TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Arte com café em xícaras azuis, crespo e sequilhos

  • Amanheci com aquele aguaceiro todo esborrotando nas bicas do telhado lá de casa e não resisti à tentação: fui tomar banho de chuva, passear nas calçadas das ruas feito menino ruim (lembrei de minha mãe) e, curioso, perigosamente, quis ver de perto como estavam as águas do canal que me assustaram pelo volume e velocidade no seu percurso. Eu, como nordestino que me prezo, tenho uma grande afeição por dias chuvosos e, confesso, até por tempestades: hipnotiza-me o resplendor do relâmpago, deliro com o ribombar dos trovões, os ventos me estremecem e as águas que me parece querem deixar o mundo mais limpo e purificado! Enfim, eu homem primata, me fascino com a natureza poderosa e manifestada querendo dizer pra gente quem é que manda no “pedaço”.

  • Sim, como eu ia dizendo... era quarta-feira e eu me comprometera com Dona Almina Arraes para uma visita (promessa antiga) no sentido de documentar as aulas de desenho e pintura do Karimai nos jardins da casa da família. Até duvidei da presença do mestre Karimai naquela manhã chuvosa e antes confirmei sua presença por telefone. Não negara a disciplina dos antepassados samurais e se antecipara ao temporal. Então, de máquina digital a tiracolo...rumo ao que aqui interessa.

  • Chegamos (eu e minha irmã Ana) na casa da Dona Benigna - matriarca da família- lá pelas dez da manhã. Quem conhece já sabe que aquele ambiente é inspirador! Um vasto jardim com flores de todas as tonalidades com folhagens e ramas verdejantes que praticamente rodeiam toda a casa com a sua fachada desenhada por arcos que definem um alpendre lateral que agora também abriga os cavaletes de suporte para as telas, o ateliê.

  • Dona Almina, com aquela simpatia e simplicidade cativantes, nos recebe e já nos convida para compartilharmos da pausa para o café com arte: a mesa estava posta para o café servido em xícaras azuis numa bandeja de prata; sequilhos dourados ao forno de lenha se ofereciam num pote de vidro e crespos da mais finíssima goma nos provocavam sob guardanapos de linho branco bordados. Arte, culinária e ternura.

  • O mestre Karimai, sempre disponível e espiritualizado, me fala que aquele encontro semanal já dura três anos naquele espaço e se transformara -muito mais do que aula de arte, desenho e pintura- num encontro de “comadres” pela cumplicidade que se gerou entre “alunas”. Cada uma desenha e pinta nas telas a rica experiência de suas vidas que recebe formas, cores, tons e sobre tons próprios.

  • O mestre compartilha a alegria de suas alunas comadres.

  • Dona Almina inspirada.

  • Aleide ensaia uma pose e fica muito bem na foto.

  • Dona Leíla já não tem dúvidas sobre o próximo traço, forma e cor.

  • Recomeça a aula? Que nada! Mais conversa com Dona Almina, Dona Leila e Aleide. Algumas poses com o mestre, fotos do ambiente, uma rápida visita ao ateliê da anfitriã que já coleciona um acervo até para uma exposição individual!
  • Pra finalizar, falei sobre a nossa revista virtual CaririCult e que nela publicaria essa pequena reportagem. Já se mostravam ansiosos pelo resultado e sentindo-se “famosos” pela possibilidade de estarem na rede www.

  • (Com algumas fotos montei o poster que segue para presentear a nossa anfitriã. Clique nas fotos para melhor visualização)

  • Além do mais:
  • No jardim, próximo ao banco, uma vigorosa escultura grego-erótica do nosso amigo Beto Fernandes dava um especial toque de beleza e muita sensibilidade ao ambiente.

Mais outra:
Antes da minha saída, fui apresentado a "Zé Roberto", este simpático "sapinho" de estimação que tem todo o seu domínio e reinado nos jardins da casa.

11 comentários:

Carlos Rafael Dias disse...

Bela narativa, belas imagens, momentos sublimes que se internam na memória pra nunca mais se apagar.

Luiz com muita inspiração nos compartilha de uma lição zen de sabedoria e paz, sob os auspícios de Dona Almina, a orientação do mestre Karimai e das boas companhias de Ana, Leila, Aleide e, por que não dizer, deste batráquio charmoso: o Zé Roberto.

(...)

Luiz,
Fiquei te devendo um encontro de despedida de ano. Mas, amigo é (pra sempre) pra sempre tá perto, não importa os desencontros nem a distância.

Um Natal de paz e um ano novo de guerra!

socorro moreira disse...

Impressionadíssima !

Tudo nos lugares : pessoas , flores, iscas , e café nas chícaras.



Beijo

Anônimo disse...

Joaquim Pinheiro
Luiz Carlos,
Mesmo tendo visto antes o painel fotográfico maravilhoso que vc presenteou minha mãe, fiquei surpreso com com a beleza das imagens e o texto irretocável. Você conseguiu captar e descrever muito bem a energia que paira nas aulas semanais aqui em casa. Parabéns pelo trabalho, de excelente qualidade.

Domingos Barroso disse...

Guloseimas de almas.
Abraços.

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Salatiel: além da chuvarada, nordestino gosta, também, de ligar as narrativas do mundo como se tudo fosse um concerto e seus movimentos. Na verdade, o ressurgimento de tua expressão no blog guarda uma familiaridade que junta a perda recente ao firmamento da inteireza que nem o tempo rompe. Para mim Almina tem todo o sentido, mas neste relato todos nós somos parte deste mesmo sentido. E quanto sentido texto imagem guarda.

Marcos Vinícius Leonel disse...

Uma grande dose de humanidade e humanismo transborda do seu texto, das suas imagens e de todas as pessoas presentes, visíveis e invisíveis. É bom ter você de volta.
abraços

Claude Bloc disse...

Salatiel,

Não sei em que parte do teu enredo há mais poesia: se nas palavras, ou nas fotos. Digamos que os recursos se completam e nós, pobres mortais, vivemos o júbilo de poder "assistir" ao grande e delicado poema que criaste.


Abraço,

Claude

Anônimo disse...

Sentí-me orgulhosa por minha grande amiga Almina e pelas referências à querida e saudosa d. Benígna. Afinal, somos, agora, uma família, ligada pelos laços da Amélia e dos sempre gloriosos Arraes de Alencar.
Vocês são, todos, um exemplo de uma família bem organizada e muito, muito querida e admirada por todos que têm a felicidade de conviver com vocês.
Amo vocês todos!
Beijos,
Nely

Anônimo disse...

Dona Almina, muito bonita sua casa, logo estaremos tomando um cafezinho aí no seu jardim,certamente de tardezinha,com as xícaras e o porta-guardanapo vistos na foto.

Anônimo disse...

Vovó Almina, aproveitando o comentário de dorgi,fiquei feliz em ver seu trabalho nas fotos do blog.
Renata Pinheiro

Anônimo disse...

Não me causou qualquer estranheza a ternura com que D. Almina recebe seus convidados. Sou prova real disso quando, no Crato, cismo de visitá-la (menos vezes, reconheço, do que meu afeto por ela mereceria). Sobre o Salatiel, apesar de não conhecê-lo pessoalmente, sou admirador de sua obra musical.
Isso tudo me inspira a, na próxima visita ao Crato, ir provar não só dos sequilhos e café servido em xícaras azuis, mas, principalmente, do convívio e da ternura que tão bem se acomodam no interior de D. Almina.
Xico Bizerra