Em 1979, no governo de João Figueiredo, derradeiro presidente da ditadura militar instaurada em 1964, foi concedida uma ampla anistia política. Centenas de exilados começaram a retornar ao Brasil, entre eles os ex-governadores Leonel Brizola e Miguel Arraes, o líder comunista Luís Carlos Prestes e o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira. Foi quando, ainda menino, comecei a despertar para a política, com grande curiosidade pela história recente do país, querendo preencher as muitas lacunas existentes, devido, sobretudo, à ação da censura e aos outros entulhos ditatoriais.
Lembro com bastante nitidez dos acontecimentos daquela época. A volta do pluripartidarismo, com as siglas que eram anunciadas: PMDB, PDS, PP, PDT, PT, PCB e sua dissidência, PC do B; o debate que voltava a fluir com a distensão do regime e os lançamentos editoriais que ajudavam a construir a memória da luta contra a ditadura. Um livro, particularmente, chamou-me atenção e ajudou na minha formação política: Os Carbonários, Memória de uma Guerrilha Perdida, de Alfredo Sirkys. Li-o duas vezes seguidamente, pois ao ler a última página retornei imediatamente para a primeira.
Lembro, com riqueza de detalhes, da volta triunfal de Miguel Arraes ao Crato, para visitar sua mãe, dona Benigna. Era sábado, por volta do meio-dia quando ele chegou à casa localizada no início da rua Dr. João Pessoa, que estava lotada de gente, espalhada pelo enorme jardim, pela sala, cozinha e quartos. Antes, ele percorreu algumas ruas em carro-aberto, à frente de uma carreata.
Fui para este evento porque Arraes sempre foi um nome familiar para mim. Meu pai, durante a permanência de Miguel Arraes no exílio, na Argélia, dava assistência à sua mãe e irmãs que residiam no Crato. Como era leitor assíduo de jornais e revistas, papai colecionava toda e qualquer referência a Miguel Arraes e repassava para elas. Por conta disto, quando retornou ao Brasil, Miguel Arraes mandou entregar ao meu pai o livro Jogos do Poder, de sua autoria, com dedicatória e agradecimento escrito do próprio punho.
Não sei por onde anda esse livro, que gostaria imensamente de reler e de tê-lo comigo, como uma relíquia que uniu dois grandes homens: Miguel Arraes e meu pai.
4 comentários:
Rafael, Rafael, Rafael...
Talvez seja o poeta emotivo por demais, mas algumas lágrimas ficaram embutidas na minha alma (talvez por sentir teu coração em cada lembrança)...
Abraços, abraços, abraços.
Miguel Arraes é o meu único ídolo político.
Caro Rafael,
Meu pai, César Pinheiro, era muito amigo do seu pai. Neto de Benigna Arraes e criado na casa dela, sou testemunho da admiração e do respeito de toda família por ele. Nunca deixou de ser solidário e jamais escondeu a amizade. Abraços Joaquim Pinheiro
Prezado Joaquim, não cheguei a conhecer o seu pai, mas sei da grande amizade entre ele e meu pai. Até hoje guardo comigo o livro Viagem ao Interior do Brasil, de George Gardner, oferecido por seu pai ao meu.
Um grande abraço!
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