TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Crato & Cultura







"A cultura não se herda, conquista-se. "
( André Malraux )

As cidades, como os homens, têm sua natural vocação. Algumas trazem do berço esta inclinação, outras as vão descobrindo, paulatinamente, com o

passar do tempo. Juazeiro e Aparecida espontaneamente brotaram para a romaria e Fortaleza, pouco a pouco, se foi descobrindo turística. A função de qualquer gestor público, que se preze, é o de descobrir a tendência natural do município e incentivar esta vocação. Pernambuco, de há muito vem, se preocupando com isto, na entrada de muitas cidades já encontramos selado o seu destino congênito : Passira, terra do bordado; Tracunhaém, do artesanato de barro; Pesqueira , da Renascença. O Crato, falamos há muitas gerações, de beiço empinado, é a “Capital da Cultura”. Está certo que já não merecemos tanto esta alcunha, mas ao menos parecemos ter um norte a perseguir e, em ano eleitoral, mais que nunca é preciso lembrar-se disto. Pois bem, deixemos as querelas de lado, os embates de meio de rua para os cabos eleitorais e sejamos propositivos no sentido de tentar acordar os candidatos para pontos que estão intrinsecamente ligados, à sobrevivência econômica e física da nossa vila : a Cultura.

Em primeiro lugar, é preciso fortalecer as instituições que trabalham com a Cultura em Crato ( SCAC, BANDA DE MÚSICA, URCA, ORQUESTRA DO BELMONTE, FUNDAÇÃO MESTRE ELÓI etc). O Instituto Cultural do Cariri precisa ser mais que uma sede , um fabricante de imortais. É preciso fazer com que , com projetos e parcerias, volte a não só revolver saudosamente nosso passado histórico, mas buscar caminhos à frente que muito nos faltam. Um jornal, ao menos mensal ( não temos nenhum em Crato e já tivemos quase que duzentos periódicos). Retornar a publicação semestral da “Itaytera”. Viabilizar a republicação fac-similar de inúmeros clássicos esgotados : “Efemérides do Cariri”, J. de Figueiredo Filho, José Alves de Figueiredo , Irineu Pinheiro, Quixadá Felício. Reestruturar a Biblioteca do Instituto e envolver a URCA nos seus projetos. Buscar , ainda, a possibilidade de criar um Museu da Imagem e do Som, registrando definitivamente os nossos mananciais artísticos. Montar projetos para o registro em vídeo/cd das nossas mais queridas manifestações populares Reisados, Cocos, Maneiros-pau). O ICC deve ainda caminhar no sentido de promover uma Bienal do Livro no Cariri, levando à possibilidade de divulgar a literatura local e aproximá-la da nacional. Além do mais nos falta uma biblioteca municipal que mereça este nome.

Parece ainda urgente a reforma e reestruturação do nosso Museu que tem um acervo invejável mas que está se deteriorando rapidamente. Inúmeras obras importantes , como desenhos de Pedro Américo, foram simplesmente roubadas . É necessário um projeto junto ao IPHAN para refazê-lo, utilizando mão de obra especializada .

Ainda no que tange ao patrimônio histórico é imprescindível se levantar o que ainda sobrou da destruição de prédios históricos na cidade e tombá-los, antes que tombem definitivamente de outra maneira.

O Crato teima em não reverenciar seu mais épico acontecimento: “ A Confederação do Equador”. É imprescindível levar a história caririense às escolas e inclusive torná-la matéria obrigatória no vestibular. Necessitamos de um Projeto Municipal no sentido de construir-se um “Memorial da Confederação do Equador”, com um museu interno do que restou da história e com um acervo de livros e multimídia do movimento.

Necessitamos ainda fazer com que os espaços conquistados se tornem mais vivos e atuantes. O Cine Teatro Moderno carece de finalizar definitivamente sua estrutura: cortina, som, iluminação. Devemos, com parceria com o SESC, abrir o Cinema Brasileiro à população (hoje elitizado nossos shoppings), além de companhias regulares de dança e teatro. O Festival de Música poderá ser melhorado, estudando-se datas estratégicas e trazendo artistas nacionais de renome, à luz do Festival de Inverno de Garanhuns. Trabalhando com projetos e parcerias importantes podemos fazer do Festival uma festa gigantesca, sem ônus maior para o Crato. Viçosa, Guaramiranga, Araripe conseguem, por que só o Crato está condenado a poluir os ouvidos eternamente com bandas de forró?

Estrategicamente se faz mister trabalhar com um calendário anual para e lutar por projetos mais duradouros que possam envolver toda classe artística . Não dá para trabalhar só com a fugacidade de eventos esparsos.

A Fundação J. de Figueiredo Filho não tem cumprido suas funções estatutárias. Funciona desde sua criação como um cabide de empregos e urge reestruturá-la para que trabalhe a todo vapor, viabilizando projetos culturais. Verbas para a cultura pululam no Ministério da Cultura e na iniciativa privada, é preciso quem ajude a descobrir o caminho das pedras.

Os Salões de Outubro precisam ser ressuscitados com fito de dar maior visibilidade às artes plásticas e à literatura. As Escolas e a URCA devem ser incentivados a estudar nossos autores regionais junto com os clássicos nacionais.

Estes são alguns pontos importantes de serem lembrados . O mais crítico no entanto é este: quem entende a força da nossa vila deve saber, em ano eleitoral, que uma cidade do porte de Crato , que se arvora de capital da cultura, deve fazer jus ao seu nome . Precisa eleger políticos possuidores de um perfil mínimo de sensibilidade para esta vocação cultural. Como dizia Jorge Cunha Lima: "A cultura não lida apenas com as artes e universidades, mas com todos os valores da sociedade humana, que a um governo democrático incumbe respeitar e vitalizar. "


J. Flávio Vieira


3 comentários:

Armando Rafael disse...

Zéflávio:
Palavras sensatas e oportunas. Concordo plenamente com suas ponderações.As cidades não podem ser clonadas. Creio que a partir desse desiderato - objetivamente exposto no seu artigo - teria início um "renascimento" do viés cultural de Crato...

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

� bom provocar o Z� Foi claro e apontou objetivamente caminhos.

jflavio disse...

Creio que podemos todos ser propositivos neste sentido. O Armando, o José do Vale, o Rafael, o Dihelson, o Bernardo Melgaço, o Glauco, o Zé Newton, o Marcos Leonel, a Socorro Moreira,o Salatiel, o Lupeu todos têm uma ampa visão de Cultura e podem certamente trazer sua contribuição imprescindível neste momento crítico no destino da nossa cidade. Imagino que é montando o painel com os inúmeros ladrilhos da contribuição de cada um que terminaremos por ter uma visão mais colorida da cultura cratense.