TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 16 de junho de 2009

AS RUAS DE TEERÃ E OS BRICs

Como ocorre desde a Revolução Francesa, multidões tomam as ruas de Teerã e fazem política. A urbanização da humanidade, a escrita, meios de telecomunicações, a idealização do possível, a produção amplificada pelas máquinas e o capital fazem parte desta raizama do momento histórico. Nem ditadura, monarquia, democracia, teocracia, comunismo ou que regime domine, ficou imune à política das multidões na rua.

Este é um dado que poderia ser denominado velho. A novidade, por quanto tempo não se imagina, é que nas ruas de Teerã um novo jogo internacional se reflete. Entre a ordem anglo-saxônica vanguardeira da histórica desde a Revolução Inglesa e um arranjo inicial formado por nações de grandes territórios, populações e economia. Hoje mesmo a oposição Iraniana clama por paz, o Conselho da Revolução irá recontar os votos. Na mesma hora o presidente reeleito se encontra na periferia do BRICs.

Quem assistiu ao noticiário na noite passada ouviu os queixumes dos líderes da velha ordem. Queixume com seus pacotes de linhas rotas a respeito da democracia e do programa nuclear. Uma economia em crise, capitais que não financiam, democracia que não oferece progresso, países empanturrados de bombas atômicas, um sorriso na mão e um porrete na outra. Considere que a intolerância social e política cresce em toda a Europa, travestida numa extrema direita, com ódio aos migrantes do terceiro mundo.

Enquanto isso um líder dos BRICs, o presidente do Brasil, abre o verbo no coração da Europa contra a intolerância e o desemprego. Denuncia a falta de capitais para irrigar o progresso do terceiro mundo. No mesmo dia o primeiro Ministro da Rússia e o presidente do Brasil defendem o processo eleitoral do Irã e aquele recebe o presidente reeleito do Irã. Hoje os BRICs tomam assento, sozinhos, para uma conferência cujo teor é se tornarem mais fortes na correlação mundial.

Nestas circunstâncias a natureza autoritária e antidemocrática do processo eleitoral do Irã se reduz, pois os vícios de processos iguais na ordem anglo-saxônica não são menores. Basta se lembrar das eleições americanas e aquela que especialmente fez recontagem para meramente eleger George Bush Jr. A energia nuclear chega a ser piada, vide as bombas de Israel que lá chegaram por mãos escusas e o fato real que esta energia continua na ordem das necessidades mundiais.

Com palavras completas: o problema do Irã não se resume ao interior do regime, é o jogo do rearranjo internacional frente à crise. Como afinal o determinismo não existe como uma força motriz em si, o certo que muito depende da situação interna dos países e claro da competência das respectivas chancelarias. De qualquer modo, aquilo que os economistas visionários chamavam de BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) parece se transformar em arranjo institucional e, portanto, político. Talvez seja a mais evidente conseqüência da crise, até muito mais que o G 20, que passará a ser pautada também por esta nova força organizada. Um dado, a China em relação ao comércio com o Brasil já se aproxima do nosso volume com os americanos.

2 comentários:

Unknown disse...

E que posso esperar? Eu que não sou branco, não sou rico, não nasci em berço de ouro, não me considero "ocidental" se ocidental é isso que vendem por aí, o que tenho a perder nesse mundo?

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Para quem tem interesse no assunto, sugiro que entre neste link http://resistir.info/crise/hudson_13jun09.html e leia o texto traduzido. Aliás se o Darlan retornar por aqui, acho que seria muito interessante que um grupo de estudos de professores e alunos da URCA aprofundasse o tema. Tudo leva a crer que estamos visualizando os primeiros passos do mundo que se aproxima.