A vida é o que acontece no mundo. Cheiro de engenho de rapadura. O vapor da descarga da caldeira. A lua cheia. O barulho do vento nas cordas vocais da folhagem do jardim. A lamparina soltando fumaça enegrecida, enquanto ilumina os cantos escuros do quarto de dormir. Os sonhos que dizem de outros mundos. Outros mundos que são um continuum deste. Quando por tantas aventuras se havia, sustos de pesadelos e das alegrias pelas quais desesperamos se acordamos. O espaço sentido pelos ouvidos. Um galo canta no terreiro, outro responde na casa mais próxima, quinhentos metros adiante outro galo dar conta de um galinheiro. Tantas vozes cada vez mais distantes na longa, penetrante e misteriosa iluminura da madrugada.
A vida levanta-se com o apito do engenho. Outros até que mais adiante e tão longe que os ouvidos quase não alcançam tamanha distância. Tiradores de leite, o cheiro de café, pão de milho, leite quente, a mesa, toda a família nos encontra neste mundo dos acordados. A vida é o que acontece no mundo.
Hoje é um conceito vago, apenas porque ontem algo diferente aconteceu. Na verdade vago é ontem, pois a vida é o que acontece. Na rua João Pessoa. Mulheres fazendo salgados, temperando e assando frangos. As ruas da cidade cheias das gentes. Entre o recanto rural e a cidade várias vezes nos transportamos. Algo na vida acontece de muito diferente.
Roupa nova. Engomada, sapatos lustrados, meias até quase os joelhos. O mundo na praça da Sé. Mesas de comidas na frente da igreja. Refrigerantes, sucos, arremates, a cúpula celestial ocupada pela banda de música. A fonte jorrando luzes e água. A inauguração da praça centenária. Tanta gente de provocar embriagues na atenção. Papel celofane, cores por sobre as lâmpadas luminescentes. Automóveis em profusão. Manadas de cavalos desceram das fazendas e nos quintais esperam os festejadores.
Não se pode contar cada evento separadamente. Aos quatro anos e meio de idade a vida não é escolha de fatos. A vida é um fato inteiro. É o que acontece no mundo. Nessa noite uma intensidade se planta como evento único. Não mais o inteiro da vida, porém uma parte que se destaca do todo. As energias que agitam as fibras da vigília se esgotam, retornamos, eu no tanque, meu pai dirigindo e minha mãe na garupa de uma motocicleta BSA.
Os pavões desde os galhos da timbaúba anunciam veículo motorizado no silêncio da noite. A porta se abre. Tiramos as roupas da festa. E no entusiasmo, pela primeira vez em busca da apreensão do evento perguntei à minha mãe:
- Quando vai ser a próxima vez?
- Ih! Meu filho! Nós não estaremos mais vivos. Só daqui a cem anos!
- Mas mamãe. Como é isso.
- A gente morre. Não duramos tanto. Não veremos o próximo centenário do Crato.
A vida é o que acontece no mundo, mais os dias vividos e os que restam para viver. Eis a primeira vez em que li o mundo como um estoque de tempo. É provável que esteja errado.
A vida levanta-se com o apito do engenho. Outros até que mais adiante e tão longe que os ouvidos quase não alcançam tamanha distância. Tiradores de leite, o cheiro de café, pão de milho, leite quente, a mesa, toda a família nos encontra neste mundo dos acordados. A vida é o que acontece no mundo.
Hoje é um conceito vago, apenas porque ontem algo diferente aconteceu. Na verdade vago é ontem, pois a vida é o que acontece. Na rua João Pessoa. Mulheres fazendo salgados, temperando e assando frangos. As ruas da cidade cheias das gentes. Entre o recanto rural e a cidade várias vezes nos transportamos. Algo na vida acontece de muito diferente.
Roupa nova. Engomada, sapatos lustrados, meias até quase os joelhos. O mundo na praça da Sé. Mesas de comidas na frente da igreja. Refrigerantes, sucos, arremates, a cúpula celestial ocupada pela banda de música. A fonte jorrando luzes e água. A inauguração da praça centenária. Tanta gente de provocar embriagues na atenção. Papel celofane, cores por sobre as lâmpadas luminescentes. Automóveis em profusão. Manadas de cavalos desceram das fazendas e nos quintais esperam os festejadores.
Não se pode contar cada evento separadamente. Aos quatro anos e meio de idade a vida não é escolha de fatos. A vida é um fato inteiro. É o que acontece no mundo. Nessa noite uma intensidade se planta como evento único. Não mais o inteiro da vida, porém uma parte que se destaca do todo. As energias que agitam as fibras da vigília se esgotam, retornamos, eu no tanque, meu pai dirigindo e minha mãe na garupa de uma motocicleta BSA.
Os pavões desde os galhos da timbaúba anunciam veículo motorizado no silêncio da noite. A porta se abre. Tiramos as roupas da festa. E no entusiasmo, pela primeira vez em busca da apreensão do evento perguntei à minha mãe:
- Quando vai ser a próxima vez?
- Ih! Meu filho! Nós não estaremos mais vivos. Só daqui a cem anos!
- Mas mamãe. Como é isso.
- A gente morre. Não duramos tanto. Não veremos o próximo centenário do Crato.
A vida é o que acontece no mundo, mais os dias vividos e os que restam para viver. Eis a primeira vez em que li o mundo como um estoque de tempo. É provável que esteja errado.
3 comentários:
"O mundo como um estoque do tempo"!
"O barulho do vento nas cordas vocais da folhagem do jardim..."
Esse canto, quero gravar pra mim!
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