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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Um Poeta Dihelzepínico


UM POETA DIAZEPÍNICO

( Dedicado a José do Vale )


Sou o poeta mais diazepínico que conheço
Meu lexotan vem antes do muro de berlim
e todo mês em fila eterna eu permaneço
buscando um papel azul a prorrogar meu fim

Já nem sei mais quem mais escreve,
se eu mesmo ou o Bromazepam na veia
na calma dos eucaliptos uma semibreve
é a mais rápida aranha a tecer sua teia

Mas sei que não sou ainda um viciado
decerto, do mal liberto-me preciso
em que assim o desejar, hei declarado

Em correntes infernais, como a um louco
prenderam-me a um arcabouço de um sorriso
Para que em pequenas doses, morra pouco a pouco!


Dihelson Mendonça
.

11 comentários:

socorro moreira disse...

Se tivesses 40 anos ou mais , diria que és um poeta dihelupínico.
Porém não se avexe com seus vícios. Metade deles são divinos.
O ser humano é dado a muitos vícios... ou posso chamá-los de hábitos ?
Vai direto pro céu quem perdeu todos os vícios , o que no mundo é o mais difícil !
Outro dia me contaram a história de São João de Vianey.
Um padre santo e milagroso.
Seu processo de canonização durou cem anos , porque usava rapé.
Um dia descobriram em seus papéis uma prescrição médica , pra que ele usasse rapé - Esse documento liberou a santidade do Vianey.
Daí eu fico pensando ...
Tudo na vida tem os prós e os contras
Todo vício é legal , desde que não envolva violências .
Pior é que dependendo da dose , o mais simples dos vícios pode ser mortal.
E não existe agressão maior do que abreviar o mais precioso dom divino : a vida.
Ter ou não ter um vício
Eis a questão.
Atire a primeira pedra em Madalena ou na própria mãe , quem não o tem.
A minha é viciada em rezas. Eu tenho vícios múltiplos. Eles se revelam , nos versos das minhas teclas.

De todos os vícios o mais salutar e ao mesmo tempo o mais infernal é o vício de amar !

Claude Bloc disse...

Dihelson,

Botando as manguinhas de fora num soneto, né?

"Tô de olho em você", viu? Se fazendo de menino que observa o mundo (sem experiência). E me vem com soneto!!! (risos)

Abraço,

Claude

Domingos Barroso disse...

Não te acanhes de forma alguma em escrever versos, meu camarada!
Manda teus olhos vadiarem pelos espaços habitáveis e surreais e escreve e exercita teus dedos hábeis!
A Poesia não é prerrogativa de ninguém! Agora é um terreno movediço... Ave, Poesia!
Dihelson, manda ver!
Abraços.

Dihelson Mendonça disse...

Socorro, eu tenho 42 anos.

Aos 18, tive Doença do pânico, crises horríveis que me levavam a hospitais de emergência, pois eu achava que estava morrendo. Por várias vezes isso aconteceu.

Peregrinando por vários médicos, à beira da morte por inanição, pesadelos e tudo de ruim que vc pode imaginar, recebi a prescrição de um medicamento que salvou a minha vida, o lexotan. Diferente de outros remédios, este conseguiu controlar o pânico e a Ansiedade.

Há estudos de que em certos casos, é uma deficiência do próprio organismo em produzir um calmante natural, existe um diazepam endógeno que mantém a calma das pessoas, e que, infelizmente no meu caso a produção é escassa, necessitando de uma reposição, como a um hormônio.

A minha, foi prescrita por Dr. José Flávio, e todo mês eu vou lá buscar aquela receitinha azul. Bem que eu queria não precisar de forma alguma deste medicamento como quem precisa de insulina, mas afinal, a vida é maior, e o bem-estar NATURAL não tem preço. Hoje consigo ser uma pessoa normal, tenho minhas ansiedades ainda, mas dentro da normalidade de qualquer ser humano.

CLAUDE,

A desvantagem de se chegar assim tão breve como vc chegou é que perdeu muita coisa escrita. Eu já devo ter publicado uns 20 desses sonetos e poemas no caririCult e Blog do Crato em 2 anos. E outras pessoas escreveram coisas maravilhosas. Muita gente tá chegando agora, será bom republicarmos tudo de novo ?


Abraços a todos,

Dihelson Mendonça

Dihelson Mendonça disse...

Obrigado Socorro, Claude e Domingos pelo incentivo. Para quem como eu não é poeta, o incentivo é uma forma de avaliar se alguma coisa ainda se salva...

Abraços,

Dihelson Mendonça

Claude Bloc disse...

Dihelson

Eu gostaria de lê-los...
Muito!

Abraços,

Claude

Claude Bloc disse...

Talvez como na Globo: "Vale a pena ver de novo"

jflavio disse...

Caro Dihelson,

Nada demais, meu caro. É que não dá para suportar a amputação diária de sonhos e aspirações, sem anestesia. Varia apenas a marca do fármaco. Uns utilizam o ópio da religião( bastante caro, por sinal), outros o álcool, outros a coca, o crack, o ectasy; há ainda os que se empanturram de ouro e terminam intoxicados por metal pesado. A arte , certamente, é a mais inócua destas drogas e um artista do seu porte está naturalmente medicado; combinar um pouquinho com os outros anestésicos ( na dose certa) não faz mal a ninguém.

socorro moreira disse...

Amo esse doutor , especialista no coração do artista !

Dihelson Mendonça disse...

Dr. José Flávio tem o mérito de ter literalmente "Salvo a minha vida", mas ele já salvou de tantos outros de nós. Salvou até Manel de Jardim várias vezes...

No meu caso, em 1986 eu estava numa profunda depressão, em Janeiro, deitado numa cama, sem forças para mais nada, esperando apenas o fim. Em fevereiro, fiz uma consulta com Zé Flávio, e ele passou Bromazepam, que na época era um fármaco de nome comercial chamado DEPTRAN, de lá pra cá, apareceu o Lexotan, e por último o Bromazepam generico. Ele tem o privilégio de ter encontrado esse incrível remédio, pois eu já havia esperimentado Valium, Lorazepam, Alprazolam, Clobazam

Dihelson Mendonça disse...

Na mensagem anterior leia-se: experimentado...que coisa!!

DM