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domingo, 15 de março de 2009

Bispos franceses são contra excomunhão da mãe de menina estruprada no Brasil


Publicado em 12.03.2009, às 13h36


Vários bispos e fiéis católicos da França manifestaram não estar de acordo com a excomunhão da mãe que permitiu a realização do aborto da filha de nove anos estuprada pelo padrasto em Pernambuco.
O monsenhor Norbert Turini, bispo de Cahors (sudeste), afirmou compreender a indignação causada pela excomunhão. "Por que acrescentar severidade a tanto sofrimento?", questionou, em um comunicado. "Eu defendo e defenderei sempre a dignidade e o respeito à vida desde sua origem até seu término", acrescentou. Em seguida assegurou que a mãe e sua filha "são e sempre serão amadas pelo Deus de Jesus Cristo que nós chamamos de Nosso Pai".
Por sua parte, o monsenhor Yves Patenôtre, em nome da Missão da França, considera "inaceitável a decisão abrupta de excomungar". "Claro que o aborto é um ato de morte. Inscreve-se na carne das mulheres que viveram feridas que jamais se fecharão. Mas como pode, ante semelhante drama, a Igreja ter se expressado para julgar e condenar ao invés de mostrar compaixão e reconduzi-las para a vida?", escreveu em um comunicado.
"Esta excomunhão não leva em conta nem o drama vivido, nem o perigo físico e moral que esta menina corrida. Nós dizemos isso energicamente a todos que se sentem perturbados, não nos reconhecemos nesta medida e pedimos que seja levantada o quanto antes possível", acrescentou.
O monsenhor Pierre d''Ornellas, arcebispo de Rennes (norte) e chefe do grupo de trabalho episcopal sobre a bioética, afirmou, ao jornal La Croix, que "é sempre a bondade que deve ser manifestada".
Por outra parte, La Croix publica várias cartas de leitores que também manifestam sua falta de compreensão em relação à decisão tomada pelo Vaticano. "Por que a Igreja fala somente de excomunhão e jamais de compaixão?", pergunta um deles.
Em declarações publicadas no sábado passado ao jornal italiano La Stampa, o cardenal Giovanni Battista Re, prefeito da Congregação para os Bispos, justificou a excomunhão afirmando que os gêmeos que a menina de 9 anos havia concebido na relação com o padrasto "tinham o direito de viver".
Na entrevista, Re - que também é presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina -, declarou: "é um caso triste, mas o verdadeiro problema é que os gêmeos concebidos eram duas pessoas inocentes que também tinham o direito de viver, e não podiam ser suprimidos".
O arcebispo de Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, anunciou a excomunhão da mãe da menina, que estava na 15ª semana de gestação de gêmeos, concebidos durante o estupro praticado por seu padrasto.
Além da mãe, os membros da equipe médica que realizou a cirurgia também foram excomungados."Devemos sempre proteger a vida, o ataque contra a Igreja brasileira é injustificável", estimou Re.
"A excomunhão para aqueles que praticaram o aborto é justa", já que a operação constitui "sempre a supressão de uma vida inocente", afirmou. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente o bispo de Recife pela decisão de excomunhar a mãe da menina.
"Como cristão e como católico, lamento profundamente que um bispo da Igreja católica tenha um comportamento conservador como este", declarou Lula.


JC ON LINE

5 comentários:

Armando Rafael disse...



Existem na França 91 (noventa e uma) dioceses católicas. O artigo consta literalmente esta frase: “Vários bispos e fiéis católicos da França manifestaram não estar de acordo com a excomunhão da mãe que permitiu a realização do aborto da filha de nove anos estuprada pelo padrasto em Pernambuco”. E entre os “vários” só cita dois que teriam se manifestado contra a comunhão que é prevista no Código Canônica. Faltou ouvir a opinião dos demais 89 bispos que estão na ativa e de muitos outros que são bispos-eméritos.


Jorge Ferraz, jovem, católico, pernambucano residente em Recife – mantém um blog em defesa da vida: http://januacoeli.wordpress.com/about/
(Vale a pena conferir) De lá retirei a nota abaixo:

E por falar nos que são contra o aborto: Segundo pesquisas do IBOPE, mais de 90% da população brasileira (180 milhões de pessoas) é contrária à legalização do aborto, e este número continua em crescimento. Era exatamente 90% em 2003 e passou para 97% em 2005. Em 2007 uma organização trabalha pela legalização do aborto contratou o IBOPE para refazer a pesquisa mas não quis revelar o resultado, alegando que este não seria do interesse público, uma vez que o tema do momento era o aborto em casos de estupro.
Quando assumiu o governo, apesar de consciente destes números, também pesquisados pelo Ministério da Saúde, o presidente Lula assinou de próprio punho, em dezembro de 2004, o PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES em que colocava entre as prioridades de seu governo a legalização do aborto no Brasil.
No final de 2005 o governo Lula elaborou um projeto de Lei que, entregue ao Congresso através da Secretaria da Política da Mulher, pretendia extinguir do código penal todos os crimes de aborto, tornando-o deste modo a prática totalmente legal durante todos os nove meses da gravidez, desde a concepção até o momento do parto. O projeto era tão absurdo que custou a eleição de sua relatora, a Deputada Jandira Feghali PC do B-RJ), ao Senado. O projeto foi em seguida reprovado pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara por 33 votos contra ZERO e logo após na Comissão de Constitucionalidade da Câmara por 57 votos a quatro.
Durante o segundo mandato presidencial o Partido dos Trabalhadores entendeu também que, apesar de que a quase totalidade da população brasileira seja contrária à legalização do aborto e considere esta prática como um homicídio, se um militante do PT não trabalhar para promover a legalização do aborto no Brasil, poderá ser processado, julgado e expulso do Partido dos Trabalhadores. Defender a vida inocente não nascida, mesmo o aborto sendo considerado pela legislação vigente um crime punido por lei, passou a ser, segundo o Partido dos Trabalhadores, uma infração de Ética tão grave que exige a expulsão do Partido. Os Deputados federais Luiz Bassuma, do PT da Bahia e Henrique Afonso, do PT do Acre, estão respondendo a processo na Comissão de Ética do Partido dos Trabalhadores e podem ser expulsos do partido apenas por defenderem a vida e serem contra a legalização do aborto.

jflavio disse...

Caro Armando,

1- Penso que no final só restarão com a mesma opinião você e Dedé que felizmente vc não considera má companhia. Pois bem, responda-me apenas a esta pergunta já que vc acredita que depois deste destempero cardosiano, a Igreja ainda contínua una ( uma das instituições com maior espírito de corpo que se conhece). Finalmente : A Equipe que promoveu o abortamento na Menina está ou não excomungada? A Mãe da criança está ou não excomungada. Podem, hoje, receber os sacramentos ? Quem manda no Circo: D. José, o Vaticano, a CNBB ? Objetivamente, estão ou não excomungados ?

2- Não comungo da sua opinião que o Mons. Fisichella, Mons. Norbert Turini e Yves Patenôtre possam ser venais , única e exclusivamente porque defendem um caminho mais da compaixão do que da perseguição;

3- D José coloca que a excomunhão é automática, ou seja não precisa de trâmites e que ele apenas divulgou. Pois bem, esta é uma regra geral para todas as situações ? Aborto=Excomunhão ? Imagine a seguinte situação: O Traficante entra na maternidade no Rio de Janerio, com a filha a tiracolo, põe a metarlhadora no peito do médico e diz : ou faz o aborto ou morre todo mundo ! Se o médico optar por salvar a ele mesmo, aos colegas e aos pacientes que estão no hospital, mesmo assim está automaticamente excomungado ? Não há discussão, todo caso é exatamente igual ? Quem nos assegura que Deus terá esta mesma interpretação ? D. José?

4- No fundo, caro Armando, o que nos põe em campos opostos é que vc tem uma visão muito relativista de Ética. O que é certo ou errado para vc está previamente escrito na Bíblia e no Catecismo. Vc tem todo o direito de ter esta visão relativista. Só que tem que necessariamente aceitar a visão relativista de todos os outros. Assim não tem o direito de falar dos Testemunhas de Jeová porque não permitem o uso de sangue entre seus seguidores; não pode nem deve, eticamente, se horrorizar com os islâmicos por permitirem mais de um casamento, nem o Nirvana para seus homens-bomba. Eles têm uma visão relativista de ética igualzinho a vc e, assim, precisam ser respeitados dentro dos limites das suas crenças. O Relativismo é um pântano e, uma vez nele, não se consegue mais sair. Toda a história da ética nos últimos tempos tem sido no sentido de encontrar parâmetros universais: é só ler Kant e seu imperativo categórico, Ortega-Y-Gasset, Kikergaard e sua visão mais fenomenológica. Desde o final do Século XVIII se sabe que é impossível interpretar Ética como uma receita de bolo. Veja os Códigos de Ética das diversas profissões, simplesmente já não dão conta dos avanços da Ciência nas suas mais diversas áreas: Transgênicos, Inseminação artificial, clonagem, bebê de proveta, barriga de Aluguel... E o Bio-Direito encontra-se totalmente desnorteado;

5- Acredito também que a Igreja Católica tem todo direito de exigir cumprimento das suas leis por seus seguidores. Agora não parece certo querer interferir no Estado impondo suas leis para todos os credos. Já pensou se os Testemunhas de Jeová interferissem no Congresso para aprovar uma lei proibindo a transfusão de sangue para todos os brasileiros ? Vc defenderia, dentro da sua visão relativista, o relativismo dos Testemunhas de Jeová ?

6- Finalmente responda, como é, os médicos e a mãe da menina, hoje, estão ou não excomungados? Podem ou não receber os sacramentos ?

jflavio disse...

Caro Armando,

1- Penso que no final só restarão com a mesma opinião você e Dedé que felizmente vc não considera má companhia. Pois bem, responda-me apenas a esta pergunta já que vc acredita que depois deste destempero cardosiano, a Igreja ainda contínua una ( uma das instituições com maior espírito de corpo que se conhece). Finalmente : A Equipe que promoveu o abortamento na Menina está ou não excomungada? A Mãe da criança está ou não excomungada. Podem, hoje, receber os sacramentos ? Quem manda no Circo: D. José, o Vaticano, a CNBB ? Objetivamente, estão ou não excomungados ?

2- Não comungo da sua opinião que o Mons. Fisichella, Mons. Norbert Turini e Yves Patenôtre possam ser venais , única e exclusivamente porque defendem um caminho mais da compaixão do que da perseguição;

3- D José coloca que a excomunhão é automática, ou seja não precisa de trâmites e que ele apenas divulgou. Pois bem, esta é uma regra geral para todas as situações ? Aborto=Excomunhão ? Imagine a seguinte situação: O Traficante entra na maternidade no Rio de Janerio, com a filha a tiracolo, põe a metarlhadora no peito do médico e diz : ou faz o aborto ou morre todo mundo ! Se o médico optar por salvar a ele mesmo, aos colegas e aos pacientes que estão no hospital, mesmo assim está automaticamente excomungado ? Não há discussão, todo caso é exatamente igual ? Quem nos assegura que Deus terá esta mesma interpretação ? D. José?

4- No fundo, caro Armando, o que nos põe em campos opostos é que vc tem uma visão muito relativista de Ética. O que é certo ou errado para vc está previamente escrito na Bíblia e no Catecismo. Vc tem todo o direito de ter esta visão relativista. Só que tem que necessariamente aceitar a visão relativista de todos os outros. Assim não tem o direito de falar dos Testemunhas de Jeová porque não permitem o uso de sangue entre seus seguidores; não pode nem deve, eticamente, se horrorizar com os islâmicos por permitirem mais de um casamento, nem o Nirvana para seus homens-bomba. Eles têm uma visão relativista de ética igualzinho a vc e, assim, precisam ser respeitados dentro dos limites das suas crenças. O Relativismo é um pântano e, uma vez nele, não se consegue mais sair. Toda a história da ética nos últimos tempos tem sido no sentido de encontrar parâmetros universais: é só ler Kant e seu imperativo categórico, Ortega-Y-Gasset, Kikergaard e sua visão mais fenomenológica. Desde o final do Século XVIII se sabe que é impossível interpretar Ética como uma receita de bolo. Veja os Códigos de Ética das diversas profissões, simplesmente já não dão conta dos avanços da Ciência nas suas mais diversas áreas: Transgênicos, Inseminação artificial, clonagem, bebê de proveta, barriga de Aluguel... E o Bio-Direito encontra-se totalmente desnorteado;

5- Acredito também que a Igreja Católica tem todo direito de exigir cumprimento das suas leis por seus seguidores. Agora não parece certo querer interferir no Estado impondo suas leis para todos os credos. Já pensou se os Testemunhas de Jeová interferissem no Congresso para aprovar uma lei proibindo a transfusão de sangue para todos os brasileiros ? Vc defenderia, dentro da sua visão relativista, o relativismo dos Testemunhas de Jeová ?

6- Finalmente responda, como é, os médicos e a mãe da menina, hoje, estão ou não excomungados? Podem ou não receber os sacramentos ?

Armando Rafael disse...

Caro José Flávio:

Respondo ao que você perguntou:
Para o Direito Canônico, quem provoca aborto incorre em excomunhão automática, não podendo receber sacramentos (eucaristia e crisma, por exemplo) até a sanção ser levantada.
(Assim a equipe médica de Recife que fez VOLUNTAMENTENTE o aborto incorreu na excomunhão automárica).
Bispos têm autoridade para retirar a excomunhão. Em muitas dioceses,os bispos delegam a padres a autoridade para levantar excomunhões.
A mulher poderá não incorrer em excomunhão por se encontrar em situações atenuantes - SER CRIANÇA (grifo meu) estar sob forte perturbação emocional, atuar sob coação ou desconhecimento não culpável da gravidade do ato.

A Igreja Católica incluiu o aborto provocado no rol dos pecados que implicam excomunhão automática por entender que é um crime contra a vida especialmente grave, pois atenta contra um ser
humano indefeso.
.............
Claro que um aborto feito por coação (na hipótese citada por você: sob ameaça de armas) não incorre em excomunhão pois, segundo o Direito Canônico, o bem mais importante para uma pessoa é a vida. Nessa hipótese, o médico (e a equipe ) fizeram um ato que suas consciências reprovam mas o fizeram para salvaguardar as próprias vidas.

Já o Código Penal brasileiro não pune o aborto praticado por médico em caso de risco de vida para a mãe ou estupro. Foi por isso que ao invés de usarem o termo "abuso" (prática constante e rotineira que vinha sendo feita há mais de três pelo amante da relapsa mãe) usaram o de ESTRUPO como se fora a primeira e única vez.

A a Igreja diz que a Lei de Deus (o Decálogo) se sobrepõe a lei feita pelos homens.

Entendo quem não aceita o Decálogo (Não matarás) mas aceita a Lei Civil. Isso é uma questão de consciência. E nós seremos julgados por nossa consicência.
O que não entendo é porque - no episódio de Recife - alguns só estão atacando o arcebispo que não é ator, mas figurante do lamentável caso.

Cordialamente,
Armando

PS - Um retificação: o Mons. Fisichella é italiano. Os dois únicos bispos citados pertencentes ao episcopado francês são: Mons. Norbert Turini e Yves Patenôtre. Não consegui o original da matéria desses dois bipos, razão porque não os tachei de venais. Disse apenas de de 91 bispos no exercício da função apenas dois teriam feito restrições ao Direito Canônico...

jflavio disse...

Caro Armando,

Acredito que ficou bem explicado a situação da menina grávida, apenas não me ficou claro a da mãe da menina que segundo o D. José estava excomungada latae sentenciae, mas o comunicado da CNBB contradisse a visão do Bispo. D. Dimas Lara Barbosa foi claro : "quem menos culpa tem na história é a mãe da menina que agiu sob pressão". Entendemos , pois, que é dificílimo em ética estabelecer penas automáticas ( sei perfeitamente que o Direito é uma questão totalmente à parte e que vem sempre a reboque). É impossível , no meu entender, se ter uma visão mais ampla da questão sem olhar caso a caso. Não dá para simplesmente estabelecer : Aborto=excomunão ou Aborto=prisão. Hoje mesmo vi a notícia da gravidez de proveta das lésbicas. Utilizaram sêmen de um banco , fizeram a fecundação in vitro com os óvulos de uma das mulheres e implantaram na outra. Fora do realativismo: é ético ou não é? Não existe nada nos códigos de ética médica que estabeleça o certo ou errado numa situação nova dessas. No Direito, não é diferente. Há alguns anos, uma casal que não podia ter filhos contratou uma barriga de aluguel, só que durante a gestação a dona da barriga resolveu pleitear o filho para si, uma vez que era ela que o estava gestando. O caso foi parar na justiça. A quem pertence o filho ? Ou seja o mundo vai mudando e a ética precisa acompanhar os novos tempos e os novos desafios. Veja vc, por exemplo, a questão dos anticoncepcionais. Existe ainda algum católico, neste mundo, que o utilize com dor na consciência? Há alguns dias perguntei a alguns padres se os fiéis ainda pediam autorização para usá-los, se faziam consultas e a resposta foi clara: não, estes problemas não mais têm chegado para os pastores.Até mesmo a laqueadura é feita cotidianamente sem muita polêmica, mesmo em instituições católicas. Se abríssemos a possibilidade de uma Planejamento Familiar mais eficaz e aberto, poderíamos na outra ponta diminuir o abortamento ilegal. Qual pai católico, hoje em dia, tem a coragem de orientar o filho a não uasr camisinha ? Imaginar que chegaram donzelos e virgens até o casamento é uma coisa muito utópica. A maior parte dos padres, inclusive, já evitam fazer apologia contra a camisinha nos seus sermões. Claro que diante do microfone, se perguntados, têm que dar a visão oficial da instituição. O mundo mudou, os costumes mudaram e os códigos ou se adaptam aos novos tempos ou serão adaptados pelos novos costumes.