Totonho, meu nêgo véi. Fique por aí mesmo. O mundo mudou todo. O que era uma coisa agora é o contrário. O sim virou não, o alto ficou baixo, o açude hoje é fornalha, o passarinho morre no ninho. Fique por aí mesmo. Não peça esta reencarnação para ser você pelo avesso. Eu sei de tua retidão, o jeito único de ser. Se por aqui tu voltares o braço esquerdo virá no direito, as costas na frente e o gênero se flexionará no feminino.
Tu lembras da doçura? Do agrado que o gosto trazia? Lembras-te quando o riso de Abigail te derretia todo, deixando o mundo inteiro nas cores douradas do mel de abelha italiana? Quando a paz dos sonhos te remetia para as encostas floridas do alto dos cochos e por ela rolavam toda agudeza adocicada do cajá? Pois então, nêgo véi!
O doce é a traça da diabete. A palidez vertiginosa da hipoglicemia e a sudorese igual aos tempos finais que advém da glicose alta. Ao invés dos sumos, agora o caruncho perfurante dos membros inferiores como a dizer, você aos pedaços se vai. A doçura se tornou uma ameaça médica, crônica e definitiva.
Sabe meu nego? O sal da terra. Aquele do qual a vida emergia pelo sopro divino e então o batismo introduzia o recém nato ao novelo do futuro?
A agora o sal é hipertensão. A dilatação descomunal das câmaras do coração. A ameaça contínua de infarto agudo do miocárdio ou um acidente vascular cerebral. Ao invés da herança do tempo, herdarás a eterna fisioterapia de partes que antes do todo já perderam os movimentos.
E tudo aquilo que era da tua natureza se tornou a abundância da escassez. Ou melhor dizendo, a ocorrência da exceção. As carnes colesterol, o arroz calorias, o feijão excesso, o macarrão ameaça italiana. A dança se tornou marcha, a alegria uma química externa, a narrativa o tédio, a poesia uma peça intimista, a música um fonograma. Tudo é mais difícil, cheio de regras e de ameaças ao menor descuido. Fique por aí mesmo nêgo véi.
Brioso terminou a reza e levantou-se. Saiu na calçada e foi atropelado por uma bike em alta velocidade. Agora vou visitá-lo na emergência com a tíbia e o perônio fraturados e pior de tudo é que hoje tenho uma reunião e esta merda me atrasará.
Tu lembras da doçura? Do agrado que o gosto trazia? Lembras-te quando o riso de Abigail te derretia todo, deixando o mundo inteiro nas cores douradas do mel de abelha italiana? Quando a paz dos sonhos te remetia para as encostas floridas do alto dos cochos e por ela rolavam toda agudeza adocicada do cajá? Pois então, nêgo véi!
O doce é a traça da diabete. A palidez vertiginosa da hipoglicemia e a sudorese igual aos tempos finais que advém da glicose alta. Ao invés dos sumos, agora o caruncho perfurante dos membros inferiores como a dizer, você aos pedaços se vai. A doçura se tornou uma ameaça médica, crônica e definitiva.
Sabe meu nego? O sal da terra. Aquele do qual a vida emergia pelo sopro divino e então o batismo introduzia o recém nato ao novelo do futuro?
A agora o sal é hipertensão. A dilatação descomunal das câmaras do coração. A ameaça contínua de infarto agudo do miocárdio ou um acidente vascular cerebral. Ao invés da herança do tempo, herdarás a eterna fisioterapia de partes que antes do todo já perderam os movimentos.
E tudo aquilo que era da tua natureza se tornou a abundância da escassez. Ou melhor dizendo, a ocorrência da exceção. As carnes colesterol, o arroz calorias, o feijão excesso, o macarrão ameaça italiana. A dança se tornou marcha, a alegria uma química externa, a narrativa o tédio, a poesia uma peça intimista, a música um fonograma. Tudo é mais difícil, cheio de regras e de ameaças ao menor descuido. Fique por aí mesmo nêgo véi.
Brioso terminou a reza e levantou-se. Saiu na calçada e foi atropelado por uma bike em alta velocidade. Agora vou visitá-lo na emergência com a tíbia e o perônio fraturados e pior de tudo é que hoje tenho uma reunião e esta merda me atrasará.
6 comentários:
"O doce é traça da diabetes "
E o sal ?
Affffffe , vivo nos limites do doce e do sal ... parcimônia total !
Mas volte , "Totonho" !
Algo de bom sempre fica ...Existem árvores e vinhos , que se prevalecem do tempo ...
E o coração ?
Com o tempo sabe amar com mais paciência ...
Os velhos são ternos...Mais ternos do que irritados
São lagrimosos , e apertados de saudades ...
São lentos e delicados ...
São arfantes e sonolentos ...
Amam com elasticidade ...
Amam doce , e icondicionalmente !
Socorro: o sujeito que se incomoda por ter de visitar o amigo ferido. As urgências não estão mais no mundo, estão num repositório externo ao mundo, o repositório dos mitos de consumo e sucesso. Todos têm pressa, por apenas ter, não sabe por quem tem pressa. Quando a ciência torna a vida normativa e a norma funciona na prática, a interdição vai além, se diviniza e torna-se a matriz de uma nova ordem. Totonho deve voltar já sabendo que o mundo tal como é será um outro bem diferente do que é, como tudo na vida que o "é" já se encontra sob ataque do "não é". Mas eu acho isso bom demais, Brioso é quem sofre com isso tudo.
Por último, apenas para aproveitar a ocasião da prosa, sem qualquer conexão com o tema do post. Alguns dias atrás você postou uma poesia bem adequada e muito interessante sobre a "polis" de todos os "genes", a você respondi e novamente você dialogou. Para minha surpresa dei por conta que ambos os comentários haviam sido retirados. Levantei a questão,o Carlos Rafael informou que fora pelos próprios autores e que ele executara apenas os atos finais da exclusão. Por último, acho que demonstrando um certo desagrado com uma possível censura, falou da revista Veja. Eu entendi ao que se referia, achei que viajara na maionese e o respondi que eu não tomara a iniciativa de retirar o comentário, se alguém o fizera com minha senha que me avisasse para que trocasse. Ele jamais me deu retorno.
Oxente ...
Acho que os comentários são excluídos pelo autor ou por Salatiel ( será ?)
Mas ele não faria isso... É por demais democrático !
Eu só excluo um comentário , quando descubro que cometi um erro feio ... risos.
Tenho andado um pouco mais atarefada ... Arranjei novos afazeres , mas não deixo de passear na praça , e te esperar no mesmo banco. Adoro ler o que você escreve... Você me inspira !
Seja qual for o tema ... absorvo tudo com muito prazer !
Beijo
Passeei no Rio de Janeiro enquanto estavas compondo, provei na tua colher o gosto da salada de frutas, parei pra ver a banda passar emocionada... Minha filha ouvia Pitty no quarto "garotas boas vão para o céu, garotas más vão pra onde querem". Umas preferem pinga, e um somelier como você, deve saber que o sabor do vinho não tem relação com a sede de quem bebe, mas com a capacidade de degustá-lo. E isso leva tempo. Às taças, que nunca se estilhacem.
José do Vale, como sempre e sutilmente numa linguagem inconfudível toca no fundo do existencialismo, reforçando valores muito importantes que o mundo comtemporâneo vem eliminando.
José do Vale culpo o dinheiro, que tudo busca desmanchar, e vejo o Lugar, espaço vivido, lugar de afetividade, que mostra que há coisas que não se podem desmanchar.
Parabéns!
Vocês nem imaginam, aliás sabem como é bom receber a indugência de pessoas. Quando dizemos do horizonte, ainda é pouco pois um limitante no espaço. Mas quando dizemos "gente" nem o universo se iguala. Obrigado maior de que todos, por vezes me abstenho de agradecer comentários como estes, guardo a satisfação aqui deste lado da tela. Mas este o Socorro, Marta e o Ludgero.
João, os anos atrás escrevi um livro cujo o centro era o território como a dimensão que sustentava as contínuas ruínas da modernidade. Talvez por influência do meu pai que foi meu professor de Geografia, e com ele tive que ser o melhor possível, sempre me afetou enormemente este tema entre a espaço e a cultura humana, a este espaço ocupado, transformado, hierarquizado e historicizado que é o território. De vez em quando sinto uma sintonia em teus textos. Muito obrigado por eles.
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