TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Livre pensar é só pensar...

Artista: João Modé – Sem Título

A Bienal do vazio, ou o vazio da Bienal
A “arte contemporânea” em crise terminal: não atrai, nem desperta paixões
R. Mansur Guérios
Visitar a Bienal de São Paulo, em sua 28ª edição, não é distensivo. A “arte contemporânea”, vanguardeira do mundo das artes, está em crise. Constatação que, aliás, se pode fazer para a maioria das manifestações culturais.
Feita para ser “vanguarda”, abrigo de novas tendências, exemplo de ruptura com o passado, a obra que nela provocou mais manifestações, críticas e protestos foi um andar vazio, por carente de algo expressivo para ocupar tal espaço. Suscitou comentários virulentos na imprensa diária: “Se a intenção da curadoria da 28ª Bienal de São Paulo era dar visibilidade à crise do modelo das bienais, o resultado foi plenamente alcançado. O vazio do segundo andar, que representaria a tal crise, recebeu muito mais elogios de artistas e curadores do que a mostra de arte apresentada no terceiro andar, marcada pelo tom conceitual” (“Folha de S. Paulo”, 28-10-08).
* * *
Indignados com tal desperdício de espaço, pichadores invadiram e executaram suas “artes” no monótono e vulgar espaço vazio do pavilhão de exposições. Compreensível, pois quase não há um metro quadrado na megalópolis paulistana sem suas marcas — as “griffes” das “tribos” de “artistas pichadores”.
“Fossem outros os tempos, [o andar vazio] teria suscitado acusações para todo lado, brigas de foice e a leitura de manifesto em praça pública. A arte contemporânea já não produz mais paixões descabeladas” (Barbara Gancia, “Folha de S. Paulo”, 31-10-08).
Monitores, telas, telinhas e telões em profusão, com projeções sobre seus autores, tudo foi feito para atrair admiradores. Mas filas e afluxo de interessados, só havia no “tobogã” deslizante do 3º andar até o térreo.
A incapacidade de atrair, de arrastar, visando indicar rumos para o mundo, ainda que desvairados, nos parece o ponto central: como “desconstruir” um mundo que já se apresenta “desconstruído”, que aceita e admira, por exemplo, corpos tatuados, crivados de metais, como os de selvagens de tribos primitivas?
Há muitos descontentes com os rumos dessas manifestações artísticas. Não há infelizmente indignação, salvo honrosas exceções.
Em suma, a 28ª edição da Bienal corresponde bem ao sinistro e derradeiro degrau a que chegou a pseudo-arte, dita “contemporânea”, reflexo do vazio de alma de homens que rejeitaram o verdadeiro Deus e se chafurdaram no neopaganismo de nossos dias.

E-mail para o autor: guerios@catolicismo.com.br

2 comentários:

Armando Rafael disse...

GREGÓRIO VIVANCO ESCREVEU:

Certas posições ideológicas, artísticas ou políticas que a propaganda impingia de modo quase dogmático, nos anos 60 do século passado, não resistiram ao passar do tempo e vão se revelando inconsistentes. Exemplo característico é a bajulação em torno da chamada arte moderna.

O “modernismo” chegou a ser apresentado como uma espécie de “libertação” das amarras que sujeitavam a arte clássica, uma alforria das regras. Nascia a arte instintiva, a inspiração espontânea, a liberdade criadora em ruptura com o passado.

É verdade que, fora alguns iniciados, o público nunca se sentiu atraído por tal arte, nem sequer a entendeu. Mas, seja como for, a propaganda a endeusava. Em 1922, a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, a pôs nos cornos da lua: poesias, músicas, pinturas, esculturas, maquetes de arquitetura, tudo isso foi exposto no Teatro Municipal de 11 a 18 de fevereiro daquele ano, regado a palestras explicativas.

A onda foi num crescendo, e em 1948 foram criados os museus de arte moderna do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em 1951 inaugurou-se a primeira bienal de São Paulo, por obra e graça do mecenas Cicilo Matarazzo e de sua esposa Da. Yolanda Penteado. Um pavilhão de exposições no Ibirapuera, projetado na década de 50 pelo arquiteto comunista Oscar Niemeyer, foi destinado, a partir de 1968, para ser o “templo” da arte moderna. A arte contemporânea falida
Estamos em 2008. No que deu toda essa propaganda? Faliu. Igual a queda do comunismo, cujo símbologia maior foi a queda do Muro de Berlim, a "arte moderna" caminha para o lixo da história.

Anônimo disse...

Pois é, Armando, a Besta Fera conseguiu seu intento. Hoje estamos fragmentados. O pior é que ainda continuamos a nos acusar de esquerda e de direita. Tem coleguinhas que nos tratam como inimigos por se segurarem numa ideologizinha de família mal resolvida das bandas do norte. Tamos lascados. Mas, viva a pluralidade e ainda o desejo de uma humanidade legal.
Zé Nilton