Lembro-me do Zé Celso- meio lunático- desfilando sobre as teclas do piano de Divani Cabral quando representava “Pequenos Burqueses”, de Máximo Gorki, na Quadra bi-centenário, anos 70.
As seis longas horas de viagem de Crato a Quixeramobim foram o nosso (eu, Blandino e Zé Flávio) descanso para o enfrentamento das seis horas e meia de espetáculo – com o mínimo intervalo de vinte minutos – que apreciamos no primeiro dia: A Luta I (*).
A cada momento –cena ou ato - o nosso olhar se deslumbrava com a luz, figurino, expressões dos atores (máscara, corpo e voz), alegorias e as múltiplas linguagens da arte (música, cinema, vídeo, artes-plásticas) num diálogo alucinante, rico, complementar e envolvente.
Dia seguinte, a gente ficou querendo arranjar um significado pra tudo o que vimos. Não deciframos todos os códigos. E precisa? Que mania besta essa nossa de racionalizar, ser muito cerebral! A gente acaba não gozando, né?
A estrutura que acompanha o espetáculo é tão grandiosa quanto o merecimento da obra. Toda em aço e ferro, dois níveis de arquibancadas laterais, dois palcos no primeiro plano, dois no segundo, servindo o corredor central como a arena (palco principal). Duas câmaras de vídeo gravam simultaneamente as cenas em planos diferentes e as imagens se mesclam em três telões para facilitar a visão do público, em torno de mil (1.000) pessoas. A música instrumental (piano, baixo, bateria, congas, pandeiros, cuícas, cavaquinho, sanfona, cornetas, trompetes) e vocal não é preconceituosa e ouvimos desde blues, tangos, samba, música de terreiros, etc., executadas por um elenco de competência inquestionável.
Na segunda noite, A Luta II, estávamos descansados e muito mais atentos. Entretanto, por se tratar de uma continuidade do mesmo tema – a luta -, o espetáculo ficou mais previsível, mas não menos belo e caleidoscópico.
Não ter visto todos os cincos espetáculos que compõem a ópera é algo a ser lamentado mas...seguiremos os passos do Teatro Oficina - que estará em Canudos nos próximos dias 28, 29, 30/nov e 01 e 02/dez -e depois...quem sabe?
O que afirmamos aqui é que de uma maneira grandiosa e eloqüente este espetáculo devolve à superfície da memória nacional toda a tragédia que foi “Canudos” ou a "Tróia de Taipa", segundo Euclides da Cunha, e que as águas do Cocorobó quiseram sepultar nos anos negros da ditadura.
Que Viva Canudos, Antonio Conselheiro, Euclides da Cunha e José Celso Martinez Corrêa!
(*) Os temas (a terra, o homem, a luta) da obra monumental escrita por Euclides da Cunha foram transformados em cinco espetáculos: A Terra, O Homem I, O Homem II, A Luta I e A Luta II, cada um desses espetáculos com uma duração média de seis horas.
Um comentário:
Salatiel, será que não existe uma maneira de trazer esse espetáculo para o Cariri? Da parte de vocês houve alguma sondagem a esse respeito junto à produçãso deles?
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