TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 10 de agosto de 2008

Lamento

Estou suspirando nas rimas
Das asas do bem-querer
E a linha da minha sina
Se enganchou nesse sofrer
espelho em novelos quebrados
por teus cabelos fulorados
só sei mesmo padecer.
Sou pena de beija-flor
Sou penar de cantador
Que enfucou te esperar
Fulô vestida de chita
Com sete laços de fitas
Lua bonita no olhar.

É gole, travo, remorso
Desgraça que me fadiga
E na pele de meus ossos
Fez um carinho de urtiga
Melaço, fel de cabaça
Cigana sorte que passa
No chão das cantigas.
Puliça, voz de prisão
Cangaceira, assombração
Cigarra num verso imbolá
Vingança com faca de gume
Sombra apartada do lume
Ciúme de mais maltratar.

É ânsia de afogado
Que sente o chão lhe faltar
Engasgo, punhal cravado
Peito ferido, a sangrar
Veneno de caninana
Saudade que desengana
Se dana, no meu gostar
Curisco, cisco danado
É risco de condenado
Algueiro que quer me cegar
Rama de rima menina
Quilaro de lazarina
Que me ensina chorar.

Salmoura em dor inflamada
Zunhada, corte, á minar
Calo pisando a estrada
De nunca mais se sarar
Desejo, lâmina, beijo
trovejo, entalo, latejo
em que sobejo andará?
Andejo fogo em mim
Estrela com pontas de ispim
Que desarnou lumiar
Briboca, broca, tormento
Nas intocas, desalentos,
Num lamento, me matar.

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