Aos que se perderam no entorno da Rua Santa Efigênia
Esta cidade me quer, mas não a quero para nada.
Por que eu deveria me deixar levar por seus feitiços?
É melhor que eu viva sem fazer alarde,
e não diga uma só palavra que comprometa
minha alma impura por causa desta cidade,
que me engole e me vomita todo dia.
Não tenho mais idade para me reconfortar com a paisagem,
nem com o álcool todo de aço laminado
que às vezes penetra em minhas entranhas
quando quero sorrir de tudo, mas os motivos não têm força
e me obrigam voltar a ser o mesmo cão desabrigado,
entregue às ondas, ao azar
Cem anos depois, nenhum dos que aqui estiverem
saberá da forma escura com que esta cidade me enxotou,
me insultou, chutou o meu traseiro,
porque era tudo o que tinha para dar a um ser como eu,
que me fundi às calçadas e com o lixo fui confundido
Cem anos depois só haverá silêncio
as manchas dos meus sapatos nas estrelas
o meu nome nos restos de carbono...
Foi por isso que ontem eu chorei
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