundes feliz e realizado. Arrumou-se e, depois, lembrou que cometera um erro primal: não havia acertado o preço previamente , coisa quase impossível de acontecer com os atilados bertioguenses. Cunegundes, então, algo temeroso, pediu a conta :
                                               --- Foi muito bom ! Quanto tô devendo, meu bem ?
                                               A loirinha, ainda deitada, refazendo-se um pouco sob os lençóis, respondeu-lhe com voz sensual como locutora de aeroporto:
                                               --- Cuné , eu cobro trezentos cruzados ! Mas para você, que é um freguês tão bom e  parece um  jumento fogoso na cama, vou cobrar só duzentos e cinqüenta, tá bom?
                                               Pé-de-Pato não pode conter a surpresa! Lá se ia metade do seu empréstimo, só numa noite. Conteve-se um pouco, mas soltou :
                                               --- Duzentos e cinqüenta, mas não tá muito caro não, minha filha ?
                                               A loirinha, não se enrolou:
                                               ---- Cunezinho, tá tudo pela hora da morte ! Agora mesmo a gasolina subiu!
                                               Cunegundes meteu a mão no bolso, contou as cédulas com uma pena danada e pôs em cima da camareira. Quando abriu a porta para sair, a loirinha, feliz, perguntou interessada:
                                               --- Filhinho e agora quando você volta ? Quando te vejo de novo ? Já tô morrendo de saudade !
                                               Pé-de-Pato fechou a porta lentamente, enquanto mandava-lhe a resposta:
                                               --- Desse preço não dá ! Só volto agora quando você botar um priquito a óleo ou a gás butano !

J. Flávio Vieira

Associação Dança Cariri e Funarte em parceria para o fortalecimento da Dança no Cariri Cearense.




Inicia hoje Oficina 'Diálogo Mestiço: dança como área de conhecimento' na Associação Dança Cariri.


A oficina de extensão ‘‘Diálogo Mestiço: dança como área de conhecimento” será oferecida de 22 a 24 de março, gratuitamente, como parte da quinta edição da ‘Semana D da Dança Cariri’ . A oficina, ministrada pela Profa. Dra. Gilsamara Moura (doutora em Políticas Públicas em Dança), ocorrerá um mês antes do festival anual, realizado pela Associação Dança Cariri, em parceria com a Fundação Nacional de Artes (Funarte). A participação é gratuita.
A proposta da oficina é ampliar e potencializar as pesquisas na área de Dança, na região do Cariri cearense. O objetivo é estimular o estudo dos processos de cognição corporal, neurociências, teoria corpomídia e outros temas afins; além de apresentar ferramentas de conhecimento, que qualifiquem o aluno para a compreensão, a análise, a reflexão e a fruição da dança, em geral – em especial em suas manifestações contemporâneas. A atividade é destinada a estudantes, profissionais e pesquisadores da área, e dos campos de estudo afins.
A Associação Dança Cariri, que tem sua sede em Juazeiro do Norte, no sul do Ceará busca produzir, fomentar e fortalecer a dança do Ceará e de todo o Brasil. Na ‘Semana D da Dança Cariri’, a instituição realiza espetáculos, oficinas, palestras, debates e mostras de vídeos.

Sobre Gilsamara Moura Robert Pires
Doutora em Comunicação e Semiótica (Políticas Públicas em Dança). Professora da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Dança/UFBA. Assessora Artística da Escola de Dança. Coordenadora do Curso Noturno de Dança da UFBA. Diretora e bailarina do Grupo Gestus. Correalizadora do Fronteiras Brasil. Idealizadora do projeto Gestus Cidadãos/LUPO.

Oficina: “Diálogo Mestiço: dança como área de conhecimento”Com Gilsamara Moura Robert Pires
De 22 a 24/03/2013
Carga Horária: 20 horas

Participação gratuita

Local: Associação Dança Cariri
Rua da Conceição 1391/1397- Bairro São Miguel – Juazeiro do Norte (CE)
Tels.: (88) 3512 3596 – (88) 9914 2793
Luciany Maria – Presidente
Parceria: Fundação Nacional de Artes (Funarte)

quinta-feira, 21 de março de 2013

quarta-feira, 20 de março de 2013

nosso choro de Nazareth

O pesquisador musical Luiz Antonio de Almeida, 51 anos, trabalhou 30 anos na biografia do pianista e compositor Ernesto Nazareth (1863-1934). O livro está pronto há sete e ainda não foi publicado por total desinteresse das editoras.

Essa informação está na ótima reportagem de capa do caderno Diversão&Arte, edição de hoje do Correio Braziliense. Um dos nossos maiores músicos faria 150 anos nesta quarta-feira. Autor de clássicos que estão no nosso imaginário, como "Odeon", "Apanhei-te cavaquinho", "Brejeiro", "Dengoso", Nazareth é de importância fundamental na história da música brasileira, influenciou gerações, como o exímio violista gaúcho Yamandu Costa, 33 anos, que fez uma definição precisa do mestre: "ele mistura o suingue negro com a música europeia, e daí sai o choro, essa linguagem que caracteriza o nosso povo."

Do que foi publicado sobre o grande compositor, autor de mais 300 canções, conheço o livro de Haroldo Costa, "Ernesto Nazareth - Pianeiro do Brasil", 2005, e o de José Miguel Wisnik, “Machado Maxixe”. In: Sem receita – Ensaios e canções", 2004.
Pelo li na matéria do Correio, creio que o inédito de Luiz Antonio de Almeida, seja a biografia definitiva do compositor, que teve um fim de vida trágico, aos 70 anos.

terça-feira, 19 de março de 2013

SÁBADO SANTO COM RAUL SEIXAS E CHICO SCIENCE


A Sertão Pop Produções, juntamente com a MC2 Produções, vem trazer para o público caririense dois dos melhores shows já curtidos na região. Veja quem vai fazer a festa e tocar os nossos corações:

Tiro Certeiro: uma reunião abençoada de grandes talentos!

O Tiro Certeiro é formado por ex-integrantes do grupo Dr. Raiz, que resolveram se reunir para fazer um tributo a banda Chico Science & Nação Zumbi. Com o intuito de relembrar umas das fases mais criativas do cenário musical brasileiro dos anos 90, quando bandas e artistas da cidade de Recife no Pernambuco, resolveram misturar elementos da cultura folclórica regional como o maracatu, côco e embolada, mesclando-os com alguns ritmos da cultura pop mundial como o rock, reggae, funk e hip-hop. Surgi então à idéia de formar um grupo que pudesse reproduzir a estética e a sonoridade de uma das mais expressivas bandas desse movimento, bem como ao seu maior expoente, Chico Science.
O tributo à banda Chico Science & Nação Zumbi, aparece como um lampejo de memória, ainda não adormecido, de um dos mais significativos movimentos de contracultura da contemporaneidade. O Movimento Maguebit, que por sua vez, recuperou uma tendência estético-musical surpreendente, que se aproximava do tropicalismo, expressão musical da década de 60, que também marcou a história da musica brasileira. É a partir dessa inegável contribuição que o grupo Tiro Certeiro, se apropria do legado deixado pelos mangueboys pernambucanos e presta essa homenagem à banda Chico Science & Nação Zumbi.


Toca Raul com Aquilles Sales: Um trabalho de releitura da obra de Raul Seixas.

O guitarrista, cantor e compositor Aquilles Sales é um inquieto artista da cena cultural caririense que não se cansa de criar e inventar maravilhas musicais sempre com o sua marca registrada. Com uma visão bastante inovadora e criativa, vem desenvolvendo vários trabalhos tanto autorais como de releituras, como esse maravilhoso Toca Raul, que já está consagrado e é alvo de críticas super positivas, principalmente vinda do público que sempre lota os seus shows. Dessa vez não será diferente, pois o Aquilles Sales nos promete uma apresentação muito rock and roll sempre provocando a participação da platéia e detonando a sua guitarra, vozeirão e fantástica performance em cima do palco. 
 


Das duas bandas podemos esperar uma "porrada" de som. Teremos dois grupos que certamente vão fazer a festa e tornar o Sábado Santo num grande encontro musical e de comemoração, pelo legado deixado por dois dos maiores representantes musicais brasileiros: Chico Science e Raul Seixas. Prepare o seu coração, seu espírito e sua alma para uma noite memorável!!! Chame os amigos, amor, amante e sejamos felizes para sempre.

Participe do evento através do facebook. Confirme a sua presença e repasse o convite para todos os seus contatos, assim a festa ficará bem mais feliz. Acesse: https://www.facebook.com/events/248995281903676/

CRÉDITOS: 
- Texto e foto sobre a banda Tiro Certeiro extraído do blog Cultura no Cariri de Janinha Brito (www.culturanocariri.blogspot.com)

- Foto do Aquilles Sales extraída do facebook do artista (https://www.facebook.com/pages/Aquiles-Salles/177496182340187)

domingo, 17 de março de 2013

a vida é um sopro

"Imaginação e realidade têm pouca coisa em comum."

Fala da personagem Anne, magnificamente interpretada por Emmanuelle Riva em "Amour", roteiro e direção de Michael Haneke.

Quem assistiu ao filme sabe a essência do que isso significa, o que representa no seu contexto. Amor e morte. Assim como "Amour", o belo filme do austríaco Haneke poderia intitular-se "Morte". Imaginação e realidade. Poucas coisas em comum entre as duas. Diante da incômoda certeza de uma, a vida é uma imaginação, abstrata, fluida, passageira, um sopro, como dizia Oscar Niemeyer - ele, que burlou a dita cuja por mais de um século.

O filme de Haneke mostra um casal de octagenários no crespúsculo de suas vidas. A doença degenerativa de um torna-se o enlace maior entre ambos, fortificado pelo amor.
E o amor, creio, é incondicional por definição. Quando Anne diz ao marido, em atuação marcante de Jean-Louis Trintignant, que ele deve estar cansado de cuidar dela, do sofrimento infrigido pelas circunstâncias, o marido rebate que não, claro. Mas a câmera de Haneke penetra o interior do personagem, adentra sua alma, e a leitura é outra, pelo olhar, pelo semblante, pela verdade - mais do que pela imaginação. Há o cansaço, mas há o sentimento de predisposição sincero.
Esse é o grande valor de um filme talentoso, de um grande Cinema. O que o olhar da câmera expõe, o que supostamente não está enquadrado. O Cinema sugere o que é fato, o que existe, o que pulsa.

Na abertura de "Amour", o espectador vê a plateia de um teatro à espera do início de um concerto de piano. Câmera fixa no auditório, do ponto de vista do palco. O pianista entra, cumprimenta o público, aplausos de recepção, e começa a música. Rostos atentos, ouvidos abertos. Não há um contraplano do músico chegando, saudando os ouvintes, sentando-se no banquinho, teclando o piano. E nem precisa. Nós vemos tudo isso através do olhar da plateia. O Cinema bem feito permite essa conexão, essa cumplicidade. O Cinema é voyeur.

E assim é toda a narrativa do filme: minimalista em gestos, no desenho de câmera, nos diálogos. E consequentemente grandioso em expressões, significados, questionamentos humanos. Haneke trata o assunto com poesia, com doçura, com o tato das retinas. O que é perverso, cru, implacável, é a verdade do tema, não o tratamento. Podemos discordar do final, da atitude extrema do marido, mas não se pode deixar de compreender o ato. Uma coisa pode não justificar. Mas uma outra coisa pode explicar.

E o que não se justifica, nem mesmo explicações convencem, é Emmanuelle Riva não ganhar o Oscar de Melhor Atriz, e receber uma atrizinha inexpressiva de um filminho idiota.
Imaginação e realidade têm mesmo pouca coisa em comum. Nesse caso, nada.

sábado, 16 de março de 2013

No fundo, bem no fundo, Matozinho sabe das coisas...



Matozinho, final de tarde, lá estavam os “jornalistas” de plantão, reunidos na praça da matriz, comentando as últimas notícias e dando pitaco em tudo :  de cibernética à plantação de coentro. Aberta a pauta da última semana,  de lá saltaram, com, estardalhaço, como  codorniz detrás de moita :  a eleição do Papa, o julgamento do Bruno e, na seção mais regional, a Seca e algumas traquinagens de pretensas baitolagens e enchiframentos . Conversa vem, palestra vai, eis que chega ao tribunal, Jojó Fubuia que, àquelas alturas,  já tinha espantado não só o  anjo da guarda mas  toda corte celestial .  Fubuia , certificando –se da pauta, apressa-se em  acrescentar mais um item para parecer : “ Na Bahia, abriu-se um concurso para policial e estão exigindo, das mulheres candidatas, atestado de virgindade”. Resolvida, por quase unanimidade a quantificação da pena do goleiro: deve ser capado e os possuídos servidos as barrões de Coronel Sinfrônio Arnaud; passou-se a assuntos papais resolvendo-se que iriam levar ao Padre Acelino uma petição solicitando encaminhamento de milagre a Santa Genoveva, dando paciência ao povo do Brasil para suportar os argentinos que já se pensavam deuses e, agora, com a eleição do Papa portenho, passaram a ter certeza.
                            Chegando à questão trazida, em caráter emergencial, por Fubuia, as opiniões se dividiram. Alguns defenderam a tese de que a exigência era perfeita, uma vez que não se admite um policial militar sem honra. Outros colocaram em cheque o absurdo da cláusula , lembrando que não se tinha o mesmo critério com os homens. Houve consenso num ponto: a dificuldade em formar um pelotão de imaculadas, nos dias de hoje, a não ser fazendo convênio com o éden dos islâmicos que, por tradição, possui uma mina inesgotável de virgens. Giba lembrou a estranheza e o ineditismo da notícia, com um : nunca antes na história desse país !
                            O velho Sinfrônio Arnaud, escorado em um dos bancos da pracinha, até então tinha sido lacônico. Quando resolveu falar, os outros silenciaram em reverência. Arnaud não era homem de muita conversa e não aprendera a ouvir opiniões contrárias. Informou, então, para uma platéia boquiaberta, que a Bahia apenas estava imitando Matozinho. Aquilo tudo já se passara ali há mais de trinta anos, esta era uma das únicas vantagens de se ser velho! -- vociferava um Arnaud pletórico e com veia do pescoço dilatada.Fora, inclusive, causa de morte e de uma grande debandada de matozenses para São Paulo, fugindo dos rigores de uma seca feroz no ano de 1958. Instado por uma platéia curiosa, nosso Sinfrônio narrou o ocorrido. O prefeito da época, Pedro Cangati, preocupado com o abastecimento de água na cidade, resolveu contratar mulheres para transportar a água barrenta de alguns poços últimos do Rio Paranaporã , até à vila e ali a distribuir para a população. Com esta medida, matava dois preás com um só fojo: melhorava o abastecimento e também a renda familiar das contratadas, todos em situação de calamidade pública. O problema é que havia cacique demais para pouco índio. Mal vazou a notícia da possível contratação, a prefeitura se viu apinhada de gente atrás do emprego: mais de mil e quinhentas mulheres faveladas. Pedro viu-se em dificuldade política no processo de escolha. Pediu então, a Saturnino-Ôi-de-Putaria , seu secretário na prefeitura e que carregava a alcunha por conta de ser vesgo , pediu-lhe para preparar um edital regulamentando a contratação da maneira mais legal possível. Saturnino lavrou o edital e afixou na recepção da prefeitura. Escrevia ruim como o diabo, fizera apenas um curso Mobral e mal assentava o nome. Passados os dias, observou-se que muitas e muitas mulheres liam o Edital, mas não se inscreviam. “Ôi-de-Putaria “ estranhou o súbito desinteresse das candidatas , a coisa tinha mudado da água barrenta e salobra do rio , para fubuia mata tatu do coronel Sinfrônio. Pediu , então, para que funcionários interrogassem as pretensas candidatas ,após a leitura do Edital, sobre a má vontade em trabalhar, mesmo em tempos tão bicudos. Só então se desvendou o mistério. Elas informaram ,reiteradamente, que não podiam se enquadrar nos critérios do Edital. O Secretário resolveu reler e no Art. 3 estava exposto : “As candidatas necessitam trazer a documentação exigida no Art 2 e, precisam, necessariamente ter cabaço”.  O Secretário queria empregar mulheres habilitadas e que possuíssem já uma cabaça para transportar a água, o que facilitava as coisas. O problema é que na hora de datilografar , ocorreu um erro e a Cabaça saiu no masculino, tornando-se, assim, uma exigência intransponível mesmo em terras matozenses.
                            Ciente, agora , do esdrúxulo impasse, e pressionado diuturnamente por Cangati, Saturnino resolveu refazer o Edital. Cuidadosamente datilografou um novo documento e afixou na prefeitura. Pediu ainda para a amplificadora local divulgar o desaparecimento das exigências anteriores. Dias passaram-se , inúmeras candidatas retornaram , releram o Edital, mas simplesmente se calavam e saiam sorrateiramente sem se inscrever. Gente morreu de sede, esfarrapados fugiram para o Sul e nada de se instalar o programa salvador prometido por Pedro Cangati, por absoluta falta de inscritos. Depois de muitos meses , um dia, relendo o documento convocatório é que o ilustre edil de Matozinho descobriu a causa da falência do seu Programa Emergencial Contra a Seca. O Artigo 3 do Edital, corrigido por “Ôi –de- Putaria” , recebera uma nova redação que aparentemente deveria facilitar as coisas não tivesse incorrido em séria ambigüidade:
                            “ As Candidatas devem se inscrever na própria prefeitura , portando os documentos exigidos no Art. 2 desse Edital. Devem  trazer latas, dessas de dezoito litros, para transporte da água , exigindo-se, ainda,  que tenham  um pau no meio e não se aceitará as que tenham qualquer tipo de  furo no fundo”.


J. Flávio Vieira