A inclusão da finitude dos meios naturais e a própria degradação ambiental (com maior probabilidade de não se regenerar ao valor de início) na pauta da atual civilização cria um paradoxo enorme. Acontece que toda ordem de progresso e desenvolvimento do capitalismo e da sociedade horizontal, individualista, consumista e com base urbana se baseia numa economia de uso intensivo dos recursos naturais. È possível uma racionalidade. Não é o que pensa o economista argentino Jorge Benstein. Em longo artigo, publicado no sito Carta Maior, agora resumido ele observa a crise no centro do mundo e o que esta poderá provocar até na Batateira, onde moram os seus filósofos do cotidiano.
A crise americana resulta de Uma degradação prolongada. Para tal destaca os fenômenos que modelaram o comportamento da sociedade norte-americana durante as últimas três décadas, gerando um processo mais amplo de decadência social. Entre estes fenômenos a mudança de comportamento de uma cultura produtiva para uma outra composta por uma combinação de consumismo e práticas financeiras. Em foco o discurso único que começou com o neoliberalismo na era Thatcher e Reagen com grande repercussão mundial, mas ao contrário do que se diz, são parte da degradação dos EUA.
A precarização laboral buscava diminuir a pressão salarial melhorando, assim, a rentabilidade capitalista e a competitividade internacional da indústria, mas a longo prazo degradou a coesão laboral e o interesse dos assalariados pelas estruturas de produção. Isso derivou em uma crescente ineficácia dos processos de inovação, que passaram a ser cada vez mais difíceis e caros em comparação com os principais competidores globais (europeus, japoneses, etc.). Um dos resultados disto foi o déficit crônico e ascendente do comércio exterior (2 bilhões de dólares em 1971 e 815 bilhões em 2007). A novidade, em termos do discurso dominante, é colocar na raiz de graves problemas econômicos o que seria o próprio sucesso do capital ao reter mais renda para a sua remuneração.
Agora surge uma outra inovação analítica. Sempre se achou que o acúmulo se encaixasse na própria matriz do capitalismo. Vejam o que diz Benstein sobre este aspecto: a massa de negócios financeiros foi-se expandindo e absorvendo capitais que não encontravam espaços favoráveis no tecido industrial e em outras atividades produtivas. As empresas e o Estado requeriam esses fundos, as primeiras para desenvolverem-se, concentrar-se, competir em um mundo cada vez mais duro, e o segundo para financiar seus gastos militares e civis, que cumpriam um papel na manutenção da demanda interna.
Isso é importante, pois durante anos exigiam que fizéssemos o "dever de casa" do Consenso de Washington mas não era o que ocorria no centro do império: as despesas descomunais motivadas pela chamada "Iniciativa de Defesa Estratégica" (mais conhecida como "Guerra das Estrelas"), lançada por Reagan em 1983, no momento em que o desemprego atingia 10% da População Economicamente Ativa (a porcentagem mais alta desde o fim da Segunda Guerra Mundial).
A concentração da renda também levou a contradições que explicam a crise: no início dos anos 1980 o 1% mais rico da população absorvia entre 7% e 8% da Renda Nacional. Vinte anos depois, esse número havia duplicado e em 2007 rondava 20%: o mais alto nível de concentração desde o final dos anos 1920. Por sua vez, o 10 % mas rico passou de absorver um terço da Renda Nacional, a meados dos anos 1950, para os quase 50% de hoje (4). Calma, esta é apenas a apresentação do problema, agora leiam no parágrafo que segue a contradição gerada. Contrariamente ao que ensina a “teoria econômica”, essa concentração não derivou em maiores poupanças e investimentos industriais, senão em mais consumo e mais negócios improdutivos, que com ajuda da explosão das tecnologias da informação e da comunicação geraram um universo semi-virtual acima do mundo, quase mágico, onde fantasia e realidade misturam-se caoticamente. Por ele navegaram (e ainda navegam) milhões de norte-americanos, especialmente das classes superiores.
Como economia não é a análise que se faz nos gabinetes climatizados e depois são vendidos por "especialistas" na rotina dos canais de televisão e da mídia dedicada. Como diz o velho Delfim Netto, nem ciência é, muito mais um conhecimento social, vejam que no mundo real, a contradição resulta em realidade. E a realidade implica em mudança social da quas surge a política. Eis que das contradições citadas surge a degradação social: irrompeu um processo...de desintegração social....o aumento da criminalidade e da subcultura da transgressão, abrangendo os mais variados setores da população, acompanhadas pela criminalização de pobres, marginais e minorias étnicas. Atualmente, as prisões norte-americanas são as mais populosas do planeta: no total, mais de 7.200.000 norte-americanos estavam sob custódia judicial. Em abril de 2008, os Estados Unidos, com menos de 5% da população mundial, têm 25% de todos os presos do planeta: um em cada cem de seus habitantes adultos estão presos.
Outro fenômeno, um Keynesianismo militar, não rendeu o eterno resultado esperado e pelo contrário há uma associação entre Militarização e decadência estatal pelo que o economista chama a longa marcha ascendente do Complexo Industrial Militar, área de convergência entre o Estado, a indústria e a ciência que foi se expandindo a partir de meados dos anos 1930, atravessando governos democratas e republicanos, guerras reais ou imaginárias, períodos de calma global ou de alta tensão. ...O gasto bélico real do ano fiscal 2008 vai superar 1,1 trilhões de dólares, o mais alto desde a Segunda Guerra Mundial (7).... Em resumo, nos Estados Unidos em torno de 30 milhões de pessoas (número equivalente a 20% da População Economicamente Ativa) recebem de maneira direta e indireta recursos provenientes do gasto público militar (8).
Até aí vem o lado virtuoso do Keynesianismo militar naquilo que se chamou o efeito multiplicador do setor sobre o conjunto da economia possibilitou no passado a prosperidade de um esquema que Scott MacDonald qualifica como "the guns and butter economy", ou seja, uma estrutura em que o consumo de massas e a indústria bélica expandiam-se ao mesmo tempo). Agora vem a face negra do próprio Keynesianismo, quando a magnitude alcançada pelos gastos bélicos transformou-os em um fator decisivo do déficit fiscal, causando inflação e desvalorização internacional do dólar. Além disso, sua hipertrofia deu um enorme peso político às elites estatais (civis e militares) e empresariais, que foram embarcando em um autismo sem contrapesos sociais.
Agora um fato que derruba muita certeza que se tinha entre a perfeita aliança entre tecnologia militar e sua aplicação ao mundo civil. O que aconteceu é que a crescente sofisticação tecnológica, paralelamente ao encarecimento dos sistemas de armas, afastou cada vez mais a ciência militarizada das suas eventuais aplicações civis, afetando negativamente a competitividade industrial. O que provocou a hipertrofia militar: recuo da capacidade integradora do Estado (declínio da segurança social, predominância da cultura elitista em seus centros de decisão, etc.), pela degradação da infra-estrutura e por um déficit fiscal crônico e em aumento, que derivou em uma dívida pública gigantesca.
Estamos agora diante de um estado imperial cheio de dívidas, cujo funcionamento não mais depende apenas do sistema financeiro nacional, mas também (cada vez mais) do financiamento internacional. Teria sido extremamente difícil para a Casa Branca lançar-se em sua aventura militar asiática sem as compras dos seus títulos pela China, Japão, Alemanha e outras fontes externas.
A terceira questão do afundamento do centro é a dependência energética. Lembram-se da nação previdente, que esgotava o petróleo do terceiro mundo e escondia em poços vazios em seu território? Aquilo era ficção, a dependência americana ao petróleo é fatal. Por volta de 1960, os Estados Unidos importavam 16% do seu consumo; atualmente, a importação chega a 65%. Durante muito tempo puderam importar a preços baixos, mas agora a situação mudou, a produção mundial de petróleo está se aproximando de seu nível máximo (dentro de muito pouco tempo vai começar a cair) o que, combinado com o enfraquecimento do dólar, esta levando o preço a níveis nunca antes alcançados.
Os EUA emergiram com país industrial pela precedência na exploração do petróleo. Suas reservas se esgotaram e hoje são dependentes do comércio mundial cujas fontes se encontram em território estrangeiro. E o mais importante, não só foram imprevidentes em consumo como tiveram mais de quarenta anos para reconverter sua matriz energética e não o fizeram. E neste aspecto cai outro mito do império aquele em que ele tinha uma inteligência estratégica acima de tudo e de todos: à pressão das companhias petroleiras que impuseram a opção da exploração intensiva de recursos externos, periféricos, que foram sobrestimados. A dinâmica imperialista forjou uma armadilha energética da qual agora o próprio Império é vítima.
Outra inovação na análise. O economista traz à tona os limites do sistema tecnológico ocidental-moderno, que os norte-americanos exacerbaram ao extremo. A mesma coisa ocorreu em torno de objetos técnicos decisivos da cultura individualista (por exemplo, o automóvel) que definem o estilo de vida dominante e com os procedimentos produtivos baseados na exploração intensiva de recursos naturais não renováveis ou na destruição dos ciclos de reprodução dos recursos renováveis. E justamente nesta crença maluca encontra-se o paradoxo: se tratava do desdobramento de uma de suas irracionalidades fundamentais, que os Estados Unidos, o capitalismo mais bem-sucedido da história, levou ao mais alto nível jamais alcançado. Aí se referindo ao uso intensivo dos recursos naturais, especialmente os não renováveis.
Em termos macroeconômicos os EUA passaram a uma linha composta por Desequilíbrios, dívidas, queda do dólar. Aquela fase de aparente sucesso do capitalismo americano, a partir da era Reagan, em que havia a perda do seu dinamismo produtivo foi compensada pela expansão do consumo privado (concentrado nas classes altas), pelos gastos militares e pela proliferação de atividades parasitárias lideradas pelo sistema financeiro, provocando crescentes desequilíbrios fiscais e no comércio exterior e uma acumulação incessante de dívidas públicas e privadas, internas e externas. O processo foi coroado por uma sucessão de bolhas especulativas que marcaram, a partir dos anos 1990, um sistema que consumia muito além das suas possibilidades produtivas. Em valores positivos ao que corresponde a frase além das suas possibilidades produtivas? Correspondem aos déficits comercial, fiscal e energético, os gastos militares, o número de presos e as dívidas públicas e privadas. Todas essas curvas ascendentes aparecem atravessadas por algumas tendências descendentes; por exemplo, a redução da taxa de poupança pessoal e a queda do valor internacional do dólar (que se acelerou nesta década), expressão do declínio da supremacia imperial. Esta linha de declínio de longo prazo ao que corresponde o atual governo de Bush? A uma espécie de “salto qualitativo” de um processo com várias décadas de desenvolvimento e não como um fato-excepcional ou um desvio-negativo. Estaríamos diante da fase mais recente da degradação do capitalismo estatista-keynesiano, iniciada nos anos 1970, pontapé inicial da crise geral do sistema. A experiência histórica ensina que essas arrancadas rumo ao inferno quase sempre estréiam no meio de euforias triunfalistas, nas quais por trás de cada sinal de vitória está oculta uma constatação de desastre. A louca corrida militar sobre Europa e Ásia... no centro do discurso sobre o suposto combate vitorioso contra um inimigo (terrorista) global imaginário, afundou no pântano as forças armadas imperiais, as expansões desenfreadas da bolha imobiliária e as dívidas que estavam ocultas pelos números de aumento do Produto Interno Bruto além da sensação (midiática) de prosperidade.
Agora vem a cinta global que a linha de decadência americana provocara como o centro do mundo. O seu declínio é o próprio colapso do espaço essencial da interpenetração produtiva, comercial e financeira em escala planetária, que foi acelerando nas três últimas décadas até formar uma trama muito densa, da qual nenhuma economia capitalista desenvolvida ou subdesenvolvida pode escapar (sair dessa densa rede significa romper com a lógica, com o funcionamento concreto do capitalismo composto por classes dominantes locais altamente transnacionalizadas).
Benstein levanta que as expansões econômicas na Europa, China, países subdesenvolvidos, Tigres Asiáticos e Japão, que representavam no imaginário mundial a expressão de capitalismos maduros e a ascensão de jovens capitalismos periféricos, na verdade, tratou-se de prosperidades estreitamente relacionadas com a expansão consumista-financeira norte-americana. Tal dependência é a própria negativa da exuberância descentralizada e como solução global que se pretendia para o capitalismo. Vejamos os números: Estados Unidos representam 25% do Produto Bruto Mundial ...é o primeiro importador global (comprou bens e serviços por 2,3 trilhões de dólares), o principal cliente da China, Índia, Japão e Inglaterra, e é o primeiro mercado extra-europeu da Alemanha. A rede dos negócios com produtos financeiros derivados (mais de 600 trilhões de dólares registrados pelo Banco da Basiléia, ou seja, umas 12 vezes o Produto Bruto Mundial) articula-se a partir da estrutura financeira norte-americana, as grandes bolhas especulativas imperiais irradiam para o resto do mundo de maneira direta ou gerando bolhas paralelas,... a especulação imobiliária nos Estados Unidos e seus clones diretos na Espanha, Inglaterra, Irlanda ou Austrália e indiretos, como a superbolha chinesa.
Ele observou que as esferas de negócios superam sempre os limites dos respectivos mercados nacionais e, inclusive, regionais, cuja dimensão real é insuficiente do ponto de vista do volume e da articulação internacional das suas atividades. Demonstra que o crescimento mundial esteve direta ou indiretamente atrelado aos EUA, no primeiro caso para os Europeus e Japoneses e no segundo para os Chineses. Até o renascimento russo gira em torno de suas exportações energéticas (principalmente dirigidas para a Europa), sua elite econômica foi estruturando-se desde o fim da URSS multiplicando suas operações em escala transnacional, especialmente seus vínculos financeiros com a Europa Ocidental e os Estados Unidos. Não se trata de simples laços diretos com o Império, mas da reprodução ampliada e acelerada de uma complexa rede global de negócios, mercados interdependentes, associações financeiras, inovações tecnológicas, etc., que integra o conjunto das burguesias dominantes do planeta.
Neste sentido o economista conclui com a vocação desde sempre da burguesia em que o mundo financeiro hipertrofiado é seu espaço de circulação natural e seu motor geográfico são os Estados Unidos, cuja decadência não pode ser dissociada do fenômeno mais amplo da chamada globalização, ou seja, a financeirização da economia mundial. Os EUA são o sujeito central do processo, seu grande beneficiário e manipulador e, ao mesmo tempo, como seu objeto, produto de uma corrente que o levou até o mais alto nível de riqueza e degradação. Esta fórmula do atual estágio levou a alguns desvios como o EUA consumindo em excesso, pagando ao resto do mundo com seus dólares desvalorizados e impondo seu entesouramento (na forma de reservas) e seus títulos públicos, que financiaram seus déficits fiscais. Tal desvio só não provocou uma guerra mundial porque foi graças ao parasitismo norte-americano que europeus, chineses, japoneses, etc., colocaram no mercado imperial suas exportações de mercadorias e excedentes de capitais.
Nesse sentido, o parasitismo financeiro, produto da crise de sobreprodução crônica, é, ao mesmo tempo, norte-americano e universal; a outra cara do consumismo imperial é a reprodução de capitalismos centrais e periféricos que precisam ultrapassar seus mercados locais para fazer crescer seus benefícios. Isso é evidente nos casos da Europa Ocidental e do Japão, mas também no da China, que exporta graças aos seus baixos salários (comprimindo seu mercado interno). O que está afundando agora não é a nave principal da frota (se assim fosse, numerosas embarcações poderiam salvar-se); há somente uma nave e é seu setor decisivo que está fazendo água.
Quando explode na mídia fragmentos de uma realidade maior, como estas questões fundiárias, indígenas, madeireira, agropastoril, mineral e vis-à-vis a proteção ambiental, sabemos que estamos gerando o noticiário dos Horizontes turbulentos e ilusões conservadoras no dizer de Benstein. Como ele diz: nos últimos meses, proliferaram ilusões conservadoras referentes ao possível descolamento de várias economias industriais e subdesenvolvidas da recessão imperial, mas os fatos vão derrubando essas esperanças. Junto com elas apareceu a fantasia do renascimento do intervencionismo keynesiano: segundo essa hipótese, o neoliberalismo (entendido como simples desestatização da economia) seria um fenômeno reversível e novamente, como há um século, o Estado salvaria o capitalismo.
Na verdade, nas últimas quatro décadas ocorreu nos países centrais um fenômeno duplo: por um lado, a degradação geral dos Estados que, mantendo seu tamanho com relação a cada economia nacional, ficaram submetidos aos grupos financeiros, perderam legitimidade social. Por outro lado, foram progressivamente ultrapassados pelo sistema econômico mundial, não só pela sua rede financeira, mas também por operações industriais e comerciais que burlavam os controles (cada vez mais frouxos) das instituições nacionais e regionais. Nos Estados Unidos, nunca foi abandonado o histórico keynesianismo militar: pelo contrário, o Complexo Militar-Industrial hipertrofiou-se, articulando-se com um conjunto de negócios mafiosos, financeiros, energéticos, etc., que se transformou no centro dominante do sistema de poder, apropriando-se grosseiramente do aparato estatal até transformá-lo em uma estrutura decadente.
Nos países centrais, o estado intervencionista (de raiz keynesiana) não precisa retornar, porque nunca foi embora. Modificou suas estratégias, reforçando a concentração de renda e os desenvolvimentos parasitários, modificando sua ideologia, seu discurso (ontem integrador, social, produtivista-industrial; hoje elitista, neoliberal e virtualista-financeiro). E no mundo subdesenvolvido, onde o estatismo regrediu até ser triturado, em muitos casos, pela onda depredadora imperialista, a desestatização foi sua forma concreta de submissão à dinâmica do capitalismo global. Lá, o retorno ao Estado interventor-desenvolvimentista de outras épocas é uma viajem no tempo fisicamente impossível: as burguesias dominantes locais, seus negócios decisivos, estão completamente transnacionalizados ou sob a tutela direta de empresas transnacionais.
Em plena crise, ficam a descoberto os dois problemas sem solução aos olhos do Estado desenvolvido (imperialista): sua degeneração estrutural e sua insuficiência, sua impotência perante um mundo capitalista grande e complexo demais. Nesta linha é que o economista aponta que não se trata e um fenômeno positivo do capitalismo internacional na tentativa de superar o centro, mas de uma decadência global (econômica-institucional-política-militar-tecnológica).
Por isso, sem dizer claramente como costumava a literatura marxista antes da queda da URSS, é que o economista afirma que a crise é verdadeiramente do capitalismo e da própria burguesia mundial. O paralelo entre a implosão soviética e a provável futura implosão dos Estados Unidos é totalmente insuficiente, porque existe, entre outras coisas, uma diferença de magnitude decisiva, o hiper-gigantismo do Império faz com que seu naufrágio tenha um poder de arrastamento sem precedentes na história humana. Mas também porque os Estados Unidos não constituem “um mundo à parte” (marginalizado), mas são o centro da cultura universal (o capitalismo), a etapa mais recente de uma longa história mundial ao redor do Ocidente.
A imensidão do desastre em curso, o extremo radicalismo das rupturas que pode vir a gerar, muito superiores às causadas pela crise iniciada em 1914 (que provocou o nascimento de um longo ciclo de tentativas de superação do capitalismo e, também, do fascismo, tentativa de recomposição bárbara do sistema burguês) gera reações espontâneas de negação da realidade nas elites dominantes, nos espaços sociais conservadores e para além deles. Mas a realidade da crise está se impondo. Todo o edifício de idéias, de certezas de diversos matizes, construído ao longo de mais de dois séculos de capitalismo industrial, está começando a apresentar rachaduras.
Um comentário:
Zé,
O que é perceptível é que marchamos para um abismo ou lugar nenhum. O homem moderno precisa fazer uma reflexão e definir com mais clareza a sua querência nesse mundo que agoniza por ações irresponsáveis diante da vida.
Lembrei-me do poema do Geraldo Urano que musiquei e contem os versos: "Uma coisa é sonhar um dia viajar num boeing/ Outra coisa é pensa no que vai pelo coração das baleias?"
Precisamos re-definir os nossos hábitos e comportamentos e dizer que é mais importante perenizar aas águas do Rio Batateira do que as águas azulejadas das piscinas das mansões do Parque Grangeiro!
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