Fazendo uma matéria para um jornal da Borborema na Paraíba fui para Santa Luzia. Entrevistaria o prefeito, o presidente da câmara de vereadores para saber das dificuldades de conseguir verbas em João Pessoa e Brasília. A idéia seria descobrir o verdadeiro papel de despachante em que se transformaram deputados e senadores. A caminho da prefeitura encontrei uma oportunidade de entrevista bastante diferente.
Numa ruazinha sem calçamento, a caminho da prefeitura, estava um senhor na porta de casa falando alto para a vizinha do outro lado da rua. O homem, exaltado, esculhambava políticos, os americanos, europeus, o Papa em sua recente visita e até os controladores de vôo do Brasil. Pensando em algo popular sobre a CPI do Apagão Aéreo tratei de saber quem era. O apelido é Mané Cacimbão. Vive de cavar cacimba naquele chão duro do sertão paraibano. Aí, com cuidado para que a ira não se voltasse contra a imprensa, o entrevistei.
- Seu Mané eu sou de um jornal de Campina Grande, visito Santa Luzia para ouvir o povo da cidade, os políticos e as autoridades e gostaria de fazer umas perguntas com o senhor.
- Apois pregunte homi e dêxi de arrodêi.
- O que o senhor acha dos políticos da Paraíba?
- Isso é raça só. No Ceará, no Rio Grande, no Pernambuco e na Paraíba. É tudo ingual.
- Mas qual a opinião do senhor sobre os políticos?
- É tudo artista. Cómi do bom e do mió, se vestem muito do beim. Passum o dia inxendo o bolso de dinhêro e fazendo novela pru modi ingabelá o povo. Teim uns que são escretim um paiaço.
- Palhaço? Como? O senhor poderia dar um exemplo?
- Este tá de Efraim e o fii Efraimzim. O pai do maiorau era um bicho graúdo aqui da Santa Luzia. O nome dele era Bento. Foi na guerra da Italha e dizem qui andou pela Alemanha. Pois beim quano este Papa aí pegou o nome de Bento Dezesseis, correu um boato aqui na Santa Luzia que ele era meio irmão do Efraim aqui de Santa Luzia. Uma cunversa mei cabeluda que passou por algum corno e um filho de quenga. A verdade é que este Senadô Efraim se beneficiou cum a propaganda que fazia a mistura do nome do Papa com o nome do pai dele. O pior é que o povo gosta de espetáculo e votaram no artista.
- Mas que mal ele fez ao senhor?
- Muito. Num teim é quem faça o beim. O vício de político é mais pió qui vício de droga. O bicho sempre volta para a maldita. Pois num é que o Efraimzim lá na deputança tá misturano controlador de aviação com o papa. O bicho qué qui os controlador falem o tá de inglês.
- Mas seu Mané e isso é ruim? Pode ser muito bom para os piloto estrangeiros não terem problemas quando estiverem voando aqui no Brasil.
- Mas num tô dizeno lá veim você cum esta cunversa. O qui estes artista tão quereno é tirar o emprego do povo daqui. Eles querim é qui o povo dos avião sejam tudo estrangeiro. Estes são uns caba traidor. Aí os brasilêro perdim um emprego prá empregar americano qui é o povo qui fala inglês. É sempre assim, ninguém pensa em nós.
- Mas seu Mané deixe-me entender melhor? Este problema é lá para o povo da capital, isso não atinge o senhor e nem sua família!
- Mas atinge tua mãe seu fii duma égua. Eu tô me acabano de furá buraco pru modi pagar um curso pru meu filho entrar de sargento na Aeronáutica e você ainda veim dizê qui eu num teim nada cum isso. Ô muié – e o homem gritou para dentro de casa e completou – muié traga aquela faca afiada de capar frango.
Numa ruazinha sem calçamento, a caminho da prefeitura, estava um senhor na porta de casa falando alto para a vizinha do outro lado da rua. O homem, exaltado, esculhambava políticos, os americanos, europeus, o Papa em sua recente visita e até os controladores de vôo do Brasil. Pensando em algo popular sobre a CPI do Apagão Aéreo tratei de saber quem era. O apelido é Mané Cacimbão. Vive de cavar cacimba naquele chão duro do sertão paraibano. Aí, com cuidado para que a ira não se voltasse contra a imprensa, o entrevistei.
- Seu Mané eu sou de um jornal de Campina Grande, visito Santa Luzia para ouvir o povo da cidade, os políticos e as autoridades e gostaria de fazer umas perguntas com o senhor.
- Apois pregunte homi e dêxi de arrodêi.
- O que o senhor acha dos políticos da Paraíba?
- Isso é raça só. No Ceará, no Rio Grande, no Pernambuco e na Paraíba. É tudo ingual.
- Mas qual a opinião do senhor sobre os políticos?
- É tudo artista. Cómi do bom e do mió, se vestem muito do beim. Passum o dia inxendo o bolso de dinhêro e fazendo novela pru modi ingabelá o povo. Teim uns que são escretim um paiaço.
- Palhaço? Como? O senhor poderia dar um exemplo?
- Este tá de Efraim e o fii Efraimzim. O pai do maiorau era um bicho graúdo aqui da Santa Luzia. O nome dele era Bento. Foi na guerra da Italha e dizem qui andou pela Alemanha. Pois beim quano este Papa aí pegou o nome de Bento Dezesseis, correu um boato aqui na Santa Luzia que ele era meio irmão do Efraim aqui de Santa Luzia. Uma cunversa mei cabeluda que passou por algum corno e um filho de quenga. A verdade é que este Senadô Efraim se beneficiou cum a propaganda que fazia a mistura do nome do Papa com o nome do pai dele. O pior é que o povo gosta de espetáculo e votaram no artista.
- Mas que mal ele fez ao senhor?
- Muito. Num teim é quem faça o beim. O vício de político é mais pió qui vício de droga. O bicho sempre volta para a maldita. Pois num é que o Efraimzim lá na deputança tá misturano controlador de aviação com o papa. O bicho qué qui os controlador falem o tá de inglês.
- Mas seu Mané e isso é ruim? Pode ser muito bom para os piloto estrangeiros não terem problemas quando estiverem voando aqui no Brasil.
- Mas num tô dizeno lá veim você cum esta cunversa. O qui estes artista tão quereno é tirar o emprego do povo daqui. Eles querim é qui o povo dos avião sejam tudo estrangeiro. Estes são uns caba traidor. Aí os brasilêro perdim um emprego prá empregar americano qui é o povo qui fala inglês. É sempre assim, ninguém pensa em nós.
- Mas seu Mané deixe-me entender melhor? Este problema é lá para o povo da capital, isso não atinge o senhor e nem sua família!
- Mas atinge tua mãe seu fii duma égua. Eu tô me acabano de furá buraco pru modi pagar um curso pru meu filho entrar de sargento na Aeronáutica e você ainda veim dizê qui eu num teim nada cum isso. Ô muié – e o homem gritou para dentro de casa e completou – muié traga aquela faca afiada de capar frango.
Guardei meu bloco de anotações e fui em busca da entrevista com as autoridades que deveriam estar menos exaltadas.
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