BOATOS
No início da década de 70, o Governo de Pernambuco construiu a represa de Tapacurá visando por fim aos problemas de abastecimento d’água da região metropolitana da capital pernambucana. Paralelamente à sua construção de muitos milhões de dólares, a propaganda oficial alardeava que era a obra do século, a 3ª maior construção do Brasil (perdia para Itaipu e a Ponte Rio-Niterói) e que garantiria o abastecimento até o ano 2020. Foi Inaugurada com muita pompa em 1974, com dois dias de solenidades e semanas de maciça propaganda em todos os meios de comunicação.
Em julho de 1975 Recife sofreu terrível enchente. O Rio Capibaribe atingiu níveis jamais alcançado, destruindo inúmeros imóveis, causando várias mortes e produzindo milhares de desabrigados. Na semana seguinte, a cidade ainda limpava os efeitos da tromba d’água quando aconteceu outra tragédia, um simples boato. Apenas um boato mas com graves conseqüências. Com efeito parecido ao de fogo lançado em barris de pólvora, alguém inventou que Tapacurá havia estourado. O pavor tomou conta da população, pois se dizia que nem os edifícios mais altos do centro da cidade escapariam do volume d’água. Boa parte da população correu para os morros e bairros afastados do curso do Rio Capibaribe sem ao menos fecharem suas casas. Carros eram abandonados em meio ao engarrafamento geral. Meu sogro, sem saber do boato, voltava para casa de táxi. O veículo parou em um sinal fora do engarrafamento, quando um bombeiro gritou algo para o motorista. Este encostou o carro, desligou o motor e simplesmente desapareceu. O sogro, que pensara que o taxista tinha saído para comprar cigarro ou algo assim, esperou uns 20 minutos até que um popular mandou que ele saísse e corresse porque as águas já vinham no Bairro da Várzea. Percebendo o clima geral de medo, disparou para casa e acredita que bateu o recorde mundial dos 5.000 m, uma vez que venceu percurso em pouquíssimo tempo, chegando antes da notícia falsa.
Os incidentes foram tão fora de propósito, que o Jornalista Homero Fonseca pesquisou o assunto, debruçou-se sobre os vários inquéritos abertos, os jornais da época, leu várias obras sobre boatos e, anos depois, lançou o livro “Viagem ao Planeta dos Boatos”.
Na obra são citados exemplos de situações parecidas, como o famoso caso da imaginária invasão da terra pelos marcianos em esquadrilhas de naves espaciais, retransmitida pelo rádio em 1938 por Orson Welles, que apavorou milhões de americanos. O autor identificou as causas que levam as pessoas a inventarem ou dar curso a boatos, entre elas o desejo de ser o centro das atenções. Os boatos se propagam Tanto mais rápido quando trazem informações que as pessoas querem ouvir ou, direta ou indiretamente, tenha algum interesse.
Os incidentes aqui relatados bem como o livro, são anteriores à internet. A rede mundial tornou-se excelente veículo para propagação dos boatos porque, no dizer exagerado do professor Sílvio Meira, “globalizou os otários”, ai incluído os ingênuos, capazes de acreditar em tudo que vêem na tela, como autópsia em ETs, discos voadores, milagres de todo tipo, frutas que curam todas as doenças, etc.
Um comentário:
Joaquim,
Naquele ano, eu morava em Surubim (120 Km de Recife). Até ali sofremos os efeitos das inundações em Recife. Ficamos sem energia elétrica por vários dias. Eu trabalhava no BNB e, no final da tarde, levávamos – para o posto da Cilpe, que dispunha de um gerador de energia – a máquina e as fichas de conta-corrente para atualizarmos os lançamentos do dia.
Durante meses, quando íamos a Recife, trafegávamos por uma estrada improvisada, no meio de um canavial com pontezinhas de madeira improvisadas, já que vários pontes da rodovia tinham sido tragadas pelas cheias.
Aos poucos as coisas foram voltando ao normal. Mas o boato, objeto de sua postagem foi uma coisa tremenda. Tanto que resultou num livro...
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