I Still Have a Dream !
Quando eu nasci, havia a América!
Morava sem saber, nos Estados Unidos do Brazil, um local onde de tanto assistir TV e filmes americanos, eu raciocinava que os Estados Unidos faziam parte do Brasil, ou vice-versa, e sentia o peito erguido de patriotismo quando via aqueles bravos soldados americanos lutando contra as forças do mal.
Na verdade, aprendemos a amar a America, Roy Roggers, John Wayne, Capitão América, Superhomem, Sinatra, Simon & Garfunkel, Jimmy Hendrix... os Waltons são parte da minha família ( Boa noite, James, boa noite Elisabeth, boa noite John ). O velho oeste era aqui no Brasil, junto com lampião na caatinga nordestina. Lampião ouvia Jazz e tocava Banjo. Na Broadway tocava Carmem Miranda e as canções de Cole Porter e Gershwin. Cresci acreditando no sonho americano: I HAVE A DREAM !
Woodstock era nosso sonho de liberdade em calças bocas-de-sino. Graças américa! Ponte do Brooklyn, ponte de San Francisco, Golden Gate, queria jogar mesmo no Desert inn de Las Vegas. Queria percorrer meu país pela ROUTE 66, até chegar no Rio de Janeiro. Queria ver Lennon e McCartney, meus ídolos da juventude descerem do avião, I have a Dream !
Com a mão erguida e a outra no coração, entoar:
"What america means to me..." e sentir que "nossa" ida ao Vietnã não foi em vão, como pregam nossos detratores. Lutar contra esse homem barbudo de uma pequena ilha do caribe, lançar nossos mísseis contra a União Soviética. Que a nossa bandeira listrada de listrinhas e losango verde-amarelado não tenha se esfarrapado em vão no topo de Iwo Jima, e que nossos destróiers destruídos em Pearl Harbour possam clamar por vingança de todos os nossos bravos homens como o Patton, Eisenhower e Douglas McCarthur que defenderam a "nossa" honra juntamente com Vargas e Collor de Mello. I have a dream !
Que tomemos de assalto a nossa capital Washington e dancemos dentro das águas do obelisco à washinton, de frente ao capitólio em Brasília, ouvindo a guitarra de Hendrix tocar o hino americano. Colocar fitas em torno da cabeça e fumar maconha no gramado da praça dos três poderes, e transar na frente da Casa Branca para dizer que somos nacionalistas ao som da "era de Aquarius". Sair de Oklahoma city em meu Ford conversível, fumando Camel para Nashville para assistir Kenny Roggers fazer parceria com Raul Seixas. Que eu possa hastear todos os dias em nosso gramado, a nossa bandeira que um dia simbolizará um mundo perfeito. I have a dream !
Que a nossa NASA, ao lançar outro Saturno V da barreira do inferno em Natal, possa levar nosso sonho americano às estrelas, pisando na lua e cravando nossa bandeira para que todos vejam nosso brilho nos confins do universo através da Enterprise de Jornada nas Estrelas. "A small step for man, a giant leap for mankind"... Que o docinho Marylin Monroe cante ao Mr. President bêbada a sua elegia pela bala que atravessará seu crânio no texas, lugar quente e desolado, bem ali, pertinho dos Inhamuns.
Que a pátria amada, idolatrada Salve Salve possa significar sempre a luta de nossos negros, Luther King, Malcolm X e Denzel Washington contra os branquelos de peito rosado, estilo schwarzenegger e que a Ku Klux Klan não atrapalhe a luta do General Rondon, grande desbravador do Arizona, que chegou com os primeiros colonizadores, vindo do leste para a Califórnia no Ciclo do Couro e do ouro de McKenna...I have a dream!
Esse é meu Brazil, cuja estátua da liberdade, presenteada por nossos irmãos franceses, resplandece altiva na baía de guanabara, às margens do Rio Hudson, bem ali ao lado do Cristo Redentor. Terra da riqueza e da esperança de dias melhores, onde nossos irmãos europeus foram desmoralizados na ilha de Ellis, antes de desenbarcar em Manhattan, onde meu velho Tio Sam, irmão de Avô Ray, que veio de Nova Olinda, pertinho de Nova York, me ensinou o lema: "BraZil, ame-o ou deixe-o", "America, love it, or leave it". Esse é meu Brasil americano, onde nossos soldados patrulham as nossas fronteiras da amazônia contra o eixo do mal. Esse é o Brazil Brasileiro, cheio de sonho e de pandeiro, onde há coqueiros que dão coco, e não banana, pois as bananas... ah! Yes, nós temos bananas! e onde o Tio Sam quer conhecer a nossa batucada e comer chiclete com banana.
Quero me exaltar e chorar de emoção ao ver a face de nosso ex-presidente Lincoln esculpida nas montanhas rochosas de Utah, ali petinho do dedo de deus, e quero sentir o patriotismo dos confederados, dos sulistas da guerra de secessão, e ver que Lincoln tinha razão. "Essa é uma grande nação...", moldada no princípio de grandes homens como Kennedy, Bob, John, ... que traçaram nosso futuro. Homens que aliados a kubitschek construíram o sonho dos americanos. Homens que financiaram a construção da Rede Globo e seu império vinda do grupo TimeLife. I have a dream !
Quero me exaltar ouvindo Sinatra cantar para nossos soldados em combate junto com Emilinha Borba e participar do Sinatra-Farney Fã Clube. Quero ouvir Dick Farney cantar em português e Nat King Cole cantar "Eu tinha uma andorinha que me fugiu da gaiola" sem sotaque. Quero ver novamente o Tom Jobim fazer parceria com Sinatra no Carnegie Hall e ouvir o belo sax de Stan Getz em Girl from Ipanema, o mais braSileiro dos braZileiros, numa música brasileira que ressalta o "American way of life". I have a dream !
Quero dançar o blues de Luiz Gonzaga, negro reluzente, que morava ali em Exu, às margens do Mississipi em Chamas, junto com a rabeca do Cego Aderaldo e Cego Oliveira tocando em dueto no Radio Music City Hall, tocando "South american way" para sair no acetato da CBS, NBC, RCA Victor ou não, com o pandeiro do Jackson, e o banjo da encruzilhada. Aquela sanfona branca como a paz que tanto ansiamos, depois de derrotarmos os vietcongues, os Islamitas, os Soviéticos, os Iranianos, os Iraqueanos, os Cubanos, e tantos outros povos...
Quero me deliciar vendo que a lei seca foi revogada e que não mais haverá depressão nesse país, e que Al Capone foi prêso e Edgar Hoover - Esse grande benfeitor - juntamente com o senador Joseph McCarthy conseguiu prender Lee Oswald por ter atirado em John Lennon em plena 5a. avenida no mês de maio, próximo à Macy´s ... ao som do coro angelical do profeta Joseph Smith e o retrato de Dorian Gray, que veio revelar os santos dos últimos dias em Salt lake City... I have a dream!
Quero enfim, que o nosso país reine "soberanamente", elevando-se ao mundo, e que embora deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e a luz do céu profundo, com estrelas e listras, possamos um dia acordar, olhar para nosso jardim, olhar para trás e ver que o sonho de Luther King para um Brazil melhor, sem discriminação, e o sonho de Kennedy não valeu o suicídio de Getúlio. Ver que desde o Grand Teton em Montana aos confins do sertão de Sobral, passando pelo verde vale do cariri, onde a verdadeira Águia americana de peito branco sobrevoa impávida as pradarias, onde todos formamos um único povo, uma só nação, movidas por um só ideal, um só governo, um só "way of life", uma só mídia, um só partido, uma só moeda, uma só música, uma só cultura, um só ideal:
"America, the Beautiful"
Viva os Estados Unidos do BraZil
Porra, nunca fomos colonizados ???
( Dedicado a Martin Luther King - que não teve nada a ver com essa merda toda )
Por: Dihelson Mendonça
Fotos: Fonte: Yahoo Imagens
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9 comentários:
Estamos tão próximos da bomba que não percebemos a explosão. O Brasil não é colônia, é parte anexada. Este texto, cheio de sentido figurado e absurdos é apenas para demonstrar que nossa história, nossos hábitos, nossas crenças e o que acreditamos ser a verdade, está naquilo que nos é dado a conhecer. O Brasil está tão ligado aos Estados Unidos que somente através de uma profunda busca, nós conseguiremos um dia descobrir nossa verdadeira identidade e vocação, se é que temos, se é que um dia a tivemos.
Talvez sejamos o mais americano dos estados americanos. O quintal da casa branca. Isso deve ter entrestecido muitos Brasileiros autênticos como por ex. Villa-Lobos que sonhava com uma nação soberana não só em política, como em Arte e Cultura.
"Talvez precisemos melhorar nosso país antes de começar a amá-lo. Ou vice-versa"
Abraços,
Dihelson Mendonça
dihelson: em primeiro lugar a frase final permite desfazer o tom em que a ironia pode confundir alguns desavisados a pensar ser esta uma verdade do texto. Mas vejo que mesmo após o insight que ilumina uma verdade de identidade, no teu comentário pareceu-me que, embora o texto tenha nos desexorcisado deste demônio hermafrodita, ainda não foi suficiente para ti. E aí é preciso que nos coloquemos no centro em que tudo se encontra. È um centro de classe social, a classe média brasileira tem como referência a sociedade americana, afinal a mais ampla sociedade de classes médias. A classe média ouve continuamente a música americana, assiste aos filmes americanos, incorpora o estilo americano, a sessão das tardes dos cinemas, com aqueles filmes adolescente, cria uma juventude desde o princípio. Então a classe média brasileira pensa que se encontra num shopping, comendo McDonald, bebendo Coca, mastigando pipoca. Este é um estilo de classe, tão somente de classe. Acontece que a vida em que os trópicos são verdades, o consumo é limitado, a tortura social é permanente, a violência um dado da realidade, é uma vida em que estes mitos ficam no ar condicionado exclusivo até que as luzes do sonho se desligam.
De qualquer modo: grande texto e com ele o que americano nenhum diria.
Os campos excliídos são de somenos: spam e duplicidade
Rafa, vc pode excluir aqueles comentários de Spam permanentemente, de modo que eles nao ficam esses rastros. Eu vi.
José do vale tem razão. Eu dei tudo de mim na escrita desse texto, passei 2 horas escrevendo, e revisando, e mesmo assim, ainda não me dei inteiramente por satisfeito. Mas o recado foi dado. O Brasil é uma coisa assim ambígua, uma simbiose americana em que é difícil se distinguir identidade. E se a Classe média e alta tenta imitar o padrão americano, as classes baixas sonham em chegar lá também, mas acabam criando talvez o Brasil mais original e visto lá fora, o Brasil da violência e da ignorância quase absoluta e sem inclusão.
Abraços,
Dihelson Mendonça
É tudo ironia. Só há de entender quem conhece a fundo. As rochosas e as faces dos presidentes americanos, o coqueiro que dá coco de Ary Barroso, as passeatas de Luther King e o seu "I have a dream", poema belo de igualdade social que foi sacanamente transfigurado nesse texto para demonstrar o egoísmo americano de confundir igualdade social com supremacia e monopólio. As passeatas e banhos defronte ao obelisco do congresso americano, quem viu ? 1970... Marilyn Monroe "Happy birthday Mr. president", muito doida... rs rs... esse FOI nosso século. Um século em 5 minutos. Por mim, estou satisfeito. Não consigo fazer melhor, José do vale. A minha ironia só vai até aí. Espero que a galera mais nova, que não viveu 70% do que eu falei, nem ouviu Carmem Miranda com seu "south American way" possa entender em que se transformou o "south american way" e suas bananas. O tempo passou, e continuamos quintal de galinhas dos americanos.
Abraços fraternos,
Dihelson Mendonça
Eu gosto dessa express�o dram�tica e daria um pequeno mon�logo!
Salatiel, parece transmissão de pensamento, depois que eu li, pensei justamente em você fazendo esse monólogo e com o seu incrível senso de ironia, dar aquele ar que só você consegue fazer a esse texto, tipo aquele outro que fizemos com o "só deus é perfeito"...
Já imagino esse monólogo no teatro com a sua interpretação de fazer americanos se envergonharem e ressaltar nossa verdadeira pátria!
Abraços,
vamos programar,
Dihelson Mendonça
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