TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 4 de julho de 2009

devaneio

ontem era um sinal sobre os telhados
sinal de um tempo
cuja envergadura cedeu
como ruínas, suas próprias ruínas

o que restou?
palavras desenhadas nas franjas da aurora?

um rosto de mulher espreita-me,
perguntas sobre o que no caminho se perdeu
o que eram conchas
hoje e amanhã, memórias de naufrágios
restos de pedras que no vento
se arrastam e se dispersam

do fundo de sua voz, uma pergunta:
por que escreves um poema num tempo
desastroso para a poesia?
o furor da voz contra o céu e a cidade
se espalha e se apaga
por que escreves? por que escreves?
por que à paixão das palavras
não te fizeste impermeável?
o teu poema será entalhado em cinzas,
nas cinzas de um esforço em abrir caminho
onde a dor fincou suas raízes

2 comentários:

Domingos Barroso disse...

Chagas,
belíssimo poema
intenso.

Um forte abraço.

chagas disse...

Caro Domingos,
que bom que você tenha gostado.

Um abraço para você também.