“Nos anos oitenta, no Cariri cearense, se respiravam os primeiros hálitos de uma nova mística. Era um fenômeno completamente próprio, que se estendeu pelos anos noventa inteiros e desaguou nos dias de hoje, mas já caldo ralo. Foi mais ou menos assim: a nossa juventude rompeu a visão frígida e estéril da fé (aquela vendida nas matrizes, em envoltório sacrossanto, especialmente católico, que tinha Cícero Romão Batista como centro) e, influenciados pelo ambiente universitário de Fortaleza e Recife, construiu para si mesma uma visão de mundo absolutamente idiossincrática. Um Cariri quase cenográfico”.
Assim começa a apresentação, de Sidney Rocha, do livro Depois da capela tem um abismo, do poeta cratense Marcos Vinícius Leonel, por nós conhecido por Lobisomem, editado pela Kabalah Editorial, Recife, 2007.
O livro traz um longo poema, escrito em meados dos anos 80, dividido em doze cantos, cada um com oito estrofes, cada uma com oito versos, com imagens e impressões de um andarilho que sobe a serra do Horto, a caminho do Santo Sepulcro, depois da estátua do padre.
Assim começa:
Dos altares e templos
Erigidos pelos povos que
Habitam e remontam
O plistoceno ao Cariri
Nada guarda tão sublime,
Como esse vale desnudo,
Os mistérios e caminhos
Para a fuga de Érebo.
E Assim termina:
A ti eu peço, que nesse dia,
Não escolha palavras
Que me dê o silêncio,
Esse que a mata canta,
E as pedras respiram.
A grande força está presente,
Cruzando o meu caminho com o teu.
A ti eu darei o que te peço.
No entremeio, muitos e muitos versos fortes e vigorosos, cheios de mistérios, tal qual a história de Juazeiro; palavras e mais palavras tortuosas e íngrimes, tais quais os caminhos do Horto.
Ah, sim! O projeto gráfico e editorial do livro é um capítulo à parte.
Um comentário:
Rafael,
Verifique o e-mail de Marcos e me mande via-email. Preciso convidá-lo para o CaririCult.
Salatiel
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