Quatro pontos cardeais no espaço compreendido entre o Passeio Público e a Cinelândia.
A oeste, no quadrilátero compreendido pela Escola de Música da UFRJ, a Sala Cecília Meirelles, a Igreja da Lapa e o Muro do Passeio Público. Nele um mulato magro, com o tronco nu, calças encardidas e arregaças, um violão, um microfone e a caixa de som. Neste ponto cardeal a voz amplificada e as batidas metálicas das cordas reboam como as nuvens atômicas no largo limitado pelos Arcos da Lapa e sobem ao éter em busca do Alto de Santa Teresa.
A leste do Passeio, no largo para a Praça Manhatma Gandhi e o Hotel Serrador, de vista para a Senador Dantas. Um negro, com feições de indiano, tranças rastafári, boné, camisa preta e calças cinza, um par de tênis e uma trouxa ao lado. Ora sentado na borda estreita do muro do Passeio ou sobre o respiradouro da garagem subterrânea. O mais absoluto silêncio, uma contemplação de paisagem, mas ao mesmo tempo para o necessário espaço da fórmula com a qual estamos no mundo. Nunca os meus olhos encontraram os dele. Não observa ninguém. Todos os dias é o ponto cardeal do Centro do Rio de Janeiro. Como se alimenta e onde dorme a eterna pergunta do transeunte que ao seu lado passa, também com olhar de paisagem.
Ao norte da Cinelândia, bem em frente à Biblioteca Nacional de um lado e do outro o Bar Amarelinho, sentido oposto o Teatro Municipal e ao sul a silhueta do Pão de Açúcar. Sobre a grade do respiradouro do Metrô, onde os ventos do deslocamento das composições sopram, o terceiro ponto cardeal desta nossa vida disforme. Uma mulher magra, vestida em trapos sobrepostos, lenço na cabeça, negra, jovem e seu olhar esbugalhado para um ponto fixo defronte de si. Sentada sobre a grade do suspiro dos vagões que engolem e vomitam gente, ela eternamente dobra o tronco sobre as pernas num vai e vem, num sobe e desce como se fosse o pistão de uma máquina a vapor.
O quarto ponto, aquele que deveria dar sentido a esta desgraçada Rosa dos Ventos, se forma pelo vazio no qual foi um dia o Prédio do Senado Federal e o majestoso e branco edifício da Câmara dos Vereadores. Nesta planície a pluralidade que a sociedade é se torna o nada em razão dos demais pontos cardeais. Seja este um espaço amplo do burgo ou tal uma maquinaria de tempo a realizar. Afinal o espaço é um pântano e o tempo não maquinou nada. Continua como há mais de século, entre o espaço da senzala e o chicote no lombo do escravo.
A oeste, no quadrilátero compreendido pela Escola de Música da UFRJ, a Sala Cecília Meirelles, a Igreja da Lapa e o Muro do Passeio Público. Nele um mulato magro, com o tronco nu, calças encardidas e arregaças, um violão, um microfone e a caixa de som. Neste ponto cardeal a voz amplificada e as batidas metálicas das cordas reboam como as nuvens atômicas no largo limitado pelos Arcos da Lapa e sobem ao éter em busca do Alto de Santa Teresa.
A leste do Passeio, no largo para a Praça Manhatma Gandhi e o Hotel Serrador, de vista para a Senador Dantas. Um negro, com feições de indiano, tranças rastafári, boné, camisa preta e calças cinza, um par de tênis e uma trouxa ao lado. Ora sentado na borda estreita do muro do Passeio ou sobre o respiradouro da garagem subterrânea. O mais absoluto silêncio, uma contemplação de paisagem, mas ao mesmo tempo para o necessário espaço da fórmula com a qual estamos no mundo. Nunca os meus olhos encontraram os dele. Não observa ninguém. Todos os dias é o ponto cardeal do Centro do Rio de Janeiro. Como se alimenta e onde dorme a eterna pergunta do transeunte que ao seu lado passa, também com olhar de paisagem.
Ao norte da Cinelândia, bem em frente à Biblioteca Nacional de um lado e do outro o Bar Amarelinho, sentido oposto o Teatro Municipal e ao sul a silhueta do Pão de Açúcar. Sobre a grade do respiradouro do Metrô, onde os ventos do deslocamento das composições sopram, o terceiro ponto cardeal desta nossa vida disforme. Uma mulher magra, vestida em trapos sobrepostos, lenço na cabeça, negra, jovem e seu olhar esbugalhado para um ponto fixo defronte de si. Sentada sobre a grade do suspiro dos vagões que engolem e vomitam gente, ela eternamente dobra o tronco sobre as pernas num vai e vem, num sobe e desce como se fosse o pistão de uma máquina a vapor.
O quarto ponto, aquele que deveria dar sentido a esta desgraçada Rosa dos Ventos, se forma pelo vazio no qual foi um dia o Prédio do Senado Federal e o majestoso e branco edifício da Câmara dos Vereadores. Nesta planície a pluralidade que a sociedade é se torna o nada em razão dos demais pontos cardeais. Seja este um espaço amplo do burgo ou tal uma maquinaria de tempo a realizar. Afinal o espaço é um pântano e o tempo não maquinou nada. Continua como há mais de século, entre o espaço da senzala e o chicote no lombo do escravo.
2 comentários:
José, grande texto, quem escreve com essa propriedade conhece a fundo a cidade em que mora.
Beleza.
abraços
"Eu nunca sai com você , nunca fui ao cinema , não gosto de samba , não vou a Ipanema , não gosto de chuva , nem gosto de sol ...
Anoiteceu/outra vez vou sair /andar por andar , sem nada esperar /sem ter pra onde ir.....e no Amarelinhio é que eu vou terminar .
Um bom lugar , pra se amar , Copacabana ...
O Rio de Janeiro continua lindo ..."
Alô , alô , Zé do Vale... aquele abraço !
Sou suspeita pra falar do Rio - adoro essa cidade !
Sou suspeita pra falar do autor do texto ... mas falo : ele é o máximo !
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