TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 24 de novembro de 2007



Santo Czar-Mártir Nicolau II



As voltas que o mundo dá...

Armando Lopes Rafael

"Você diz que devo morrer e que nada restará do meu nome, mas as canções que cantei serão cantadas para sempre". (Huexotzin, príncipe asteca - 1484)

Pensei escrever sobre um tema bem ameno para este domingo. Afinal, os leitores dos dias atuais - nos finais de semana - preferem ler sobre futebol, preferencialmente tomando uma cerveja gelada. Mas, criei coragem e resolvi encarar um desafio. Segue o comentário sobre um fato real e histórico...

Em 1917 os bolcheviques tomaram o poder na Rússia. Por ordem expressa de Lenine, o Czar Nicolau II, sua esposa e filhos foram impiedosamente e traiçoeiramente fuzilados. Com esses assassinatos, Lenine julgava que faria desaparecer, nas brumas da história, a instituição monárquica russa. Hoje sabemos que ele deu com os burros n’água!

Ah! as voltas que o mundo dá...

Os comunistas foram responsáveis pelo mais antinatural e desumano regime político que o mundo já conheceu. Segundo “O Livro Negro do Comunismo” mais de cem milhões de pessoas foram assassinadas para a manutenção desse regime, nos países onde se instalou. De 1917 a 1989, o socialismo real dominou as populações da União Soviéticas (e dos paises vizinhos anexados, que formavam a Cortina de Ferro) à custa do chicote e das baionetas. Nessas sete décadas, os comunistas usaram a tecnologia para escravizar; o poder para oprimir e a mídia para manipular e mentir. Praticaram atrocidades as mais diversas. Uma delas foi o assassinato do Czar Nicolau II. A partir de 1918 ninguém mais, na Rússia, falou sobre a família imperial.

Em 1989, após a queda do Muro de Berlim, o povo russo recuperou a liberdade perdida. Muitos, a partir daí, principalmente nas universidades, (lá, diferente daqui, ninguém quer saber mais de marxismo) se voltaram para restaurar as verdadeiras origens do que eles chamam “Mãe Rússia”. Ocorreu então a volta triunfal da memória do Czar Nicolau II e de sua família.

Primeiro iniciaram uma campanha para localizar os restos mortais do Czar e familiares. Após longas pesquisas conseguiram encontra-los. Depois forçaram o governo de Yeltsin a sepultar condignamente os venerandos despojos, com um pedido de perdão pela atrocidade cometida. Isso aconteceu em 17 de julho 1998, na Catedral de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo, onde estão enterrados os demais Czares. Devido ao interesse pelos Romanov (família imperial que reinou na Rússia de 1613 a 1917) farta literatura vem sendo publicada sobre eles.

Existe até um projeto na Duma (Câmara dos Deputados da Rússia) para que a atual bandeira tricolor daquele país volte a ter a águia bicéfala dos tempos da Monarquia. Em 19 de agosto de 2000 durante a festa da Transfiguração, Nicolau II e a família imperial foram canonizados, como mártires do comunismo pela Igreja Ortodoxa. O cinema adiantou-se à decisão dos bispos com «Os Romanov, Uma Família Imperial», filme de Gleb Panfilov. Ainda mais popular é o último disco de Elena Bogusheskaya, cantora de renome na Rússia, que lhe dedicou todas as canções e ainda pôs na capa uma imagem de Nicolau com uma aura dourada à volta da cabeça.

Hoje sabemos que matando o Czar e sua família os comunistas deram-lhes o direito de voltar. Existe um ditado popular russo que diz: “Tudo volta. Tudo”. Já no evangelho de João 12:24 também está escrito: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo caindo na terra, não morrer, fica ele sozinho; mas se morrer produz muitos frutos”. Maria Stuart, outra rainha assassinada, escreveu: “Em meu fim está meu começo”.

É este o caso de Nicolau II. Recentemente noticiou-se que será enterrada a múmia de Lênin, exposta no Kremlin. Enquanto isso o túmulo do último Czar, na Catedral de São Petersburgo, recebe flores todos os dias por parte das novas gerações russas.

São as voltas que o mundo dá...

12 comentários:

Carlos Rafael Dias disse...

Armando,

Parabéns pela coragem de defender a verdade, por mais inconveniente que seja.

Na História, existe uma premissa que diz: a verdade sempre deixa vestígios para um dia ser restaurada.

Anônimo disse...

Foi uma crueza torpe o "tratamento" dispensado à família real russa. Mas o tzarismo, ao que alcança-me o conhecimento, engessou-se como um regime que acorrentava a Rússia ao atraso. Nada que justifique um massacre. Não que sistemas monárquicos, necessariamente, sejam sinônimos de atraso (vejam a Espanha e o pulso firme do rei Ruan Carlos quando da restauração da democracia); mas cada caso é um em particular, penso, e, no nosso Brasil, acredito ser ilegítimo a casa Orleans e Bragança, não por acaso parente dos Bourbon espanhois, vir um dia a reinar em terras não lusas. A monarquia pode até ser bela e estável, além de movimentar o turismo e tantas fantasias a mais(vide Reino Unido e Mônaco). Contanto que seja nos seus lugares de legítima e justificada origem.

Anônimo disse...

Meu caro anônimo:
Seu comentário é legítimo e é bem vindo, além de equilibrado.
Permita-me apenas discordar quando escreveu: "penso, e, no nosso Brasil, acredito ser ilegítimo a casa Orleans e Bragança".
Não é. O Brasil viveu sob o regime monárquico 389 anos (desde o descobrimento até 1889). E só 118 anos sob esta caótica "ré-publica".
A modernidade da monarquia brasileira durante o século XIX salta aos olhos quando comparada aos dias de hoje. Quando o presidente eleito fala em restabelecer "audiências populares" (que não fará, basta ver as vaias que recebeu na abertura dos Jogos Pan-americanos), nos vem à mente o que ocorria, todo sábado, nos jardins do Paço Imperial de São Cristóvão, de 17 às 19 horas, em que Dom Pedro II recebia a todos, sem qualquer distinção e sem marcar audiência prévia.
Quando nos entusiasmamos com a defesa da ecologia, nos lembramos dos 17 anos de replantio da floresta da Tijuca ocorrido por decisão de Dom Pedro II...
A estabilidade claudicante da moeda conseguida nos últimos 13 anos nos faz lembrar que a inflação durante os quase cinqüenta anos do Reinado de Pedro II foi em média de 1,5% ao ano. Este percentual irrisório é prova cabal da plena responsabilidade fiscal vigente naquela época, ou seja, do respeito ao dinheiro público e ao poder aquisitivo dos menos favorecidos.(E continuamos aguardando a anunciada Reforma Fiscal, que também não sairá...)
A comemoração de uma transição pacífica da faixa presidencial de FHC para Lula também nos remete aos vários gabinetes de Pedro II, que se sucederam ordeiramente, além do exemplo comovente da abdicação de Pedro I.
A liberdade de imprensa e de pensamento, tão comemorada hoje, era moeda corrente durante todo o reinado de Dom Pedro II...
A proposta, aparentemente moderna, de controle externo do judiciário com a finalidade de coibir os abusos de juízes corruptos já constava da Constituição imperial, outorgado por Dom Pedro I...
(O Imperador, ouvido o Conselho de Estado, podia suspender de função um juiz e deixá-lo à disposição para julgamento futuro sem privá-lo do direito de defesa).
A criação do Ministério da Defesa ocupado por um civil, que nos é apresentado como um grande avanço do governo FHC mal esconde o fato histórico de que os Ministérios da Guerra e da Marinha eram, durante a monarquia eram normalmente ocupados por civis ciosos de que os militares tinham que estar sob o firme comando do poder civil.

A "ré-pública", como sempre, marcando passo...
A questão tão atual de dar acesso ao negro à plena cidadania nos remete ao fato de que 80% da população de origem africana já estava livre quando foi assinada a Lei Áurea e que o Gabinete Ouro Preto, o último do Império,e que a Princesa Isabel já tinha em mãos um projeto para distribuir terras aos libertos ao longo dos rios e estradas, que a república engavetou por muitas décadas.

Como se pode constatar, a república está fazendo um imenso esforço para nos reaproximar do patamar em que nos encontrávamos há mais de um século.
Para finalizar: o brasileiro não tinha um problema de auto-estima durante o século XIX, tão agudo hoje sob a república, em que a qualidade e a probidade dos homens públicos são diariamente questionadas pela imprensa.

Armando Rafael disse...

Amigos,
Por lapso ( pressa) o último comentário, (respondendo a um anônimo,) saiu também como outro ANÔNIMO.
Logo eu, que tenho orgulho de não me esconder sob o anonimato, quando expresso minhas opiniões...
Portanto, considerem o último comentário como sendo de minha autoria.
ARMANDO LOPES RAFAEL.

Anônimo disse...

A legitimidade consiste no direito ao exercício do mando. E o direito ao mando deriva da crença coletiva, unânime e maciça, sobre quem deve mandar: o rei? O parlamento? O presidente da República? O fundamento último da legitimidade está nessa crença em quem tem direito ao mando, e tal crença não se limita a este ou àquele grupo, a umas quantas pessoas, mas é crença social, coletiva, emanada da sociedade como um todo.
Em nossos dias, o único critério vigente e admissível da legitimidade decorre da votação universal e secreta. A legitimidade democrática, como diria Sartre, é o horizonte insuperável do nosso tempo.
Algumas monarquias podem até sobreviver com folga e proveito em nossos dias, desde que formatadas por uma Constituição aprovada pelo povo.
Por vezes, o acesso ao poder se dá por via legítima, democrática, até a hora em que o governante eleito implanta a ditadura e passa a destruir as instituições democráticas, como Hitler na Alemanha, Chávez na Venezuela e Evo Morales, a partir deste domingo (25/11) na Bolívia...
O terceiro mandato para o presdiente-operário Lula da Silva, teria legitimidade????

Anônimo disse...

Sim, eu, ANÔNIMO do segundo comentário, e que não sou de forma alguma o outro anônimo que agrediu de forma covarde Dihelson, é bom lembrar, não gosto mesmo de expôr-me nessas questões. Não covardia ou medo, pelo contrário. Embates de qualquer natureza deixam-me muito "chateado", por assim dizer. No entanto, voltemos ao tema em questão: volto ao que afirmei. A casa de Orleans e Bragança não tem mesmo legitimidade como casa real e hereditária em terras brasileiras. Se assim fosse, caso queiramos uma monarquia legítima e verdadeiramente nacional, e perdoem-me nivelar por baixo o exemplo a seguir, deveríamos entronar alguma nação indígena, quem sabe, a cariri... Particularmente acho, esteticamente, belíssima as monarquias, sobretudo a inglesa ou a glomourosa monegasca. Entretanto a "ré-pública", seja ela parlamentarista ou presidencialista, veio para ficar e é de bom alvitre termos em mente o contexto da monarquia, não deslocá-la de seu tempo e fazer comparações entre a mesma e a "ré-pública", que ao menos tem a vantagem de ter o poder executivo sabatinado nas urnas(em que pese a falta de esclarecimento da maioria da população). Em suma: boa vontade não depende de regimes mas sim de atitudes. Coisa em extinção no Brasil do executivo ao povo. E, para não dizer que não me incluo, eu dentro.

ps: dia desses estive no Orkut de Dihelson a pedir autorização para publicar fotos suas no Wikipédia.
Grato pela atenção.

Glória disse...

Prezados amigos Carlos Rafael e Armando. O anônimo em questão, do primeiro e do último comentário, é meu filho. Ele foi aluno de Carlos Rafael no curso de História e eu não sei pq ele não assinou o comentário. Ele sabe que não gosto disso pois a última coisa que quero, é gerar polêmicas novamente aqui no blog de Salatiel. Porém, ele é adulto e a escolha foi dele, sem a minha autorização para o ato.
Abraços.

Marcos Vinícius Leonel disse...

Num debate competente e pertinente como esse, a questão do anonimato é secundário.
E então,
pararam??
Abraços

Glória disse...

Marcos,
Deus queira que ele (filho) pense como você e não me mate quando ver o que postei, tirando ele do anonimato. Fiz de impulso e terei que ouvir poucas e boas.
Abraço !

Glória disse...

já que foi um impulso não vou deletar. Deixarei assim.

Armando Rafael disse...

Oi Glória:
Eu, particularmente, gostei dos comentários de seu filho, pois foram respeitosos e inteligentes. Dizia Rui Barbosa (republicano arrependido, cfe. expressão dele mesmo) que em todo brasileiro existe um monarquista adormecido. a cada dia eu me convenço de que a frase de Rui é verdadeira.
Você já observou que quando queremos dizer que uma coisa é excelente sempre usamos um imagem monárquica?
Rei Pelé, Rei do Baião, Rei Roberto Carlos, a Rainha dos Baixinhos, o Príncipe dos poetas, a Rainha do Colegio, o Rei Momo...e por aí vaí.
Aqui temos a Rádio Princesa, Colégio Pequeno Príncipe. A monarquia está no imaginário da população. Até hoje não ví, por exemplo, denominar-se nada de bom com a figura de "Presidente". Uma vez, em Juazeiro, perguntei ao dono do Rei dos Enfeites por que ela não mudava o nome para uma coisa moderna: "O Presidente dos Enfeites" e ele respondeu:
- Vão pensar que é exculhambação...

Glória disse...

Oi Armando,
Eu entendo que a Monarquia é uma forma de governo em que o chefe de Estado é o Monarca. O poder é transmitido ao longo da linha sucessória e há os pricípios básicos de hereditariedade e vitalicidade.
Achei muito interessante seu comentário sobre Reis e Rainhas (Xuxa, Pelé, Roberto e etc). Eu com certeza, não tenho 'saber' nem argumento para debater sobre o tema. Até mesmo pq, peço desculpas, não me interessa muito,ao contrário do meu filho...rsrs.
Já houve no Brasil, há tempos atrás, plebiscito, onde o presidencialismo saiu votorioso ?

Quero também agardecer ao sr. pelas aulas bacanas que nos passa aqui no blog.
Um abraço !

obs: e o Princípe Ribamar da Beira Fresca, hein ? Uma figura !