TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Quinze para as seis

E ela sentada
Sobre aquele velho banco de Kombi
No meio do terreno baldio
Com a ponta de cigarro
Queimava as fuligens proto-plásticas
Que esbravejavam o futuro esmigalhado
Com os olhos em eterna pesquisa
Vasculhava os recônditos
Daquela alma tão pequena
Posta naquele tão pequeno piolho
Perdido e cheio de nostalgia
Perdido na pele engelhada do seu joelho
Tão pequeno e tão sujo

Aquela voz parecia
Embrulhada em uma velha sacola
Expatriada clandestinamente
De algum supermercado de subúrbio
Você sabe o que é ducha dourada?
É você abrir as pernas sujas
E mijar sobre mim esse espasmo letal
Tire com um abridor de latas
O pecado que há nisso
E ela sentada sobre as sobras serenas
Daquele velho banco de Kombi
No meio do terreno baldio
E ela sorria apenas com o olhar

2 comentários:

Domingos Barroso disse...

Em alguns poemas, meu camarada,
a gente até sublinha alguns versos, passagens, imagens - realçando a força da poesia.
Então tentei. Mas não dá.
Todo o poema deveria ser sublinhado.
Pois o ritmo vem de um todo e a imagem é um completo quadro.
Abraços.

Marcos Vinícius Leonel disse...

Valeu, poeta,

agora temos que ter cuidado com os elogios, tem uma "volante" à espreita, mais uma vez.

abraços