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quarta-feira, 19 de março de 2008

Réquiem pelos mortos do Tibete

Bandeira do Tibete livre


Depois do recente massacre em Lhasa, - capital do Tibete que foi invadido por Mao Tse-tung e anexado à China comunista em 1950 -, um grupo de intelectuais e artistas está propondo o boicote aos jogos Olímpicos de Pequim. Os jogos estão marcados para o período entre 8 e 24 de agosto próximo, ou seja, faltam cinco meses para começar o maior espetáculo esportivo do planeta.




Os protestos no Tibete começaram como uma reação à notícia de que monges budistas teriam sido presos depois de realizar uma passeata para marcar os 49 anos de um levante tibetano contra o domínio do regime comunista chinês. Centenas de monges tomaram então as ruas, e os protestos ganharam força nos últimos dias, com a adesão dos tibetanos.


A China comunista alegaz que o Tibete faz parte de seu território desde meados do século 13 e deverá ficar sob o comando de Pequim. Muitos tibetanos, no entanto, têm uma outra visão da história. Eles afirmam que a região do Himalaia ficou independente durante vários séculos e que o domínio chinês nem sempre foi uma constante.



Entre 1911 e 1950, por exemplo, o Tibete manteve o status de país independente, até que Mao Tsé-tung invadiu e anexou o Tibete. Em 1963, ganhou status de Região Autônoma, e hoje conta com um governo apoiado pelo regime comunista chinês. Em 1989, a causa da independência do Tibete ficou conhecida no Ocidente após o massacre de manifestantes pelo Exército chinês na praça da Paz Celestial. Muitos tibetanos querem a independência de volta, e daí os protestos.

Os protestos de agora no Tibete têm sido apontados como os maiores e mais violentos dos últimos 20 anos. Entidades que defendem diferentes causas - do fim da pena de morte ao combate do genocídio em Darfur, no Sudão - vêem uma oportunidade no momento atual para pressionar o governo comunista de Pequim a mudar sua posição em relação à questão de direitos humanos. Se depender deles, a pressão vai aumentar à medida que os Jogos Olímpicos se aproximem.

As recentes manifestações começaram no dia 10 de março, exatamente 49 anos depois que os tibetanos encenaram um levante contra o poder comunista chinês. Hou
ve demonstrações em vários países e monges do monastério de Drepung, nas cercanias da capital Lhasa, também aderiram ao movimento. Os protestos logo ganharam a adesão dos tibetanos.

Fatores econômicos também desempenham um papel importante. Muitos tibetanos dizem que um número crescente de imigrantes chineses da etnia majoritária han chegam à região e conseguem os melhores empregos. Eles acreditam estar excluídos dos benefícios dos avanços econômicos desfrutados por outras províncias costeiras da China e dizem sofrer com os efeitos da crescente inflação no país.

O governo chinês mantém pouco diálogo com o governo tibetano no exílio, com base na Índia. As negociações nunca avançaram e provavelmente não devem avançar no futuro - o abismo entre as duas partes é imenso. A China diz que os tibetanos no exílio, liderados pelo Dalai Lama, só estão interessados em separar o Tibete da terra mãe. O Dalai Lama diz querer nada mais do que a autonomia da região.

O domínio chinês sobre a província de Xinjiang, no oeste do país, é tão controverso quanto o do Tibete, mas não conta com a mesma notoriedade. Talvez uma das razões pelas quais os ocidentais saibam sobre os problemas do Tibete é por causa do Dalai Lama. Desde que fugiu do Tibete depois do fracasso do levante, em 1959, o líder espiritual dos tibetanos viajou o mundo para advogar por mais autonomia para sua terra natal, sempre enfatizando que não defendia a violência. Ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1989.

Os governantes chineses certamente não querem nenhum derramamento de sangue a apenas cinco meses do início dos Jogos Olímpicos, e vão tentar evitar qualquer situação que lembre o que aconteceu em Mianmar em 2007. Por outro lado, eles não querem dar espaço aos monges e a outros manifestantes por medo de que isso seja interpretado como um sinal de fraqueza e acabe levando a mais protestos.

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