TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
SÓ EXISTIREMOS SE TIVERMOS TERRA - José do Vale Pinheiro Feitosa
O parque Nacional Indígena do Xingu foi criado em 1961 pelo
Presidente Jânio Quadros. Tem 27 mil quilômetros quadrados, na área de
influência dos rios formadores da bacia do Xingu, fica na região norte de Mato
Grosso numa zona de transição entre o Planalto Central e a Amazônia. O parque
foi o resultado da luta dos irmãos Villas Boas (Orlando e Claudio) que viajavam
para a região desde os anos 40. Quem redigiu o projeto foi Darcy Ribeiro, então
funcionário do Serviço de Proteção ao Índio. E recebeu o apoio de figuras de
uma grandeza humana que são ricas pela narrativa e um espelho para estimular a
juventude a ser ousada e humana muito além desse individualismo consumista.
Falo do Marechal Rondon e do Noel Nutels.
O Marechal Rondon é herói na acepção da palavra. Um herói da
transformação e ocupação humana e econômica do vastíssimo território do oeste
brasileiro. Até então o Brasil era tão somente uma tripa litorânea que ia de
Belém a Porto Alegre (sei não são bem à beira mar). Existe uma vastíssima
literatura sobre Rondon. Noel Nutels, o chamado índio Cor de Rosa (Orígenes
Lessa escreveu um livro com este nome evocando Noel.)
Quero dizer que tenho histórias fantásticas do Noel Nutels.
Trabalhei num setor do Ministério da Saúde junto com a equipe do Noel. Mas vou
apresentar breves traços de sua história: nasceu na Ucrânia, membro de uma
família judia que migrou para Recife. Lá ele completa a infância, forma-se em
medicina e vai morar em São Paulo e é o médico da primeira expedição
Roncador-Xingu em 1943. Enfim: aproveita a expansão do Correio Nacional
(serviço da aeronáutica para transporte de postagens) o dirige para as selvas,
onde em clareiras era deixado com uma equipe e passava meses cuidando dos
índios que eram dizimados por doenças de brancos.
Terra quando pela primeira vez examinou as fotografias daquela, agora, pequena bola azul,
tão solitária no infinito e o poeta saudoso do seu exílio então atrás das grades de uma prisão
O que restou do povo Juruna (no século XIX eram dois mil) vive
em sete aldeias, próximas à Br-80 no baixo Xingu. Em 2001 o que haviam sido se
reduzira a 241 pessoas mas isso já era uma recuperação demográfica (no final da
década de 60 eles eram 50 membros, a maioria jovens). A língua deles pertence
ao tronco tupi e existe uma denominação que a chama de yudjá (significa dono do
rio) mas é dada por outros povos. A palavra juruna é um termo nheengatu dada ao
povo há vários séculos, que se traduz como “boca preta” que era uma tatuagem
perene na face. Essa tatuagem foi registrada há 150 anos, mas deixou de ser
usada e o povo juruna desconhece que existiu um dia.
Antes de seguir adiante: o nheengatu foi a segunda língua
geral criada no Brasil e era mais amazônica, a outra foi a paulista. Quando os
europeus penetraram o interior e foram criando uma economia sedentária, foi-se
criando a partir do tupi-guarani uma língua que pelo isolamento em relação à
Europa foi tomando corpo e se tornando a língua nacional (como vivos foram
duas). O Marquês de Pombal recriando as estruturas coloniais obrigou o ensino
do português. Mas era pelas línguas gerais que as diversas etnias se
comunicavam.
No anos 70 um índio da etnia Xavante se denominando Mário
Juruna, assim como o menino que disse que o rei estava nu, expôs as ditadura e
seus líderes. E foi de uma simplicidade fantástica. Com um gravador. Dos primeiros
gravadores portáteis e à pilha. Juruna desmentiu todas as falsidades dos
membros do governo apenas usando como instrumento o gravador.
Ele ia a Brasília para reivindicar coisas para o seu povo. Chegava
ao gabinete e gravava a conversa com a autoridade. Então falava com os
repórteres sobre o que haviam prometido e dito. Resultado o gravador do Juruna
passou a ser o desmascaramento da mentira oficial. Os jornalista para provocarem, perguntavam a
razão do gravador e ele respondia: “Para
registrar tudo o que o homem branco diz.” A repercussão foi tal que o
jornal O Pasquim chegou a entrevista-lo. E foi uma boa entrevista ele era muito
inteligente, com respostas rápidas e de muito bom humor.
Um Índio composição de Caetano Veloso - gravada por Milton Nascimento
Em próximas postagens pretendo falar mais do que ouvi sobre
Noel Nutels e relatar um dia inteiro em que passeie com Juruna pelo Rio, com
direito a almoço aqui em casa. Mas antes vou deixar mais uma frase do Juruna
para adoçar a amargura desses deslumbrados com o Agronegócio.
“ANTES DE TUDO, O ÍNDIO PRECISA DE TERRAS. ÍNDIO É O DONO DA TERRA. ENTÃO,
O BRANCO DEVE RESPEITAR A TERRA DO ÍNDIO”.
domingo, 23 de fevereiro de 2014
De "plantões" e "prendas" - José Nilton Mariano Saraiva
A notícia, inserta no
jornal O POVO, de 23.02.14, apenas confirma publicamente aquilo que todo mundo
sabe, mas tem medo de exteriorizar: no Poder Judiciário, que deveria constituir-se
um poder acima de qualquer suspeita, a corrupção também se faz presente. E em seus
escalões superiores, usando expedientes suspeitos.
É que determinadas bancas de renomados advogados de
Fortaleza espertamente optam por impetrar “habeas corpus” junto ao Tribunal de
Justiça do Estado, em favor de bandidos de alta periculosidade (já presos), só e
exclusivamente só, quando dos plantões judiciários de finais de semana (no fim do
ano passado, houve a tentativa de liberar pelo menos três criminosos de uma
quadrilha especializada em assaltos, seqüestro e tráfico de drogas, reincidentes
no mundo do crime e que já haviam sido condenados em pelo menos um processo).
E tem mais: 01) na busca para tentar evitar a liberação
“legal”, os advogados dos bandidos apresentaram mais de um pedido de habeas
corpus para o mesmo criminoso numa tentativa de confundir o sistema de
distribuição eletrônica e chegar ao “desembargador do acerto”; 02) em um dos
casos, três advogados diferentes (contratados pelo mesmo escritório) repetem a
solicitação em datas distintas; 03) apurou-se também que alguns escritórios de
advocacia esperam por plantões específicos de determinados desembargadores - a
lista dos escalados para cada plantão passou a ser pública, por determinação do
Conselho Nacional de Justiça.
Para tanto, sabem
quanto era a “prenda” de Sua Excelência o Desembargador de plantão ??? De
apenas e tão somente "irrisórios" R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais) por cada “habeas
corpus” deferido (em um mesmo plantão do TJCE, nada menos que 64 recursos foram
apresentados).
Descoberta a maracutaia, pelo menos
duas investigações estão em curso no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e
outras para serem encaminhadas. O desembargador Gerardo Brígido, presidente do
TJCE não quis comentar o assunto. Limitou-se apenas a dizer que os fatos estão no
CNJ.
sábado, 22 de fevereiro de 2014
"Cunhado generoso" - José Nilton Mariano Saraiva
Lembram de Patrícia Saboya Gomes, ex-mulher de
Ciro Gomes e cunhada do Governador Cid Gomes ??? Pois bem, sem nenhuma experiência
na área, foi nomeada recentemente “reitora” da Universidade do Parlamento (deve
ter alguma remuneração);
Mesmo desprovida do “douto saber”, necessário e exigido,
será nomeada (na próxima semana) pelo cunhado, governador Cid Gomes,
conselheira do Tribunal de Contas do Estado, cargo vitalício e que paga algo em
torno de R$ 25 mil mensais; para tanto, os “cordeirinhos” da Assembléia
Legislativa (deputados aliados) já garantiram a aprovação da mensagem
governamental.
Não esquecer que, quando Senadora da
República, notabilizou-se porque fez tanta traquinagem num voo internacional
(junto com uma amiga) que o comandante da aeronave, lá de cima, pediu à policia
de Roma, aqui embaixo, para recepcioná-las quando pousasse. Ficou retida até
que a diplomacia resolvesse o problema.
Com relação à sua vida parlamentar, como vereadora, deputada e
senadora, sempre foi de uma nulidade a toda prova, autentico zero à esquerda.
Tentou a prefeitura de Fortaleza em mais de uma oportunidade, mas o povo não permitiu.
Dedução disso tudo: nada mais legal do que ter um cunhado
generoso. Né não ???
AÇÃO ENTRE AMIGOS - José do Vale Pinheiro Feitosa
Estamos lendo, por meio de uma grande revista, a condenação de uma prática. Aquela porta giratória em que o sujeito e o predicado trocam de lugar o tempo todo. Terminam pelo que se chama de ação entre amigos. Um grupo se organiza para dominar uma área do Estado e dele extrair vantagens financeiras. Este fenômeno foi largamente identificado pelos americanos quando criaram as Agências Reguladoras. O nome técnico foi de captura do agente regulador. É isso que se encontra há muitos anos no corpo da burocracia estatal, seus programas e atividades (ouvi longos relatos sobre Sebastião Camargo e contratos com a Aeronáutica ainda no princípio do anos 50 do século passado).
Existe uma proteção fenomenal da prática. Ela acontece dentro de partidos políticos que permeiam vários governos e pela alternância de poder podem ter acesso à famosa caneta que assina. Um dos parafusos desta prática é o financiamento privado de campanhas eleitorais (que estão cada vez mais caras. Um vereador de município com menos de 40 mil habitantes do interior do Ceará pode gastar até duzentos mil reais para se eleger.
E no campo da sociedade a prática adquire um valor simbólico, que a legitima de alguma maneira, pela denúncia que estimula a alternância. A denúncia é uma das medidas mais adequadas justamente para o sistema funcionar sempre, mesmo com outros atores. Salvo denúncias surgidas das áreas de controle externo ou dos tribunais de conta, o que funciona mesmo é quando um agente privado se sente prejudicado nesse jogo, usa a imprensa para gerar o escândalo. Que tem repercussão política sobre candidaturas, mas nem sempre contra o partido, força as peças para que o jogo continue a funcionar. Continuar com os negócios proveitosos com o Estado.
Esse caso mesmo que Carta Capital tão bem demonstra, que irá gerar acusações contra o PSDB, inclusive com o viés de revanche, dado que este partido se tornou uma UDN a denunciar nos outros as práticas que o movem. Mas movem também grandes partidos e inclusive o PT que se dizia tão diferente. O PT usou tanto o expediente que Darcy Ribeiro chegou a denominá-lo de "UDN de macacão." E agora o que estamos falando?
Que a "ação entre amigos" é comum em todos os governos, em obras públicas, serviços de manutenção, serviços de propaganda e marketing (que na verdade é a chamada comunicação), serviços de informática, serviços terceirizados de toda ordem e nas ONGs e OS. Estas duas últimas modalidades chegam a ser fatiadas entre aliados para que gerem recursos para a continuidade do "partido" a ocupar o poder.
É nessa questão que a política, a verdadeira política, deveria agir. Encontrar mecanismos que economizem recursos e com os quais os ralos sejam vedados. E, claramente, isso não é pós-fato, a vociferação de tribunais, o denuncismo, a escaramuça para tirar vantagens e gerar manchetes. A revisão da lei de licitações é uma grande questão. Não só a transparência é necessária, como a participação no processo mesmo é necessário. Há que se reduzir a burocracia que serve para esconder os malfeitos. Entre outras medidas que reduzam a "captura da verbas públicas" pela "ação organizada entre amigos". Acrescentando evidentemente o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais.
Vejamos um paralelo com o que citado sobre os governos do PSDB e o desperdício da água. Quando o atual Ministro da Saúde foi nomeado, setores do PSDB denunciaram esta porta giratória entre ele com agente público e sua empresa privada de consultoria. Qual a resposta principal do Ministro? Transferir a empresa para a esposa. Nada mais cínico. Mesmo que ele não receba grandes volumes de dinheiro pelas consultorias que presta aos governos, que sejam migalhas frente a essas denunciadas pela Carta Capital, o que se verifica é a universalidade da prática nos agentes públicos dos governos de muitos partidos.
Inclusive do PSDB e do PT, mas não só deles. Apenas se destacam por serem os principais partidos em disputa no país.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
As chancas de Alphonsus
J. FLÁVIO VIEIRA
Alphonsus Publius Catarinus Maximus !
Esse nome, carregado de um latinório
trava-línguas, poderia fazer parte da Mitologia Romana. Como diabos teria
aterrissado em Matozinho ? Primeiro, é importante lembrar que o nosso
Alphonsus não trouxe esse epíteto da pia
batismal. Nascera, sem sangue azul, molhando fraldas esfarrapadas, como muitos
dos seus conterrâneos. Ainda adolescente, enfurnara-se num Seminário, na capital, e por muito pouco escapou da ordenação. Fora
aluno exemplar e seus superiores vaticinavam-lhe uma brilhante carreira
religiosa, coisa para arcebispo ou cardeal. Apaixonou-se, no entanto, por um rabo de saia , filha de uma das
copeiras do Seminário , e ela terminou arrancando-lhe a batina e ele, em compensação, assungou-lhe a saia . Partiu, então, nosso Catarinus para
a dura vida de chefe de família, como comerciário. Nunca, no entanto, abandonou
aquela mania de sacristia, falava apenas em latim vulgar e irritava-se por não
ter interlocutores fora das hostes sacerdotais. Foi aí que resolveu, num penoso
processo, mudar, em cartório, o nome de
matuto, Afonso Possidônio , de Catarina ( sua mãe) , para o pomposo : Alphonsus Publius Catarinus
Maximus. E foi de posse desse novo registro civil que um dia aportou em
Matozinho, carregando já uma récua de filhos. Com o dinheiro juntado, por
muitos anos, estabeleceu-se por lá com um pequeno Armarinho e, já madurão,
mudou-se para uma fazendola que adquiriu
e renomeou-a de “Parnaso”.
Em
Matozinho, teve que abandonar o
latinório, pois ninguém ali estava à
altura da sua sapiência lingüística. No
Seminário versara-se em autores clássicos portugueses como Herculano e Castilho
e sabia todo o “Eu” do nosso Augusto dos Anjos de cor. Negava-se, assim,
terminantemente, a falar em linguajar
reles, fugia dos galicismos e anglicismos como o capeta de água benta. Erros de
português, se legislasse, seriam punidos com prisão perpétua, salvo os de
concordância verbal onde deveria se aplicar, sem remorso, a pena capital. Publius mostrava-se, ainda,
totalmente a favor da redução da maioridade penal: a partir de 12 anos, se
desferir golpe de morte no vernáculo: galés perpétuas ! Ademais , nada de se
resumir a uma centena de verbetes apenas, num idioma tão rico como o português:
-- O ” Caldas
Aulete” tem trezentos mil verbetes é pra se usar ! --- Costumava
dizer Catarinus .
Até
na emissão quase que automática de palavrões , nosso vernaculista se policiava. “Filho da Puta” ,
virava “Rebento de uma deusa de lupanar”
; “Maricas” , dizia “Pederasta sub-reperício “; “Vá para PQP !” tornava-se nos lábios de Catarinus :
“Diriga-se à Messalina que vos concebeu!” . Personagens famosos de Matozinho,
também, ganharam denominações menos rasteiras : “Jojó Fubuia” terminou
rebatizado por Johann Etanol; Janjão da Botica transformou-se em Jonh Pseudo-
Esculápio.
Dias
atrás correu por toda Matozinho o ocorrido na Barbearia de Barba de Gato.
Alphonsus lá chegou tentando encomendar um corte de cabelo. Dirigiu-se para
nosso barbeiro, semi-analfabeto, com o seguinte palavreado :
---
Ó Fígaro ! Quanto queres de remuneração pecuniária para desbastar estas
excrescências córneas que se avolumam por sobre minha calota craniana ?
Barba
de Gato, mais perdido que cachorro em noite de São João, diante de tamanha
catilinária, interrogou-o:
---
Kumas ? Oxente , O homem endoidou ou
veio das estranjas !
Contrariado,
Alphonsus, raivoso, ameaçou :
---
Se dizes por insipiência, perdoar-to-ei ! Se,
no entanto, pretendes zombar da
minha alta prosopopéia, desferir-te-ei um golpe com este instrumento perfuro-contuso que o vulgo
o denomina “bengala” , no frontispício da tua caixa craniana, com tamanha impetuosidade, que ela há de metamoforsear-se , em iníquos
instantes, em meras cinzas cadavéricas !
Registra
ainda o folclore de Matozinho uma outra
epopéia do nosso vernaculista. Pela
manhã , ele despertou o filho caçula ,Dioclecianus Tertius, pedindo-o para ir
até ao mercado público a fim de comprar uns cuscuzes para o café da manhã. Convocou-o com este
petardo:
--
Tertius, prólio meu ! Levanta-te deste leito adormecente e caminha até àquele
aglomerado humano que o povo denomina de mercado e compra-me massas côncavas a
que o vulgo rotula de cuscuz, para que possamos saborear no nosso jantar
matinal !
Semana
passada, a praça da matriz parou diante de uma cena inusitada. Alphonsus buscou um engraxate, no intuito dar um trato
nos seus pisantes. O problema é que se
tratava de uma figura popularíssima em Matozinho e que carregava um apelido hilário : “Cu de Apito” . Imaginaram todos a
dificuldade que teria nosso emérito vernaculista em tipificar o engraxate de
forma mais erudita. Em alto e bom som, Publius aproximou-se e , com sua inconfundível voz tonitruante, encomendou
o serviço:
--- Insigne polidor de
pantufas ! Poderias genufletir-te ante mim e tornar luzidias estas minhas
pré-históricas chancas ! Vinde, ó Óstio anal chilreador !
Crato,
21/02/14
ANTOLHOS - José do Vale Pinheiro Feitosa
Antolhos. Aquele anteparo que cega a visão lateral. Pode ser
este o sentimento de alguém que leu a notícia da apreensão policial de um menor
de idade, tentando roubar um casal de turistas em Copacabana.
Acontece que o caso ainda arde na chapa quente do
noticiário. Este mesmo menor foi alvo de intenso debate nacional. Ele fora
espancado e acorrentado a um poste por um grupo de vingadores que circulam
pelas ruas do Bairro do Flamengo.
Em primeiro lugar a repercussão no Rio foi imediata. Yvone
Bezerra, que se tornou uma referência em defesa das crianças assassinadas na
Candelária no anos 90, foi quem desacorrentou o menor e denunciou o ato.
Depois uma apresentadora do SBT cometeu a burrice de, usando
um serviço concedido, estimular o ato de espancamento e tripudiar em torno do
menor. Aí o debate virou nacional. Muita gente não aceita este tipo de estímulo
à violência com o uso de serviços públicos.
Agora o menor foi apreendido numa tentativa de roubo e foi
encaminhado para um desses órgãos formais de recuperação por meio da justiça.
Aí vem a história dos antolhos. Quem não consegue visualizar a lateralidade do
mundo, imediatamente vai vociferar contra quem defendeu o direito humano.
Vai usar a reincidência ou comprovar que o menor era ladrão
e merecedor do que sofreu. Efetivamente justificando a justiça pelas próprias
mãos. As mãos mais fortes que inclusive podem ser pagas como os pistoleiros.
A apresentadora do SBT se não der a notícia por satisfação,
irá dar um jeito de mostrar que ela tinha razão. Afinal o debate é público. E a
vingança é uma das mais antigas ações do drama humano.
Mas aí vamos para a lateralidade. Um mesmo ator (o menor) recebendo
dois tratamentos distintos. No primeiro ele foi agredido em seu direito humano
(escrito na lei). E no segundo ele vai se submeter à normas sociais em razão do
seu ato.
Isso faz toda a diferença.
POR QUE É GOLPE? José do Vale Pinheiro Feitosa
A instabilidade social e as manifestações populares, aliadas
a grupos políticos organizados militarmente, deixam no ar a ação de ruptura dos
regimes que hoje funcionam baseados no sufrágio de candidatos. A questão está
mais ou menos assim: um grupo deseja romper as políticas de renda, falta de proteção
social, desemprego, despejo por dívidas e se manifesta. Grupos distintos, com
outros propósitos políticos, aproveitam a ocupação das ruas e vão para o
confronto militar franco.
Na Síria, na Ucrânia isso é bem visto. (Claro que por fora,
acirrando posições países fortes tomam partido financiando um lado ou outro e
até os dois). A Ucrânia é mais grave porque há um problema crônico básico de
setores étnicos em relação à Rússia (imperial ou soviética). Estes setores
ocuparam o campo da extrema direita política, são organizados, perduram há
muitos anos de tal modo que aderiram ao Exército Nazista durante a invasão da
União Soviética na Segunda Guerra.
A situação na Ucrânia é de tal modo um retorno ao nazi-fascismo
original que judeus já são perseguidos por lá. Este Jam Koum, um dos
bilionários do WhatsSpp vendido para o Facebook, migrou há alguns anos para os
EUA em razão das perseguições feitas contra judeus. E isso foi no final da União
Soviética, em 1989, e no ano de 2004 aconteceu na Ucrânia a tal Revolução Laranja
que foi comemorada como um grande ato político pela mídia ocidental.
A revolução laranja, dez anos atrás, se deu com uma revolta
popular em razão de uma fraude eleitoral em que o segundo lugar Viktor
Yanucovych (esse mesmo atual presidente) foi confirmado no lugar do que teria
sido o primeiro colocado que é Viktor Yushchenko. A eleição foi anulada,
Yushchenko disputou e venceu. Acontece que o paraíso não chegou e Yuschenko se
desgastou e quem está no poder é o outro Viktor.
Mais do que uma insurgência contra o Governo, o que se tem
por trás é a ruptura do processo em que a maioria vence a eleição. No caso da
Venezuela isso é nítido e mesmo quem torce contra Maduro, deve imaginar que no
mínimo o país tem uma grande divisão e que por eleições vão fazendo projetos de
seguir adiante. O mesmo processo que elegeu Maduro, poderá eleger Capriles nas
próximas eleições.
O que deseja esse López? Provocar ruptura para ele mesmo ser
o autor e aí Capriles e companhia vai para o espaço. A oposição na Venezuela
nunca se uniu e por isso perde tantas eleições. É preciso compreender um pouco
a formação social da Venezuela. Por muitos anos uma parcela da população foi
privilegiada com o Petróleo do país. Tinha uma vida de classe média até
superior a de outros países latino-americanos.
Essa parcela educava os filhos nos EUA, tratava a família e
tinha casas por lá onde passava as férias. Essa parcela se alienou do seu
próprio país e do seu povo. O Leopoldo López fez a maior parte de seu ensino
básico e de sua formação universitária nos EUA. Isso significa que parte da
identidade e das ligações dele são com aquele país.
O que ele propõe nas ruas é a ruptura dos resultados das
eleições no curso do mandato do eleito. Além do mais ele tem usado táticas de
movimentação que recordam o ocorrido em 2002 no golpe contra Chávez. Por
exemplo o aparecimento de mortes por balas perdidas em manifestações para
depois gerar mais tensão social.
Leopoldo López não só participou do golpe de 2002 como,
nesse momento, se diz orgulhoso do fato. Ou seja defende abertamente um golpe.
A BBC Brasil o classifica assim: popular, carismático, imprevisível, arrogante
e sedento de poder.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
CRIANÇA SÍRIA, FUGITIVA DA GUERRA, VAGA DESGARRADA NO DESERTO. O ONU SALVA CRIANÇA - José do Vale Pinheiro Feitosa
Na mesma linha da postagem anterior. A CNN divulgou uma história com dois ingredientes hollywoodiano: uma criança sozinha andando no deserto. Havia se perdido da família. Eram sírios em fuga pelo deserto da Jordânia. Salvo por uma equipe do Alto Comissariado da ONU e registrado por repórteres e fotógrafos, ele carregava uma bolsa com umas migalhas para comer e uma garrafa para matar a sede.
A notícia virou o mundo. A jornalista Hala Gorani publicou a história no Tweet e despertou a emoção dos leitores. Foi este o trabalho pela informação?
Não!
Não passava de uma farsa. A criança não estava sozinha, acompanhava um grupo de pessoas em fuga, incluindo os familiares do garoto que caminhava alguns passos à frente dele. Um fotógrafo que seguia à frente tirou uma foto do grupo e ao ampliá-la que estava lá? O menino que teria sido encontrado sozinho na solidão do imenso deserto.
Estes americanos são mesmo a moral suja imperial. Financiam a desgraça e ainda tiram proveito econômico até da notícia dos efeitos que eles foram parte da causa.
Manchete em orgia no submundo - José do Vale Pinheiro Feitosa
Calma pessoal. O assunto não é o da chamada. Apenas para começar a falar das Manchetes que são a primeira impressão e por vezes a única que fica de uma notícia.
A manchete dos jornais é resultado da hierarquização da
notícia (informação). O destaque mostra a importância do fato. Isso foi tão
marcante que se expandiu por todos as mídias. Rádio, Televisão, Internet etc.
Acontece que jornais e os sites são ligados a empresas que
prestam serviços e vendem ou apoiam opiniões. E é aí que a hierarquia toma a feição
da manipulação, da armação e das campanhas de natureza política.
Agora mesmo nas manifestações da Venezuela aconteceu uma enorme
leva de manipulações nos sites da internet. Fotos que eram tidas como sendo das
manifestações na verdade eram imagens de manifestações, conflitos e vítimas acontecidas
em outros países e muito antes.
Empresas do mercado de mídias chegaram a reproduzir tais
fotos, como por exemplo a CNN. Mas a novidade é que usando a internet como fonte
da falsidade, também rapidamente é a fonte do desmascaramento. Foi o que
aconteceu.
Acirrando-se posições os consumidores dos meios de
comunicação precisam ficar atentos para as tais “hierarquizações”. Só para se
observar um exemplo que está em curso desde o início da manhã de hoje.
Desemprego sobe em janeiro e fica em 4,8%, aponta IBGE. SITE GLOBO.COM
Desemprego fica em 4,8%, menor taxa em 11 anos. Site Brasil247
simpático ao governo.
Meia hora após Globo.com refaz a manchete: Desemprego
registra menor taxa para janeiro desde de 2003, diz IBGE.
Isso tudo em razão da pesquisa mensal que faz o IBGE sobre o
emprego no Brasil. Acabou de sair o relatório e o que acontece é que passado o
mês dos empregos temporário (dezembro com as festas de finais de ano) o
desemprego sempre aumenta quando se comparam os dois meses (janeiro com
dezembro pois o indicador do IBGE, sendo mensal, é bem dinâmico).
É tanto que mais vagas foram cortados no setor do comércio
seguida de educação, saúde e administração pública. De fato, em onze anos este
indicador de janeiro foi o menor, a taxa de pessoas empregadas cresceu em
relação a janeiro de 2013 assim como o rendimento real habitual do empregado.
O pouco que se planta alimenta a filharada - José do Vale Pinheiro Feitosa
Lá o
pouco que se planta
Alimenta
a filharada
O
pouco com Deus é muito
O
muito com Deus é nada
A cada nota
musical a espuma azul cobre mais a sujeira que baixou do mundo. Novamente o refrão:
Lá o pouco que se planta.
Não é a
África. É a mama África. É o Rio de Janeiro destilando o seu código genético. Alimenta a filharada.
- Olha aí! Eu vou dar um tempo. Sair uns dez dias.
São férias mesmo. Não vou ficar mofando em casa. São dez dias.
A esponja
pinga água e esfrega a espuma azul sobre o metal. Botas longas. Roupa
padronizada com símbolos e tudo. Alto e esguio como um Watusi. Um Etiopiano da nascente
do Nilo Azul. O pouco com Deus é muito.
- Vou lá em Itacuruçá. Com sete contos vou
lá naquele parque e passo o dia inteiro. Vou dar uma olhadela naquela ilha lá.
Ela tá lá. Eu vou. Vou e volto por quinze contos.
Vai da traseira
à dianteira esfregando a espuma azul. Gira volta pelo outro lado. Vidros.
Limpadores levantados. Espelhos. Porta. Rodas. O muito com Deus é nada.
- De chumbada e molinete? Eu gosto com a
chumbada amarrada na barra e a gente em cima do barco.
- Aí. Eu fiz muito isso lá em Macaé. Ali
naquele lugar perto da Base da Petrobrás. Comprei uma chumbada legal. Uns
camarãozinho no maior caô. Deu legal.
As mãos
molhadas apertam o botão que liga a bomba do esquiço de água.
- E este interruptor não é um perigo? Vocês
todos molhados.
- De vez em quando vem um choquezinho
básico.
O jato de
água vai retirando a espuma azul misturada ao cinza da sujeira. E recomeça. Lá o pouco que se planta. Alimenta a
filharada.
- É um samba de partido alto?
- Zeca Pagodinho na parada. O Zeca pagodinho
é daquele jeito mesmo. Eu já cruzei com ele. Lá no posto de gasolina que eu
trabalhei na Barra. Ele chegou perto de mim, disse que eu esperasse que ia me
dar alguma coisa, meteu a mão no bolso e tirou umas notas toda amassada. Ele é
assim mesmo. Não tem farsa.
- É sincero.
- Autêntico. Outro dia um amigo deu carona
para ele ir lá naquele Pet Shopping que fica ali no Recreio. O Zeca pediu
carona e o amigo: mas Zeca é tu mesmo! Vá lá meu irmão, toca esse bicho para
frente que tá um calor danado.
- Não tem farsa. Pega o carro aí, dá uma
volta e põe ali na frente para eu enxugar.
Sujeito Pacato - Cantada por Zeca Pagodinho. Composição de Serginho Meriti e Claudinho Guimarães.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Explosões, balas, chamas, cinzas e corpos humanos - José do Vale Pinheiro Feitosa
As ruas das cidades em cinco continentes pegam fogo.
Multidões furiosas tomam conta de praças, largos e ruas. Atacam, queimam e
destroem prédios públicos. Multidões destilam mortos todos os dias. A violência
é ampla por onde a desesperança, o desemprego, a falta de meios se estabeleceram.
Em Caracas, em Kiev, Saravejo, em Bangcoc o mundo assiste a
um febril sintoma que uma grande insatisfação permeia as pessoas. Guerras civis
explodem para todos os lados, na Líbia, na Síria, no Iêmen e cruzam continente
de Ocidente a Oriente de Norte a Sul.
Ao mesmo tempo manifestações de intolerância, de natureza
fascista, acontecem nos EUA, em Israel, na Europa, no centro da África e na
Ásia. Aqui no Brasil ela ainda se encontra num estágio de pequenas explosões
mas os sinais desta revolta podem aderir a movimentos maiores.
Os Estados Nacionais se enroscam em suas próprias
fronteiras. O drama da migração entre o Norte da África e a Europa já atingiu
uma dimensão em que a civilização caiu por terra: isso em Lampedusa e no Canal
de Gibraltar. Agora a Suíça cria um grande mal estar com a comunidade Europeia
por meio de plebiscito que restringe a migração.
Não há um sistema monetário alternativo ao combalido dos
dias atuais. Os líderes estão correndo em busca de compensar as fragilidades
com a tentativa de formar blocos econômicos, além das velhas propostas, agora
surge a ideia do Acordo Transatlântico para se contrapor ao Pacífico.
Não existe governança
financeira e nem produtiva. Não existe uma governança para a crise. As pessoas
estão se matando, desesperadas e não surge nenhuma condução política que
fomente mudanças coletivas que supere o modelo predatório em que todos viramos
mercadoria. Ainda pior, mercadoria vendida na bacia das almas.
As ruas incendiadas vão buscar soluções. Se as lideranças políticas
e os partidos, especialmente os de esquerda, pararem de lutar, logo veremos o
fundamentalismo tomar conta da desordem estabelecida.
E não nos enganemos: este fogaréu todo é anticapitalista.
Ele não é mais capaz de oferecer aquilo que na falta desespera as pessoas.
Pode, a exemplo, do partido Nazista, tomar conta da situação e fazer um
capitalismo regimental com necessidade de beber continuamente na fonte do ódio,
da perseguição e do inimigo interno.
O crescimento do fascismo é sintoma da revolta e do fracasso
da esquerda em mobilizar o povo neste estado de desespero que destrói e pode
alienar. Isso sem esquecer a manipulação contínua dos governos. Especialmente
da grandes potências.
VÁ PARA CURA! VÁ PARA A COREIA DO NORTE! VÁ LIMPAR BANHEIRO! - José do Vale Pinheiro Feitosa
Resolvo falar de um ícone da canção portuguesa. Chama-se
Fernando Tordo, tem 65 anos, viveu parte de sua vida sob a ditadura salazarista
e outra na democracia. Sonhou um Portugal melhor para os filhos e os netos.
Vencedor de prêmios de festivais da RTP, Fernando foi
gravado pela nata da canção portuguesa pós-ditadura como Dulce Pontes, Carlos
do Carmo, Mariza, Carminho, Simone de Oliveira e muitos mais. Fernando fez
belíssimas canções com o poeta José Carlos Ary dos Santos tais como Tourada,
Estrela da Tarde, Lisboa Menina e Moça, O amigo que eu Canto e mais esta Balada
para os nossos filhos, que poderemos ouvir abaixo na própria voz do compositor.
Um Portugal melhor para os filhos e netos, Fernando Tordo
viu sair pelo ralo com a crise que abala a Europa e Portugal em especial. Nos
último ano vivia de uma aposentadoria de um pouco mais de duzentos euros (R$
659,78) e, segundo seu filho o escritor João Tordo recebia uma pequena
aposentadoria da Sociedade Portuguesa de Autores que dava para pagar a gasolina
com a qual ia de cidade em cidade cantando suas músicas, ora com casa cheia,
noutra mais ou menos e noutras vazias.
Fernando Tordo pegou uma avião e veio morar em Recife. Não
conhecia bem o Brasil e o Brasil não conhece sua música admite o próprio filho
escritor (que ele cita na música acima) numa carta que escreveu e publicou no jornal
“Público” de Portugal. Mas veio e antes despediu-se no Facebook dos amigos e admiradores
que ainda tem.
Fazendo as contas Fernando veio tentar uma nova e
desconhecida vida aos 65 anos de vida.
No Face recebeu carinho e muitas pedradas no estilo que
estamos lendo em revistas como Veja, a extrema insensibilidade humana tal qual
aquela Australiana que disse que não iria se sujar ao se referir a uma manicure
negra num salão de beleza de Brasília ou a tal Rachel do SBT apoiando a tortura
de um menino de rua.
Para ilustrar estes tempos e intolerância anti-humana que é
gerada nas redes sociais vou colar o próprio texto que se encontra na carta
feita pelo João Tordo:
“Outros, contudo, mandaram-no para Cuba.
Ou para a Coreia do Norte. Ou disseram que já devia ter emigrado há muito. Que
só faz falta quem cá está. Chamam-lhe palavrões dos duros. Associam-no à
política, de que se dissociou activamente há décadas (enquanto lá esteve
contribuiu, à sua modesta maneira, com outros músicos, escritores, cineastas e
artistas, para a libertação de um povo). E perguntaram o que iria fazer: limpar
WC's e cozinhas? Usufruir da reforma dourada? Agarrar um "tacho"
proporcionado pelos "amiguinhos"? Houve até um que, com ironia
insuspeita, lhe pediu que "deixasse cá a reforma". Os duzentos e tal
euros.”
Esse tipo de
discurso Fascista tem muito da intolerância a reinar a cabeça de muita gente.
Por falar nisso um estudo americano recente feito numa amostragem bem calculada
demonstrou que os ignorante desconhecem que o são e têm maior tendência para a
arrogância. Claro que o ódio todo se deve às declarações de Fernando antes de
embarcar de Lisboa ao Recife.
“Ainda tenho muita coisa para fazer, muita
música para escrever, muita canção para cantar, muita gente para conhecer,
portanto é muito provável que aproveite estes últimos anos da minha vida porque
não os quero consumir aqui, eu não quero. Não aceito esta gente, não aceito o
que estão a fazer ao meu país” refere. “Não votei neles, não estou para ser
governado por este bando de incompetentes”.
“O que é natural é que faça
como foi aconselhado a muitos jovens mas também poderiam ter aconselhado a mim.
Tenho 65 anos, quero-me ir embora, mas sem drama nenhum. Passou a ser
insultuoso ao fim de 50 anos de carreira ter de procurar trabalho desta
maneira, ter que viver quase precariamente. Não quero, não muito obrigado, vou-me
embora. Mas satisfeito!”
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
DECIFRA-ME OU EU TE DEVORO - José do Vale Pinheiro Feitosa
Desde a Rio 92 que o mundo fala em desenvolvimento
sustentável. Nas atuais eleições o Programa do Candidato Eduardo Campos será
feito a partir de Diretrizes com acentuada visão da Sustentabilidade. É tanto
que na introdução do documento está dito: “construir
as bases para um ciclo duradouro de desenvolvimento sustentável, com ampla
participação de todos os atores na promoção do progresso socialmente justo,
ambientalmente sustentável e libertador das potencialidades criativas da
humanidade.”
Um programa de governo com estas características se contraditará
com as diretrizes de negócio de muitas empresas que surfam na obsolescência
programa, especialmente a de equipamentos eletroeletrônicos. Pesquisa do Instituto
Market Analysis junto com o Instituto de Defesa do Consumidor demonstra uma
ação deliberada da indústria tanto para programar a obsolescência quanto para psicologicamente
motivar o consumidor a aceitar tal desperdício.
Acontece que esta prática de negócio é altamente danosa ao
meio ambiente tanto como geradora de lixo tóxico quanto pelo consumo de
recursos naturais. E tem muito mais abaixo desta motivação. Isso mexe no
próprio “espírito criativo” do capitalismo e com a aceitação desse modelo
iníquo de desenvolvimento que hoje avassala inclusive o desenvolvimento do
países da América Latina.
A pesquisa demonstra claramente o quanto a prática de
negócio é indutora de alienação social e se compõe como na essência do atual
modelo de progresso capitalista, orientado por um núcleo concentrado de empresas,
a maioria das quais são bancos. O mundo se move como uma boiada tangida pela
ganância do lucro rápido. E este lucro é subtraído da natureza finita e da
desgraça de bilhões de pessoas.
Os consumidores brasileiros já estão num estágio de
alienação tal que consideram a obsolescência como algo natural e descartam
equipamentos que ainda funcionam por modelos que nem sempre são tão inovadores.
O essencial é que a troca é feita por motivos da moda e pela incorporação de
novas funções, num processo que mexe com a estabilidade emocional das pessoas
que busca, na troca, uma mudança de status simbólico.
Os consumidores não se ligam no dano ambiental e não
consideram as perdas econômicas, sociais e culturais com as constantes trocas
que subtraem alternativas de vida com tais perdas. É tanto que na pesquisa fica
claro que eles percebem o jogo da indústria que impõem a obsolescência, têm
consciência que a vida útil ideal poderia ser superior à real.
Os consumidores não apenas sabem que são enganados mas
aceitam este jogo. Aí vem o grau de alienação que é certamente psicologicamente
manipulada pela propaganda e marketing em suas várias modalidades incluindo as
manifestações culturais com um rasgado merchandising. Isso já é conhecido com o
cigarro e com as bebidas.
Fábian Echegaray no blog Livre Pensar conclui sua análise
sobre esta pesquisa assim: “Uma sociedade
com clientes vorazmente abraçando o descarte de produtos quando ainda estão
funcionando, fabricantes que programam vida útil encurtada nos aparelhos que
produzem, agências de publicidade faturando com o pavor à obsolescência
psicológica dos consumidores e governos omissos aos efeitos de semelhantes
práticas só podem nos colocar na contramão da sustentabilidade.”
A diretriz de um desenvolvimento sustentável é mais que
economia verde, é algo além do modelo de negócio do atual estágio do
capitalismo globalizado. É este o enfrentamento que o PSB e a Frente vão encontrar
no seu caminhar político. E tal enfrentamento é preciso ser feito com a união
dos brasileiros, inclusive para vencer as barreiras da alienação consumista.
Não é fácil, mas necessário.
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
UMA ARMA DE DESTRUIÇÃO EM MASSA - José do Vale Pinheiro Feitosa
John Kerry vai à Indonésia e diz que o Aquecimento Global é
uma arma de destruição em massa. Importante salientar: John Kerry não emite
opiniões pessoais. Ele representa os Estados Unidos da América (EUA).
Mas aí ficamos todos sem entender bem o que acontece. Quem
não se recorda das posições políticas dos EUA em relação ao Protocolo de Kyoto
(2005) que era uma tentativa de reduzir as emissões de carbono? E as posições
americanas na Conferência do Clima em Copenhague (2009)?
Se você não recorda, os EUA sabotaram literalmente estas
duas grandes tentativas de uma política mundial para o clima. E agora prometem
uma “bomba atômica” sobre o resto da humanidade? Esse angu tem caroço. E dos
grandes.
Se temos que enfrentar um grande problema temos que atacar
primeiro a dimensão de maior impacto. Por isso as emissões teriam que se reduzir
mais drasticamente em quem mais polui: EUA, União Europeia, China e por aí vai.
Até quiseram botar culpa nas queimadas da Amazônia e inclusive nas pastagens
bovinas, mas isso não tem igual relevância.
A análise do momento atual da história é que há uma crise
geral do sistema capitalista composta por um conjunto de várias crises
diferentes e de natureza global (não é apenas de alguns países): não é apenas
econômica e nem financeira, ela é uma crise da relação com a natureza, do sistema
alimentar, de energia, climático e por aí vai. Enfim é uma crise global que
envolve o equilíbrio entre o metabolismo da humanidade e o metabolismo geral da
natureza.
Os EUA têm enorme poder de condução sobre as demais nações,
mas continuam a ter os graves problemas de sua origem. Mesmo quando dão a mão para
ajudar alguém sempre intentam as vantagens próprias. Eles formaram a cultura do
individualismo que se expressa em todas as suas instituições e em suas
políticas mundiais (em sua cultura).
Os EUA antes de tudo. E não caiamos na arapuca de achar que
os pobres são individualistas só porque querem sobreviver. Salvar a própria
pele. Estamos falando do individualismo qualificado, aquele que passa bem, gera
desgraça e exploração e continua na corrida para acumular sempre.
A arma de destruição em massa pode se encontrar no
crescimento da China, num rearranjo da economia asiática, mais coordenada entre
si e menos dirigida pelo ocidente. Quando se diz que o próximo milênio é aquele
do Pacífico, aponta-se um norte para o futuro e é a este futuro que teme os EUA,
embora tenha uma grande costa para esse oceano.
Estamos assistindo à grande hiena no seu grito risonho para
mastigar a carcaça das vítimas. A crise atual não apenas teve seu núcleo
irradiador em Wall Street como é lá que o modelo do capitalismo vitorioso e
hegemônico foi forjado e implementado. Quando tudo, afinal, virou mercadoria,
não restou mais nenhum espaço comum para que a humanidade criasse a civilização
do equilíbrio.
A esse processo que alguns chamam o espírito selvagem do
capitalismo é sempre predatório, numa volúpia de ganhos e mais ganhos, numa
desregulamentação geral ao mesmo tempo que cria um privilégio absurdo e
regulamentado para uma elite extremamente rica e poderosa. É o que se chama de
capitalismo de modelo Anglo-Saxão.
Se formos contar mortes nesse processo, as biografias dos
líderes mais sanguinários ou dos regimes que mais mataram, não chegam nem aos
pés do que continuamente acontece por violência com mortes e danos
irreversíveis aos seres humanos.
domingo, 16 de fevereiro de 2014
a nata do luxo
fotos Rubens Venancio
Luxo da Aldeia é um bloco de (pré-)carnaval de
Fortaleza que busca, através de seu repertório, homenagear os
compositores cearenses de nascimento ou de coração. O nome do grupo é
citação de um verso da música "Terral", de Ednardo, que considero
um hino que simboliza a música cearense a partir da década de 70,
gravada em "Ednardo e o Pessoal do Ceará - Ingazeiras", elepê de 1973.
O paraibano Chico Cesar, um cearense de coração, digamos assim bem dito, deu ontem seu auxílio luxuoso na apresentação do grupo no Kukukaya Casa de Show, em Fortaleza. Encontro marcante.
O paraibano Chico Cesar, um cearense de coração, digamos assim bem dito, deu ontem seu auxílio luxuoso na apresentação do grupo no Kukukaya Casa de Show, em Fortaleza. Encontro marcante.
Luxo da Aldeia é um dos entrevistados para o meu documentário longa "Pessoal do Ceará". Só a nata da aldeia, aldeia, aldeota, onde estou batendo na porta com minha câmera pra lhe aperrear...
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Pensamentos, Palavras e Obras - José do Vale Pinheiro Feitosa
Na religião católica existe o pecado por pensamento, palavra
e obra. O pecado, nesta religião, é irmão do perdão ou da remissão tão bem
exaltada na oração, quando se diz crer na remissão dos pecados. Haverá um
julgamento divino mas a generosidade do pai implica no perdão.
Agora a mídia nacional pegou o chicote e o brande contra a
sociedade desde a sua vitória espetacular do mensalão quando se utilizou a
teoria do domínio do fato para culpar pessoas. Partiu para acionar o domínio do
fato até em quem solta foguetes. Claro que com uma razão objetiva: este foguete
matou um dos seus.
O Professor Nilo Batista, titular de Direito Penal da Universidade
do Estado da Guanabara, ex-Secretário de Segurança Pública, Vice-Governador e
Governador do Estado do Rio, escreveu um artigo no blog do Professor Clécio
Lemos, expondo a fragilidade da imputação por crime doloso, do delegado de
polícia, feita aos rapazes envolvidos com o episódio do rojão que levou à morte
o cinegrafista da Rede Bandeirante.
Por mais que se revolte com esta morte gratuita, de um
trabalhador na sua tarefa de ganhar a vida, é preciso ir para a obra que é onde
o direito e o mundo real funciona. Pensamentos apenas são pecados porque a
religião vai até a intimidade das pessoas e preceitua normas e regras em
benefício do que considera a pureza do espírito.
O pensamento e as palavras podem expressar desejos (se bem
que palavras podem implicar em punição legal) mas a ação, ao querer fazer, a
obra é onde o direito pode efetivamente funcionar. Nilo Batista argumenta “nas dificuldades de imputar objetivamente ao
manifestante que acendeu e lançou ao solo o rojão o resultado morte do
cinegrafista”.
Ele aponta inúmeras fragilidades: rojões não são armas, são
licitamente comercializados, o seu uso em festas públicas é lícito, o seu
trajeto é errático e flexuoso, não tem mira certa, o rojão foi aceso no chão,
não visava a cabeça e foi lançado contra policiais protegidos que revidavam com
armas de controle que podem ser letais. E Nilo termina que talvez seja esta a primeira
vez de se imputar um homicídio doloso provocado por um rojão.
Com isso ele aponta que para imputação do dolo é preciso
determinar a causação adequada e cita Spinoza para melhor definir os conceitos:
“chamo de causa adequada aquela cujo
efeito pode ser percebido clara e distintamente por ela mesma; chamo de causa
inadequada ou parcial, por outro lado, aquela cujo efeito não pode ser
compreendido por ela só”. Por isso, levanta Nilo, se o delegado tentasse
uma reconstituição do ocorrido, iria verificar que o disparo do rojão não teria
um curso causal dominável pelo autor.
E Nilo Batista vai além, não se restringe a expor a
fragilidade da imputação da polícia judiciária, ele aponta para uma campanha
midiática perigosa e que agride o Estado Democrático de Direito. E termina seu
artigo com estas palavras: “O domínio do
fato, que fez as delícias de muita gente no “caso mensalão”, pode ser agora um
artefato teórico perigoso, se lançado ao caso do momento. Até quando as forças
políticas progressistas não se darão conta dos perigos que a hipertrofia do
sistema penal traz para a democracia? O sistema penal, Presidenta, também
pratica, e massivamente, seus malfeitos.”
Agora tem muita gente
que cultiva a boa prática cristã e que termina embarcando na punição como
solução principal.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
"Mao" - José Nilton Mariano Saraiva
Durante longos 10 anos, a chinesa Jung Chang e seu marido Jon Holliday se
deram à estimulante e trabalhosa tarefa de debruçar-se sobre os arquivos disponíveis
no Oriente e Ocidente, objetivando desnudá-lo por inteiro; entrevistaram centenas
de pessoas (dentre as quais muitos dos principais atores envolvidos intimamente
com a personagem principal, tais quais Henry Kissinger, George Bush, Imelda
Marcos, Lech Valesa, Richad Nixon e até o Dalai Lama); viajaram de Norte a Sul,
Leste a Oeste à busca de algum dado novo que eventualmente pudesse ter escapado;
e, alfim, nos presentearam com a mais completa e caudalosa biografia do líder
chinês Mao Tse-tung.
E o que emerge das
páginas de “Mao-A História Desconhecida” (Companhia das Letras, 954 páginas) é tão
grandioso quanto impressionante, ao nos apresentar em toda a sua crueza,
sordidez e pujança um homem obcecado pelo poder e disposto a vender a própria
alma a fim de atingir os objetivos colimados, independentemente dos métodos a serem
usados; nem que para tanto isso implicasse em deixar a ética de lado, relegar a
questão moral às calendas ou esquecer da existência de algo que se chamasse ideologia;
em seu juízo de valor, valia até trair aqueles que lhe dedicavam fidelidade
canina.
Megalomaníaco e disposto
a ser líder em uma China que comandaria o mundo (“...precisamos controlar a
Terra”) optou por transformá-la numa superpotência militar, porquanto “...o poder vem do cano de uma arma de fogo”. Para
tanto, aliou-se ao então líder soviético Joseph Stálin a fim de,
paulatinamente, construir o arsenal bélico necessário a tanto. Só que, como não
dispunha de recursos necessários para adquiri-lo, obrigou os chineses a
jornadas extenuantes e absurdas na agricultura, a fim de produzir os grãos
necessários ao pagamento das armas russas. Firmou-se então a parceria: da
Rússia armas e tecnologia para a China; em sentido inverso, toda a produção de
grãos era destinada à vizinha União Soviética; enquanto isso, os próprios
chineses passavam fome e sob um frio siberiano tinham que se valer de raízes de
árvores e até lixo para debelarem a fome (e ai de alguém que fosse pego
escondendo algo).
No mais, há relatos impressionantes
sobre a verdadeira natureza da Longa Marcha, nos anos 30; sobre a ajuda decisiva
da União Soviética ao Partido Comunista Chinês; sobre a invasão japonesa
durante a Segunda Guerra Mundial; sobre a epidemia de fome que varreu a China
matando mais de 70 milhões de chineses (que eram proibidos de comer, embora
existisse comida, sim senhor); sobre a Revolução Cultural, que estimulou a
prática da denúncia e instaurou o terror entre a população, e por aí vai.
Algumas
particularidades: foi Mao quem sugeriu ao líder alemão Walter Ulbricht a
construção do Muro de Berlim; Mao raramente escovava os dentes, tanto que nos
últimos anos sua dentadura era de uma negritude só; hidrófobo, passou 27 anos
sem tomar banho (preferia que lhe passassem uma toalha molhada no corpo); lá
pras tantas, sem nenhum escrúpulo obrigou o amador exercito chinês a se
envolver em confrontos suicidas, porquanto “... se metade da população chinesa
morrer, não fará a menor falta”; traiu seus principais colaboradores, chegando
a proibir o tratamento de um câncer terminal para Chou Em Lay, sua eminência
parda, porquanto este não poderia viver mais que ele: foi um marido por demais
infiel e um pai omisso, que não se preocupava nem um pouco com os filhos;
gostava do luxo e da comodidade.
Enfim, se você tinha
Hitler como a personificação da “besta fera”, um monstro horripilante em razão
do que aprontou na II Guerra Mundial, ao conhecer em detalhes a vida de Mao
constatará que o austríaco-alemão foi um iniciante, mero aprendiz, vulgar
amador ante ele: traição, tortura, fuzilamentos, sadismo, frieza, crueldade,
terror e tudo que você possa imaginar de ruim vigoraram na China naquele tempo.
Num ponto a
convergência é indiscutível e unanime: sob Mao, o povo chinês não apenas comeu
o pão que o diabo amassou; o povo chinês conviveu diuturnamente com o próprio
Lúcifer (os detalhes de certas mortes são horripilantes).
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