Eu, quando muito, rezo de vez em quando
Rezo pelos prados, pelos rios, pelos mudos
Rezo pelos cegos, bêbados, rezo pouco
Mas quando rezo eu sempre sangro
Sangro pelo olhar, pelos poros, quiçá pela alma
Mas nada do que falo é atendido
Palavras somem no ar, como um balão desprendido
E assim somem as esperanças, perco a calma
Perde-se a visão, o olfato, tudo em fim
Perde-se o fio que prende o corpo a alma
O fluido das veias, a força motriz da vida
E o espírito assiste de longe o corpo que a pouco tinha
Como as uvas fermentando o chão, desprendidas da vinha
Foto: Paulo Augusto Patoleia
2 comentários:
Sávio: só a relação dialógica nos salva da solidão. Neste poema, que já não é mais uma solitária oração, é o retorno mudo, neste outro lado do vídeo, completo, ouvido, sentido, solidário. Estamos todos tão sós e ao mesmo tempo tão ligados neste relevo de eventos do mundo.
grande poema Sávio. uma força e tanto em sua oração. bela imagem que sangra a verdade. o comentário de José do Vale já é outro poema.
abraços poeta
Postar um comentário