TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Salve Jorge










Salve Jorge

Depois de nove edições, distribuindo satisfações e insatisfações, em todas as rodelas de sentidos que essas expressões possam ter, finalmente a Mostra Sesc Cariri de Cultura consegue se superar e pauta algo realmente importante, em meio a tantas importâncias que não importam, agendadas ao longo desses anos todos.
A vinda de Jorge Mautner ao Cariri é, no mínimo, a esperança de polêmica cultural, uma vez que a última novidade que apareceu por aqui foi Xangai, um fantasma consagrado da formatação neo-retrô-pós-Chemarx-ulaLula-da culturaderaíz, além, muito além de qualquer bichogrilagem já assentada pela reforma agrária cultural.
Vejam só a que ponto nós chegamos, Caetano Veloso, na contra-capa do LP Para Iluminar a Cidade, de Jorge Mautner, em 1972, dizia que era sem tempo escrever aquelas palavras, pois o atraso para com a obra de Mautner era grande. Nesse mesmo texto ele testemunhava o estranhamento contido na literatura de Jorge Mautner e do filosófico que encontrou na teoria do Kaos.
Se para Caetano Veloso, em 72 do século passado, já era tardio, imagine para nós, que vivemos tão a sós, em meio a uns ocupados em desocupar os espaços culturais e preocupar os intelectuais desocupados; outros despreocupados em ocupar os espaços intelectuais com cultura para os ocupados; e muitos outros, com as bênçãos de Rosa de Luxemburgo e da Beata Mocinha, empenhados na luta revolucionária de tornar popular, igualitária, solidária, naturalmente natural, sem resíduos tóxicos e auto-sustentável, a própria cultura popular, feita pelo povo e para o povo, que teima em se afastar dela, para mergulhar em um consumo alucinado da cultura de cabaré-cachaça-e rapariga, contida em cds piratas de forró, pela bagatela de três reais a dúzia.
Mas, digo, antes muito tarde do que nunca, termos Jorge Mautner em nosso perímetro urbano, mesmo que em termos, já é uma vitória - digna do excelentíssimo exército de Brancaleone, primo-irmão de Pantagruel – em nosso sereno cenário cultural. Avoé! Colofé! Salve Jorge! Salve o Vigarista Jorge! Salve Os Fragmentos de Sabonete e Narciso Em Tarde Cinza! Salve o Deus da Chuva e da Morte! Salve! Salve! Todos os escritos e todos os ditos e os desditos, os inclusos e os excluídos. Salve Jorge, o Herói das Estrelas!
Salve-nos Jorge, com seu malte de anarquia e com seu saque de quinquilharias, do nosso marasmo inteiramente interior. Jogue-nos no Kaos. Não tenha pena dos homens-gabirus, e muito menos dos cafuçús intelectualóides, tocadores de pifes patifes. Torne universal e distinta essa merdologia regionalista encravada em nossa unha, torne dupla essa mão de via única, mostre para essa mostra, que essa única nunca devia ser só a mão de nossa cultura, que outras vias podem e devem acontecer, sim, sim, sim, contudo, porém, todavia, no entanto outrossim, aqui morre-se assim. Chore você então, Mautner, suas lágrimas negras, e não peça desculpas, pois o nosso enterro já saiu faz é tempo.

Marcos Leonel

6 comentários:

Anônimo disse...

Beautiful, Luca.

Rodolpho disse...

Gosto muito do Jorge,
mas do jeito que tá escrito aí,
de duas uma, ou o prefeito, o delegado, o juiz, o bispo e seus colegas vão recepcionar cada minuto
de sua estadia aí no Cratinho de açúcar, ou o cara vai receber
um milagre do Padim Ciço e fazer a plenitude acontecer na única palavra que só Deus conhece!

"Menos Batista..."

O ato mais revolucionário ainda
está no cheiro da primavera e sentir ou entendê-lo é a utopia!
Talvez, sem mandar que o Mautner faça isso ou aquilo, diga isso ou aquilo, ele contribua para uma imaginária primavera nas queimadas do Araripe.

Confesso:

EU QUERO VÊÊÊÊÊÊ-LOOO
:D

Carlos Rafael Dias disse...

Salve o Maracatu Atômico de Marcos Leonel, corrossivo, ácido, letal para os pudorados que represam as multiformes águas de nossas fontes culturais. Bem-vindo, lobisomem! É meia noite de sexta-feira e lua cheia em Craterdã e no Caririal. Mocinhas e mocinhos de família, artistas engajados, amantes do retrô: recolham-se à sua insignificância!

Lupeu Lacerda disse...

lobo marcos
corrosivo, inteligente e viral!!!!
bom pra caralho te ler
saber que não sou voz solitária no deserto.
luto na sua trincheira
arrepie cumpadi!
hasta siempre.

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

Marcos,
Seja benvindo!
Passei hoje na Solaris e adquiri o teu livro "Depois da Capela tem um Abismo". Linda formatação, rapaz! Depois, farei comentários a respeito.
Um grande abraço,

Marcos Vinícius Leonel disse...

Valeu galera
muito obrigado pelos comentários,
fico feliz por todos.
The Lupas
eu sou seu fã, poeta! Em breve farei um comentário sobre o seu livro.
Rafael Fel, lembra!? Grande saudade irmão, vamos marcar qualquer coisa aí, pra'gente comemorar!? Valeu poeta.
Salatiel, você é muito especial, realmente está como você disse, uma verdadeira feira cultural, para todos os gostos.
Valeu!