O outro,
sempre o outro -
as unhas do outro, as indecisões do outro,
os descuidos e os zelos prematuros do outro,
a loucura do outro, a rabugice do outro,
as inconfidências e a crueldade do outro,
o pavor do outro, o ódio do outro, a ausência do outro.
Sempre é o outro a forma anterior ao propósito.
A dor e o fingimento do outro, a chuva do outro,
a queda vertiginosa do outro, a quietude do outro,
a santidade e o menosprezo do outro, o olhar do outro,
os cílios levados pela ventania do outro, o doce do outro,
a colher de xarope do outro, a tosse e o escarro do outro.
Nunca muda o calafrio - sintoma agudo da virose do outro.
O outro -
preciso esganar o outro.
Deixar as marcas dos meus dedos
no pescoço do outro.
Mas virá a assombração do outro.
Um cochilo, uma trégua -
será tarde,
repentino o golpe.
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