TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 20 de março de 2008

da solidão e seus códices


Cleilson Ribeiro

I

Um blues inaugura o som de um realejo

Que se dissipa nas plumas da tarde. Nos muros enferrujam

As palavras de protesto, semeadas pela força metálica

de outras claridades já extintas. Não há como esmigalhar

a cor do colostro esvaído das bocas famintas das

Crianças . Os homens golpearam a alma das praças

Com o slogan das cápsulas radioativas do silêncio.

E agora, discutem seus sonhos mortos amolando as farpas

Exauridas das ampolas de morfina.

Fantasmas encapuzados fumam

Os cigarros de ópio e de ódio nas esquinas das igrejas.

II

Os computadores aprenderam o signo da ilusão,

E alardeiam em downloads insólitos que não há

mais tempo para a palavra amor.Um blues empoeirado mastiga a carniça de nosso trabalho extraviado.Nos ventos que chegam do oriente médio,

O genoma de Osama Bin Laden,

se grava nas pestanas de antigos cães enluarados. Restou-nos o indigesto gosto das lágrimas.

O inconcebido assopro da estiagem arrupiando as dobradiças das plantações.

Os jornais já não nos dão notícias de nenhum herói. Por aqui, cada um deles, irriga lavouras estorricadas.

III

Não se volta da revoltas nem das guerras cotidianas, para se exibir medalhas,

cicatrizes ou mutilações.Ninguém escuta as buzinas dos automóveis festejando a morte no trânsito. Não se diz em segredo os motivos de um sonho antigo. Não se deflagra na carne do dia

o compromisso inadiável com a esperança. Estamos vivos simplesmente.

A poesia já não compraz nossas limitações.

Não conseguimos mudar o gosto das coisas.

Fabricamos milhões de espermatozóides

para semear multidões de vidas desoladas.

A casca da solidão, diviniza nosso grito absurto.

IV

¿ Será que algum poeta, do antigo Egito à Favela da Rocinha,

Suporia, que as plantações de urânio de agora,

Aboiarim a migração dos amidos expulsos das palavras,

enquanto o sumo da morte é emacotado á vacuo

nos escritórios de Wall street ?



Cleílson Ribeiro, é poeta comparado aos melhores que conheço. È parceiro musical de Abidoral e troca figurinhas com Wilson Bernardo. Me mandou alguns poemas que devo publicá-los de vez em quando. No próximo, acrescentarei outras informações sobre seu perfil poético.

2 comentários:

Marcos Vinícius Leonel disse...

finalmente cara,
valeu Cleílson, velho parceiro de arte e profissão, seja bem vindo,
sua poesia é mais do que atual,
você tem técnica e talento,
essa conversa de que poesia é só inspiração é a maior furada,
a técnica é fundamental
você é poeta de verdade!
abraço irmão

Igor Rocha disse...

Não é fácil encontrar vozes expressivas como a do poeta Cleílson. Uma poesia prosaica e ao mesmo tempo carregada da sensibilidade que só os grandes poetas têm. Ex-colega de sala, amigo, grande-amigo, parceiro musical, Cleílson nos deu - à Nacacunda - dois presentes: Colibri, já publicada no primeiro cd e Latifúndios, que será gravada no próximo. Um abraço, parceiro.