TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 29 de maio de 2008


O IMPOSTOR


O Impostômetro é um instrumento criado pela Associação Comercial de São Paulo para registrar a arrecadação de impostos em tempo real. Através desse registro dá para se ter uma idéia do absurdo da carga tributária que recai sobre o brasileiro. A previsão para o final do ano é de R$ 1 trilhão de reais. No último dia do ano passado o registro marcou a quantia de R$ 921 bilhões.


Isso é relevante em vários sentidos. Não quero aqui abordar as questões teóricas que envolvem a criação de impostos, a destinação do arrecadado e os custos da administração pública. Muito menos os mecanismos tecnocráticos que envolvem a tributação. Nem tão pouco teorizar sobre as funções políticas em uma sociedade. Quero aqui apenas admirar a singularidade desse tesouro.


Muitos buscam a pedra filosofal. Outros buscam a fonte da juventude. Alguns mais alucinados buscam os jardins de Alá, após detonarem quilos de explosivos e levarem consigo dezenas de pessoas. Conheço muitos que buscam um golpe do baú. Existem outros que desejam o eldorado. E muitos se perdem em desejos ínfimos e despovoados de quaisquer vestígios de moral, quando apenas sonham com um festival de forró cheio de putas baratas. Os desejos são realmente insondáveis, mas não de todo incompreensíveis.


O caminho sagrado dos desejos publicáveis e impublicáveis da maioria dos chamados políticos de carreira passa inevitavelmente pelo viés da arrecadação. Essa é a grande fonte. É a vaca profana da conduta pública. É através dela que fortunas são erguidas em um piscar de olhos.
Um trilhão de reais, secamente, é muita coisa para ser roubada. Claro que não vale a pena chegar e passar a mão grande. De acordo com a história da política brasileira é necessário um ritual todo especial. É preciso planejamento. São anos de convencimento coletivo. É pura arte. Além de qualquer estratégia é necessário gastar para poder roubar. Parece ridículo, mas é assim que funciona.


É fundamental que apareçam propósitos de investimentos; de custos administrativos; de juros de dívidas anteriores; emendas orçamentárias; votações emocionantes; intrigas épicas; traições infames; amantes canalhas; assessores cretinos; gentalha para ser assistida; é necessário que sejam sacrificados diariamente os heróis molambentos, para que a causa da abnegação pública apareça. É daí que surge o político profissional, derivado em poder e oposição. É dessa necessidade de legitimar o ilegítimo que nasce o imposto e o impostor das causas públicas.


Atrás de um imposto sempre tem um impostor maioral. É ele que assiste na televisão de trezentas polegadas, com o plasma feito pela secreção vaginal de trezentas virgens, a notícia de mais uma tragédia na fila de um hospital público, arrotando e peidando em sua poltrona de pele de nordestino, olhando de lado, confirmando a sua tese de que a saúde precisa de investimentos. Renasce então a CPMF e os ladrões sorriem satisfeitos por mais um dever cumprido. Dívidas e dividendos.


Marcos Leonel

4 comentários:

Lupeu Lacerda disse...

lobisomem
ferino e inteligente
sem onda: você devia ser lido em salas onde se reúnem deputados, senadores e ditos "homens públicos". puta que pariu. que texto do caralho man.

meus parabéns.
um puta abraço.

Marcos Vinícius Leonel disse...

Valeu cara
só estou me aproveitando um pouco do seu sarcasmo. Valeu mesmo, um elogio desses é muito massa.

Deu uma olhada no meu blog, cara. Tô sentindo sua falta lá.

Abraços

Domingos Barroso disse...

Vinicius, meu camarada,
teu olhar sagaz sarcástico desvenda.
E desvenda com um dom que me causa inveja. Segundo os puros, uma "santa inveja."
Um abraço, meu amigo.

Marcos Vinícius Leonel disse...

Valeu poeta,
você, como The Lupas, é fonte de inspiração para mim. A sua relação com o cotidiano é muito transcendente.

abraços