Torquato Neto
Desde que saí de casa
trouxe a viagem da volta
gravada na minha mão
enterrada no umbigo
dentro e fora assim comigo
minha própria condução
Todo dia é dia dela
pode não ser pode ser
abro a porta e a janela
todo dia é dia D
Há urubus no telhado
e a carne seca é servida
escorpião encravado
na minha própria ferida
só escapo
(...)
pela porta da saída
Todo dia
é o mesmo dia
de amar-te
a morte
morrer
Todo dia é dia dela
Todo dia é dia D
3 comentários:
Pouco conheço da poética do Torquato Neto. Teve para minha geração aquele clima de final de tarde, os sinos da Sé badalando um féretro. Particularmente o assunto do suicídio o qual senti na pele. Mas é impressionante o quanto este texto e aquela linda canção (Prá Dizer Adeus) com o Edu Lobo é uma roda, de alto nível poético, em torno da morte e do suicídio:
Adeus
Vou prá não voltar
E onde quer que eu vá
sei que vou sozinho
Tão sózinho amor
nem é bom pensar
que eu não volto mais
desse meu caminho
Ah! pena eu não saber
como te contar
que esse amor foi tanto
e no entanto eu queria dizer
vem
eu só sei dizer
vem
nem que seja só
prá dizer adeus
O piauiense Torquato Neto, é um dos maiores poetas do Brasil recente. Pôs fim a própria vida no dia em que completou 27 anos, em novembro de 1972, reforçando mais ainda o mito misto de santidade e maldição que sempre envolveu a arte underground e a literatura escrita com sangue, suor e lágrimas. Aqui homenageamos o poeta e saudamos sua poesia.
Grande postagem Rafael, Torquato merece ser revisitado sempre, além do ícone, ele é como você diz, puro suor de sangue.
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