O Carlos Rafael estimulou-me a escrever pela liberdade de Ingrid Betancourt, prisioneira das "Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - FARC". Na verdade o Carlos já expressara seu grande sentimento num poema que sangra em revolta e chora pelo imponderável da condição humana tendo no frontispício a própria foto da Ingrid, esquálida, solitária, abandonada e afastada na floresta. Ingrid Betancourt foi seqüestrada juntamente com sua coordenadora de campanha no dia 23 de fevereiro de 2002, a 740 Km a sudeste de Bogotá. Era candidata a presidente da república, a sociedade colombiana lhe deu apenas 0,5% dos votos nas eleições de 27 de maio, três meses após o seu seqüestro. O vitorioso foi Álvaro Uribe que ficou à frente de uma política rigorosa contra a guerrilha e o tráfico de drogas plantadas, processadas e exportadas a partir das terras daquele país há muitos anos.
Hoje Ingrid Betancourt foi abandonada ainda mais no elástico das tensões mundiais. E pensamos nós que a guerra fria era apenas entre duas visões de mundo, mas agora se vê que a matriz é o comércio mundial. E no caso, dois grandes comércios: drogas e petróleo. E o mais importante, no vértice destas tensões sem dúvida a política externa da era Bush. Como sabemos em política tanto acontece o que se pretende como o inverso da pretensão. E não há como negar que Álvaro Uribe e Hugo Chávez são políticos desta era.
Melhor dizendo, na Colômbia e na Venezuela já existiam condições suficientes internas para que estas duas lideranças surgissem, mas não na expressão continental que hoje têm. Isso se deve à política externa americana dos últimos dez anos, pois aí se inclui um pouco de Clinton no que toca a Colômbia. E para não ser omisso, tem o presidente francês Sarkozy fazendo injunções externas, quando as condições internas não lhes são favoráveis, em torno desta solitária e abandonada cidadã binacional: tanto colombiana quanto francesa.
Ingrid Betancourt é uma vítima direta de uma guerrilha que perdeu o caminho da revolução social e política há muito tempo. O problema é que esta guerrilha que tanto dura, parece ter se tornado, por um viés da história, uma necessidade da Colômbia, ou de suas elites. Nos anos 90 uma tentativa de apaziguamento destes guerrilheiros, terminou com o assassinato brutal de suas lideranças durante o processo de negociação e quando estavam sob proteção política do Estado. Mais ainda a oposição de direita ao movimento guerrilheiro, também criou, cevou e ainda mantém igual prática com os mesmo vícios e alguns até piores.
Hoje mesmo as manchetes alardeiam o papel de Hugo Chávez da Venezuela e Rafael Correa no financiamento das FARCs, em razão de leituras em computadores apreendidos num bombardeio de bases da guerrilha nas selvas equatorianas. Bombardeio vindo do exército colombiano e que gerou um incidente. Mais ainda, fechou de vez as portas para a negociação banal que envolvia a liberdade de Ingrid.
Acontece que não há como negar que tanto as políticas colombianas, quanto a americana abandonaram Ingrid. Ela era apenas uma peça do embate que envolve a dupla Bush/Uribe contra a dupla Chávez/Correa. Não é a toa que se os computadores foram encontrados nas selvas equatorianas que comandos estrangeiros invadiram seu território, que os computadores, por incrível milagre foram achados inteiros no centro de uma área bombardeada e que partiu do governo colombiano e do governo americano a denúncia contra Chávez e Correa.
Nestes últimos quinze dias, nos últimos semestres do governo Bush, foi anunciada a reativação da força marítima de intervenção americana para o Caribe e América do Sul. No encontro entre lideranças Européias e Sul Americanas emergiu a denúncia contra Chávez e Correa e estes entraram na contra denúncia com igual veneno. Fica cada vez mais claro que o comércio de Petróleo e, por junção, o de drogas, continua incendiando a política mundial.
Pouca ideologia há neste novo patamar. Agora esquerda e direita têm importância relativa como centro de idéias, apenas vogam os interesses estratégicos dos grandes atores, privados e públicos, desta troca assimétrica de produtos entre os povos. O futuro mediato e o imediato em matéria de tensões mundiais não parece promissor.
Por isso mesmo é que a campanha do Carlos Rafael tem sentido, pois ela evoca quem afinal se encontra no centro de toda esta dissimulação: o ser humano e suas condições. Como Ingrid Betancourt, esquálida, sem esperanças, abandonada, quase que só lembrada, na semana que passou, pelo Carlos Rafael.
Um comentário:
UMA BOA NOTÍCIA NO INÍCIO DESTA 2ª FEIRA E DESTA SEMANA:
Comandante das Farc se entrega na Colômbia
Nelly Ávila Moreno, conhecida como Karina ou La Negra, uma das guerrilheiras mais ativas e que comandava a frente 47 das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), se entregou hoje a tropas militares no departamento colombiano de Antioquia, informaram fontes oficiais.
A guerrilheira se apresentou a tropas da 4ª brigada do Exército colombiano, no lugar conhecido como Jordania, de acordo com o ministro de Defesa colombiano, Juan Manuel Santos.
Ela era considerada uma das rebeldes mais violentas e é acusada de planejar vários seqüestros e ataques na região cafeeira do norte do departamento de Caldas e do sul de Antioquia. As autoridades colombianas ofereciam uma recompensa de mais de US$ 400 mil por sua captura.
Segundo a página eletrônica do jornal El Tiempo, de Bogotá, Karina assassinou Alberto Uribe Sierra, pai do presidente colombiano, que foi seqüestrado pelas Farc em 1983.
O ministro de Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, disse que a guerrilheira "estava praticamente morrendo de fome" e assegurou à Rádio Cadena Nacional.
"Estávamos há muito tempo atrás desta mulher que tanto dano fez a Antioquia e a toda a região do Urabá".
O ministro insistiu em que agora a rebelde "está bem guardada" e esclareceu que os serviços de inteligência do Estado sempre sabiam onde ela estava, embora tenha conseguido escapar em várias operações.
Karina é acusada de comandar a frente 47 das Farc e de numerosos ataques contra membros do Exército e da Polícia da Colômbia. Entre os mais sangrentos está o perpetrado no departamento (Estado) de Chocó, em dezembro de 2005, onde, junto com homens do Exército de Libertação Nacional (ELN) e do Exército Revolucionário Guevarista, matou 8 policiais e seqüestrou 30.
Sobre ela pesam seis ordens de captura, quatro em Bogotá, uma em Medellín e outra em Cali, por homicídio, terrorismo, rebelião, seqüestro extorsivo e dano a bem alheio.
Em junho de 2002 dirigiu uma incursão em Arboleda-Pensilvania, no centro da Colômbia, onde foram mortos 13 policiais e quatro civis, entre eles uma mulher, que foi queimada por ser esposa de um dos militares.
EFE
Agência EFE - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da Agência EFE S/A.
Postar um comentário