Todos nós sabemos que um dia teremos que partir para um outo lugar-mundo. E ninguém escapa do “trem” que sempre passa nesse nosso mundo e deixa alguns na estação e leva outros para uma travessia numa viagem sem volta. Nos acostumamos a aceitar naturalmente que o “trem” passe enquanto estamos em nossas atividades cotidianas. É o outro e não eu! – assim pensa a maioria. Poucas vezes refletimos sobre o significado desse momento de rompimento com a vida familiar e social. A mecânica da vida profissional e social não nos dá muitas chances para refletir. Na universidade poucas vezes tecemos comentários filosóficos a respeito. Tomamos mais ciência sobre essa questão quando estamos diante da perda de um parente ou amigo ou diante de uma guerra ou catástrofe. Então, nos sensibilizamos da existência da morte e por isso queremos continuar vivo e com saúde com os nossos membros inteiros e nossos órgãos em perfeito funcionamento. Quando estamos jovens não queremos nem pensar no assunto – isso é coisa de velho! – infelizmente pensamos assim. A cultura do jovem sarado e da juventude moderna que adora uma aventura e um padrão de comportamento de consumo fácil, cria a ilusão de que a vida é um estado de ânimo e crença na modernidade dos costumes. Até que chega um dia e a verdade do Espírito é captada pelos nossos sentidos. De repente somos chamados e não conseguimos fingir que não ouvimos. Ele se aproxima e nos diz, através de um verbo-princípio, que só nos realizamos de fato numa nova travessia de uma experiência inédita da consciência que jamais havíamos imaginado. Surge o conflito e o medo. No início caimos num vazio da existência e assim perdemos temporariamente a força psicológica que nos prendia a essa realidade terrena – ficamos sem chão! Constatamos que existe uma outra realidade paralela a nossa. Como é difícil aceitar! A morte física é um acontecimento e não um fim em si mesmo. Viver em dois mundos – eis o desafio do Espírito! Por que não estamos familiarizados com esse fenômeno? Segundo CAMPBELL, Joseph (O Poder do Mito. SP: Palas Atenas, 1990):
"Um de nossos problemas, hoje em dia, é que não estamos familiarizados com a literatura do espírito. Estamos interessados nas notícias do dia e nos problemas do momento. Antigamente o campus de uma universidade era uma espécie de área hermeticamente fechada, onde as notícias do dia não se chocavam com a atenção que você dedicava à vida interior, nem com a magnifíca herança humana que recebemos de nossa grande tradição - Platão, Confúncio, o Buda, Goethe e outros, que falam dos valores eternos, que têm a ver com o centro de nossas vidas. Quando um dia você ficar velho e, tendo as necessidades imediatas todas atendidas, então se voltar para a vida, aí bem, se você não souber onde está ou o que é esse centro, você vai sofrer. As literaturas grega e latina e a Bíblia costumavam fazer parte da educação de toda gente. Tendo sido suprimidas, toda uma tradição de informação mitológica se perdeu. Muitas histórias se conservavam, de hábito, na mente das pessoas. Quando a história está em sua mente, você percebe sua relevância para com aquilo que esteja acontecendo em sua vida. Isso dá perspectiva ao que lhe está acontecendo. Com a perda disso, perdemos efetivamente algo, porque não possuímos nada semelhante para pôr no lugar. Esses bocados de informação, provenientes dos tempos antigos, que têm a ver com os temas que sempre deram sustentação à vida humana, que construíram civilizações e enformaram religiões através dos séculos, têm a ver com os profundos limiares da travessia, e se você não souber o que dizem os sinais ao longo do caminho, terá de produzi-los por sua conta" (pp.3-4).
Prof. Bernardo Melgaço da Silva – bernardomelgaco@estadao.com.br – (88)92019234
"Um de nossos problemas, hoje em dia, é que não estamos familiarizados com a literatura do espírito. Estamos interessados nas notícias do dia e nos problemas do momento. Antigamente o campus de uma universidade era uma espécie de área hermeticamente fechada, onde as notícias do dia não se chocavam com a atenção que você dedicava à vida interior, nem com a magnifíca herança humana que recebemos de nossa grande tradição - Platão, Confúncio, o Buda, Goethe e outros, que falam dos valores eternos, que têm a ver com o centro de nossas vidas. Quando um dia você ficar velho e, tendo as necessidades imediatas todas atendidas, então se voltar para a vida, aí bem, se você não souber onde está ou o que é esse centro, você vai sofrer. As literaturas grega e latina e a Bíblia costumavam fazer parte da educação de toda gente. Tendo sido suprimidas, toda uma tradição de informação mitológica se perdeu. Muitas histórias se conservavam, de hábito, na mente das pessoas. Quando a história está em sua mente, você percebe sua relevância para com aquilo que esteja acontecendo em sua vida. Isso dá perspectiva ao que lhe está acontecendo. Com a perda disso, perdemos efetivamente algo, porque não possuímos nada semelhante para pôr no lugar. Esses bocados de informação, provenientes dos tempos antigos, que têm a ver com os temas que sempre deram sustentação à vida humana, que construíram civilizações e enformaram religiões através dos séculos, têm a ver com os profundos limiares da travessia, e se você não souber o que dizem os sinais ao longo do caminho, terá de produzi-los por sua conta" (pp.3-4).
Prof. Bernardo Melgaço da Silva – bernardomelgaco@estadao.com.br – (88)92019234
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