Maurício Tavares
É curioso como o pensamento em Crato só acontece nas alturas. Ou nas colinas. Leio neste blog (des) arrazoados sobre um possível pensamento filosófico, em bloco, de um grupo (Uma Thurman?) nominado de Filósofos da Batateira. É um nome bonito, facilmente memorizável, mas fica por aí. Talvez o nome tenha sido criado pelo líder do grupo oposto que passarei a denominar de “Os sociólogos da Caixa d’Água”, Tem sempre alguma coisa de patético nesses grupos ou, para mimetizar a linguagem filosófica, algo de peripatético. Mas vejamos o que em minha opinião define o pensamento dos ilustres Sociólogos da Caixa d’Àgua. Primeiro de tudo, como nosso primeiro mandatário, eles são formados na Escola da Vida e têm horror aos diplomas formais que eles insistem em chamar de canudos (um lapsus linguae? Uma obsessão?). Eu também tendo a concordar que um diploma (ou um canudo?) às vezes pode não ter valor nenhum, assim como também a sociologia de bar, mas muitas vezes pode ter. Um idiota com canudo (ó eu entrando no canudo!) ou sem canudo não passa de um idiota. Mas também penso que um canudo (arre, tô farto de tanto canudo) pode ser muito interessante para o desenvolvimento de um pensamento mais metódico e menos vítima do senso comum. O senso comum é talvez o maior problema do pensamento dos descanudados. Acostumados a ser bajulados como os homens mais inteligentes do bairro , ou da aldeia, eles permanecem fiéis à velhas teorias que já foram superadas nas discussões (nem sempre inteligentes, mas necessárias) do mundo acadêmico. Um exemplo: o líder dos Sociólogos da Batateira teima em achar que o mundo da cultura ainda é o mesmo das velhas discussões propostas pela Escola de Frankfurt no fim dos anos 50. O conceito de Indústria Cultural, já bastante relativizado, parece ser a pedra fundamental do pensamento desses jovens (?) sociólogos. O mundo da cultura para eles ainda é dividido em Alto, Médio e Baixo. Recomendo a esses sociólogos ler “Apocalípticos e Integrados” um livro do começo dos anos 60 escrito por Umberto Eco que já nessa época vislumbrava mudanças sensíveis no mundo cultural. O pessimismo frankfurtiano, encarnado por Adorno, de alguma forma era fruto da visão de um alemão que se escandalizava com a perda de centralidade da cultura européia (a alta cultura) num mundo cada vez mais americano. Era uma época que vivíamos o monopólio da Cultura de Massa e a televisão era a representação mais visível dessa besta-fera. De lá pra cá muito água já rolou pela Pedra da Batateira. Sem falar nas já desgastadas discussões sobre a pós-modernidade hoje vivemos um mundo que aponta para diversidade inclusiva e não para a rígida divisão cultural que imperava no pensamento sessentista.Hoje vivemos a Cultura das Mídias, rótulo mais adequado do que Cultura de Massas para definir nosso tempo, em que convivem desde blogs de um leitor só até as grandes redes de televisão que já começaram o seu inevitável processo de encolhimento. Nem apocalíptico nem integrado: sei que vivemos em um período onde a massificação da cultura ainda é predominante mas seria muito ingênuo não perceber que muita coisa mudou. Além de que a massificação trouxe alguma coisa de positivo (basta ler o velho Eco). Os Sociológos da Batateira ainda estão muito presos ao conceito de dialética (palavra-chave de qualquer discussão nos anos 70). Mas o velho-jovem Edgar Morin já nos ajudou a sair desse impasse ao colocar na roda o conceito de dialógica (uma lógica paraconsistente) que nos permite viver e compreender o mundo das contradições e nos libertar do velho jogo do ou Isso ou Aquilo. Peço perdão pelo tom meio professoral ou por estar repetindo o óbvio. Mas enquanto estou me levando muito a sério lá fora o som de um carro grita “chupa que é de uva! É um bom conselho já que não suporto menta.
O Maurício enviou-me a matéria acima e pediu-me para postá-la.
4 comentários:
Maurício, homem anti-provinciano, ou melhor além da aldeia ou dos bairros, saca do punho universitário contra a Caixa D´água e a Batateira. Que aliás nunca se opuseram. Aliás centra na cultura algumas observações devidamente criticadas com as escolas devidas, que certamente merece, para nosso aprendizado, melhor desenvolvimento das próprias idéias. Mas ao final toca na epistemologia que os filósofos da batateira, em seu método de grupo universitário, um dia abordaram. Tocam na questão da dialética (à moda anos 70) e vem a tiracolo com o velho Edgar Morin em sua epistemologia contra o estreito mundo dos paradigmas científicos. Nos diz o Maurício da superação da contradição pela operação dialógica como método (foi isso mesmo que ele mais se dedicou ao Método) para o pensamento complexo. Claro tomando como base de complexidade a própria realidade. Por isso mesmo Maurício é que ao final toda altura de aldeia e de bairro da periferia termina por: "O esgoto mata o rio. A telha d´água seca o leito. A represa nas nascentes cria o privilegiado na fonte e o desmerecido à jusante. O lixo entope a correnteza das águas. O desmatamento seca a água. Então? O mundo parou? Está tudo arrumado? Nós vamos deixar de ter outra visão? E com isso tudo, quando vamos tomar banho de novo no Rio da Batateira? Só o pensamento único, que nada pode mudar, é a arapuca de prender idiota."
Maurício agora voltando à origem. Embora você tenha usado de um certo tom acadêmico e crítico ao que no "correr da pena" se faz num blog, acho que nós dois poderemos concordar que é preciso dizer. É preciso igualmente você, os jovens da Caixa D´água e os da Batateira dizerem. È o único caminho do progressismo do litoral não morrer na vazão das marés. E claro que de quem se encontra há mais de 500 Km destas rotas intercontinentais.
José do Vale acabei, sem querer, misturando os Filósofos da Batateira com Os Sociólogos da Caixa d'Água. Inconscientemente deve ter previsto a futura perenização do Rio Batateira pelo aqueduto da Caixa d'Água. E não um arauto do anti-provincianismo. Pra citar o velho baiano:"Onde queres Leblon sou Pernambuco". Mas acho importante , apesar do tom meio acadêmico do texto explicar de onde vem as referências quando falo de cultura. O mundo acad~emico tem mil defeitos mas ele sempre nos lembra que somos anões na cacunda de alguns gigantes. Algumas pessoas acham que quando falam do tema estão falando de lavra própria. E outras quando ousamos discutir sobre cultura puxam a peixeira. Mas não precisa ser muito acad~emcio pra perceber o ótimo trabalho que hermano Vianna faz na tv usando como repórter a, às vezes chata, Regina Casé. abraço.
na pressa digitei 'deve ter previsto" no lugar de "devo ter..."
e esqueci do sou antes de arauto do provincianismo.
Maurício: muito gentil sua resposta. Sempre imagino o quanto maior nossos horizontes em se considerando estes milhares de pontos (que somos nós) se elevandona linha do horizonte.
abraços
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