Os filósofos da Batateira elaboram numa escala tão alta que não ouso falar deles no raio além dos limites do Crato. Eles poderiam sofrer capturas por parte dos pragmáticos de sempre, daqueles que só enxergam metas e objetivos pela frente. Vêm apenas os pontos de chegada, nunca se abeberam das margens naturais de sua jornada. Por isso me reserva muito descrever suas reuniões, como mais esta sob a ponte do Rio Batateira para a qual a convocação não constava de uma pauta.
Naquele princípio de conversa, sem um tema para discutir as conversas surgem espontaneamente. Como uma piada, muito inocente para o gosto humorístico atual, desenvolvida por Mitonho:
- Um casal estava apaixonado. Arriados os quatro pneus e mais o de suporte. Aí o rapaz questiona a moça "como vamos casar sem dinheiro?". Ela no desejo imediato responde "meu bem me basta olhar para você que a fome passa". Casamento consumado, vem a fome e a esposa se queixa. O rapaz estranha "mas você não disse que bastava me ver para que a fome passasse?". Ao que ela responde: "mas não estou nem te vendo?".
Chico Preto, o líder dos filósofos, aproveita a história de Mitonho para iniciar a conversa:
- É isso aí. Nós somos, talvez, o único animal com maior capacidade de elaboração interior. Somo animal de inteligência, temos estratégias para defender a vida, temos manhas, seduções, mentiras e verdades, temos filosofia e história. Temos técnicas para manipular o planeta e até o espaço interplanetário. Mas continuamos dependendo da matéria do planeta para chegar nos próximos minutos.
- Chico, peraí! – Chambaril levantou uma questão - E a nossa alma? Temos um espírito! Algo que supera esta matéria do mundo. Chico tem uma virtude: não é arrogante nem no olhar e nem na postura e argumenta com Chambaril:
- Até hoje só a morte supera a matéria. Mas a morte não é uma entidade, uma essência, a morte é tão somente um fato, uma ocorrência que até funciona como um marco de passagem, mas não um conteúdo independente do mundo. Ela é totalmente dependente que o fato se antecipe de nascimento. Então quando digo que a vida material das pessoas é muito significativa é porque se algum de nós deixar de trocar o ar do pulmão por mais de cinco minutos, já se encontra ameaçado. E cinco minutos não é nada na nossa vida.
Zé de Dona Maria levanta uma questão de condução da reunião:
- Mas qualé o assunto mesmo da reunião? Chico ajusta sua postura na fala e se responde: É a crise americana. Biô aproveita para dar umas estocadas na arrogância americana. Chico Breca diz que nada de ruim pode acontecer com o Brasil. Fan põe o indicador puxando a pálpebra inferior do olho e diz: não afeta? Olha aqui ó!" Na verdade muitas outras visões pessimistas e outras tantas de fé no sempre forte EUA surgiram pela voz de Placa Branca, de João Barros e até pela boca do pouco falador Pinga. Chegara a hora de um encaminhamento do assunto. Tantas visões, muitas em choque não levariam a nada.
Chico retomou a palavra:
- Na busca pelo atendimento das necessidades da vida material nós compramos e vendemos estes recursos. Isso já com dinheiro arrumando a conversa e uma bem dosada regra de convencimento chamada de preço. O valor em moeda do que tenho para comprar e alguém tem para vender. Depois o mundo ficou mais esperto. As pessoas envelhecem, se aposentam, adoecem, ficam inabilitadas para o trabalho e então como a moeda é a garantia de que pode operar no mundo material, a pessoa faz poupança para os tempos ruins. E aí surge mais outra coisa.
João de Barros passa a mão sobre a pança lustrosa e brinca: aí parou. Não tem mais o que se dizer. A poupança é o fim da linha. Chico ri, pois sabe que o João deu ênfase para que a próxima explicação ficasse didaticamente mais fácil: Não. Não é o fim da linha. Aí as pessoas que querem uma coisa, mas não tem todo o dinheiro, pega emprestado de quem tem poupança e devolve aquele dinheiro com juros para compensar e estimular o poupador a emprestar. Mas aí.....
- Égua ainda tem outro aí! – Com certa irritação Bacurim exclama. Chico explica: Tem. Como o poupador pode juntar muito dinheiro, ele não tem meios para saber se quem está pedindo emprestado tem ou não condição de pagar-lhe. O que ele faz? Entrega esta atividade para um Banco. Com isso o Banco passa a ser na verdade o grande analista da capacidade do solicitante de dívida e com isso o Banco vira o maior emissor de dívida do mundo material.
- Eita ferro! É os americanos escritim. Tudo é no banco. Quem tá quebrando são os bancos. – Grita Mitonho, mas Chambaril logo rebate: Uma ova. Quem vai quebrar são as pessoas que têm poupança. Quem é devedor é caloteiro, mas o poupador é o perdedor. Chico Breca dar uma paulada final: Como não existe uma categoria separada de poupador e tomador de empréstimo, a mesma pessoa é um e outro ao mesmo tempo, todo mundo tá fodido. E Chico completa: o pior de tudo é que pelos próximos anos o mundo vai funcionar assim como um queima de estoque para balanço. Vai ficar todo mundo tonto para saber o real valor das coisas. Vai ser assim como casal se separando, cada um querendo levar vantagem sobre outro, briga de todo tamanho, pois afinal aquele céu arrumado pelo dólar é quem está em crise.
- E é assim? Desta monstruosidade? – Pinga se preocupa e Chico explica: "É isso mesmo. Como é que o mundo vai funcionar com uma regra que está toda lascada? Ninguém olha mais para o dólar sabendo do que se trata. O Brasil, podem contar aí, vai passar por um pedaço muito ruim. Não adianta achar que o dia amanheceu igual, pois hoje ele é outra coisa.
Nisso passa uma ambulância do socorro de emergência com buzina a todo grito na direção do bairro. A reunião não tem mais quem segure. Filósofo é ingrato como todo ser humano. Surge uma novidade e todo mundo corre para saber do que se trata. Não tem nem ritual de encerramento. Cada um queria seguir à frente dos outros para se antecipar nas explicações. Os filósofos da Batateira estão ficando um tanto parecido com o meio acadêmico.
Naquele princípio de conversa, sem um tema para discutir as conversas surgem espontaneamente. Como uma piada, muito inocente para o gosto humorístico atual, desenvolvida por Mitonho:
- Um casal estava apaixonado. Arriados os quatro pneus e mais o de suporte. Aí o rapaz questiona a moça "como vamos casar sem dinheiro?". Ela no desejo imediato responde "meu bem me basta olhar para você que a fome passa". Casamento consumado, vem a fome e a esposa se queixa. O rapaz estranha "mas você não disse que bastava me ver para que a fome passasse?". Ao que ela responde: "mas não estou nem te vendo?".
Chico Preto, o líder dos filósofos, aproveita a história de Mitonho para iniciar a conversa:
- É isso aí. Nós somos, talvez, o único animal com maior capacidade de elaboração interior. Somo animal de inteligência, temos estratégias para defender a vida, temos manhas, seduções, mentiras e verdades, temos filosofia e história. Temos técnicas para manipular o planeta e até o espaço interplanetário. Mas continuamos dependendo da matéria do planeta para chegar nos próximos minutos.
- Chico, peraí! – Chambaril levantou uma questão - E a nossa alma? Temos um espírito! Algo que supera esta matéria do mundo. Chico tem uma virtude: não é arrogante nem no olhar e nem na postura e argumenta com Chambaril:
- Até hoje só a morte supera a matéria. Mas a morte não é uma entidade, uma essência, a morte é tão somente um fato, uma ocorrência que até funciona como um marco de passagem, mas não um conteúdo independente do mundo. Ela é totalmente dependente que o fato se antecipe de nascimento. Então quando digo que a vida material das pessoas é muito significativa é porque se algum de nós deixar de trocar o ar do pulmão por mais de cinco minutos, já se encontra ameaçado. E cinco minutos não é nada na nossa vida.
Zé de Dona Maria levanta uma questão de condução da reunião:
- Mas qualé o assunto mesmo da reunião? Chico ajusta sua postura na fala e se responde: É a crise americana. Biô aproveita para dar umas estocadas na arrogância americana. Chico Breca diz que nada de ruim pode acontecer com o Brasil. Fan põe o indicador puxando a pálpebra inferior do olho e diz: não afeta? Olha aqui ó!" Na verdade muitas outras visões pessimistas e outras tantas de fé no sempre forte EUA surgiram pela voz de Placa Branca, de João Barros e até pela boca do pouco falador Pinga. Chegara a hora de um encaminhamento do assunto. Tantas visões, muitas em choque não levariam a nada.
Chico retomou a palavra:
- Na busca pelo atendimento das necessidades da vida material nós compramos e vendemos estes recursos. Isso já com dinheiro arrumando a conversa e uma bem dosada regra de convencimento chamada de preço. O valor em moeda do que tenho para comprar e alguém tem para vender. Depois o mundo ficou mais esperto. As pessoas envelhecem, se aposentam, adoecem, ficam inabilitadas para o trabalho e então como a moeda é a garantia de que pode operar no mundo material, a pessoa faz poupança para os tempos ruins. E aí surge mais outra coisa.
João de Barros passa a mão sobre a pança lustrosa e brinca: aí parou. Não tem mais o que se dizer. A poupança é o fim da linha. Chico ri, pois sabe que o João deu ênfase para que a próxima explicação ficasse didaticamente mais fácil: Não. Não é o fim da linha. Aí as pessoas que querem uma coisa, mas não tem todo o dinheiro, pega emprestado de quem tem poupança e devolve aquele dinheiro com juros para compensar e estimular o poupador a emprestar. Mas aí.....
- Égua ainda tem outro aí! – Com certa irritação Bacurim exclama. Chico explica: Tem. Como o poupador pode juntar muito dinheiro, ele não tem meios para saber se quem está pedindo emprestado tem ou não condição de pagar-lhe. O que ele faz? Entrega esta atividade para um Banco. Com isso o Banco passa a ser na verdade o grande analista da capacidade do solicitante de dívida e com isso o Banco vira o maior emissor de dívida do mundo material.
- Eita ferro! É os americanos escritim. Tudo é no banco. Quem tá quebrando são os bancos. – Grita Mitonho, mas Chambaril logo rebate: Uma ova. Quem vai quebrar são as pessoas que têm poupança. Quem é devedor é caloteiro, mas o poupador é o perdedor. Chico Breca dar uma paulada final: Como não existe uma categoria separada de poupador e tomador de empréstimo, a mesma pessoa é um e outro ao mesmo tempo, todo mundo tá fodido. E Chico completa: o pior de tudo é que pelos próximos anos o mundo vai funcionar assim como um queima de estoque para balanço. Vai ficar todo mundo tonto para saber o real valor das coisas. Vai ser assim como casal se separando, cada um querendo levar vantagem sobre outro, briga de todo tamanho, pois afinal aquele céu arrumado pelo dólar é quem está em crise.
- E é assim? Desta monstruosidade? – Pinga se preocupa e Chico explica: "É isso mesmo. Como é que o mundo vai funcionar com uma regra que está toda lascada? Ninguém olha mais para o dólar sabendo do que se trata. O Brasil, podem contar aí, vai passar por um pedaço muito ruim. Não adianta achar que o dia amanheceu igual, pois hoje ele é outra coisa.
Nisso passa uma ambulância do socorro de emergência com buzina a todo grito na direção do bairro. A reunião não tem mais quem segure. Filósofo é ingrato como todo ser humano. Surge uma novidade e todo mundo corre para saber do que se trata. Não tem nem ritual de encerramento. Cada um queria seguir à frente dos outros para se antecipar nas explicações. Os filósofos da Batateira estão ficando um tanto parecido com o meio acadêmico.
Um comentário:
"Filósofo é ingrato como todo ser humano ".
O poeta canta a dor que o filósofo assanha ...
o poeta cala , quando sente a dor ...
O poeta fala , quando a dor se cansa ...
O poeta só conta , depois que o fato é passado ... Aí fica apenas uma lembrança da dor. Por isso o poeta pode ser nostálgico ?
Poesia , matemática e filosofia ... bem romanceados ... retrata ,literalmente , a vida ... Porque "Somos todos iguais nesta noite " ...Se soprar -me com força ou levemente , eu me disperso , e fico na cia de muita gente !
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