TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Crato, território livre

A data 3 de maio é significativa para o a região do Cariri cearense, notadamente para a cidade do Crato. Neste dia, no ano de 1817, o grito de liberdade dado na capitania de Pernambuco, contra o jugo colonial português, ecoou por esses rincões.

Na época, o Crato era um dos principais núcleos urbanos da hinterlândia nordestina. Pequena vila, decerto, mas que, dentro do contexto histórico, era um destacado centro, tanto pelo seu progresso cultural quanto pela sua “pujante” economia, essencialmente primária e voltada para a produção de rapadura e criação de gado. Portanto, fornecedor de alimentos para os sertões próximos.

Por conta deste perfil econômico, num desdobramento de um esquema conceitual que os historiadores chamam de processo civilizatório, onde medrou uma civilização do açúcar na zona da mata e uma civilização do couro responsável pelo povoamento das caatingas, - podemos afirmar que a região do Cariri cearense, por ser uma ilha sertânica e, por isso, um espaço atípico do interior nordestino- , foi “civilizado” sob a égide dos engenhos de rapadura. Portanto uma verdadeira civilização da rapadura.

Hoje, a rapadura, enquanto produto tradicional, quase que não existe mais; por não resistir aos novos hábitos alimentares, calcados em itens e ingredientes impostos e importados.

Mas voltando ao tema, não era comum a participação de vilarejos perdidos no ermo da colônia brasileira em acontecimento e processos históricos de macro-dimensão, principalmente de reação à dominação colonial que vigorou no Brasil por mais de trezentos anos.

Mas, na Vila Real do Crato, a coisa era diferente. Além de participar da Revolução Pernambucana de 1817, o Crato também se fez presente na Confederação do Equador, sublevação igualmente eclodida, em Pernambuco, em 1824, desta feita contra o absolutismo de Dom Pedro I.

Um pouco antes, nas lutas para garantir a independência brasileira, ocorridas por todo o ano em 1823, o Crato organizou uma tropa de cerca mil homens, liderada pelo seu Capitão-Mor Pereira Filgueiras (que tinha sido um algoz dos revolucionários caririenses de 1817) e por Tristão Gonçalves, filho da heroína Bárbara de Alencar. Assim, participou ativamente da libertação da atual cidade de Caxias, no Maranhão, ao lado de lord Cochrane, mercenário inglês contratado para combater as renitentes tropas lusitanas.

Portanto, o Crato pode ostentar, com mérito, o epíteto de “território livre”, constantemente evocado pela sua “rapaziada guerreira”, da qual me considero um membro.

2 comentários:

Domingos Barroso disse...

Rafael, além dos dados históricos relevantes, também o que me encanta é a leveza em que você escreve. Não há tédio, densidade de dados, informações desarticuladas.
Um texto enxuto, claro e com uma linguagem nossa.
Parabéns,
abraços.

Carlos Rafael Dias disse...

Valeu. Poeta!
Bondade sua.

Grande abraço!