TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

DELAS E DELES

DELAS. O encanto é natureza de um só sexo. É como uma sedução silenciosa, está no jogar os cabelos, no foco do olhar, na boca que cria um mundo sem nenhuma palavra. Como ebule os desejos de fusão nas curvas que as posturas do corpo faz. Faz perguntas com um disfarce tal, que o alvo sente-se o mais importante testemunho da história. Os lábios se entumecem não se sabe se pela umidade ou pela capacidade de sucção. Quando todo o encanto se constituiu, ele tonto de tantas certezas se precipitando como pingos das chuvas de incertezas, balbucia alguns desconexos pensamentos. Todos pensamentos de gravitação. E aí chega a vez dela, satisfeita, algo confusa, um tanto perdedora, mais ainda promitente, dizer: eu sou casada com Chico Braga. Passou rápido como uma ave de agouro, um eclipse do sol. Afinal o encanto é da natureza dela e a sombra foi passageira enquanto ao lado uma força forte agia. Até que ele foi interditado: ouviu o que ela disse?


DELES.
A posição de poder é moeda de sedução. Afinal o poder atrai, ao detentor dele se ajuntam uma série de ímãs e as simpatias se aproximam naturalmente. Mas o sedutor pelo poder tanto pode jogar seu charme pela posição, afinal sempre alguém rirá de suas besteiras, como pode ser um sofredor da própria responsabilidade do poder. Guardar uma distância para que a hierarquia não se iguale como é tudo no tempo da vida. Então o poderoso transita através delas entre ordens e conselhos, entre gracinhas de adocicar resistências ou propostas claras e ponto afinal. Então ela vem com aqueles cabelos longos, lisos, brilhosos, os olhos que olham com exame, as palavras de uma imprecisão mesmo quando discute a prova da hipótese. Assim, ela recebe os presentes de casamento, o chefe é convidado de honra. Nas semanas seguintes ele sempre, em meio às outras mulheres pergunta quando nascerá o sobrinho por afinidade. E tanto repetiu a graça que descobriu por trás do parentesco adquirido, um enorme desejo de ser o pai do filho dela.

3 comentários:

Carlos Rafael Dias disse...

Caro José do Vale,

Fico deveras admirado com a versatilidade dos seus escritos: memória, ficção, crítica, poesia, análises psicológicas etc. Para todos os gostos e com muito bom gosto.

P.S. Te mandei hoje, via correios, dois CDs produzidos com os nossos esforços: o prometido disco da banda Nacacunda (com seu vigor ainda juvenil) e o disco do grupo Zabumbeiros Cariris (que traz um pouco da musicalidade regional, dita de "raiz").

Um abraço

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Carlos: minha família me deu de herança os Rafael. Farei tudo para preservar a herança.

Obrigado

José do Vale

Carlos Rafael Dias disse...

José do Vale,

Posso também afirmar: herdamos o bom legado dos Pinheiro Feitosa. Nossos pais eram amicíssimos, homens da mesma cepa. Idem, com respeito ao seu tio César. No domingo, a caminho do antigo Aeroporto, quando íamos fotografar o monumento de N.Sra. de Fátima, Armando recordava um dos recorrentes passeios que nosso pai gostava de fazer com os filhos: ir visitar Dona Bebé na Batateiras. E como seu pai vinha de motocicleta para a cidade, para ministrar aulas, tendo de atravessar o então caudaloso rio Grangeiro, hoje, infelizmente, um pútrido e fétido canal. Pra mim, é um valioso presente poder manter contato com você através deste blog.