Viver não é meramente sentir o coração bater, fazer o pulmão pulsar-respirar ou ainda metabolizar uma quantidade de substâncias e transformá-las quimicamente. A vida é um todo complexo, integrado, indivisível, interdependente e inter-influenciativo. A maneira como percebemos a nós e o mundo impacta na maneira como definimos nossos valores-guias e limites de compreensão do cosmo-Todo (Physis). Quanto mais limitada for a nossa compreensão a respeito da nossa própria existência mais limitada será a nossa capacidade de nos libertarmos dos velhos paradigmas - modelos ultrapassados de representação da realidade! A atual agonia humana é sintoma da incapacidade do homem se libertar dos velhos paradigmas e dos modernos e insuficientes valores fundantes. O homem moderno construiu uma camisa-de-força racional e assim luta desesperadamente para se libertar dela. Esse homem ao mesmo tempo que deseja se libertar procura de todas as formas se envolver e se amarrar à própria camisa-de-força racional que cria continuamente. É nesse paradoxo que vive e trabalha o homem moderno. Ele não percebe a contradição existencial em que se envolveu: criar e se libertar do que criou em si.
“A forma que o artista humano engendra existe no seu espírito. Quando talha a pedra, não realiza a própria forma, mas um sistema de sinais pelos quais a procura evocar num outro espírito” (Romano GUARDINI, O Mundo e a Pessoa, p. 35-36).
Os modelos e valores fundantes racionais e utilitaristas são a essência e a praxe social do modo de agir e ver do homem moderno. De um lado a ciência se esforça em mudar os modelos, e do outro o homem prático e utilitarista procura manter o stato quo dos valores em sua conquista material e econômica. São duas poderosas forças de poder e criar. O poder de mudança do novo paradigma e o poder de conquista da criação de valor pragmático e utilitário. A contradição surge entre avançar e experimentar uma nova concepção de realidade e existência, e permanecer experimentando uma velha e cômoda concepção de mundo. Avançar implica em mudar na raiz: a essência e o fundamento da sensibilidade e inteligência do ser humano. Permanecer, por sua vez, implica em colorir a aparência mudando-se na superfície da realidade da vida material.
Nesse contexto, a aparência é o lugar e habitat do homem moderno. A essência é o seu ideal profundo e utópico. Assim, quem vive na superfície da aparência não pode viver nas profundezas da essência, ao mesmo tempo. A Física Quântica, afirma que um ente ou ser pode viver em dois momentos complementares, e que um deles somente é definido quando se opta em observar uma dessas realidades. A realidade, nesse contexto, depende da observação e da intenção do observador. Em outras palavras, a realidade é tanto uma determinada relação visão-valor quanto as diversas possibilidades de observação e experimentação. Ela pode ser e não ser com o mesmo grau de valor e verdade. Essa reflexão nos permite agora voltarmos com mais fundamento ao assunto anterior. Assim, se admitirmos por hipótese que uma grande parcela da população mundial possa decidir e optar em olhar numa dada direção ou contexto - todos ao mesmo tempo! - a realidade será conforme esse “olhar” dominante coletivo. O que podemos deduzir desse processo descoberto pela Física Quântica é que estando a sensibilidade humana condicionada pelos antigos paradigmas de concepção utilitarista e atomista da realidade, o que veremos enquanto ser social não pode ser outra coisa senão uma realidade superficial com contornos e fundamentos direcionados por esse “olhar” e valoração. Ou seja, vemos o que “queremos” (desejamos) ver pelo foco da relação paradigma-valor antigo dominante.
Nesse sentido, estando a sensibilidade coletiva firmemente orientada por uma ordem do mercado super-poderoso e para uma construção utilitária e contratual da vida, a visão ou olhar fundante dessa ideologia se torna dominante como uma espécie de pulsão “escolhido” como praxe norteadora socio-política. Nesse sentido, o homem diferentemente do peixe, que “morre pela boca”, sucumbe na relação entre si, nas ações do “olhar” e experienciar-valorar. A extensão do olhar-valorar é o poder externalizado do que foi sutilmente internalizado na base da sensibilidade humana: quanto maior for o acúmulo da riqueza monetária, maior será a pobreza da consciência ética greco-cristã, e vice-versa. Einstein apontou, com maestria, a luz como elemento e fundamento imprescindível para a mudança de paradigma entre os mundos macro físico (de baixa velocidade) e micro físico (de alta velocidade). Existe, portanto, uma inter-relação significativa entre vida, consciência e luz. De modo que quando o homem experimentar coletivamente a inter-relação entre esses aspectos (luz, vida e consciência) dará um passo gigantesco num salto quântico ontológico da consciência para a consciência de si, ou seja, da razão individual para a intuição pessoal; da aparência em direção à essência humana; da escuridão em direção à luz invisível (supra-física). Ele renascerá e ganhará uma cosmovisão ética. Surgirá, portanto, uma nova humanidade verdadeiramente ecológica, holística e supra-humana. O kosmo, o Ethos e o Logos formarão uma unidade e totalidade simultaneamente:
“Um elo liga e religa tudo, constituindo a sagrada unidade do universo. Esse elo secreto é a Fonte originária de todo o ser. É aquilo que todas as religiões chamam de Deus, mistério de ternura e de vida, cujo nome não se encontra em nenhum dicionário, só no coração humano”. (BOFF, Leonardo. Modo de Viver. JB. Caderno Opinião, 14/12/2001, p. 11)
A educação é um processo que envolve toda a estrutura ontológica na construção de sentido e significado da vida luminosa humana. E quando a educação não se apoia nessa estrutura perde a base, a essência e a dimensão de seu propósito, ou seja, de elevar a natureza humana a um patamar superior de compreensão de quem ele é integralmente e porque existe nesse reino humano. O homem então perde a referência do caminho e poder que está seguindo e exercendo em si e nos demais. O caminho da vida está intrinsecamente associado ao caminho da educação e da cultura. Os passos que damos na vida depende dos passos que realizamos na educação e na cultura. Se os passos na educação e na cultura são incertos, falsos, incompletos ou desprovidos de sabedoria, com certeza absoluta os passos da vida serão inexoravelmente de desgraça e de poder-dor humana em escala crescente. O acaso não existe. Creio que, os grandes mestres não foram ouvidos. Eles foram mal interpretados ou ignorados. O próprio Jesus além de ignorado - por muitos! - foi também crucificado. O problema do caminho da vida e da educação não é de agora – dos tempos modernos - pois ele remonta de uma era muita antiga. É um problema que vem desde o início da criação. Nesse sentido, a educação tem a mesma raiz existencial da criação da vida humana. Todo o problema do homem encontra-se no interior (existência) e poder dele e nele mesmo. Nesse contexto, a educação intelectual é parte de uma educação integral, e por isso é, por si só, incompleta e insuficiente. O que se “monta” ou se estrutura, dentro de si, interfere no mundo construído exteriormente. Assim, não são as instituições que determinam a condição humana, mas a disciplina de educação e visão do homem que estruturam e dão sentido às instituições, sejam elas quais forem. Por isso, sabiamente K. Marx afirmou: “Não é a religião que faz o homem, mas o homem quem faz a religião. A religião é a consciência de si que o homem perdeu ou não adquiriu ainda...A falta [e o sentido correto] da verdadeira religião é o ópio do povo”. Um outro filósofo (Fichte) chegou afirmar: “A filosofia é função do ser”. Assim, pode-se afirmar também que não é a ciência que faz o homem, mas o homem quem cria com o poder da vontade, fé e sensibilidade as condições para a construção de qualquer caminho de ciência entre dois pólos-poderes: o do Homem e o da Natureza.
A educação acompanhou o homem desde que ele deu o primeiro suspiro (existencial e social) na face da Terra. Ao sair do útero humano que o abrigava, ele se deparou com o seu primeiro problema: como vou sobreviver a partir de agora? E da mesma forma, quando o homem sai do “útero” (espaço Ético) do Espírito, ele também se questiona: como vou sobreviver nesse meu novo modo de ser e ver? Tanto num contexto quanto no outro, a educação é uma aquisição de poder importante para guiar a alma humana no novo processo de aprendizagem de vida, onde ele precisa discernir e responder sobre o seu fim em si mesmo (ou seja, o poder de Realização e “Morte” no Amor Matriz ou Espiritual). Só resta ao homem aprender durante a travessia entre o Ethos (Ética como caráter) e a Philo (como Amor Matriz ou Espiritual). Não existe saída! A “saída” é uma travessia do ser em si mesmo num processo de criação e experimentação do que se cria. Não existe outra alternativa, pois o aprendizado é um processo-poder natural, pessoal e intransferível. Temos que aprender a viver e nesse percurso de criação e aprendizado compreender finalmente o sentido da vida integral que está latente: o Amor Puro Criador.
Prof. Bernardo Melgaço da Silva – Tel. (88) 9201-9234 – E-mail : bernardomelgaco@hotmail.com
“A forma que o artista humano engendra existe no seu espírito. Quando talha a pedra, não realiza a própria forma, mas um sistema de sinais pelos quais a procura evocar num outro espírito” (Romano GUARDINI, O Mundo e a Pessoa, p. 35-36).
Os modelos e valores fundantes racionais e utilitaristas são a essência e a praxe social do modo de agir e ver do homem moderno. De um lado a ciência se esforça em mudar os modelos, e do outro o homem prático e utilitarista procura manter o stato quo dos valores em sua conquista material e econômica. São duas poderosas forças de poder e criar. O poder de mudança do novo paradigma e o poder de conquista da criação de valor pragmático e utilitário. A contradição surge entre avançar e experimentar uma nova concepção de realidade e existência, e permanecer experimentando uma velha e cômoda concepção de mundo. Avançar implica em mudar na raiz: a essência e o fundamento da sensibilidade e inteligência do ser humano. Permanecer, por sua vez, implica em colorir a aparência mudando-se na superfície da realidade da vida material.
Nesse contexto, a aparência é o lugar e habitat do homem moderno. A essência é o seu ideal profundo e utópico. Assim, quem vive na superfície da aparência não pode viver nas profundezas da essência, ao mesmo tempo. A Física Quântica, afirma que um ente ou ser pode viver em dois momentos complementares, e que um deles somente é definido quando se opta em observar uma dessas realidades. A realidade, nesse contexto, depende da observação e da intenção do observador. Em outras palavras, a realidade é tanto uma determinada relação visão-valor quanto as diversas possibilidades de observação e experimentação. Ela pode ser e não ser com o mesmo grau de valor e verdade. Essa reflexão nos permite agora voltarmos com mais fundamento ao assunto anterior. Assim, se admitirmos por hipótese que uma grande parcela da população mundial possa decidir e optar em olhar numa dada direção ou contexto - todos ao mesmo tempo! - a realidade será conforme esse “olhar” dominante coletivo. O que podemos deduzir desse processo descoberto pela Física Quântica é que estando a sensibilidade humana condicionada pelos antigos paradigmas de concepção utilitarista e atomista da realidade, o que veremos enquanto ser social não pode ser outra coisa senão uma realidade superficial com contornos e fundamentos direcionados por esse “olhar” e valoração. Ou seja, vemos o que “queremos” (desejamos) ver pelo foco da relação paradigma-valor antigo dominante.
Nesse sentido, estando a sensibilidade coletiva firmemente orientada por uma ordem do mercado super-poderoso e para uma construção utilitária e contratual da vida, a visão ou olhar fundante dessa ideologia se torna dominante como uma espécie de pulsão “escolhido” como praxe norteadora socio-política. Nesse sentido, o homem diferentemente do peixe, que “morre pela boca”, sucumbe na relação entre si, nas ações do “olhar” e experienciar-valorar. A extensão do olhar-valorar é o poder externalizado do que foi sutilmente internalizado na base da sensibilidade humana: quanto maior for o acúmulo da riqueza monetária, maior será a pobreza da consciência ética greco-cristã, e vice-versa. Einstein apontou, com maestria, a luz como elemento e fundamento imprescindível para a mudança de paradigma entre os mundos macro físico (de baixa velocidade) e micro físico (de alta velocidade). Existe, portanto, uma inter-relação significativa entre vida, consciência e luz. De modo que quando o homem experimentar coletivamente a inter-relação entre esses aspectos (luz, vida e consciência) dará um passo gigantesco num salto quântico ontológico da consciência para a consciência de si, ou seja, da razão individual para a intuição pessoal; da aparência em direção à essência humana; da escuridão em direção à luz invisível (supra-física). Ele renascerá e ganhará uma cosmovisão ética. Surgirá, portanto, uma nova humanidade verdadeiramente ecológica, holística e supra-humana. O kosmo, o Ethos e o Logos formarão uma unidade e totalidade simultaneamente:
“Um elo liga e religa tudo, constituindo a sagrada unidade do universo. Esse elo secreto é a Fonte originária de todo o ser. É aquilo que todas as religiões chamam de Deus, mistério de ternura e de vida, cujo nome não se encontra em nenhum dicionário, só no coração humano”. (BOFF, Leonardo. Modo de Viver. JB. Caderno Opinião, 14/12/2001, p. 11)
A educação é um processo que envolve toda a estrutura ontológica na construção de sentido e significado da vida luminosa humana. E quando a educação não se apoia nessa estrutura perde a base, a essência e a dimensão de seu propósito, ou seja, de elevar a natureza humana a um patamar superior de compreensão de quem ele é integralmente e porque existe nesse reino humano. O homem então perde a referência do caminho e poder que está seguindo e exercendo em si e nos demais. O caminho da vida está intrinsecamente associado ao caminho da educação e da cultura. Os passos que damos na vida depende dos passos que realizamos na educação e na cultura. Se os passos na educação e na cultura são incertos, falsos, incompletos ou desprovidos de sabedoria, com certeza absoluta os passos da vida serão inexoravelmente de desgraça e de poder-dor humana em escala crescente. O acaso não existe. Creio que, os grandes mestres não foram ouvidos. Eles foram mal interpretados ou ignorados. O próprio Jesus além de ignorado - por muitos! - foi também crucificado. O problema do caminho da vida e da educação não é de agora – dos tempos modernos - pois ele remonta de uma era muita antiga. É um problema que vem desde o início da criação. Nesse sentido, a educação tem a mesma raiz existencial da criação da vida humana. Todo o problema do homem encontra-se no interior (existência) e poder dele e nele mesmo. Nesse contexto, a educação intelectual é parte de uma educação integral, e por isso é, por si só, incompleta e insuficiente. O que se “monta” ou se estrutura, dentro de si, interfere no mundo construído exteriormente. Assim, não são as instituições que determinam a condição humana, mas a disciplina de educação e visão do homem que estruturam e dão sentido às instituições, sejam elas quais forem. Por isso, sabiamente K. Marx afirmou: “Não é a religião que faz o homem, mas o homem quem faz a religião. A religião é a consciência de si que o homem perdeu ou não adquiriu ainda...A falta [e o sentido correto] da verdadeira religião é o ópio do povo”. Um outro filósofo (Fichte) chegou afirmar: “A filosofia é função do ser”. Assim, pode-se afirmar também que não é a ciência que faz o homem, mas o homem quem cria com o poder da vontade, fé e sensibilidade as condições para a construção de qualquer caminho de ciência entre dois pólos-poderes: o do Homem e o da Natureza.
A educação acompanhou o homem desde que ele deu o primeiro suspiro (existencial e social) na face da Terra. Ao sair do útero humano que o abrigava, ele se deparou com o seu primeiro problema: como vou sobreviver a partir de agora? E da mesma forma, quando o homem sai do “útero” (espaço Ético) do Espírito, ele também se questiona: como vou sobreviver nesse meu novo modo de ser e ver? Tanto num contexto quanto no outro, a educação é uma aquisição de poder importante para guiar a alma humana no novo processo de aprendizagem de vida, onde ele precisa discernir e responder sobre o seu fim em si mesmo (ou seja, o poder de Realização e “Morte” no Amor Matriz ou Espiritual). Só resta ao homem aprender durante a travessia entre o Ethos (Ética como caráter) e a Philo (como Amor Matriz ou Espiritual). Não existe saída! A “saída” é uma travessia do ser em si mesmo num processo de criação e experimentação do que se cria. Não existe outra alternativa, pois o aprendizado é um processo-poder natural, pessoal e intransferível. Temos que aprender a viver e nesse percurso de criação e aprendizado compreender finalmente o sentido da vida integral que está latente: o Amor Puro Criador.
Prof. Bernardo Melgaço da Silva – Tel. (88) 9201-9234 – E-mail : bernardomelgaco@hotmail.com
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