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domingo, 13 de julho de 2008

A EXPOCRATO É UMA DAS GRANDES FESTAS DE MEIO DE ANO NORDESTINA

Com o forte título de COMEÇA HOJE O MAIOR CHIQUEIRO A CÉU ABERTO DA CIDADE - EXPOCRATO 2008, o nosso bloqueiro, talentoso músico, agitador cultural e debatedor de mão cheia Dihelson Mendonça postou uma matéria no Cariricult.

Agora sei o motivo pelo qual o Dihelson não vai à EXPOCRATO. É fácil compreender o Dihelson, os motivos estão claramente expostos. Então tudo bem, compreendi.

Agora eu quero um texto de alguém aí do Crato que expliquei o motivo pelo qual milhares vão ao tal evento. Não pode ser uma mera classificação da burrice o humana, pois não cola. Não pode ser um efeito gado, o touro segue na frente e a manada vem atrás. Também não adianta a desculpa da propaganda pois esta coisa por maior peso que tenha, costuma mesmo é surfar sobre as ondas dos fenômenos de massa. Sem tais fenômenos a propaganda não funciona.

Não é possível deixar de observar dois fatos: a) é uma coisa que já era atrativa há 40 anos passados e que já foi palco de grandes histórias nordestinas (uma vez assisti ao Alceu Valença dando conta do seu primeiro encontro, nervoso, tímido, com o velho Lua na exposição do Crato); b) não tem como negar o Cariri gerou muitos filhos e por um motivo qualquer, principalmente pela posição sul do continente americano no qual vivemos, quando o inverno esfria as praias, a época de voltar para a mãe terra é em julho e julho deu esta festa.

É preciso que alguém explique isso melhor. Não é possível apenas ter o desagrado, isso é um fenômeno de massa. Como o São João de Campina Grande e Caruaru. A EXPOCRATO ainda continua sendo a festa de meio de ano do Cariri.

Acontece que o São João, naquilo que restou de sua tradição continua muito festejado nas grandes cidades brasileiras e sem dúvida o ícone de tais festas se encontra no nordeste e graças, sem muita dúvida, ao Luiz Gonzaga. Vejam que aqui pelo sudeste o milho verde nem tem grande importância, a comida de são João é outra, a bebida também e o caipira é desta banda por aqui, tem o arraial como referência e no nordeste na matriz se encontra a fazenda, o terreiro e fagueira. Será que a EXPOCRATO apesar dos pesares não continua sendo uma expressão moderna de um passado triturado pelo tempo mas que ainda se encontra espalhado no terreno da vida de tanta gente?

6 comentários:

Armando Rafael disse...

Matéria publicada no jornal O POVO desta 2ª feira, dia 14:

CRATO
Expocrato deve gerar R$ 50 milhões em negócios

Foi aberta ontem a 57ª Exposição Centro-Nordestina de Animais e Derivados, a Expocrato 2008, que se realiza até o próximo domingo,20, no Parque de Exposições Pedro Felício Cavalcanti, no Crato

Rita Célia Faheina
Enviada ao Crato


Cerca de 700 produtores rurais estão participando da Expocrato que ontem recebeu uma multidão de visitantes (Foto: Edmar Soares)

[14 Julho 00h05min 2008]

Mel de abelha, gergelim, fubá, amendoim, feijão. No corredor da agricultura familiar, Francisco Ferreira, 39, e André Jacó, 66, demonstram o que cultivam e comercializam para sobreviver na localidade de Cajueiro, no município de Farias Brito, na Região do Cariri. Como eles, muitos outros trabalhadores e trabalhadoras rurais estão expondo seus produtos na 57ª Exposição Centro-Nordestina de Animais e Derivados, a Expocrato 2008 que foi aberta ontem, no fim da tarde, e prossegue até domingo, 20.

Uma multidão compareceu ao Parque de Exposições Pedro Felício Cavalcanti, no Crato, para visitar os 500 estandes com os mais variados produtos, animais e derivados, artesanato, frutos e comidas regionais, além dos shows musicais e do parque de diversões. As novidades este ano da Expocrato, são a Exposição Pan-Americana de Cães, leilões de raças nacionais e a demonstração de um engenho, uma casa de farinha e uma mini-usina de álcool. A abertura foi feita pelo o governador em exercício, Francisco Pinheiro, que ressaltou o crescimento da exposição, a maior do Norte e Nordeste e uma das mais importantes do País. Ele esteve ao lado do ministro da Previdência Social, José Pimentel; do secretário do Desenvolvimento Agrário, Camilo Santana, e políticos da região. Santana avalia que o movimento de negócios durante a Expocrato chegue a R$ 50 milhões. "É uma decisão do governo do Estado investir no crescimento da exposição por isso houve ampliação do parque e criada melhor infra-estrutura. Pela primeira vez, teremos leilões em circuito nacional de ovinos, caprinos e suínos. São produtores de todo o Brasil". Ele disse que há uma prioridade para os agricultores familiares que ganharam um bom espaço. Cerca de 700 produtores rurais estão expondo os mais variados produtos.

Os leilões de animais estão marcados para os dias 17, 18 e 19 próximos e, segundo o presidente do comitê gestor da Expocrato, Francisco Leitão, serão transmitidos ao vivo pelo Canal do Boi, tendo um reconhecimento nacional. A expectativa, segundo ele, é negociar R$ 1,5 milhão e aumentar a divulgação da exposição e do plantel do Ceará. Além das estandes com animais e produtos regionais, no Parque os visitantes podem se divertir nos shows de bandas de forró ou de artistas regionais. Foi montado um parque de diversão para a garotada e há vários pontos para lanches e comidas típicas. A feira é aberta durante todo o dia e os shows começam às 22 horas. "É uma festa que a gente espera o ano inteiro. Nasci no Crato há 42 anos e desde menina não perco uma Exposição. A cidade fica toda em festa e é um momento pra gente rever os amigos e parentes que foram embora e voltam nessa época para e divertir", disse a dona de casa Júlia Batista dos Santos.

Dihelson Mendonça disse...

Meu Caro José do Vale,

Como Cidadão desta cidade, que a AMA de verdade, não posso admitir que essa mostra IMPORTADA seja comparada às festas da tradicional Exposição centro-Nordestina de Animais e Produtos derivados. A única similaridade é o afluxo de pessoas. De resto, é uma festa que perdeu sua identidade com a região.

Talvez você pense que eu redijo minhas crônicas cheias de farpas a essa festa por falar mal por falar mal...ou porque eu não esteja nela.

Te digo em Verdade:

Se me Pagassem 20.000 reais para estar no palco principal fazendo um show, eu não iria, talvez outros fossem, mas desde o começo defendo a idéia de que os artistas locais não devem mais reivindicar aquele espaço, e sim, construir o seu próprio, porque aquele modelo decadente de exploração pública só pode ser defendida pelos que não a conhecem a verdade dos fatos.

Quem AMA o Crato, preserva-o, não aceita a exploração que estamos presenciando aqui a olhos vistos, numa roubalheira sem limites a cada ano!

Tudo de longe pode parecer belo!
A mídia não divulga os podres que acontecem por lá.
Venha pra cá, pra você tomar pé no que está acontecendo!

Abraços,

Dihelson Mendonça

socorro moreira disse...

Expo , em outra épocas .


Já fui tão feliz , entre os eucaliptus , o cheiro de estrumo ...
Filhoses , charutos , roletes de cana , algodão doce ... Olhava gados e cavalos ... Estreava uma calça Lee ...Eram tantos cheiros misturados , que o povo todo ficava com cheiro de festa !

Era tão menina e desacomodada... Não cançava as pernas , nem me sentia roubada ... Desfilava também feito vaca... Na doçura sagrada e até profana , que elas encerram !

Passava o ano todo estudando , num cotidiano que parecia eterno . Tudo era novidade entretanto , nas quatro festas do ano ... Carnaval , S.João , Expo e Festa da Padroeira . Repetiam-se os cenários ... O povo nativo era conhecido ... E as possibilidades de alegrias e emoções eram plenas !
Nem precisava de grana ... uns trocados ... e tudo certo !


A cidade cresceu , os tempos mudaram ...
Hoje a Expo é lucrativa ; deixa dinheiro na cidade , e no bolso do povo , que se habilita a trabalhar nos extras , por esses dias.

Não gosto mais da festa. Gente demais ... Cheiros que me asfixiam... Shows que não assistiria , nem se me pagassem ...
Mas sou uma moça passando da meia idade ... Nem toda festa me agrada ... Muito pelo contrário , o silêncio da Chapada e o barulho da Cascata , respodem à minha "euforia " !
Destarte tudo isso , ainda sinto um certo "frisson" ... Reencontro pessoas da minha geração !
Troco tanto abraço , sorriso , e ainda relembro coisas , e boto a conversa em dias.

Hoje recebi na minha casa o Fausto ( querido professor do Diocesano) e sua esposa Rosa Catarina ; depois foi a vez de Francisco Peixoto , um dos cronners das nossas adolescências ... Se tivesse espaço e condição , garanto que ele cantaria pra gente !
Sinto falta de aconchego físico ; me recuso a pagar 3,00 por uma latinha de refrigerante ... Daí , o que fazer , o que comer , o que beber , o que ouvir ?
Apenas sentir ... !
Os que chegam dão uma voltinha por lá , mas acabam se entocando para descansar . Os jovens é que aguentam o rojão !
Vieram pra ver o Crato , que nesses dias do ano , continua festa !

Dihelson Mendonça disse...

Minha estimada Socorro,

O passado é sempre belo, cheio de boas recordações, mas não devemos mais vivê-lo, e sim, tentar olhar sempre pra frente, construindo o BELO no nosso presente, para que nosso futuro seja brilhante e possamos ver a linha de continuidade entre Presente, passado e Futuro.

Um beijo no teu coração tão puro,

Dihelson Mendonça

Anônimo disse...

Compreendo por demais a inquietude de Dihelson Mendonça com a Exposição de Crato. Não são vãos nem irracionais seus apelos. Ele não se investe contra olhares estranhados, nem passadistas, nem triunfalistas do que significa a Exposição nos aspectos econômicos, políticos e culturais para a região. Sinto nos seus esperneios uma vontade louca de ver o Crato, nas suas muitas identidades, fazer-se presente nesta festa que o povo do Nordeste tanto gosta. E entre elas, que tal um palco decente, bem iluminado, com um som de primeira, num lugar privilegiado, cadeiras ao relento, e lá em cima desfilarem:
A orquestra Pe. David Moreira;
O grande e pequeno coral da Scac;
O orquestra de cabaças do Sesc Juazeiro;
Os Irmão Aniceto;
Os reisados das cidades;
Dihelson Mendonça num concert para a juventude;
Os Pelejas e os Águias de Barbalha;
Abidoral Jamacaru, dividindo o palco com o seu irmão Pachelli Jamacaru;
O grande Salatiel e o perfomático João do Crato, num embalo estoteante, refazendo a música latinoamericana;
Cleivan Paiva, num show solo, de Dilermando Reis a Rosenberg Cariry;
A Banda Nacacunda e a cara do rock pé de serra;
Os Herdeiros do Rei;
O trio de ouro Ibbertison, João Neto e Delamoni;
Os meninos da Casa Grande e a nova música do Cariri;
Correinha e sua banda de pífaro;
O.....
A....
Os...
As...
Inclusive eu, Zé Nilton, acompanhado pelo maestro Lifanco.
Tudo isto apresentado de forma a mostrar o que tem ficado sempre ausente na hodierna ExpoCrato: parte da alma do Crato. Acho que entre as decências da grande festa reclamadas pelo Dihelson, está faltando esta. Ah, ia me esquecendo de um detalhe. A festa se realiza no Crato e não no Estado. Valeu, Dihelson !

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Caro Dihelson: eu entendi o que você pensa perfeitamente. Apenas gostaria de entender o motivo dos milhares que vão a esta festa. Será que o Cariri, agora de uma dimensão demográfica diferente, de um sertão no entorno desta região igualmente muito mais adensado seria um motivo. Alguma coisa precisa ser pensada sobre quem é esta cidade e esta região no ano de 2008. É só isso.

Não vou considerar sua descontinuidade entre a festa atual e a antiga, pois aí você é quem cairia, contraditoriamente, no passado sempre doce que você reclamou da Socorro. Acho que o Zé Nilton levantou uma hipótese sobre a programação dos sonhos dele. Será que este sonho não se enquadraria no mesmo sentido passadista ou de valores que não costumam ser considerados numa escala econômica como esta?

Enfim, me explico para não ficar brigando com vocês. A EXPOCRATO é por demais importante para região o fato é a luta do Coletivo Camarada. Ela é ao mesmo tempo uma atração para a região e uma senha para o retorno dos que não moram mais aí. E finalmente há que se considerar a escala econômica em que se põe. Sem isso não é possível refletir. Sem isso é jogar pedra na lua.