“Ele cintilava ausente, aconteceu”. “Ela se desescondia dele. Inesperavam-se?”. “Amar não é verbo, é luz lembrada”. “Era infinitamente maio e eu peguei o amor”: G u i m a r ã e s R o s a. Eu não tinha um escritor predileto e nunca encontrei literatura que me tocasse tanto quanto a canção de Chico Buarque; mas “a gente vê o inesperado”. Percebi que meu homem perfeito tinha acabado de ganhar um forte rival no dia em que terminei de ler pela primeira vez as Terceiras Estórias (Tutaméia).
O “Tio Rosa” se tornou meu mestre, meu mestre de coisas pequeninas e grandiosas. Ele escreve com aquela simplicidade complexa que faz as linhas dos livros parecerem muito com as da vida. “A vida também é para ser lida”. No começo parece impossível encontrar os fios de uma “estória” dentro do emaranhado de tantas palavras bonitas, mas depois a gente percebe que essa nossa dificuldade só existe porque ele escreve como o pintor que reproduz o mundo refletido em seu espelho (e “são para se ter medo, os espelhos”). Um amigo disse há pouco tempo que acha Guimarães Rosa um escritor “hermético”; talvez porque somente ele consegue mostrar que “ninguém entende ninguém; e ninguém entenderá nada, jamais; esta é a prática verdade”. “Vivemos, de modo incorrigível, distraídos das coisas mais importantes”.
Depois de Tutaméia, li Primeiras Estórias (o amarelinho) e as mais de 800 páginas do Corpo de Baile (Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém e Noites do Sertão). Ainda não me aventurei no Grande Sertão (“Tudo, para a seu tempo ser dadamente descoberto, fizera-se primeiro estranho e desconhecido”. “O tempo é que é a matéria do entendimento”. “As verdades da vida são sem prazos”). Sei que devo saborear aos pouquinhos e sem pressa os escritos do grande mago das palavras, do “menino” que conseguiu falar de sua aldeia e ser universal.
O fato é que me encontro na ponta de um triângulo amoroso que talvez tenha se iniciado quando escutei pela primeira vez o Buarque dizendo “Manuelzão, Miguilim, vamos embora”. E agora estou indo, de mãos dadas com os dois brasileiros que encontraram o coração da vida. “Felicidade se acha é só em horinhas de descuido”. “Não há como um tarde demais – porque aí é que as coisas de verdade principiam”. “Ainda achei o fundo do meu coração”.
7 comentários:
Logo que começei a ler, vi que a maestria do texto tinha um nome: Amanda Teixeira. No final, constatei a veracidade da minha intuição inicial.
errei: onde se ler começei, leia: comecei...será que continuo surtada ?
Gulóra (ou seria Glória...),
Não se ligue nesses pequenos detalhes. No campo "coment" você e nós podemos digitar sem muitos cuidados. Quem acessa esse campo, sabe, que estamos sempre apressados.
Um beijão...
guimarães tinha o único sobrenome possível: rosa.
bela, com espinhos e efêmera como uma metáfora da própria vida.
entre grande sertão a dentro!
diadorim é julieta
riobaldo é romeu
(ou não)
ou então, como acho eu,
todos os bons romançes são um só. como a porra da vida. tudo entremeado de vinho, cerveja e poesia.
entre sertão adentro. seu texto é belo.
Oh, Glória... Não tô dizendo que tu é boazinha demais? Tem maestria no meu texto, não. Mestre mesmo é o Rosa.
Mestre é quem consegue ver e viver essa vida doida onde, como o Lupeu disse, todos os romances (por mais diversos que sejam) são um só.
E é assim que a gente vai matando a sede do sertão da gente: com os tais vinhos e cerveja e a poesia.
Porque sem isso a vida não tem graça.
Amanda e seu estilo de escrita também inconfundível e macio :)
fui, sou e serei fã.
Fê, alguém já disse que "estilo" é quando a gente não consegue fazer algo de outro modo... na verdade, é praticamente uma deficiência. Mas fazer o quê, se eu só sei andar pisando em nuvens? Coisa de gente INFP lunática como nós.
Beijinhozinhos.
Ah, lembrei (o google ajudou)!
"O estilo é uma dificuldade de expressão"
(Mário Quintana)
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