TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Devir

Guardei todos os punhais,
todos os cianuretos, todas as cordas,
todos os gatilhos, todas as mãos cerradas,
todos os dias de cão, todas as madrugadas de lua cheia.
Estou liso, sem névoas no rosto, sem escamas na nuca.
Talvez ainda hoje - ou nunca mais ou mais tarde -
reabra minha gaveta e puxe de volta
todas as madrugadas de lua cheia, todos os dias de cão,
todas as mãos cerradas, todos os gatilhos, todas as cordas,
todos os cianuretos, todos os punhais.

3 comentários:

socorro moreira disse...

AQi , que alívio !


Você precisa da vida. A gente , da sua poesia !


Beijo

Lupeu Lacerda disse...

sem escamas na nuca
as armas, guardadas
e a poesia granada
espatifando vida.

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

O devir é algo assim mesmo.
Dissolve, inventa e transforma,
É a equação irresolvida,
A mais ampla do pensamento,
quando tudo pode acontecer,
inclusive aquele que apenas se revelará,
quando acontecido.
Pois nada mais árido que o pós-fato,
momento realizado, é apenas um,
não tem a debulhar do devenir.