Por incrível que possa parecer, a opinião de Mayara não é muito diferente da média da elite paulistana. Para eles o Nordeste é uma África brasileira, coberta de “Jecas do Século XV” como já definira Paulo Francis . Com duas únicas serventias: fornecer marginais para assaltos no Sul do país e algumas praias excêntricas para os eventuais e perigosos safáris dos sulistas. O Nordeste, olhem o mapa, seria como um peso que São Paulo tem que carregar eternamente nas costas. O mapa da nação existe apenas de Minas Gerais para baixo: para o sulista o Nordeste é uma linha imaginária que separa este Brasil próspero do Caribe e de Miami. Basta voltar-se para a recente campanha eleitoral e ver o ar de superioridade , o preconceito explícito, o ranço com que tiveram que engolir a fragorosa hecatombe do vôo tucano.
E não apenas flui das fontes sulistas o preconceito . Nossa pretensa elite nordestina, da varanda da Casa Grande, ainda vê as classes mais desfavorecidas como se contemplassem a Senzala. Vejo-os todos os dias reclamando dos Programas Sociais do Governo, dizendo que agora já não mais existe ninguém para trabalhar na agricultura, nas casas, nos jardins. Só não informam quais os salários que propõem para seus trabalhadores e qual o vínculo trabalhista. Vi nossos blogs cuspirem fogo contra as bolsas famílias, chamando-as de bolsa-fome, bolsa-miséria e que estavam apenas viciando o povo. Na Campanha, claro, de olho nos votos, mantinha-se um silêncio obsequioso. A Caixa Postal vivia entupida com mensagens imputando Lula de : analfabeto, corrupto, burro, cachaceiro. A candidata do Governo, então, recebeu todo tipo de preconceito: guerrilheira, homossexual, assassina.
Pois bem, são muitas as Mayaras neste país, algumas, inclusive, dormem conosco e privam do nosso convívio mais íntimo. Presas todas ao passado, nem percebem que o Brasil, lentamente vem mudando e os pelourinhos vêm tombando paulatinamente. Luiz Inácio entra, definitivamente – queira-se ou não—na história como o melhor presidente do país em todos os tempos e o mais popular. Ele mesmo : Nordestino, pau-de-arara, tido como analfabeto, pobre e acaboclado. E mais, elegeu a Dilma, a primeira mulher presidente e ex-guerrilheira . E mais, perdeu apenas na região Sul, não foram os nordestinos , os votos da fome, dos grotões que a elegeram. As Mayaras estão na contramão da história: não há água suficiente no Tietê e no Paraíba para afogar tanta gente. Mas, quem sabe, vivam eternamente poluídas por terem que banhar tantas mentes torpes, tanta ambição, tanto egoísmo ? O povo, Mayara,felizmente já aprendeu a nadar...
J. Flávio Vieira
Um comentário:
Zé é preciso se ver o contorcionismo de alguns analistas querendo provar que não houve o que aconteceu. Um professor de antropologia da UFRJ, no Terra Magazine atribui tudo a fatores diferenciais históricos, querendo amenizar a história recente. Ora nem por isso os Nazistas Alemães deixarem de ser o motor que levantou preconceitos e avaliações deturpadas do povo alemão. O fato delas existerem no ambiente cultural não se sobrepõe à ação política violenta perpetrada pelos nazistas. Foi isso que a campanha da internet fez e foi isso que a menina partiu para um linchamento que pode começar sem "intenção" mas faltamente descamba nela.
Postar um comentário