TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 25 de julho de 2009

o dono do mercado

ele chega com um porrete
na mão (será um canudo?)
abre a porta com força
sua voz estronda sem esforço:
lembrem-se disso!
lembrem-se disso!
nem todos concordam
e trocam olhares entre si

inconformado, mostra
suas insígnias
em seguida entra um oportunista
beija-lhe os pés
siamesam-se suas bocas
nem todos concordam
e trocam olhares entre si

ele bate na mesa
ele de fato tem a força
inscrita no porrete (será um canudo?)
mas seus olhos, seu coração
tudo nele exige a magia
de enfeitiçar o fígado dos ouvintes
o lance mágico que o confirma
no ministério das palavras: mistério

a transmutação das palavras
de signos em estoque
a "signos em rotação"
na cabeça dos ouvintes
performance de enunciados
sedentos de sanção
as flores cujo perfume confirma:
estão dadas "as condições de felicidade"
o mercado das palavras enfim
tem seu dono

4 comentários:

Marta F. disse...

"em seguida entra um oportunista/beija-lhe os pés" Chagas dá um golpe de transparência num oportuno poema, a tempo. E os versos "performance de enunciados sedentos de sanção", demais isso, muita clareza. Parabenizo-o.

Não sou lenha, opinião não é fogo.

Bravo, Chagas.

Maurício Tavares disse...

Chagas
Gostei de seu texto/poema. Ele é forte e me fez lembra de Raimundo Varela um apresentador do "Balanço Geral" aqui de SSA que bate com um porrete na mesa. O porrete serve como a sonoplastia de filmes de kung-fu. Aumenta o efeito de cenas que sem ele seriam fracas. Quanto ao dono do mercado das palavras acho que ele tem delutar com vários outros donos. Cada um se sente dono do seu domínio (poesia,canção, jornalismo etc.).

Marta
Não consegui enxergar as coisas tão claras como vc enxergou (explique-me Luanda!). A ambiguidade (alusões?) às vezes é marca de um bom texto literário.

chagas disse...

Marta, não há por que pensarmos em fogo, em lenha. A intenção do poema não é erguer uma fogueira. Mas é legal que do outro lado haja alguém capaz de romper as cifras que um texto carrega.

Maurício, eu não conheço Raimundo Varela, mas você está correto em dizer que o mercador terá de lutar com vários outros donos. A busca pelos lucros que decorre da posse do monopólio das palavras exige esforço. A luta concorrencial não pára. Cada um com seu capital. Mas esse capital em si não dá os retornos esperados até que sejam preenchidas as "condições de felicidade", e se confirme a posse do monopólio. O poema brinca com isso.

Marta F. disse...

As réplicas e tréplicas tem gerado divergências às vezes não salutares, por isso disse antecipei que minha opinião não era pra queimar, querido Chagas.
Você sabe o que disse no poema forte e avalizei firme mas receosa, porque senti que dá pano pra manga.

Para mim,ele lava a alma, é água clara, sei que me encontro aqui neste trecho: "nem todos concordam e trocam olhares entre si". E você Maurício, sabe onde está, claro. E o oportunista(???) também sabe que no esconde-esconde, Chagas, o vencedor, bateu e achou todos e os escondeu neste poema mistério, mistério porque fica escuro ser claro demais.

Um forte abraço, Maurício e Chagas.