No teu seio encontrei
toda sorte de infortúnios
que buscava eu sedento
beijando o solo marcado
pela sombra de uma lua.
Cresci
e meus pés criaram laços
com a terra,
fortificaram-se descalços
sentindo a brandura
da umidade
e o teor do chumbo.
Minhas mãos -
como por milagre -
tornaram-se grandes
e num lampejo
iniciei minha aventura
de empinar pipas
e abarcar nuvens.
As pipas o vento sugava.
As nuvens eu permitia-lhes
a fuga pelo vão dos meus dedos.
Se hoje -
ao invés de preparar-te
um novo pão -
eu retiro o miolo
e misturo com veneno
então vê como também cresceu
a alma entre as minhas costelas.
Nosso amor abriga-se
em nosso puro desconhecimento,
eu caolho diante de ti
e tu fazedora da vida
que em mim é silêncio.
Mas é dessa fertilidade
de sementes caídas
que os fungos afloram-se.
3 comentários:
Domingos,
O que há de mais belo em teus poemas é o apelo visual.
Brincas de dar cores às paisagens e aos personagens com uma ótica muito peculiar.
O suprassumo dos teus poemas daria lindíssimas telas.
Abraços,
Claude
Este é o poema além da sinceridade. É o poema da verdade. O Domingos é um poeta de fortes imagens, mas ao contrário do que o Dihelson chamou poesia benzodiazepínica, ele tem coragem para revelar seu dia a dia, seus sentimentos no perigoso silêncio quando nossas almas espreitam a caça. Mas enquanto noutros ele se aprofunda num certo nihilismo, neste é plena esperança, é o detalhe que o mofo supera. Tudo isso com um bom estilo de fazer poema.
Lindo !
Vou postar no meu blog. Irresistível !
Abraços
Postar um comentário