TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 11 de agosto de 2009

o ano que não acabou


foto Arquivo NV

Recentemente, no programa que a TV Cultura dedicou ao louco e importantíssimo ano de 1968, o maestro Júlio Medaglia deu um depoimento que não confere com os fatos: ao defender o Tropicalismo e as conseqüências comportamentais que o movimento trouxe, disse que "Geraldo Vandré e suas canções de protesto não incomodaram o governo militar. Vandré nem foi preso. Já Caetano e Gil o foram".

Não foi bem assim, caro maestro. Sabe-se que a ditadura perseguiu tudo que vinha pela frente: tropicalistas, música popular brasileira, cinema, teatro, tudo que viesse caminhando e cantando em sentido contrário. Até os chamados cantores bregas sofreram nas costas de suas canções ingênuas e sinceras a peia dos generais de plantão. Vide o livro "Eu não sou cachorro, não", de Paulo César de Araújo.

Voltando a Vandré, o crítico de cinema Leon Cakoff, que trabalhou com o compositor paraibano, conta que ouviu de Caetano Veloso o testemunho de que os militares procuravam Vandré nas escolas, nas ruas, campos, construções, sem trégua, doidos pra esganá-lo.

Mais: o jornalista Enock Byron de Quevedo, que serviu ao Exército em Brasília, lá pelo final dos anos 60, relata que no quartel era ensinada uma outra lição: a letra de "Pra não dizer que não falei de flores", era colocada em grandes cartazes para os soldados armados, amados ou não, e desmentida categoricamente, verso a verso, em seu mais forte refrão.

Geraldo Vandré só não foi preso mesmo porque a família de Guimarães Rosa o escondeu em sua casa, no Rio de Janeiro. De lá fugiu para o Uruguai.

4 comentários:

Carlos Rafael Dias disse...

Pois eu sempre pensei que Vandré tinha sido preso e torturado.

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

Tem uma estória de que ele foi preso quando do seu retorno ao Brasil e que foi torturado - de olhos vendados era ameaçado ser jogado de uma janela para fora de um edifício do Doi-Codi/Dops em São Paulo - e por isso mesmo ficou meio louco e até hoje se mantem alienado. Estórias de um lado e o outro podem ser minizadas ou valorizas. Vide o episódio das gurrilhas no Araguaia! Quants vrsões?

Nirton Venancio disse...

Salatiel, essa estória da tortura, olhos vendados, também conhecimento. Numa pesquisa que fiz pra um filme, descobri diversas estória que ficam entre a realidade e a lenda, nunca há uma coisa precisa, muito menos do Vandré, que se nega a falar sobre o assunto, e quando fala é de maneira confusa.
O mesmo acontece com a guerilha do Araguaia, outro trabalho que tô desenvolvendo pra documentário.

Nirton Venancio disse...

corrigindo o comentário acima: "tomei conhecimento", "diversas estórias".